ESTUDOS INICIAIS DO METALOMA DE CURIMATÃ (Prochilodus sp.) DA REGIÃO AMAZÔNICA, BUSCANDO BIOMARCADORES DE TOXICIDADE DE MERCÚRIO

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Bioquímica e Biotecnologia

Autores

Correia Bittarello, A. (UNESP) ; Cavecci, B. (UNESP) ; Cavalcante Souza Vieira, J. (UNESP) ; Pereira Braga, C. (UNESP) ; Queiroz, J.V. (UNESP) ; Federici Padilha, I. (UNESP) ; Federici Padilha, C. (UNESP) ; Magalhães Padilha, P. (UNESP)

Resumo

A contaminação por mercúrio tem sido reconhecida como uma questão importante desde o início da década de 1970, e hoje há abundância de evidências de que este metal é um dos mais tóxicos para os organismos vivos. A principal via de absorção pelos peixes é dietética e representa uma ligação importante entre a contaminação por mercúrio e a saúde humana. O mercúrio afeta principalmente: fígado, mucosa intestinal, rins, músculo, sangue e sistema nervoso. O mercúrio em sua forma orgânica (metilada) se liga a proteínas, e estudos mostram que essa afinidade ocorre com proteínas de baixo peso molecular. Este trabalho buscou através de técnicas de separação proteica (2D-PAGE) e de quantificação de mercúrio (GFAAS) iniciar os estudos para a busca de um potencial biomarcador de toxicidade de mercúrio.

Palavras chaves

2D-PAGE; GFAAS; Contaminação

Introdução

A distribuição do mercúrio nos sedimentos está relacionada com o conteúdo de carbono orgânico, argila, ferro, fósforo, potencial redox e enxofre, dentre outros. Os agentes orgânicos complexantes solúveis em água, tais como humatos e fulvatos, podem quelar as cinco espécies solúveis e insolúveis na água; os últimos precipitam-se diretamente da solução para o sedimento. Os solos possuem elevada capacidade de reter e armazenar mercúrio, devido ao forte acoplamento deste com o carbono presente. Os solos argilosos apresentam, aparentemente, grande capacidade de reter mercúrio, podendo acumulá-lo por muitos anos. Como o curimatã é uma espécie detritívora, que se alimenta dos sedimentos, o objetivo deste estudo foi compreender a relação do mercúrio e sua ligação com as proteínas desta espécie (BAHIA, 1997; ROCHA et al., 2000; PFEIFFER et. al., 1993; MALM et al., 1995; LECHLER et al., 1997).

Material e métodos

Em almofariz, 1g de pool de tecido muscular, foi macerado (pistilo) com água deionizada (1:1), as proteínas extraídas foram separadas por precipitação fracionada com misturas de etanol/clorofórmio e etanol/ácido clorídrico. A determinação de proteína total foi feita através do método de Biureto. Após esses procedimentos, os pellets proteicos foram ressolubilizados em tampão específico e submetidos ao processo de separação por eletroforese bidimensional em gel de poliacrilamida com concentração de 15% (2D–PAGE). Os spots de massa molar inferior a 30 kDa foram recortados e mineralizados com ácido sulfúrico e peróxido de hidrogênio e o Hg quantificado através de técnica de espectrometria de absorção atômica em forno de grafite (GFAAS) (MORAES et al., 2013).

Resultado e discussão

A Figura 1 mostra um dos géis obtido em seis repetições das corridas eletroforéticas das amostras de tecido muscular (Os números e círculos em vermelho indicam os spots nos quais foram identificadas a presença de mercúrio). Os spots proteicos destacados com círculo são aqueles nos quais foi detectada a presença de mercúrio e suas concentrações por GFAAS. Foi feita a conversão da estimativa das massas de spots proteicos e das massas de mercúrio para quantidade de moléculas de spot proteico e quantidade de átomos de mercúrio. Para isso, consideraram-se as respectivas massas molares dos spots proteicos, a massa molar do mercúrio (200,59 g mol-1), a constante de Avogadro (6,022x1023) e que 1 kDa = 1,661x10-24 g. Esses cálculos possibilitaram a estimativa de quantos átomos de mercúrio estariam presentes por moléculas de spot proteico (LIMA et al., 2010; SANTOS et al., 2011; NEVES et al., 2012). Os resultados obtidos nesses cálculos são mostrados na tabela 1 em termos de número de átomos mercúrio por molécula do spot proteico considerado.

Figura 1

Gel a 15% (m/v) obtido por 2D-PAGE (faixa de pH 3- 10) para amostras de tecido muscular de curimatã.

Tabela 1

Estimativa do número de átomos de mercúrio por molécula de spot proteico das amostras de tecido muscular de curimatã.

Conclusões

Para o estudo inicial da metalômica, esses resultados são relevantes, pois permitirão futuramente, com auxílio de outras metodologias, afirmar quais destas proteínas são metaloproteínas, e quais destas são possíveis biomarcadoras de toxicidade de mercúrio.

Agradecimentos

À Capes, FAPESP 2010/51332-5, ANEEL/ESBR PD-6631-0001/2012 e CNPq 472388/2011-8.

Referências

BAHIA, M. O. Le potentiel génotoxique du mercure: mutations HPRT et effects cytogénétiques. Dissertação de Mestrado, Montreal - Canadá: Université du Quebéc à Montréal, 119p., 1997.
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