TRATAMENTO E IMPERMEABILIZAÇÃO DAS VASILHAS DE BARRO PRODUZIDAS NAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DO BAIXO AMAZONAS: EXTRATO DE CUMATÊ INDICATIVO ETNOGRÁFICO SUSTENTÁVEL

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Química Orgânica

Autores

Farias, F.S.S. (UEA) ; Silva, E.T. (UEA) ; Eleuterio, C.M.S. (UEA) ; Pereira, D.S. (UEA) ; Santos, M.J. (UEA)

Resumo

A Conferência de Estocolmo realizada em 1972 foi o primeiro grande passo para se propor atividades socioeducativas e sustentáveis. As propusitoras dessa e outras conferencias ambientais promovem e fomentam ações que contribuiem para aperfeiçoar o processo técnico e produtivo das ceramistas de Mocambo do Arari. Para isso, produzimos um extrato de cumatê (Myrcia atramentifera), rico em tanino para ser testado como impermeabilizador das vasilhas de barro, em substituição às resinas de jutaicica, utilizadas após a queima em temperatura acima de 300°C provocando lesões epidérmicas nos braços das artesãs e oculares, o que justifica a realização deste estudo.

Palavras chaves

Conhecimento químico; Saber tradicional; Sustentabilidade

Introdução

Nos últimos 40 anos a sustentabilidade é alvo de discussão e a Conferência de Estocolmo realizada em 1972 foi o primeiro grande passo para se propor atividades socioeducativas capazes de garantir um meio ambiente socialmente justo e economicamente viável. A ECO 92, veio consolidar o conceito de sustentabilidade amplamente debatido pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1987, assim como, fortalecer a união dos termos meio ambiente e desenvolvimento preconizada na Conferência de Estocolmo. Graças a essas ações que hoje podemos pensar em estratégias que atendam às necessidades sociais sem comprometer as futuras gerações. A partir dessas informações e com o intuito de contribuir com as ceramistas de Mocambo do Arari, produzimos o extrato de cumatê (Myrcia atramentifera), rico em tanino, utilizado para tingir e conferir resistência às cuias de tacacá. Essa experiência nos estimulou a testar o extrato nas vasilhas de barro produzidas por essas mulheres que há anos praticam esta etnografia. Durante a pesquisa, tivemos a informação que antigamente extratos de outros vegetais eram utilizados para tingir somente as vasilhas que iam ao fogo. Isso nos levou a testar o extrato de cumatê nas peças cerâmicas produzidas no Mocambo do Arari com a intenção de conferir resistência e prolongar a vida útil das vasilhas dessa região como fazem as paneleiras de Goiabeiras (ES) e os Suruí (RO). As ceramistas do Mocambo do Arari não utilizam essa técnica, usam a resina de jutaicica para tornar impermeável as vasilhas, que ao nosso ver vem comprometendo a saúde dessas mulheres pois, não utilizam nenhum equipamento de proteção para passar a resina que se dá após a queima. Nessa etapa as vasilhas alcançam temperatura acima de 300°C o que justifica a realização do estudo.

Material e métodos

O procedimento metodológico deste trabalho teve início com a coleta do material – cascas do cumatezeiro (Myrcia atramentifera) árvore da família das melastomáceas, ricas em taninos. O material foi coletado em duas regiões do Estado do Amazonas: na comunidade de Paurá, município de Urucará e na Agrovila de Caburi, município de Parintins-AM, nos meses de julho de 2012 e maio 2014. As cascas foram levadas ao Laboratório de Química do Centro de Estudos Superiores de Parintins da Universidade do estado do Amazonas para realização dos procedimentos metodológicos e técnicos. A secagem do material se deu em ambiente natural, as cascas foram trituradas em um liquidificador e peneiradas, empregando a porção que ficou retida na malha de 20 mesh. O extrato foi produzido seguindo a marcha analítica que orienta pesar 5,0g da casca triturada; colocar na estufa por 30 min.; deixar esfriar no dessecador por esse mesmo tempo. Foram confeccionados copos com papel de filtro que foram colocados na estufa por 10 min.; esfriado no dessecador por esse mesmo tempo. O copo de papel foi pesado e em seguida colocou-se 5,021de amostra seca e triturada e levado ao extrator Soxhlet. Foram adicionados 260 mL de água de torneira no balão de fundo chato que estava conectado no extrator. O extrato tânico foi transferido para um recipiente e testado nas vasilhas de barro no Laboratório de Educação Química e Saberes Primevos, vinculado ao Curso de Licenciatura em Química, no Centro de Estudos Superiores de Parintins da Universidade do Estado do Amazonas. O tratamento (açoite e esfumaçamento) durou 04 dias, tempo necessário para que as vasilhas adquirissem a cor preta.

Resultado e discussão

Os testes realizados nas vasilhas de barro mostraram que o extrato tânico do cumatê tem o mesmo poder de impermeabilização que o extrato tânico da casca de Mangue Vermelho (Rhizophlora mangle) e o extrato da entrecasca do jequitibá (, usado para a açoitar as panelas de barro após a queima e lhes conferir a cor negra. Os testes foram realizadas em vasilhas brunidas e rugosas. Após 22 aplicações as vasilhas brunidas adquiriram uma coloração levemente preta, porém, os utensílios com aparência rugosa absorveram a tonalidade negra mais rapidamente em decorrência da porosidade. Foi percebido que após o processo de esfumaçamento as panelas adquiriram brilho intenso, resistência agregando-lhes valor estético. Acima de todos os resultados já relatados, o processo aqui desenvolvido se mostra eficiente para substituir o processo atualmente utilizado pelas artesãs da Comunidade do Mocambo, no qual a resina jutaicica reveste as vasilhas de barro numa temperatura aproximada de 300°C o que dificulta o manuseio e aumenta a probabilidade de acidentes como: queimaduras e lesões oculares. O extrato tânico é obtido em meio aquoso; o açoite é realizado em temperatura ambiente; as cascas são extraídas com mais facilidade e é mais barato que as resinas de juteicica. Portanto, esse produto se constitui uma alternativa econômica e sustentável e contribuirá para o acabamento final das vasilhas de barro e perpetuar essa prática etnográfica nas comunidades tradicionais da Amazônia.

Conclusões

Foi desenvolvido um processo mais econômico e mais seguro para tratamento e impermeabilização das vasilhas de barro, sem perder as características artesanais desses produtos, sendo assim considerado viável para utilização pelas ceramistas do Mocambo do Arari.

Agradecimentos

CESP/UEA FAPEAM Caboclos extratores das comunidades de Paurá e Mocambo do Arari

Referências

PEROTA, Celso. As paneleiras de Goiabeiras. Vitória: Secretaria Municipal de Cultura/PMV, 1997.
SOUSA, Marília de Jesus Silva. Etnografia da Produção de Artefatos e Artesanatos em Comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã – Médio Solimões. UAKARI, v.5, n.1, p. 21-30, jun. 2009.
SOUSA, Marília de Jesus Silva. DOMINGUES-LOPES, Rita de Cássia. Acervo Etnográfico: aspectos da cultura material das comunidades ribeirinhas das Reservas Mamirauá e Amanã. UAKARI, v.4, n.1, p. 41-50, jul. 2008.
VIDAL, Jean-Jacques Armand Vidal. A cerâmica do povo Paiter Suruí de Rondônia: continuidade e mudança cultural, 1970-2010, São Paulo. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, 2011.

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