53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: EXTRAÇÃO ARTESANAL E A QUALIDADE DOS ÓLEOS DE BABAÇU PRODUZIDOS NA ZONA RURAL EM JI-PARANÁ, RONDÔNIA

AUTORES: Oliveira, A. (IFRO) ; Mendonça, A. (IFRO) ; Ferraz, F. (IFRO) ; Rosa, J. (IFRO) ; Ribeiro, C. (IFRO) ; Novais, J. (IFRO) ; Ferreira, R. (IFRO) ; Silva, M. (IFRO) ; Rosa, J. (IFRO)

RESUMO: A extração artesanal do óleo de babaçu é uma alternativa de diversificação da produção de famílias na zona rural de Rondônia. O processo de extração artesanal é longo e complexo. O estado de conservação do óleo está relacionado à qualidade da matéria-prima e com as condições de conservação, pois a decomposição dos glicerídeos é acelerada por aquecimento e pela luz. Há pouca informação sobre a qualidade desses óleos. O trabalho avaliou a qualidade dos óleos de babaçu produzido por duas famílias na zona rural em Ji-Paraná por meio da análise do índice de acidez. O índice de acidez foi baixo comparado ao recomendado pela legislação. A capacitação de produtores rurais no manejo das sementes, extração e acondicionamento do óleo de babaçu asseguraria maior qualidade e melhor valor no mercado.

PALAVRAS CHAVES: acidez; óleos vegetais; Amazônia

INTRODUÇÃO: Historicamente, a Amazônia brasileira teve a sua presença garantida no cenário econômico nacional graças aos recursos que podiam ser extraídos de sua floresta. Desde o século XVII a exploração não madeireira de diversos produtos é uma das fontes de renda das populações locais (Silva, 1996). Contudo, é preciso garantir aos produtores acesso ao crédito, condições e tecnologia para a produção, além de garantias para a comercialização dos seus produtos (Lima e Wilkinson, 2002). Dentre as espécies com potencial de diversificar a agricultura familiar em Rondônia, encontra-se o babaçu. A palmeira do babaçu é de origem brasileira, encontrada na região amazônica e mata atlântica do Estado da Bahia (Castro et al.; 2002; Porto, 2004). Rondônia tem uma alta ocorrência da palmeira nas áreas de pastos. O fruto do babaçu tem uso múltiplo, das amêndoas é extraído o óleo (Frazão, 2001). O óleo pode ser extraído pelos métodos: solvente químico, prensa a frio ou ainda artesanalmente. Nas comunidades rurais de Rondônia é comum a extração artesanal. O óleo de babaçu apresenta ampla diversidade de ácidos graxos, mas são as elevadas concentrações de ácidos láuricos e mirísticos que a caracterizam (Porto, 2004; Lima et al.; 2007). Segundo sua qualidade, o óleo pode ser classificado em: bruto, resultado da extração artesanal, por pressão mecânica ou por solvente e óleo refinado. O óleo bruto possui características físico-quimica que fogem dos padrões para o seu consumo imediato (Oliverira, 2001), devendo ser submetido ao processo de refino para torná-lo produto comestível (Brasil, 1999). Portanto, o trabalho avaliou a qualidade dos óleos de babaçu extraídos artesanalmente por famílias na zona rural em Ji-Paraná, Rondônia.

MATERIAL E MÉTODOS: Foi acompanhado o processo de extração artesanal do óleo de babaçu realizado por duas famílias na zona rural do município de Ji-Paraná e a qualidade do óleo foi avaliada por meio da analise do índice de acidez em triplicata de acordo com a metodologia descrita por Adolfo Lutz (2005). Foi observado o manejo e processamento das amêndoas de babaçu, o tempo de cozimento das amêndoas para liberação do óleo, o filtro e acondicionamento do óleo, a fim de identificar os fatores que podem influenciar na qualidade do óleo. O índice foi comparado com o valor descrito na Resolução 270 de 2005 da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) (Brasil, 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os óleos extraídos artesanalmente tiveram o índice de acidez variando de 0,24 a 1,57 mg KOH.g-1 (Tabela 1), valores inferiores ao recomendado pela legislação (Brasil, 2005). As famílias extratoras do óleo de babaçu coletam os frutos caídos ao redor da palmeira. As amêndoas são retiradas do fruto com auxílio de um martelo e lâmina afiada e, em seguida, as moem. As amêndoas moídas são colocadas em panela de alumínio com água em fogo a lenha para cozinhar por cerca de quatro horas até que todo óleo seja liberado. O óleo fica sobre a água e é retirado com auxílio de uma colher e transferido para outra panela e novamente aquecido até que toda água evapore. Por fim, o óleo é “filtrado” com auxílio de um coador de café e acondicionado em garrafa reutilizada de refrigerante sem rotulagem. Os extratores utilizam 20 kg de amêndoas de babaçu para obterem 2 litros de óleo. Os extratores têm como parâmetro de qualidade a cor do óleo. O óleo mais claro é tido como de maior qualidade. Shanley et al (1998) indicaram que a qualidade dos óleos é avaliada de maneira empírica pela cor, odor e viscosidade, o que justifica as embalagens transparentes no comércio informal. Estudo semelhante realizado por Oliveira et al (2007) analisaram seis amostras de óleo bruto de babaçu na zona rural do Piauí. Apenas uma amostra teve o índice de acidez superior (5,90 mL de KOH 0,1mol.L-1) ao recomendado pela legislação. O óleo de babaçu tem uma coloração branca à levemente amarelada (Mota et al., 2010). Apresenta ampla diversidade de ácidos graxos, mas são elevadas concentrações dos ácidos láurico e mirístico que favorecem sua utilização (Urioste et al., 2008). As gorduras láuricas são resistentes à oxidação não enzimática e têm baixa temperatura de fusão (Machado et al., 2006).

Tabela 1

Índice de acidez dos óleos de babaçu extraídos de modo artesanal por produtores rurais na zona rural de Ji-Paraná, Rondônia, Brasil.

CONCLUSÕES: A capacitação de produtores rurais sobre o processo de extração e acondicionamento dos óleos em conformidade com a legislação vigente asseguraria produtos de melhor qualidade e maior valor de mercado.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao Instituto Federal de Rondônia, Câmpus Ji-Paraná e ao CNPq por meio do edital 058 de 2010 pelas bolsas concedidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). 1999. Resolução RDC n° 482, de 23 de setembro de 1999. Aprova o Regulamento Técnico: “Fixação de Identidade e Qualidade de Óleos e Gorduras Vegetais”. http://www.anvisa.gov.br/<Acesso em 10 Jul. 2013>

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