AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL DO SOLO PELO LIXO ELETRÔNICO

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Química Analítica

Autores

Damasceno, O.I.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Reis, C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Reis, E.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Amorim, J.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Baêsso, R.C.G. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Barbosa, F.D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Basílio, L.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Fernandes, I.R.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Gomes, R.F. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Silva, P.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA)

Resumo

Tendo em vista a importância das questões ambientais em relação à crescente geração de resíduos eletroeletrônicos, foram realizados ensaios de simulação do comportamento do lixo eletrônico no processo de compostagem visando avaliar o potencial de contaminação do solo. Assim, foram montadas caixas contendo resíduos vegetais ou esterco bovino e placas de circuito impresso picadas e caixas controle sem a presença do lixo eletrônico, realizando-se o processo de vermicompostagem por 90 dias. As placas foram retiradas após este tempo, e o vermicomposto foi submetido a uma digestão ácida assistida por micro-ondas. Determinou-se os teores de Cu, Pb, Zn e Ni por espectrofotometria de absorção atômica, sendo estes significativamente maiores nas amostras compostadas na presença do lixo eletrônico.

Palavras chaves

Lixo eletrônico; Contaminação Ambiental; Compostagem

Introdução

Lixo eletrônico é o nome dado aos resíduos resultantes de equipamentos eletroeletrônicos obsoletos como televisores, celulares, computadores e outros dispositivos. Do ponto de vista da composição de materiais, o lixo eletrônico pode ser definido como uma mistura de vários metais como cobre, alumínio, ferro, zinco, níquel, chumbo, cádmio, mercúrio, associados a vários tipos de plásticos e cerâmicas (CUI; ZHANG, 2008). O Brasil é considerado um dos maiores produtores de lixo eletrônico entre os países emergentes. Estima-se que, atualmente, sejam geradas cerca de 679.000 toneladas de lixo eletrônico por ano (ROCHA et al., 2009). A crescente geração de lixo eletrônico ocorre principalmente como consequência do desenvolvimento tecnológico que faz com que a vida útil dos equipamentos eletroeletrônicos se torne cada vez menor. Como exemplo, temos os telefones celulares utilizados por apenas 18 meses em média, antes de serem substituídos, mesmo que funcionem por muito mais tempo (EPA, 2011). Assim, a cada ano de 10 a 20% dos telefones produzidos no Brasil são descartados (OLIVEIRA et al., 2012). Portanto os resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos já constituem 8% dos resíduos urbanos e é uma das frações de resíduos que mais cresce (WIDMER et al., 2005). Atualmente, no Brasil, os resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE) são geralmente descartados junto com o lixo doméstico em aterros sanitários ou lixões, o que tem gerado uma grande preocupação sobre o potencial desse lixo para impactar negativamente o meio ambiente. Assim o objetivo principal deste trabalho foi a avaliação do potencial de contaminação do solo pelo lixo eletrônico, através da realização de ensaios de simulação do comportamento deste tipo de lixo no processo de vermicompostagem.

Material e métodos

Para simular situações reais nas quais o lixo eletrônico é descartado junto com o lixo doméstico contendo resíduos orgânicos foram realizados experimentos de vermicompostagem, em caixas, com material orgânico proveniente do restaurante universitário da Universidade Federal de Viçosa - UFV e também com esterco bovino, em presença de recortes de placas de circuito impresso (PCIs) de computadores defeituosos ou obsoletos. Nestes sistemas foi realizado o controle da umidade,sendo que em cada caso foi realizado também ensaios controle sem a presença do lixo eletrônico. A amostragem foi realizada após 90 dias de contato sendo as placas de circuito impresso imediatamente separadas dos compostos obtidos. Após as etapas de secagem, trituração e peneiração foi realizada a digestão ácida das amostras em forno micro-ondas da ETHOS-MILESTON. Posteriormente, após as diluições necessárias, foi realizada a determinação dos teores de cobre, chumbo, zinco e níquel em espectrofotômetro de absorção atômica da Agilent Technologies 200 Séries AA.

Resultado e discussão

Os teores dos metais determinados, por espectrofotometria de absorção atômica, na digestão total assistida por micro-ondas da amostra dos compostos obtidos são apresentados na Tabela 1. Observou-se através dos resultados que os teores dos metais analisados são bem maiores para as amostras nas quais a compostagem foi realizada na presença do lixo eletrônico, com exceção do zinco onde a diferença não foi tão pronunciada. Esses resultados podem ser observados graficamente na Figura 1. Sugere-se que as modificações físico-químicas como pH, potencial de oxidação e atividades iônicas, decorrentes da ação dos microorganismos sobre a matéria orgânica, poderiam estar causando a degradação das placas e liberando metais para o meio, causando então a contaminação ambiental do solo.

Tabela 1

Teor de metais (mg/kg) nos compostos obtidos na ausência e presença do resíduo eletrônico.

Figura 1

Teor de metais (mg/kg) nas amostras dos compostos obtidos na presença e na ausência do resíduo eletrônico.

Conclusões

Considerando que a matéria orgânica é o principal componente do lixo urbano (SILVA, et al. 2002), o lixo eletrônico quando descartado junto com o lixo doméstico estará em contato com um meio no qual ocorrerá um processo de compostagem. Os resultados desse estudo indicam que nesse processo de compostagem em presença de lixo eletrônico ocorre a degradação desse material liberando metais para o meio, ocasionando então a contaminação ambiental do solo. Portanto, os resíduos eletroeletrônicos não devem de maneira alguma ser descartados junto com o lixo doméstico.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CRQ-MG, ao CNPq e à FAPEMIG pelo apoio financeiro e à UFV pelas facilidades.

Referências

CUI, J.; ZHANG, L. Metallurgical recovery of metals from electronic waste: A review. Journal of Hazardous Materials, vol. 158, p. 228-256, 2008.
EPA – Environmental Protection Agency. USA. The life cycle of a mobile phone. Solid waste and emergency response. Disponível em: http://www.epa.gov/wastes/education/pdfs/life-cell.pdf. Acesso em: 14 de janeiro de 2014.
OLIVEIRA, C.R.; BERNARDES, A.M.; GERBASE, A.E. Collection and recycling of electronic scrap: A worldwide overview and comparison with the Brazilian situation. Waste Management , 32, p.1592-1610, 2012.
ROCHA, H.T.R.; GOMES, F.V.B.; STREICHER-PORTER, M.; PORTUGAL, S.M.; ALMEIDA, R.N.; RIBEIRO, J.C.J. Diagnóstico da Geração de Resíduos Eletroeletrônicos no Estado de Minas Gerais. Fundaçao Estadual do Meio Ambiente (FEAM), Swiss Federal Laboratories for Materials Science and Technology (EMPA), 2009. 80 p.
SILVA, F. C.; BERTON, R. S.; CHITOLINA, J. C.; BALLESTERO, S. D. Embrapa Informática Agropecuária .Circular Técnica 3: Recomendações Técnicas para o Uso Agrícola do Composto de Lixo Urbano no Estado de São Paulo. Campinas, São Paulo, 2002.17 p.

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