CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DO BAGAÇO DE CEVADA COMO MATÉRIA-PRIMA EM COMPÓSITOS DE AMIDO

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Iniciação Científica

Autores

Gonçalves Pereira, A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Martins dos Santos, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS)

Resumo

O estudo de aproveitamento integral de subprodutos derivados da agricultura e indústrias alimentícias tem sido intensificado com intuito de diminuir carga poluente no meio ambiente, priorizando, assim, ações sustentáveis, e tais subprodutos deixam de ser inutilizados. Nesse contexto, no processo de produção de cerveja, a geração de resíduos é inevitável, sendo o bagaço de malte um dos mais produzidos. Por possuir propriedades mecânicas fortes, ele pode ser acrescentado no melhoramento de embalagens de biofilmes de amido. O objetivo do trabalho consistiu em caracterizar o bagaço de cevada como matéria-prima em compósitos de amido. As amostras foram caracterizadas quanto a sua granulometria, teores de extrato etéreo e proteína, cinzas, carboidratos, teores de celulose, lignina e extrativos.

Palavras chaves

bagaço de cevada; aproveitamento; caracterização

Introdução

Atualmente, praticamente, todos os países, desenvolvidos ou em desenvolvimento estão procurando se adaptar em não descartar subprodutos, reaproveitando ou reciclando-os, reduzindo derivados poluentes ou não, provenientes de atividades industriais (Dragone, Solange et. al., 2007). O setor cervejeiro brasileiro é o mais importante do mercado sul- americano e um dos maiores do mundo, ocupando a terceira posição mundial em produção de cerveja, com produção de 12,4 bilhões de litros, gerando uma expressiva quantidade de resíduo, principalmente, bagaço de cevada.(SINDICERV, 2011), O bagaço de cevada apresenta aparência pastosa, granulometria grossa, não é tóxico, possuindo aproximadamente 80% de fase líquida e a parte sólida composta principalmente pela casca de cevada, sendo rico em fibras ( 20% em média), formada por hemicelulose, lignina, celulose, proteínas, além de extrativos e cinzas, em menores proporções. (Gomes et al.2004; SANTOS, 2004; CABRAL-FILHO; BUENO; ABDALLA, 2007). A maior parte do bagaço é destinada a alimentação animal, sendo assim viável utilizá-lo como matéria-prima nos compósitos de amido. Nesse contexto, o presente trabalho consistiu em caracterizar o bagaço de cevada como matéria-prima em compósitos de amido. As amostras foram caracterizadas quanto a sua granulometria, teores de extrato etéreo e proteína, cinzas, carboidratos, teores de celulose, lignina e extrativos.

Material e métodos

O bagaço de cevada foi fornecido por uma das indústrias cervejeiras do Estado de Goiás. O material prensado foi seco em estufa com recirculação de ar forçado (Marconi, MA-035, Piracicaba, Brasil) a 105°C por 16 h, moído em macro moinho de rotor circular com facas móveis e fixas (Marconi, MA-580, Piracicaba, Brasil) com abertura de malha de 1mm. Parte do bagaço desidratado e moído foi peneirado pelo método de análise granulométrica, o peneiramento com agitação, o material foi colocado em ordem crescente de malha, em série de peneiras padronizadas (ASTM), (AGUIAR; NOVAES, 2002), obtendo-se amostras de partículas finas de cinco tamanhos diferentes, onde T1 corresponde a ( <0,75), T2 a ( 0,18-0,15) , T3 a (0,3-0,18), T4 a ( 0,6 -0,3) e T5 a (≤ 1). Das amostras se determinaram os teores de umidade, cinzas totais e extrato etéreo segundo os métodos descritos pelo Instituto Adolfo Lutz (BRASIL, 2005). O teor de proteína bruta foi determinado conforme método da Association of Official Analytical Chemists (AOAC, 2000), usando fator de conversão 6,25. O teor de celulose foi determinado conforme metodologia proposta por Saad et al. (1988), a partir da holocelulose obtida segundo Browing (1963). O teor de lignina Klason insolúvel e o teor de extrativos foram determinados conforme metodologia proposta pela Technical Association of the Pulp and Paper Industry, TAPPI T222 om-11 (TAPPI, 2007, 2011).

Resultado e discussão

Na Tabela 1 estão os resultados da determinação dos teores de água, extrato etéreo, proteína, cinza e carboidratos. Os teores de água e carboidratos se assemelham com os resultados obtidos por Santos et al. (2008) para bagaço de cevada particulado entre 0,15-0,84 mm. Entretanto, os teores de extrato etéreo e proteína das amostras obtidas neste trabalho foram maiores e o teor de cinza foi inferior aos encontrados por Santos et al. (2008) que foram de 2,5-5,7%, 11,5- 14,7% e 3,1-3,7%, respectivamente. Isto demonstra que bagaços de cevada de mesma procedência, porém, de diferentes épocas, apresentam diferentes composição química. O teor protéico da amostra T4 (0,6-0,3 mm de tamanho de partícula) compara-se com aquele obtido por Robertson et al. (2010) em bagaço de cevada com tamanho de partícula de 0,5 mm, sendo seu teor protéico de 18,62% (base seca). É importante salientar que quando se utiliza resíduos agroindustriais como o bagaço de cevada, por exemplo, se deve quantificar seus teores de celulose e lignina. Pois, a celulose tem a capacidade de melhorar as propriedades mecânicas (MACHADO et al., 2012) do meio onde o bagaço de cevada foi empregado. Embora que a lignina e amido produz compósitos com boa estabilidade térmica, o produto é altamente hidrofílico (VENGAL e SRIKUMAR, 2005). Na Tabela 2 estão os resultados dos teores de celulose, lignina e extrativos do bagaço de cevada. O teor de lignina está abaixo do obtidos por Pires et al. (2012) para bagaço de cevada constituído de 31,01%, porém, o teor de celulose determinado é relativamente alto de aquele obtido por esses autores que foi 19,21% de celulose. Essa diferença possivelmente se deve a fatores agronômicos (variedade, época de cultivo, solo, clima, idade de colheita etc.), tipo de processamento, entre outros.

Tabela 1

. Valores médios e desvio padrão dos teores de água, extrato etéreo, proteínas e cinzas do bagaço de cevada particulado.

Tabela 2

Valores médios e desvio padrão dos teores de celulose, lignina Klason insolúvel e extrativos do bagaço de cevada.

Conclusões

De acordo com as metodologias utilizadas e os resultados obtidos observou que a variedade, época de cultivo, solo, clima, idade de colheita pode influenciar nas quantidades de componentes encontrados nas amostras do bagaço de cevada estudado. Os estudos a favor as embalagens biodegradáveis são de suma importância para cenário nacional e internacional, sendo que a aplicação do bagaço de cevada e o amido nessa função de diminuir a quantidade de lixo proveniente de polímeros petrolíferos destacam-se por utilizar um material viável, de baixo custo e de grande disponibilidade.

Agradecimentos

Ao CNPq e a CAPES pelo apoio financeiro concedido. E a Universidade Estadual de Goiás por oferecer seu espaço para devida pesquisa.

Referências

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