PRODUÇÃO DE CELULASE PELO FUNGO Penicillium chrysogenum EM FERMENTAÇÃO SEMI-SÓLIDA, UTILIZANDO O PEDÚNCULO DE CAJU.

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Bioquímica e Biotecnologia

Autores

Oliveira Júnior, S.D. (UFRN) ; Souza Filho, P.F. (UFRN) ; Batista, M.C. (UFRN) ; Macedo, G.R. (UFRN) ; Santos, E.S. (UFRN)

Resumo

A produção de enzimas utilizando resíduos agroindustriais vem recebendo destaque por ser uma solução para a disposição de resíduos e por auxiliar na redução dos custos do processo. Neste trabalho, verificou-se a capacidade de produção de celulase pelo fungo Penicillium chrysogenum através de fermentação semi-sólida (FSS) do pedúnculo de caju. foi elaborado um planejamento experimental fatorial para se investigar a influência da umidade, da concentração de (NH4)2SO4 e de carboximetilcelulose,. O fungo P. chrysogenum apresentou atividades de CMCase de 0,497 UI/mL e de 0,012 UI/mL de avicelase. Microrganismo e substrato utilizados apresentaram potencial para processos de produção de enzimas em cultivo semi sólido. A umidade mostrou-se estatisticamente significativa para a CMCase.

Palavras chaves

celulase; bagaço de caju; Penicillium chrysogenum

Introdução

Na região Nordeste do Brasil, são produzidas cerca de 200 mil toneladas de castanha e dois milhões de toneladas de pedúnculo de caju por ano (OLIVEIRA e ANDRADE, 2007). O aproveitamento do pedúnculo, entretanto, é inferior a 20%. Seus principais usos são o consumo in natura e a fabricação de doces, compotas e bebidas. Uma das causas para o baixo aproveitamento está relacionada ao seu tempo de deterioração, que ocasiona excessivas perdas no campo e na indústria (CAMPOS, 2003). Uma alternativa viável para utilização dos resíduos agrícolas é a utilização desses na produção de enzimas utilizando fungos filamentosos, uma vez que tais microrganismos podem se desenvolver em condições adversas, como baixa umidade, pH e temperaturas variadas, sendo ideais para o cultivo semi sólido. O processo de fermentação semi-sólida (FSS) envolve o crescimento e metabolismo do microrganismo na ausência ou quase ausência de água livre, empregando um substrato sólido, ou suporte. A FSS se apresenta como uma tecnologia que promove a diminuição de problemas ambientais (ROCHA, 2010), gerando altos rendimentos e baixa demanda energética quando comparada à fermentação submersa (KRISHNA, 2005). O pedúnculo de caju apresenta teor de celulose de 20,56% (GOUVEIA et al., 2009), permitindo aos microrganismos que atuam degradando materiais celulósicos de produzir enzimas celulolíticas (CASTRO, 2006). No presente trabalho avaliou-se a produção de celulase através da FSS, usando como substrato o pedúnculo de caju seco e o fungo filamentoso Penicillium chrysogenum. Com base na metodologia do planejamento experimental fatorial, foi possível avaliar a influência da umidade inicial do meio e da concentração de sulfato de amônio e de carboximetilcelulose (CMC) na solução salina nutriente.

Material e métodos

O resíduo do caju, obtido da empresa produtora de castanhas CIONE, localizada em Fortaleza, foi lavado em água corrente, triturado e peneirado. O material fibroso foi lavado para a retirada dos açúcares seguindo metodologia de Fawole e Odunfa (2003) e seco em estufa com circulação de ar, a 70 ºC, por 48 horas. A cepa do fungo Penicillium chrysogenum usada foi da linhagem (807) da coleção ARS Culture Collection – BFPM Research Unit, National Center for Agriculture Utilization Research, mantido em placas com ágar batata dextrose a 30 °C. A obtenção do inóculo para a FSS foi realizada seguindo metodologia da EMBRAPA (FARINAS et al., 2008). As fermentações foram realizadas em Erlenmeyers de 250 mL contendo 5 g de pedúnculo de caju e concentração inicial de 1,0 x 10^6 esporos/g de meio sólido (COELHO et al., 2001) e uma quantidade da solução salina nutriente (KH2PO4 3 g/L, MgSO4.7H2O 1 g/L, (NH4)2SO4 5, 10 ou 15 g/L e CMC 1, 2 ou 3 g/L, pH corrigido para 5 com HCl 3 M e NaOH 0,1 M), variando com a umidade desejada (60, 65 e 70%) de acordo com um planejamento experimental 23. O meio foi esterilizado, sendo o microrganismo inoculado e a mistura incubada em estufa bacteriológica a 30 °C. Após 120 horas de fermentação, foi realizada a etapa de extração do complexo enzimático de acordo com Coelho et al., (2001). A atividade celulolítica com carboximetilcelulose (CMC) e celulose cristalina (avicel) foi determinada pelo método descrito por Ghose (1987) e a concentração de açúcares redutores totais foi determinada pelo método do DNS (MILLER, 1959). Uma unidade de atividade enzimática (UI) foi definida como a quantidade de enzima necessária para liberar 1 µmol de glicose por minuto nas condições do teste. Os ensaios de atividade foram realizados em duplicata.

Resultado e discussão

A atividade máxima de CMCase foi obtida quando as três variáveis possuíam valor do nível superior do planejamento (umidade 70%, concentração de (NH4)2SO4 e CMC na solução salina nutriente de 15 e 3 g/l, respectivamente), alcançando valor de 0,497 UI/mL de extrato enzimático. Os demais valores podem ser vistos na Figura 1. O diagrama de Pareto observado na Figura 2A mostra que a umidade foi estatisticamente significativa na atividade da CMCase para um nível de 95% de confiança dentro da faixa estudada, bem como a interação entre a umidade e a concentração de (NH4)2SO4 na solução nutriente. Na análise da atividade com Avicel, nenhum fator mostrou-se estatisticamente significativo para o mesmo nível de confiança (Figura 2B) e o valor máximo (0,012 UI/mL) foi obtido quando a umidade assumiu valor de 60% e as concentrações de (NH4)2SO4 e CMC foram de 5 e 1 g/L, respectivamente. Oliveira Júnior (2014), usando o bagaço do coco como substrato conseguiu uma atividade de CMCase de 0,176 UI/mL e para a avicelase de 0,020 UI/mL, demonstrando que os resultados com pedúnculo de caju são promissores.

FIGURA 1

Planejamento fatorial 2³ e resultados da atividade de CMCase e Avicelase produzidas pelo fungo P. chrysogenum

FIGURA 2

Gráfico de Pareto da Umidade, concentração de sulfato de amônio e CMC para as atividades de (A) CMCase e (B) Avicelase.

Conclusões

A reutilização de resíduos oferece uma alternativa para a redução do impacto ambiental causado e também uma redução nos custos do processo fermentativo. O fungo Penicillium chrysogenum apresentou atividades enzimáticas de 0,497 UI/mL para CMCase e 0,012 de avicelase usando o pedúnculo de caju como substrato, mostrando desta maneira que este resíduo lignocelulósico é bom substrato para o desenvolvimento de microrganismos. O aumento da umidade resultou em um aumento estatisticamente significativo (95% de confiança) da atividade de CMCase.

Agradecimentos

Aos órgãos de fomento CAPES e CNPQ e à UFRN.

Referências

CAMPOS, A. R. N.; Enriquecimento protéico do bagaço do pedúnculo de caju (Anacardium occidentale L.) por fermentação semi-sólida. Campina Grande: UFCG, 2003. 85f. (Dissertação de mestrado).
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COELHO, M. A. Z. et al. Aproveitamento de resíduos agroindustriais: produção de enzimas a partir da casca de coco verde. Boletim Ceppa, Curitiba, v. 19, n. 1, p. 33-42, 2001.
FARINAS, C. S.; LEMO, V.; RODRÍGUES-ZÚÑIGA, U. F.; BERTUCCI NETO, V.; COURI, S. Avaliação de diferentes resíduos agroindustriais como substratos para produção de celulases por fermentação semi-sólida. Embrapa Instrumentação Agropecuária. São Carlos, 2008.
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GOUVEIA, E.R.; DO NASCIMENTO, R.T.; SOUTO-MAIOR, A.M.; ROCHA, G.J.M.; ROCHA, G.J.M. Validação de metodologia para a caracterização química de bagaço de cana-de-açúcar. Química Nova, v.32, p.1500–1503, 2009.
KRISHNA, C. Solid-state fermentation systems - an overview. Crit. Rev. Biotechnol., 25 (1-2), p 1-30, 2005.
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OLIVEIRA, V. H. D.; ANDRADE, A. P. S. Produção integrada de caju: abrindo portas para a qualidade. Disponível em: <http://www.cnpat.embrapa.br/pif/artigos/agroanalyse/index.html>. Acesso em: 10 abr. 2007.
OLIVEIRA JÚNIOR, S. D. Produção de enzimas por fungos em fermentação semi-sólida utilizando bagaço de coco e pedúnculo de caju como substratos. 113f. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.
ROCHA, C.P. Otimização da produção de enzimas por Aspergillus niger em Fermentação em estado sólido. 2010. 136f. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2010.

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