ÁREA: Ambiental

TÍTULO: Sabão de óleo residual de fritura formulado com infusão de casca de Citrus

AUTORES: ALMEIDA, G.S (JK) ; ROCHA, V.K.G (JK) ; PARACAMPO, N.E.N.P (EMBRAPA)

RESUMO: O NURES da Embrapa Amazônia Oriental gerencia os resíduos gerados na empresa. Desta forma, promove a reciclagem do óleo residual de fritura produzido por terceirizada no restaurante da empresa. Entre as muitas receitas de sabão caseiro existentes na internet, algumas não recomendam o óleo de fritura de peixe, por apresentar odor forte, característico do pescado. Com o objetivo melhorar o aproveitamento de subprodutos, caracterizou-se a matéria prima assim como o produto (sabão) formulado com infusão de casca de limão. Realizaram-se análises de índice de saponificação, acidez e peróxido. No processo de formulação, utilizou-se 1Kg de hidróxido de sódio PA, 1L de ácido clorídrico PA. Após a verificação do pH, transferiu-se o produto à forma de papelão, desenformando-o em 2 ou 3 dias.

PALAVRAS CHAVES: óleo residual de fritura, casca de citrus, reaproveitamento

INTRODUÇÃO: O Núcleo de Responsabilidade Socioambiental (NURES) da Embrapa Amazônia Oriental gerencia os mais diversos resíduos gerados na empresa, buscando sempre minimizar impactos ambientais. Como exemplo de ação socioambiental, o NURES promove, em parceria com cooperativas e associações locais, a reciclagem do óleo residual de fritura produzido por terceirizada no restaurante da empresa como matéria prima à formulação de sabão em barra.
Estima-se que no Brasil quatro bilhões de litros de óleo de fritura sejam produzidos ao ano, sendo dois bilhões descartados e o restante ingerido em frituras e produtos industrializados ou aderido aos recipientes de preparo. Destes dois bilhões, somente 5% são reciclados (SABESP, 2009). Embora reciclar este óleo como sabão caseiro não seja a alternativa mais ambientalmente correta (ZAGO NETO e PINO, ), ainda é uma oportunidade de gerar renda e economia para famílias de baixa renda. Entretanto, algumas receitas de sabão caseiro divulgadas pela internet não recomendam a utilização do óleo de fritura de peixe por deixar o produto com odor forte, característico do pescado (SOUZA, 2008).
Aliado a isso, a produção de limão (Citrus limon L.), além de destinar-se para o consumo in natura e para indústria de suco, destina-se para extração do óleo essencial contido na casca dos frutos. Este óleo é comumente utilizado por indústrias de bebidas de refrigerantes, como também para fabricação de cosméticos, essências aromáticas e na culinária, entre outros. A indústria de sucos utiliza apenas de 40% a 50% dos frutos de limão, sendo o restante considerado resíduo industrial (MENDONÇA et al., 2006).
Portando, com o objetivo de melhorar o aproveitamento de subprodutos gerados na atividade do restaurante da Embrapa Amazônia Oriental, caracterizou-se a matéria prima (óleo residual de fritura) bem como o produto (sabão em barra) formulado com infusão de casca de limão.


MATERIAL E MÉTODOS: Coleta do material: O óleo residual de fritura foi coletado no restaurante da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém-PA, gerado durante atividade da empresa terceirizada. Foi observado que não houve segregação por fritura,todo resíduo foi armazenado em mesmo recipiente independente da origem da fritura(vegetal ou animal, incluindo pescado).Verificou-se a ausência de informação sobre o tempo de armazenamento deste resíduo em recipiente plástico, exposto a luz solar e à temperatura de 44°C, aproximadamente. Estes fatores favorecem reações de degradação, perceptíveis quanto à coloração e escurecimento do referido resíduo, que possui odor forte e desagradável, característico de pescado.Preparo da amostra: A amostra foi filtrada duas vezes em papel filtro qualitativo, sob vácuo e à temperatura ambiente. Em seguida, armazenada em frasco de vidro e ao abrigo da luz.Caracterização da amostra:Índice de saponificação: AMERICAN OIL CHEMISTS’ SOCIETY;Índice de acidez: INSTITUTO ADOLFO LUTS;Índice de peróxido: INSTITUTO ADOLFO LUTS
Formulação do sabão em barra:Para obtenção da infusão da casca do Citrus utilizou-se a casca de 2 limões aquecidas em 1 L de água destilada durante 10 minutos,filtrou-se ainda quente.Em recipiente grande(balde plástico de 10L),transferiu-se 1Kg de hidróxido de sódio PA e Adicionou-se a 1L infusão de casca de limão(ainda quente)cuidadosamente homogeneizando-se manualmente. Esta é a etapa de preparação da lixívia. Em seguida, acrescentou-se 5L de óleo residual de fritura,homogeneizando-se por 5 minutos de forma manual e contínua. A fim de diminuir o pH do produto, adicionou-se 1L de ácido clorídrico PA e homogeneizou-se por 20 minutos, de forma manual e contínua. Após a verificação do pH, transferi-se o produto a uma forma de papelão,desenformando-o em 3 dias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados obtidos referentes às análises de caracterização da amostra foram:

Índice de saponificação 859 I.S

Índice de acidez foi de 3,36 % em ácido oleico

Índice de peroxido 92,27 meq/

O resultado do índice de saponificação é considerado alto quando comparado ao do óleo de soja bruto que deve estar entre 180 e 200 (ANVISA, 1999).

O índice de acidez na caracterização do óleo de fritura. encontra-se dentro da faixa de valores de obtidos para o óleo residual de frituras de batata e tortinhas doce de uma rede de fast food do Distrito Federal, que são 4,85 e 1,16, respectivamente (FERNANDES, 2010).

O resultado do índice de peroxido é. muito superior aos observados em frituras de batata e tortinhas doces, 13,48 e 3,98, respectivamente (FERNANDES, 2010). Isto se deve, possivelmente, pelas condições de armazenamento da amostra no restaurante (exposição à luz, temperatura, etc.) favorecendo a aceleração do processo oxidativo.

Em relação ao sabão, observou-se pH do produto final entre 9 e 10, determinado por meio de leitura em papel tornassol. Este valor encontra-se abaixo do valor máximo permitido pela legislação (pH = 11,5).

Segundo a norma EB-56 da Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, que fornece as especificações de sabão permitidas no Brasil, este deve apresentar consistência firme e aspecto homogêneo próprio do seu tipo e não devem apresentar cheiro desagradável, mesmo na espuma, que deve ser branca.

Desta forma, verificou-se que o odor característico de pescado da amostra foi mascarado no processo de formulação do sabão com a utilização de infusão de casca de limão. E que o uso de ácido clorídrico conferiu ao produto aspecto brilhante e boa aparência, além de pH dentro das normas.


CONCLUSÕES: A formulação de sabão em barra com óleo residual de fritura (inclusive de pescado), infusão de casca de limão e ácido clorídrico, resultou em um produto sem o odor desagradável da amostra, com aspecto brilhante e pH entre 9 e 10, apropriado para uso doméstico ou comercial. Um produto com características e qualidade conhecidas a ser desenvolvido pelas cooperativas e associações parceiras da Embrapa Amazônia Oriental.
Nesta formulação ainda é possível substituir, com os devidos ajustes, o hidróxido de sódio por soda cáustica e o ácido clorídrico por ácido muriático, ambos facilmente encontrados.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: [1] AMERICAN OIL CHEMISTS’ SOCIETY. Official methods and recommended practices of the American Oil Chemists’ Society. 4th ed. Champaign, USA, A.O.C.S., 1990. [A.O.C.S Oficial method Cc 7-25].
[2] ANVISA, RDC Nº482, de 23/09/1999, Agência Nacional da Vigilância Sanitária. Disponível em: www.anvisa.gov.br . Acesso em:25 /06/2011.
[3] FERNANDES, M.W.S.; FALCÃO, H.A.S.; ALMEIDA. Índice de peroxido e de acidez em óleos de fritura de rede de fast food do distrito federal.
[4] FILHO, H.G., PENTEADO, B.B.; SANTOS, C.H. Preparo de amostras e métodos para a determinação do teor de óleo essencial de frutos de limoeiro.
[5] INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. V 1: Método Químicos e Físicos para Análise de Alimentos, 3. Ed. São Paulo: IMESP, 1985. P. 247.
[6] MENDONÇA, L.M.V.L.; CONCEIÇÃO, A; PIEDADE, J.; CARVALHO, V.D.; THEODORO, V.C.A. Caracterização da composição química e do rendimento dos resíduos industriais do limão Tahiti (Citrus latifolia Tanaka). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.26, n.4, Campinas Dezembro de 2006.
[7] NETO, O. G. Z; PINO, J. C. D; Trabalhando A Química Dos Sabões E Detergentes;Rio Universidade Federal do Rio Grande Do Sul Instituto de Química Grande Do Sul, 2006.
[8] SABESP. Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Apresenta informações sobre a implantação do programa de reciclagem de óleo de fritura.
[9] SILVA, B. G.; PUGET F. P.; sabão de sódio glicerinado: produção com óleo residual de Fritura.; Química da Faculdade de Aracruz/FAACZ, Aracruz, Espirito Santo, Brasil.
[10] SOUZA, L.D. Sabão neutro produzido a partir de óleo de cozinha usado. CBQ 48° Congresso Brasileiro De Química, Rio De Janeiro De 29/09 03/10 De 2008
[11] UCHIMURA, M.S. Dossiê técnico em sabão. Instituto de Tecnologia do Paraná, Maio2007.