ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: AYAHUASCA: USO E EFEITOS DAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

AUTORES: Silva, A.M. (UECE) ; Oliveira, R.M. (UECE)

RESUMO: Este trabalho visa esclarecer o uso do chá hoasca, buscar conhecimento sobre suas propriedades e efeitos, especificar as substâncias químicas presentes no cipó (Banisteriopsis caapi) e na folha (Psichotria viridis), determinar a identidade dessas plantas com as quais a ayahuasca é preparada. Mostrar a existência das diversas religiões que utilizam o chá durante as suas reuniões. De acordo com as pesquisas feitas por especialistas o consumo do chá não constitui um perigo desde que seja usado dentro das regras estabelecidas pelo Conselho Nacional Antidrogas (CONAD). O método utilizado foi o estudo bibliográfico sobre o assunto.

PALAVRAS CHAVES: chá hoasca; Ayahuasca ; Banisteriopsis caapi

INTRODUÇÃO: Ayahuasca é uma palavra de origem quíchua e significa liana dos espíritos ou ainda cipó da alma, dos mortos. O termo é um dos mais utilizados para designar uma bebida psicoativa preparada geralmente com duas plantas: a liana ou cipó propriamente dito, cujo nome científico é Banisteriopsis caapi, e as folhas do arbusto Psychotria viridis, plantas estas naturais da Floresta Amazônica. Seu uso e ritual remonta à pré-história, atualmente encontra-se difundido por diversas partes do Brasil e do mundo (ARAÚJO, 2003; GOULART, 2003; LUNA, 2003). Além do uso indígena, associado ao xamantismo, outra modalidade de consumo deste cipó é a do vegetalismo, uma forma de medicina popular à base de alucinógenos vegetais, cantos e dietas. Os vegetalistas são os curandeiros (curadores) de populações rurais do Peru e da Colômbia que mantém elementos dos antigos conhecimentos indígenas sobre as plantas, ao mesmo tempo em que absorvem algumas influências do esoterismo europeu e do meio urbano (LABATE, 2003). Embora em vários países da América do Sul, tais como Colômbia, Bolívia, Peru, Venezuela e Equador, haja uma tradição de consumo da ayahuasca por xamãs e vegetalistas, curiosamente é somente no Brasil que se desenvolvem religiões de populações não indígenas que utilizam esta bebida. O interesse pelo tema revigora-se no atual momento, em que parece haver uma expansão generalizada do consumo do chá hoasca pelo mundo (LABATE, 2003). Existe um fenômeno social amplo nas sociedades pós-modernas ocidentais de busca individual e coletiva de novos horizontes psíquicos que abarquem as questões existenciais, incluindo sua dimensão de sacralidade. Diante do exposto o presente trabalho descreve o uso e efeitos desse chá em estudo.

MATERIAL E MÉTODOS: Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica em livros, sites e artigos sobre uso da ayahuasca e seus componentes químicos. Especificou-se as substâncias químicas presentes no cipó (o Mariri) e nas folhas de um arbusto (a Chacrona). Foi feito destaque aos possíveis efeitos tóxicos das substâncias presentes no chá ayahuasca. Analisou-se os aspectos sociológicos, psicológicos, médicos e legais da utilização do chá e procurou-se demonstrar a importância dessa bebida para as religiões que a utilizam em seus rituais. Em seguida foi feito o aprofundamento do assunto de forma detalhada e finalmente foi desenvolvido os seguintes tópicos: farmacologias da ayahuasca, aspectos da ação do chá ayahuasca, as religiões ayashuasqueiras brasileiras, análise e experimentos do chá hoasca, Na pesquisa os seguintes livros foram utilizados: O Uso Ritual da Ayahuasca; As Viagens dos Vassalos do Rei Salomão ao Rio das Amazonas; Navegando Sobre as Ondas do Daime (Histórias, Cosmologia e Ritual da Barquinha) e Hoasca: ciência, sociedade e meio ambiente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em 1992 teve início o Projeto Hoasca (Farmacologia Humana da Hoasca), de investigação biomédica sobre os efeitos do chá, envolvendo nove centros universitários e instituições de pesquisa do Brasil, Estados Unidos e Finlândia. O chá hoasca é obtido a partir da mistura de duas plantas alucinógenas. É a única preparação botânica, no que diz respeito à atividade farmacológica, dependente de uma interação sinérgica entre os alcaloides ativos existentes nas plantas. Um dos componentes, a banisteriopsis caapi, contém alcaloides de Beta-carbolina, que são potentes inibidores MAO-A (monoamina oxidase-A); o outro componente, as folhas da Psychotria viridis ou espécies correlatas contém um potente alucinógeno de ação rápida, a N,N-dimetiltriptamina (DMT). A DMT não é ativa quando ingerida oralmente, mas pode se apresentar oralmente ativa quando na presença do inibidor periférico da MAO (monoamina oxidase) – esta interação é à base da ação alucinógena do chá hoasca (BRITO, 2003). A fig. 1 mostra a Baniseriospsis caapi. Através da cromatografia de alta precisão, foram observados os resultados que estão demonstrados na tabela 1. Foi concluído que a variedade caupurí possui maior concentração de beta-carbolinas que a variedade tucunacá (SÉRPICO, 2006). Os princípios ativos encontrados principalmente na casca são derivados de beta-carbonílicos: harmina, harmalina e tetrahidroharmina. Os alucinógenos, ou substâncias psicodélicas, é uma classe de agentes psicofarmacológicos capazes de causar grandes mudanças no pensamento, no humor e na percepção. Quimicamente, os alucinógenos dividem-se primariamente em duas classes: derivados de feniletilamina e derivados do indol.

FIGURA – 1: BANISTERIOSPSIS CAAPI

A fig. 1 mostra a Baniseriospsis caapi.

TABELA 1 - Quantificação dos alcaloides

Quantificação dos alcaloides extraídos a partir de Cascas secas de duas variedades de B. caapi

CONCLUSÕES: Realizou-se neste trabalho um estudo intensivo e exaustivo a respeito dos aspectos médicos da Hoasca. O Departamento Médico-científico da UDV (União do Vegetal) é hoje um importante centro de referência no conhecimento do chá Hoasca e mantém permanente contato com o mundo acadêmico, assessorando a Direção do Centro na sua interlocução com as autoridades públicas da área de saúde. O uso ritual da ayahuasca é um fenômeno intrigante e amplo que instiga a pesquisa em várias áreas das ciências.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ARAÚJO, Wladimir Sena. A barquinha: espaço simbólico de uma cosmologia em construção. In:______. O Uso Ritual da Ayahuasca. 2. ed. Campinas, SP: Mercado de Letras e Livrarias Ltda. p.541-555, 2003.

BRITO, Glacus de Souza. Farmacologia Humana da Hoasca. In:______. O Uso Ritual da Ayahuasca. 2. ed.. Campinas, SP: Mercado de Letras e Livrarias Ltda. p. 623-641, 2003.

GOULART, Sandra Lúcia. O contexto de surgimento do culto do santo daime: formação da comunidade e do calendário ritual. In:______. O Uso Ritual da Ayahuasca. 2. ed. Campinas, SP: Mercado de Letras e Livrarias Ltda. p. 277-300, 2003.

LABATE, Beatriz Caiuby. O Uso Ritual da Ayahuasca. 2. ed. Campinas, SP: Mercado de Letras e Livrarias Ltda. p.231-269, 2003.

LIMA, Emmanuel Gomes Correia. O Uso Ritual da Ayahuasca: da Floresta Amazônica aos centros urbanos. 2004. 90f. Monografia (Conclusão do Curso de graduação em Geografia) – Departamento de Geografia, Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília, Brasília, 2004.

LUNA, Luiz Eduardo. Xamantismo amazônico, ayahuasca, antropomorfismo e mundo natural. O Uso Ritual da Ayahuasca. 2. ed. Campinas, SP: Mercado de Letras e Livrarias Ltda. p.181-196, 2003.

SÉRPICO, Rosana Lucas. Ayahuasca: Revisão Teórica e Considerações Botânicas sobre as espécies banisteriopsis caapi e psychotria viridis. 2006. 36f. Monografia (Conclusão do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas) – Universidade de Guarulhos, Guarulhos, 2006.