Síntese de hidróxidos duplos lamelares no carreamento de nimesulida

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Iniciação Científica

Autores

Gazal, L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Oliveira, K. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS) ; Rosseto, R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS)

Resumo

Hidróxidos duplos lamelares (HDL) são compostos com acentuada capacidade adsortiva e troca aniônica, potencialmente interessantes de serem utilizados como matrizes hospedeiras no armazenamento, carreamento e/ou para o aumento de solubilidade de fármacos hidrofóbicos. O presente trabalho teve como objetivo aumentar a solubilidade da nimesulida através da incorporação do fármaco em HDL derivados de Mg/Al (razão molar 3/1). A cinética de liberação em soluções tampão fosfato/citrato pH 4,6 e 6 do híbrido HDL-nimesulida constatou o aumento da solubilidade da nimesulida em meio aquoso.

Palavras chaves

Argilas aniônicas; fármacos hidrofóbicos; liberação controlada

Introdução

Estima-se que aproximadamente 40% das novas espécies desenvolvidas pela indústria farmacêutica são praticamente insolúveis em água (SAVJANI et al, 2012). Para fármacos que apresentam baixa solubilidade em água, a dissolução in vivo pode ser a etapa limitante da absorção oral do princípio ativo, desta maneira, estratégias que visam o aumento da solubilidade intrínseca de um fármaco são importantes e recebem grande atenção (SAVJANI et al, 2012). As nanopartículas inorgânicas, como os hidróxidos duplos lamelares (HDL), aparecem com uma promissora classe para serem utilizadas como cápsulas de armazenamento ou carreadores de espécies de interesse biológico e terapêutico (CUNHA et al, 2010). Algumas vantagens podem ser obtidas através da incorporação de fármacos em HDL, entre as quais: a) aumento da estabilidade química, térmica e/ou fotoquímica do princípio ativo devido à barreira protetora do HDL; b) possibilidade de liberação controlada das espécies intercaladas, na ausência ou à frente de diferentes estímulos externos (pH, concentração de oxigênio, temperatura e/ou pela presença de certas enzimas ou íons, etc); c) aumento da solubilidade de princípios ativos pouco solúveis em água; d) funcionalização da matriz inorgânica com anticorpos, antígenos ou proteínas, possibilitando ao HDL atingir alvos específicos. Neste contexto, a solubilização das lamelas do HDL estimulada pela redução do pH e/ou a troca iônica das substâncias intercaladas com espécies presentes no meio fisiológico promovem a liberação do analito intercalado. Muitos trabalhos descrevem a intercalação de fármacos aniônicos em HDL e a posterior liberação. Neste trabalho a nimesulida (Figura 1) é utilizada como um princípio ativo modelo, por exibir baixa solubilidade em água e baixa ionização em pH ácido.

Material e métodos

Os hidróxidos duplos lamelares foram sintetizados através do método de co- precipitação (KHAN et al, 2009). A Mg(NO3)2 (0,042 mol) e Al(NO3)3 (0,014 mol) em 150 mL de água deionizada à temperatura ambiente foi adicionada gota-a-gota uma solução de Na2CO3(0,0448 mol) e NaOH (0,084 mol) em 50 mL de água deionizada. O pH do meio reacional foi ajustado em 10, e o sistema foi colocado sob aquecimento a 80ºC por 18 h. O sólido foi separado por centrifugação, lavado com água (5 x 100 mL), seco em estufa a 100ºC, e quando necessário calcinado a 500ºC por 2 h. A incorporação da nimesulida aos HDL foi realizada a partir de 80 mg do HDL, 30 mg de nimesulida e 15 mL de água deionizada. A mistura foi deixada sob agitação e aquecimento a 45ºC por 72 h. O sobrenadante foi removido por centrifugação e o precipitado foi lavado com 30 mL de etanol e 70 mL de água deionizada. O sólido obtido foi seco a 90ºC por aproximadamente 4 h. As amostras preparadas foram caracterizadas por espectroscopia vibracional no infravermelho por refletância atenuada (ATR). As cinéticas de dessorção da nimesulida incorporada aos HDL foram realizadas a partir de dispersões dos compostos em água e tampão fosfato dissódico/ácido cítrico pH 4,6 e 6,0, utilizando a relação 10 mg do composto em 25 mL de solução tampão e avaliou-se as medidas de espectroscopia eletrônica na região do UV-vis.

Resultado e discussão

Os espectros na região do infravermelho dos híbridos HDL-nimesulida apresentaram bandas característica na região de 3400 cm-1 e 1640 cm-1 atribuídas aos estiramentos –OH (águas de hidratação e grupos hidroxilas das lamelas) e às deformações angulares das águas (incorporadas no interior das lamelas), respectivamente. Na região de 1575 cm-1 tem-se o pico referente ao estiramento antissimétrico SO2, e estiramentos em 1353 e 1492 cm-1 atribuídos ao grupo NO2. O aumento da solubilidade do fármaco em soluções tampão fosfato/citrato pH 4,6 e 6,0 foi avaliada para o híbrido HDL-nimesulida (Quadro 1), uma vez que este compósito exibiu uma coloração amarela intensa, o que se pressupõe uma maior quantidade de nimesulida incorporada à matriz inorgânica. Baseado em análises de cromatografia gasosa (CG-EM) da nimesulida presente no híbrido, além de espectros no UV-vis do fármaco em etanol e do HDL-nimesulida em etanol, estimou- se a quantidade do fármaco adsorvido ao HDL, sendo de aproximadamente 16,7% m/m. As dessorções do fármaco do HDL foram avaliadas por espectroscopia eletrônica no UV-vis através da evolução da banda em 390 nm atribuída a nimesulida. A partir das absorbâncias máximas da nimesulida (pura e no híbrido) e da quantidade de nimesulida na matriz inorgânica (16,7% m/m), constata-se um aumento da solubilidade da nimesulida na presença do HDL de 16 vezes em pH 4,6 e de aproximadamente 25 vezes em tampão pH 6,0. A liberação controlada do fármaco também pode ser verificada em pH 6,0, indicando que 70% da nimesulida foi dessorvida do HDL em 3 h de cinética.

Figura 1. Estrutura da nimesulida.



Quadro 1. Evolução da banda em 390 nm para soluções tampão fosfato/cit



Conclusões

Os resultados apresentados nesse trabalho demonstraram duas vertentes para o híbrido HDL-nimesulida sintetizado: i) aumento da solubilidade da nimesulida em até 25 vezes para tampão pH 6,0, quando comparada com a nimesulida pura; e ii) possibilidade de liberação controlada da nimesulida em solução tampão de fosfato/citrato pH 6,0.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao PIBITI/CNPq e a UEG pelo suporte e apoio financeiro.

Referências

CUNHA, V.R.R.; FERREIRA, C.M.A.; CONSTANTINO, V.L.R. Hidróxidos duplos lamelares: Nanopartículas inorgânicas para armazenamento e liberação de espécies de interesse biológico e terapêutico. Quím. Nova 2010, 33, 159-171.
KHAN, A.; RAGAVAN, A.; M.; DUNBAR, T.G.; WILLIAMS, G.R.; O’HARE, D. Recent developments in the use of layered double hydroxides as host materials for the storage and triggered release of functional anions. Ind. Eng. Chem. Res. 2009, 48, 10196–10205.
SAVJANI, K.T.; GAJJAR, A.K.; SAVJANI, J.K.; Drug solubility: Importance and enhancement techniques. ISRN Pharm. 2012; doi:10.5402/2012/195727.

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