ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DE UM DERIVADO DO ÁCIDO BENZOICO A PARTIR DAS FOLHAS DE Piper caldense C. DC. (PIPERACEAE)

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Iniciação Científica

Autores

Freitas, L.A.B. (UFRPE) ; Ramos, C.S. (UFRPE)

Resumo

Este trabalho descreve a investigação fitoquímica biomonitorada das folhas de Piper caldense C. DC. (Piperaceae) por meio da análise de seus extratos brutos diclorometânicos. As etapas metodológicas implicaram na seleção e coleta do material de estudo, bem como a escolha e a aplicação do método de maceração a frio para obtenção dos extratos brutos. O fracionamento foi iniciado com uma cromatografia líquida a vácuo e posteriormente cromatografia em coluna, resultando no isolamento de um metabólito secundário, identificado como ácido-3-geranil- geranila-4-hidroxibenzoico relatado pela primeira vez nas folhas desta espécie.

Palavras chaves

Piper caldense C. DC.; ácido benzoico; Piperaceae

Introdução

A família Piperaceae tem sido classificada como uma das mais primitivas Angiospermas (TAYLOR; HICKEY, 1992). Nessa família destaca-se o gênero Piper, com mais de 2000 espécies espalhadas pelos hemisférios Norte e Sul (SMITH, 2008). Espécies desse gênero têm sido investigadas devido a inúmeras substâncias biologicamente ativas, o que justifica seu uso na medicina popular como analgésico, anti-inflamatório e antimicrobiano. Dentre essas espécies, encontra-se a Piper caldense C.DC., conhecida como “pimenta d’agua” e utilizada como sedativo, antídoto para picadas de cobras e para dores de dente (CARDOZO JÚNIOR; CHAVES, 2003). Em relação às folhas de P. caldense, há relatos na literatura do isolamento de uma flavona, a velutina, por Lemeszenski (2013) e de um derivado do ácido benzoico por Freitas et al. (2009), o ácido caldensínico, cuja estrutura inédita na literatura apresentou atividade muluscicida (TAKAHASHI, 2011) e fungicida (FREITAS et al., 2009). Uma mistura de esteroides: β-sitosterol e estigmasterol, e duas substâncias porfirínicas, a 15-hidroxi-porfirinolactona A e a feofitina A, também foram relatadas por Silva (2013). Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo isolar e caracterizar metabólitos secundários das folhas de P. caldense.

Material e métodos

As folhas de P. caldense foram coletadas na Mata de Dois Irmãos, no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), secas em estufa por 48h a 40°C e em seguida foram maceradas para obtenção dos extratos brutos em um moinho de facas. O material vegetal seco e macerado foi submetido à extração exaustiva com diclorometano (3x de 300 mL), pelo método de maceração a frio por 48h. Todo material vegetal foi concentrado sob pressão reduzida em evaporador rotativo (40ºC, ± 120rpm) obtendo-se o extrato bruto diclorometânico das folhas. O extrato foi inicialmente fracionado em uma cromatografia líquida a vácuo (CLV). A amostra foi dissolvida em MeOH/H2O 8:2 e eluída em gradiente de polaridade Hex:AcOEt. O fracionamento resultou em 12 frações, sendo a Fração A selecionada para uma nova tentativa de purificação com cromatografia em coluna (CC), utilizando como eluente hexano e acetato na proporção 7:3. Dentre as frações, a Fração A7 foi selecionada para purificação, também utilizando CC. A caracterização estrutural do constituinte químico isolado foi realizada pela análise dos espectros obtidos através de Ressonância Magnética Nuclear (RMN), bem como comparações com os dados da literatura.

Resultado e discussão

O extrato das folhas foi submetido à CLV. Da fração A foi isolado um sólido amarelo (337,7 mg) por CC. Esse sólido foi purificado também utilizando CC, sendo um sólido amarelo claro (144,6 mg) encaminhado para caracterização por RMN (Figura1). O RMN de 1H (300 MHz, CDCl3) mostrou dois hidrogênios em 7,91 (1H, H-2 e H-6) e um hidrogênio em 6,85 (1H, H-5) indicativos de um sistema aromático 1,3,4-trisubstituído. Singletos em 1,61 (3H, H-18’, H-19’ e H-20’), 1,69 (3H, H-16’) e 1,80 (3H, H-17’) referentes a grupos metílicos, além de sinais em 5,11 (1H, H-6’, H-10’, H-14’) e em 5,35 (1H, H-2’) sugerem uma cadeia geranil-geranila na estrutura. No RMN de 13C (75 MHz, CDCl3) foram observados vinte e sete sinais sendo um referente a grupo carboxílico em 171,87, seis carbonos referentes ao anel aromático em 121,58 (C-1), 131,24 (C-2), 130,47 (C-3), 159,53 (C-4), 115,70 (C-5) e 126,90 (C-6), quatro carbonos olefínicos, quatro carbonos carbinólicos, sete carbonos metilenos e cinco metilas. Em relação à estereoquímica foi estabelecida como (E) com base nos desvios químicos das metilas, sendo quatro entre 15 e 18 ppm atribuídos aos carbonos C-17’, C- 18’, C-19’ e C-20’. Como o C-16 ocorre em 25,6 ressoa no campo inferior. Os dados de RMN foram comparados com a literatura possibilitando a identificação do ácido 3-geranil-geranila-4-hidroxibenzoico (Tabela 1). A primeira ocorrência deste composto foi relatada na esponja marinha Ircinia strobilina (CIMINO et al., 1972), como também reportada em espécies do gênero Piper, como a P. saltuum (MAXWELL; RAMPERSAD, 1989) e P. arieianum (CORREA et al., 2011). Recentemente foi relatada nos frutos e raízes de P. caldense (CAVALCANTI, 2014). Esse é o primeiro relato nas folhas da espécie.

Figura 1. Espectros de RMN de Hidrogênio (A) e RMN de Carbono-13 (B)



Tabela 1. Dados de RMN do composto isolado



Conclusões

Inserindo em um estudo de isolamento e caracterização de compostos de espécies de Piperaceae a partir do PIBIC/UFRPE, o presente trabalho descreve o fracionamento cromatográfico do extrato bruto das folhas de Piper caldense que resultou no isolamento do ácido-3-geranil-geranila-4-hidroxibenzoico, sendo o primeiro relato deste derivado do ácido benzoico nas folhas da espécie.

Agradecimentos

CNPq, FACEPE e Central Analítica do DQF (UFPE)

Referências

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