ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Alcalóides isoquinolínicos isolados do caule de Xylopia laevigata (Annonaceae) e investigação das atividades tripanocida e antimicrobiana

AUTORES: Menezes, L.R.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ; Nepel, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Salvador, M.J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) ; Barison, A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ) ; Ribeiro, L.H.G. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) ; Gadelha, F.R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) ; Costa, E.V. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE)

RESUMO: A investigação fitoquímica do extrato metanólico (EM) do caule de Xylopia laevigata (Mart.) R. E. Fries resultou no isolamento de três alcalóides conhecidos: um aporfínico, norpurpureina; um benzilisoquinolínico, reticulina; e um tetraidroprotoberberínico, discretina. A identificação dos alcalóides isolados foi feita através de métodos espectroscópicos, tais como: IV, Massas, e principalmente RMN 1D/2D. Os alcalóides isolados são descritos pela primeira vez na espécie e contribuem para o conhecimento quimiotaxonômico do gênero. O EM apresentou forte atividade contra formas epimastigotas de Trypanossoma cruzi com CI50 igual a 70,4 ± 2,2 μg.mL-1, além de moderada atividade antimicrobiana contra Candida albicans (ATCC 10231) e Candida glabrata (ATCC 30070), ambos com CIM de 500 μg.mL-1.

PALAVRAS CHAVES: Xylopia laevigata; alcalóides isoquinolínico; atividades biológicas

INTRODUÇÃO: Xylopia laevigata (Mart.) R. E. Fries pertence à Annonaceae e é popularmente conhecida como “meiú” e “pindaíba”. Suas folhas e flores são usadas para dores em geral, doenças do coração e contra condições inflamatórias (DA SILVA et al., 2012). É uma espécie típica da Flora Sergipana, sendo encontrada praticamente em todo o Estado. Estudos prévios relatam o isolamento de esteróides, sesquiterpenos e diterpenos com propriedades larvicida e antimicrobiana (DA SILVA et al., 2012). Dando continuidade ao estudo fitoquímico de X. laevigata à procura de produtos naturais bioativos, descrevemos neste trabalho o isolamento de três alcalóides isoquinolílicos (FIGURA 1), bem como o resultado das atividades antimicrobiana e tripanocida dos seus extratos e substâncias isoladas.

MATERIAL E MÉTODOS: O caule de X. laevigata foi coletado no Parque Nacional Serra de Itabaiana, Itabaiana, Sergipe. Posteriormente foi seco em uma estufa de ar-circulante a 45 °C, moído (1400 g) e submetido à extração à frio inicialmente com hexano e depois metanol (5 x 5L, cada), resultando em 18,77 g de EH e 87,79 g de EM, respectivamente. Uma pequena parte desses extratos (1 g) foi submetida aos ensaios de atividades tripanocida e antimicrobiana (SILVA et al., 2012), visando o estudo biomonitorado. Destes, o EM foi o mais ativo. A análise por CCD utilizando o reagente de Dragendorff indicou a presença de substâncias alcaloídicas. Sendo assim, cerca de 84,0 g do EM foi submetido ao tratamento ácido-base convencional, rendendo as frações alcaloídica (FA: 0,93 g) e neutra (FN: 5,50 g), respectivamente. Uma parte de FA (0,73 g) foi submetida ao fracionamento cromatográfico em uma CC de sílica gel previamente tratada com solução de NaHCO3 a 10% eluída com gradientes de hexano:CH2Cl2, posteriormente gradientes de CH2Cl2:EtOAc e finalmente gradientes de EtOAc:CH3OH, resultando em 218 frações de 25 mL cada. As frações obtidas foram analisadas por CCD em diferentes sistemas de solventes e reunidas em 13 grupos de frações (XLG1- XLG13). XLG3 (44,0 mg), XLG5 (58,2 mg) e XLG7(44,1 mg) foram submetidas a CCDP utilizando como eluente CH2Cl2:MeOH (9,5:0,5, v/v, duas eluições), resultando no isolamento das substâncias 1 (4,3 mg), 3 (10,3 mg) e 2 (2,3 mg), respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O estudo fitoquímico do EM do caule de X. laevigata levou ao isolamento de três alcalóides isoquinolínicos comumente encontrados em espécies de Annonaceae (FIGURA 1). Os alcalóides isolados foram identificados com base nos seus dados espectrais (IV, Massas e RMN de 1H e 13C), bem como os dados da literatura, sendo: norpurpureina (1), reticulina (2) e discretina (3). Os alcalóides são descritos pela primeira vez na espécie e contribuem significativamente para o conhecimento quimiotaxonômico do gênero. A norpurpureina foi confirmada pelos sinais em δH 7,97 (s) e 6,78 (s) típicos de H-11 e H-8, bem como os sinais em δH 3,96 (3H, s), 3,92 (6H, s), 3,91 (3H, s) e 3,73 (3H, s), característicos dos grupos metoxílicos substituídos no anel A e D do núcleo aporfínico. A discretina foi confirmada pela presença dos sinais em δH 6,74, 6,71, 6,63 e 6,61, atribuídos respectivamente a H-1, H-12, H-4 e H-9, bem como os sinais em δH 3,89, 3,86 e 3,87 típicos dos grupos metoxílicos substituídos em C-2, C-10 e C- 11, respectivamente. Os dados de RMN de 1H e 13C da reticulina foram recentemente comparados com os dados descritos por DA CRUZ et al. (2011). As atividades antimicrobiana e tripanocida contra formas epimastigotas de Trypanosoma cruzi foram investigadas para os extratos brutos (EH e EM) e reticulina. O EM foi o mais ativo com valor de CI50 de 70,4±2,2 μg.mL-1. A reticulina não foi ativa até a concentração de 100 μg.mL-1 indicando que a atividade tripanocida apresentada pelo EM é devido ao sinergismo das substâncias. Em relação à atividade antimicrobiana EM apresentou moderada atividade contra Candida albicans (ATCC 10231) e Candida glabrata (ATCC 30070), ambos com CIM de 500 μg.mL-1. A atividade antimicrobiana da reticulina foi recentemente descrita por COSTA et al. (2012).

Fig. 1. Alcalóides isoquinolínicos isolados do caule de X. laevigata



CONCLUSÕES: Os alcalóides isolados são descritos pela primeira vez na espécie e contribuem significativamente para o conhecimento quimiotaxonômico do gênero. As significantes atividades biológicas (antimicrobiana e tripanocida) apresentadas pelo extrato metanólico (EM) indica que X. laevigata é uma fonte promissora de substâncias biologicamente ativas.

AGRADECIMENTOS: FAPITEC/SE, CAPES e CNPq pelo suporte financeiro e à Profa. Dra. Ana Paula do Nascimento Prata pela identificação da espécie botânica (ASE/UFS).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: COSTA, E. V.; DA CRUZ, P. E. O.; LOURENÇO, C. C.; MORAES, V. R. S.; NOGUEIRA, P. C. L.; SALVADOR, M. J. 2012. Antioxidant and antimicrobial activities of aporphinoids and other alkaloids from the bark of Annona salzmannii A. DC. (Annonaceae). Natural Product Research, DOI: 10.1080/14786419.2012.688044.

DA CRUZ, P. E. O.; COSTA, E. V.; MORAES, V. R. S.; NOGUEIRA, P. C. L.; VENDRAMIN, M. E.; BARISON, A.; FERREIRA, A. G.; PRATA, A. P. N. (2011) Chemical constituents from the bark of Annona salzmannii (Annonaceae). Biochemical Systematics and Ecology 39: 872-875.

SILVA, D. M.; COSTA, E.V.; NOGUEIRA, P. C. L.; MORAES, V. R. S.; CAVALCANTI, S. C. H.; SALVADOR, M. J.; RIBEIRO, L. H. G.; GADELHA, F. R.; BARISON, A.; Ferreira, A. G. 2012. Ent-kaurane diterpenoids and other constituents from the stem of Xylopia laevigata (Annonaceae). Química Nova, no prelo.