Estudo teórico de complexos de rutênio contendo 2-picolinato

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Físico-Química

Autores

Lima, B. (USP) ; Varela Júnior, J. (UFMA) ; da Silva, A.B. (USP)

Resumo

Neste trabalho foi realizado o estudo teórico dos complexos [Ru(pic)(bipy) (PP)]+, onde pic = 2-picolinato, bipy = 2,2’-bipiridina e PP = 1,2- bis(difenilfosfino)etano (dppe) e 1,1’-bis(difenilfosfino)ferroceno (dppf). As estruturas destes compostos foram estudadas utilizando DFT. Os valores de distâncias e ângulos observados nas estruturas otimizadas aproximaram-se bastantes dos valores experimentais e os valores de energia total destes compostos em diferentes multiplicidades de spin mostraram que o estado singlet é mais estável que os estados triplet e quintet. Também foi avaliada a estabilidade dos isômeros de 1 e 2 com o átomo de oxigênio trans posicionado ao átomo de fósforo, estes se mostraram menos estáveis. A análise de decomposição de carga realizada explica os espectros de 1 e 2.

Palavras chaves

Rutênio; 2-picolinato; DFT

Introdução

O rutênio, que atrai a atenção de muitos centros de pesquisa por sua versatilidade, tal como pela ampla variedade de áreas de atuação de seus complexos como, por exemplo: conversão de energia solar em energia elétrica, fotodecomposição da água, catálise, bioinorgânica etc. (BIGNOZZI et al., 1991). Ligantes fosfínicos, comumente estudados em catálise, apresentam propriedades σ- doadora e π-receptora, estabilizando valências dos estados de oxidação mais baixos aos mais altos dos metais de transição (MCAULIFFE et al., 1994). O ácido picolínico (picH) pode-se ligar ao metal de modo bidentados através do N e O formando um anel de cinco membros(GHATAK et al., 1995) e os ligantes derivados dele são de grande importância pelo fato de estarem presentes em muitos produtos naturais: alcalóides, vitaminas e coenzimas(MOHAMED et al., 2000). Estudo teórico de complexos de rutênio podem resolver importantes aspectos, tais como suas propriedades químicas e físicas, os quais por sua vez podem ser úteis para modelar as características dos compostos de acordo com a aplicação que se pretende para esses complexos. Além disso, o cálculo de estruturas é necessário para que se tenha um melhor entendimento da natureza ligação química e de como a troca de ligantes afetam a estrutura dos compostos. O estudo teórico dos complexos [Ru(pic)(bipy)(PP)]+ (Figura 1) é descrito neste trabalho e os resultados calculados são comparados com os valores experimentais (LIMA, 2010).

Material e métodos

O estudo teórico será conduzido por meio de cálculos ab initio de estrutura eletrônica. A otimização das geometrias das estruturas, além dos cálculos de energia de ligação e distribuição de carga dos complexos de rutênio contendo ligantes bifosfina, bipiridinas e picolilnato foram realizadas com a utilização do programa GAUSSIAN 09 FRISCH et al., 2003. Serão empregados cálculos baseados na teoria do funcional da densidade (DFT), utilizando o funcional híbrido de três parâmetros de Becke com as correções de gradiente fornecidas pelos funcionais de Lee, Yang e Parr (B3LYP) (LEE et al., 1988, BECKE et al., 1993). A avaliação da estrutura eletrônica será através do método NBO (Natural Bond Orbitals) (CARPENTER et al., 1988), que localiza os orbitais canônicos e os transforma em orbitais de centro, orbitais de ligação, orbitais de caroço e de pares isolados, de acordo com a visão de estrutura química de Lewis. Todas as possíveis multiplicidades de spin serão analisadas, no intuito de verificar a diferença energética entre as diferentes multiplicidades. Neste trabalho utilizou-se o conjunto de base Lanl2TZ para o átomo de Ru e Fe e 6-31G* para os demais átomos (C, N, O e H). A verificação das multiplicidades de spin para os complexos foram o singleto, tripleto, e quinteto, com intuito de verificar o estado de spin mais estável. A análise de decomposição de carga (CDA) e a analise de orbitais moleculares foram realizadas utilizando o programa AOMIX (GORELSKY, 1997).

Resultado e discussão

As estruturas dos complexos [Ru(pic)(bipy)(dppe)]+ e [Ru(pic)(bipy)(dppf)]+ foram otimizadas e os resultados obtidos estão em boa concordância com os experimentais (LIMA, 2010). A Figura 1 mostra as estruturas calculadas dos complexos. Distâncias e ângulos nas estruturas mostraram-se em boa concordância com os resultados obtidos das estruturas de raios X (Tabela 1). As estruturas dos isômeros com o átomo de oxigênio em posição trans a átomo de fósforo também foram calculadas e mostraram ser menos estáveis (~18 kJ/mol-1). As diferentes multiplicidades de spin também foram testadas para os complexos. Diferentes multiplicidades de spin foram testadas para todos os complexos, conforme esperado, o estado singleto mostrou-se mais estável que os estados tripleto e quinteto. Os valores de energia total destes estados superam os do estado singlete em mais de 150 kJ/mol-1, enquanto que essa diferença para os estados quintete são maiores que 250 kJ/mol-1. A análise de decomposição de carga entre fragmentos mostrou que existe uma transferência de carga dos ligantes para o rutênio, deixando os ligantes mais desprotegidos. Isso pode ser confirmada pelos espectros de RMN de 1H, onde observou-se que os sinais referentes aos átomos de hidrogênio dos ligantes pic, dppe, dppf e bipy coordenados foram deslocados para regiões de maior frequência em relação aos ligantes livres. Os espectros de RMN de 31P{1H} dos complexos contendo os ligantes dppe e dppf também mostraram que os sinais correspondentes aos átomos de fósforo foram todos deslocados para regiões de maior frequência (mais desprotegidos) em relação aos ligantes livres. A carga NBO dos átomos diretamente ligados ao rutênio aumentou em comparação aos ligantes livres, - o que corrobora os resultados de RMN.

Figurra 1

Estruturas calculadas dos complexos [Ru(pic)(bipy) (dppe)]+ e [Ru(pic)(bipy)(dppf)]+.

Tabela 1

Principais valores de distâncias e ângulos dos complexos.

Conclusões

As resultados calculados para as estruturas otimizadas foram bastante similares aos experimentais. Os resultados de CDA elucidaram a natureza das ligações Ru–L, o que nos permitiu explicar as estruturas dos complexos Além disso, os cálculos das estruturas em diferentes multiplicidades de spin revelou que o estado singleto é o mais estável. As estruturas dos isômeros dos complexos 1 e 2 com os átomos de oxigênio em posição trans aos de fósforo foram menos estáveis.

Agradecimentos

FAPEMA, CAPES, CNPQ.

Referências

BECKE, A.D.; J. Phys. Chem., 98: 5648, 1993.
BIGNOZZI, C. A.; ARGAZZI, R.; CHIORBOLI, C.; ROFFIA, S.; SCANDOLA, F. “Photoinduced intramolecular energy-transfer processes in polynuclear ruthenium(II) polypyridine complexes - design of long-chain cyanobridged polynuclear species featuring vectorial energy-transfer”. Coord. Chem. Rev., 111: 261, 1991.
CARPENTER, J.E.; WEINHOLD, F.J. J. Molec. Struct., 169: 41, 1988.
FRISCH, M. J.; TRUCKS, G. W. et al., Gaussian 03, Revision B.04; Gaussian, Inc.: Pittsburgh PA, 2003.
GHATAK, N.; CHAKRAVARTY, J.; BHATTACHARYA, N. “Synthesis, characterisation and electron transfer properties of some picolinate complexes of ruthenium”. Polyhedron, 14: 3591, 1995.
LEE, C.; YANG, W.; PARR, R.G.; Phys. Rev. B, 37: 785, 1988.
MCAULIFFE, C. A.; MACKIE, A. G. “P – donor ligands” In: Encyclopedia of Inorganic Chemistry. KING, R. B. Ed. New York, Wiley,
Interscience, p. 2989, 1994.
MOHAMED, M. K.; ABEER, E. A. “Potentiometric studies on the
formation equilibria of binary and ternary complexes of some metal ions with dipicolinic acid and amino acids”. J. Chem. Eng. Data, 45, 1108, 2000.

Patrocinadores

CNPQ CAPES CRQ15 PROEX ALLCROM

Apoio

Natal Convention Bureau Instituto de Química IFRN UFERSA UFRN

Realização

ABQ