ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: QUÍMICA E CARNAVAL: CONTRIBUIÇÕES PARA A MELHORIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS

AUTORES: Pires, R.O. (IFRJ) ; Cerqueira, T.S. (IFRJ) ; Maia, E.D. (IFRJ) ; Messeder, J.C. (IFRJ)

RESUMO: O presente trabalho visa demonstrar como conteúdos encontrados no interior do universo de elaboração do carnaval carioca pode se constituir em material que estimule o ensino de ciências, mais especificamente, de química. O trabalho de pesquisa realizado no Barracão da G.R.E.S. Beija-Flor, coletou dados significativos que serão convertidos em material didático com orientação CTS. Durante a observação realizada verificamos a importância da química no processo de confecção do carnaval, ficando claro como a ciência se faz presente nos mais diversos ambientes. Partimos do pressuposto que o aluno pode ser estimulado a aprender quando se dá conta de que a ciência está presente nas mais diferentes esferas da vida.

PALAVRAS CHAVES: Carnaval; alfabetização científica; ensino não-formal

INTRODUÇÃO: Vivemos em um mundo rodeado de reações e compostos químicos. Conhecer um pouco da realidade química é compreender a vida de um modo geral. No entanto, a escola pouco tem desenvolvido interesse nos alunos para o estudo dessa disciplina e pouco resultado tem atingido no sentido de alfabetizar cientificamente os alunos nessa área, nem em termos teóricos nem na prática (SANTOS, 2002). Um dos fatores que contribui para esse fracasso é o fato dos alunos não perceberem a vinculação da química com o seu cotidiano, desconhecendo que esta o acompanha o tempo todo. O carnaval carioca, por exemplo, tem na Química uma forte aliada na elaboração da sua arte. Roald Hoffmann, prêmio Nobel de Química, chamou atenção para esse aspecto no prefácio do seu livro “O mesmo e o não mesmo” ao redigir: “Havia química no carnaval do Rio de Janeiro de 2004. A química estava lá não apenas simbolicamente, na deslumbrante alegoria da Pirâmide da Vida que Paulo Barros criou para a Unidos da Tijuca (...). Estava em todos os lugares para onde se olhasse, nos plásticos e nas fibras sintéticas que preservavam a leveza dos carros alegóricos e suas fantasias, nas cores brilhantes.” (HOFFMANN, 2007). Foi exatamente isso que constatamos quando iniciamos a pesquisa “Quem não gosta de ciência bom sujeito não é: samba e ciência no Barracão”, cujo objetivo foi verificar como a ciência, colocada em prática nesse ambiente, pode auxiliar no Ensino de Química. Durante o trabalho de campo realizado no barracão do G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis, ficou evidenciado a forte presença da química neste ambiente. O estudo realizado visa, ainda, a elaboração de materiais didáticos a serem empregados nas escolas de Nilópolis (RJ), para o ensino de Química numa abordagem CTS (Ciência–Tecnologia–Sociedade).

MATERIAL E MÉTODOS: Os dados aqui apresentados são resultantes de um estudo exploratório utilizando o trabalho de campo nos moldes antropológicos, com observação direta do trabalho realizado no Barracão da Beija-Flor (CARDOSO, 1986). No período de agosto de 2011 à fevereiro de 2012, frequentamos semanalmente o barracão. O intuito era acompanhar o processo de elaboração do carnaval, desde a chegada dos desenhos/projetos concebidos pelos carnavalescos até a sua execução. Filmávamos e fotografávamos todo o trabalho realizado, além de realizarmos entrevistas semiestruturada com alguns trabalhadores que consideramos importantes nos diversos setores existentes no processo de produção, geralmente entrevistávamos os responsáveis por cada setor. No interior do barracão encontramos setores identificados pelos trabalhadores como: escultura; pastelação; resina; adereços; fantasias entre outros. Buscamos analisar como os profissionais envolvidos neste trabalho colocam em prática, ou não, os conhecimentos de ciências adquiridos na sua formação escolar; quais as suas percepções de ciências; onde e como aprenderam seu ofício e, consequentemente, o entendimento da toxicidade e periculosidade dos materiais usados; os primeiros socorros; o histórico de eventuais acidentes e doenças de trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Será no setor de resina que iremos encontrar o cenário privilegiado da Química. Neste setor verifica-se uma grande variedade de processos químicos, com a manipulação de vários produtos como: resinas, géis, solventes diversos, dióxido de titânio etc. Encontramos a polimerização, com desdobramentos termoquímicos e cinéticos, principalmente no uso de compostos chamados pelos artesãos de “catalisadores”. Tais compostos são monômeros de polimerizações exotérmicas como, por exemplo, as que ocorrem na obtenção de poliuretanos (Figura 1). Nossa pesquisa pretendeu discutir, também, o grau de alfabetização científica dos trabalhadores do barracão (LAMBACH, 2009; CHASSOT, 2006). Verificamos que, o trabalhador que consegue aliar o que aprendeu na escola formal de ensino com suas atividades, possui uma relação diferenciada com as tarefas desenvolvidas. A resposta do encarregado da parte de adereços e texturização foi significativa: “Muito, muito, muito, muito...de todas as matérias. Às vezes a gente está na escola e diz “ah pra que eu vou estudar química? Pra que eu vou estudar física? E isso está muito influenciado porque você para fazer um cálculo de material você precisa da matemática, você às vezes usando a cola em certos materiais ela causa uma reação química, você tem que saber a dosagem certa, você tem que saber se aquele material aceita a reação do outro material, é pura química.” A relação encontrada é dialética. O ensino formal tem muito a contribuir com as práticas cotidianas assim como essas podem apoiar as práticas de ensino. A realidade observada no barracão nos indica que é possível obter uma gama de temas geradores científicos que podem ser transformados em materiais didáticos pedagógicos instigantes, facilitando a prática de professores de química.

Uso de poliuretano

Artesão usando o poliuretano por ele mesmo obtido.

CONCLUSÕES: Nossa pesquisa nos fez perceber uma riqueza de possibilidades de diálogo entre as escolas de samba e a formal de ensino. A criatividade do carnaval depende cada vez mais do domínio de tecnologias inovadoras. Do mesmo modo, as escolas formais de ensino dependem de novas abordagens de seus conteúdos para tornar o aprendizado um processo prazeroso e eficaz. A abordagem CTS vem demonstrando que o entrelaçamento de temáticas diversas pode se constituir em um caminho rico e estimulante. O carnaval se apresenta, portanto, como mais um aspecto facilitador do aprendizado do conteúdo de Ciências.

AGRADECIMENTOS: À Beija-flor que abriu suas portas para a nossa pesquisa e ao apoio da FAPERJ e PROCIÊNCIA (IFRJ).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CARDOSO, R. (org.). A Aventura antropológica: teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
CHASSOT, A. Alfabetização científica. Questões e desafios para a educação, 4ª ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2006.
HOFFAMANN, R. O mesmo e o não mesmo. SP: Ed. UNESP, 2007.
LAMBACH, M.; AIRES, J. A. Contextualização do ensino de Química pela problematização e alfabetização científica e tecnológica: uma experiência na formação continuada de professores. VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Florianópolis, 2009.
SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Uma análise de pressupostos teóricos da abordagem CTS (Ciência–Tecnologia–Sociedade) no contexto da educação brasileira. Revista Ensaio, v. 2, n. 2, 2002.