ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia

TÍTULO: APROVEITAMENTO DE RESÍDUO AGROINDUSTRIAL DA AMAZÔNIA COMO FONTE DE CARBONO PARA FUNGOS DETERIORADORES DE MADEIRA

AUTORES: NUNES, A.S (UEA) ; GONÇALVES, M.S (UEA) ; SOUZA, E.G (UEA) ; SOARES, E.P (UEA) ; CASTRO, N.F (UEA) ; CASTRO E SILVA (UEA)

RESUMO: O objetivo desta pesquisa foi testar a farinha da casca do tucumã (Astrocaryum aculeatum Meyer) no crescimento de fungos deterioradores de madeira em diferentes concentrações e faixas de pH. Para os testes de crescimento utilizou-se a farinha da casca de tucumã como suplemento nas concentrações 1% e 2% e ajustado o pH inicial para 4, 6, 8, 10, 12. Os fungos estudados foram coletas na zona rural de Parintins/AM e codificados em: FV-12, FV-6, FI-9, FI-3 e Pycnoporus sanguineos. O crescimento foi mensurado através da progressão linear da fronteira micelial. A concentração ótima para o crescimento dos fungos testados apresentou-se em 1% de farinha da casca de tucumã. Referente ao pH a faixa ótima para o crescimento dos fungos testados ocorreu entre 4 e 6.

PALAVRAS CHAVES: casca de tucumã, fungos amazônicos, crescimento

INTRODUÇÃO: O tucumã (Astrocaryum aculeatum Meyer), também conhecido como tucumã-do-amazonas ou tucumã-açu, é uma palmeira de crescimento monopodial, arborescente e monóica (CAVALCANTE, 1991). Seus frutos são ricos em vitamina A, ácidos graxos saturados e glicerídeos trissaturados, podendo substituir o dendê e o babaçu na indústria de óleos (VILLACHICA et al. 1996). No Amazonas, especialmente em Manaus, esse produto agrícola tem significante valor financeiro, representando uma atividade econômica crescente. Porém, apenas a polpa do tucumã é utilizada, gerando grandes quantidades de resíduos da casca, que é desperdiçada sem nenhum aproveitamento. Nos últimos anos tem ocorrido um interesse maior na utilização eficiente de resíduos agroindústrias (PANDEY et al., 1999; ROSALES et al., 2002). Muitos bioprocessos têm sido desenvolvidos baseados nesses materiais como substratos em bioprocessos para produção de enzimas isoladas, ácidos orgânicos, etanol, cogumelos comestíveis, enzimas e metabólitos secundários biologicamente importantes (PANDEY et al., 1999; MASSADEH et al., 2001; LAUFENBERG et al., 2003). Neste sentido, as enzimas de fungos tem se mostrado úteis na degradação numa variedade de persistentes poluentes ambientais. Muitas dessas enzimas são extracelulares e, na natureza, provavelmente estão envolvidas na degradação da madeira (MAYER & STAPLES, 202). O desenvolvimento da capacidade lignolítica requer condições nutricionais e culturais, incluindo substrato metabolizável, níveis elevados de oxigênio, um limite de nitrogênio e várias outras condições de cultivo (KIRK & FARREL., 1987; BUSWELL, 1991). Neste contexto, o objetivo desta pesquisa foi testar a farinha da casca do tucumã no crescimento de fungos deterioradores de madeira em diferentes concentrações e faixas de pH.

MATERIAL E MÉTODOS: Para os testes de crescimento linear utilizou-se a farinha da casca de tucumã (Astrocaryum aculeatum Meyer) previamente seca em estufa a 50ºC e esterilizada em autoclave a 1,5 atm. Os meios de cultivo foram preparados com farinha da casca de tucumã nas concentrações 1% e 2%, com o acréscimo de 1g de glicose e 15g de ágar a cada 1000 mL de água destilada. O pH foi ajustado com NaOH ou H2SO4 nas faixas de pH: 4, 6, 8, 10, 12. Os fungos deterioradores de madeira estudados foram coletados na zona rural do município de Parintins/AM, codificados em FV-12, FV-06, FI-09, FI-03 e Pycnoporus sanguineos. Para obtenção de cultura pura, pequenos fragmentos dos carpóforos foram crescidos em meio de cultura BDA. Nos bioensaios com a farinha da casca do tucumã a medição do crescimento foi realizada a cada 24 horas por um período de cinco dias. O crescimento foi mensurado através da progressão linear da fronteira micelial, feita com régua milimetrada na base de cada placa de Petri, com medidas tomadas em duas direções perpendiculares. As culturas foram incubadas em estufa BOD à temperatura de 30º C. Todos os tratamentos foram realizados em duplicata.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em termos de valores absolutos os melhores desempenhos ocorreram na concentração 1% de farinha da casca de tucumã para todos os fungos testados nas faixas de pH 4, 6, 8, 10, 12. Na concentração 1% de farinha da casca de tucumã o maior crescimento ocorreu para o fungo Pycnoporus sanguineos nas faixas de pH 4 (2,5cm), seguida do pH 6 (2,3cm) e pH 12 (2,0cm) respectivamente, seguido dos fungos FI-3 e FV-12 nas faixas de pH 6 (2,28cm), pH 8 (2,22cm) e pH 10 (2,06cm). Os menores crescimentos foram de FV-6 e FI-09 no pH 10 (1,9 cm) e (1,8 cm) respectivamente. Na concentração 2% de farinha da casca de tucumã o maior crescimento foi de FV-6 pH 6 (2,0 cm), seguido de FV-12 pH 12 (1,35 cm). Possivelmente a casca do tucumã contém substâncias macromoleculares que foram utilizadas como fonte de nutrientes, para isto as enzimas hidrolíticas, secretadas pelos fungos, hidrolisaram estas macromoléculas e liberaram, assim, pequenas moléculas solúveis que puderam ser utilizadas para o crescimento destes microorganismos. O teste ANOVA não mostrou diferença estatística entre os tratamentos ao nível de 5% de significância.

CONCLUSÕES: A concentração ótima para o crescimento dos fungos testados apresentou-se em 1% de farinha da casca de tucumã. Referente ao pH a faixa ótima para o crescimento dos fungos testados ocorreu entre 4 e 6.

AGRADECIMENTOS: A Deus e a todos que direta ou indiretamente contribuiram para meu desempenho educacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BUSWELL, J.A. Fungal degradation of lignin. In: ARORA, D.K. et al. Handbook of applied mycology: Soil an plants. New York: Marcel Dekker, vol. 1, p. 425-480, 1991.
CAVALCANTE, P.B. 1991. Frutas comestíveis da Amazônia. 5.ed. Belém: Edições CEJUP/Museu Paraense Emílio Goeldi. 279pp. (Coleção Adolfo Ducke).

KIRK, T.K.; FARREL, R.L. Enzymatic “combustion”. The microbial degradation of lignin. Annual Review of Microbiology, Palo Alto, v.41, p. 564-505, 1987.

LAUFENBERG, G.; KUNZ, B.; NYZTROEM, M. Transformation of vegetable waste into value added products: (A) The upgrading concept; pratical implementation. Bioresource Technology. Essex, v 87, p. 167-198, 2003.

MASSADEH, M. et al. Synergism of cellulose enzymes in mixed culture solid substrat fermentation. Biotechnologycal Letters, Hull, v. 23, p. 1771-1774, 2001.

MAYER, A.M., STAPLES, R.C. Lacase: new functions for and old enzymes. Phytochemistry, New York, v. 60, p. 551-565, 2002.

PANDEY, A. et al. Solid state fermentation for the production of industrial enzymes. Currente Sciences, Bangalore, v. 77, p. 149-162, 1999.

ROSALES, E.; COUTO, R.; SAROMAN, A. New uses of food waste: application to lacase production by Trametes hirsute. Biotechnological Letters, Hull, v. 24, p. 701-704, 2002.

Villachica, H.; Carvalho, J. E. U.; Müller, C. H.; Díaz, S. C. & Almanza, M. 1996. Frutales y hortalizas promisorias de la Amazonía. Pp. 264-267. Tratado de Cooperacción Amazonica, (TCA-SPT,44), FAO, Lima, Peru. Versão eletrônica.