53º Congresso Brasileiro de Quimica
Realizado no Rio de Janeiro/RJ, de 14 a 18 de Outubro de 2013.
ISBN: 978-85-85905-06-4

ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: LEI SECA COMO TEMA GERADOR DE ENSINO E DE CONSCIENTIZAÇÃO EM ESCOLA PÚBLICA

AUTORES: Pereira, B. (UFES) ; Almeida, A. (UFES) ; Ribeiro, M.A. (UFES) ; Guarçoni, D. (EEEM COLÉGIO ESTADUAL DO ESPÍRITO SANTO) ; Lelis, M.F. (UFES) ; Ferreira, S.A. (UFES)

RESUMO: Este trabalho foi desenvolvido com estudantes do 2º ano do ensino médio de uma escola pública em Vitória, ES. Utilizou-se como tema gerador a Lei Seca, a fim de problematizar os conteúdos de Química, Sociologia e Filosofia e promover a conscientização dos alunos a respeito desta problemática atualmente vivida em nosso país. A pesquisa realizada foi de caráter qualitativo, empregando uma sequência didática com aulas expositivas dialogadas, aulas experimentais, apresentação de vídeos e o uso de teatro como forma de verificar a aprendizagem. Ao fim do trabalho, observou-se que houve um significativo acréscimo no vocabulário dos alunos, além de ter despertado na maioria, interesse em adquirir conhecimentos relacionados ao tema.

PALAVRAS CHAVES: Teor alcoólico; Ensino de química; Lei seca

INTRODUÇÃO: O ensino de Ciências em geral, e em especial de Química, deve apresentar uma preocupação com aspectos relativos à cidadania utilizando temas de interesse social do cotidiano, associando aspectos tecnológicos e socioeconômicos. Deve-se procurar transmitir o conhecimento químico juntamente com uma formação crítica, que permita a reflexão sobre suas implicações sociais e ambientais. Esta é uma preocupação em nível mundial, constante no denominado ensino de CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente) (RESSETTI, 2000). Na sociedade em que vivemos, o consumo de bebidas alcoólicas é muito comum em diversas idades, em todas as regiões brasileiras e vem crescendo significativamente entre os jovens. Segundo levantamento feito pelo DETRAN, o número de jovens entre 18 a 29 anos mortos ou feridos, nas estradas ou rodovias está entre 65% e 70% dos acidentes, causados pela ingestão de álcool. Para tentar diminuir o volume de acidentes, campanhas de prevenção e fiscalização são fundamentais para sensibilizar motoristas e dentre estas ações, surge a “Lei Seca”, que estabelece o valor zero para o limite de alcoolemia de motoristas e, além disso, impõe penalidades àqueles que dirigem sobre influência do álcool. Trabalhar com tema desta natureza, envolvendo bebidas alcoólicas e o alcoolismo requer um cuidado especial, uma vez que além dos objetivos de analisar qualitativamente a aplicação de uma sequência didática a partir da problemática do uso do álcool versus direção e contribuir com o ensino aprendizagem em química, tem a função de conscientizar os jovens sobre o perigo do consumo de álcool e suas consequências. Estas ações tornaram-se interdisciplinares com envolvimento das disciplinas de química, sociologia e filosofia, de toda a escola e da comunidade de modo geral.

MATERIAL E MÉTODOS: Este trabalho foi desenvolvido em uma turma de segundo ano do ensino médio da EEEM “Colégio Estadual do Espírito Santo”, com 28 alunos. As atividades foram desenvolvidas de acordo com a sequência didática elaborada por LEAL et al. (2012) listada a seguir: Aplicação de dois questionários diagnósticos para coleta de dados, o primeiro sobre conceitos químicos envolvendo o bafômetro e o teor de álcool nas bebidas e o segundo sobre Lei Seca e o consumo de álcool na adolescência; Aula teórica sobre o tema soluções envolvendo cálculo de teor alcoólico; Aula experimental com a montagem do Bafômetro, conforme modelo demonstrativo (FERREIRA,1997); Aula expositiva dialogada sobre bebidas destiladas e fermentadas; Apresentação e discussão do vídeo “A Bebedeira dos Jovens” desenvolvido na disciplina de sociologia e por último, aplicação de um questionário para a verificação da aprendizagem. Em paralelo a esta sequência didática, foi desenvolvido na disciplina de filosofia, debates que relacionavam a ética com a questão problematizadora. Ao final destes debates, os alunos desenvolveram folders e cartazes que ilustravam o que foi debatido em sala de aula e divulgaram na escola.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A análise do questionário diagnóstico aplicado demonstrou que os alunos possuíam conceitos prévios sobre teor alcoólico no sangue, o tipo de equipamento utilizado para realizar esta medida, os produtos que podem acusar resultados positivos no teste do bafômetro e ainda, afirmaram em sua grande maioria, que bebidas destiladas possuem maior teor alcoólico quando comparadas às bebidas fermentadas. Entretanto, conceitos como processo de fabricação de bebidas alcoólicas, ação das mesmas no organismo e o funcionamento básico de um bafômetro eram conteúdos desconhecidos pela maioria dos alunos. Um fato que merece destaque foi o interesse demostrado pela maioria dos alunos durante a montagem do bafômetro didático (Figura 1). Na Figura 2, verificou-se o funcionamento do bafômetro com amostras de álcool doméstico, cachaça e cerveja e como referência, um balão contendo apenas ar. Mudanças na coloração indicavam a presença do álcool na amostra, verificado por meio da variação na coloração do giz (Figura 2). As representações teatrais elaboradas e apresentadas pelos alunos como forma de avaliação da aprendizagem demonstraram que os mesmos absorveram os conteúdos propostos, de forma que termos tais como etanol, fermentação e destilação tornaram presentes no vocabulário da maioria dos alunos durante as encenações. Com relação ao segundo questionário, observou-se que a maioria dos alunos conhece e convive com pessoas que dirigem alcoolizadas. Dentro deste contexto, os debates propostos nas disciplinas de sociologia e filosofia ocorreram de forma construtiva, de modo que todos apresentaram suas opiniões e hipóteses sobre o que leva a sociedade ao consumo excessivo de álcool e a responsabilidade do motorista alcoolizado em assumir a direção de um veículo.

Construindo um bafômetro

Figura1: Montagem do modelo demonstrativo

Construindo um bafômetro

Figura 2: Modelos demonstrativos do bafômetro após o teste com amostras de: álcool doméstico; cachaça, cerveja e ar (enumeradas de cima para baixo).

CONCLUSÕES: A partir da sequência didática proposta neste trabalho, foi possível observar a evolução da compreensão de caráter sincrético para uma compreensão de caráter sintético, demonstrando a apropriação por parte dos alunos dos conceitos científicos envolvidos, elaborados por meio da discussão do contexto social em função da construção do conhecimento científico. A interdisciplinaridade do tema gerador despertou o interesse dos alunos em relação ao tema abordado e aos conceitos de química trabalhados durante o trabalho, promovendo a conscientização das pessoas para diminuir infrações e acidentes.

AGRADECIMENTOS: PIBID, CAPES, UFES, SEDU.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: RESSETTI, R. R. Química. Francisco Alves: NCT, 2000.
LEAL, Murilo Cruz; ARAÚJO, Denilson Alves de; PINHEIRO, Paulo César. Alcoolismo e Educação Química. Quimica Nova Na Escola, São Paulo, v. 34, n. 2, p.58-66, 13 jul. 2013.
FERREIRA, Geraldo A. Luzes; MÓL, Gerson de Souza; SILVA, Roberto Ribeiro da. Bafômetro: um modelo demonstrativo. Química Nova Na Escola, São Paulo, n. , p.32-33, 10 jun. 2013.