Avaliação do uso de resíduos de gesso como condicionador de solo na agricultura.

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Ambiental

Autores

Fontanella, R. (UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO) ; Mistura, C.M. (UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO)

Resumo

O presente trabalho visou caracterizar os resíduos de gesso oriundos da construção civil e avaliar seu efeito como condicionador de solo, através da distribuição radicular de plantas de soja. Para a utilização dos resíduos foram realizadas análises para a determinação de enxofre, cálcio e umidade, além de metais de interesse e granulometria. Foram confeccionadas colunas para o cultivo das plantas, foi realizado o tratamento com resíduos de gesso e ocorreu o plantio. O resultado obtido foi uma melhor distribuição do sistema radicular, devido o sulfato de cálcio após ser solubilizado, lixiviar no perfil do solo e formar complexos com íons fitotóxicos. O resultado obtido foi satisfatório, pois o sistema radicular apresentou-se melhor distribuído ao longo do perfil de solo nas colunas teste.

Palavras chaves

Gesso; Reciclagem; Sistema radicular

Introdução

A utilização de gesso em construções civis segue em crescimento, devido a vários fatores como praticidade e acabamento, tornando-se indispensável para execução de edificações, mas desencadeou um acelerado crescimento na produção de resíduos (SOUZA; OLIVEIRA; MOURA, 2012), que muitas vezes não é percebido pela população que usufrui deste benefício. Os resíduos de gesso são um dos principais problemas enfrentados pela construção civil, que devido as suas características químicas precisam ser tratados de forma diferenciada dos demais, pois quando estes são dispostos em locais impróprios, podem causar sérios danos ao ambiente, tais como contaminação do solo e também das águas subterrâneas. Considerando que a gipsita, matéria prima para produção de gesso não é uma fonte sustentável, deve-se estabelecer maior importância em relação à reciclagem (THIESSEN; NAGALLI, 2012). Estes resíduos quando tratados de forma adequada, estando livre de contaminantes, adquirem as características da gipsita, e podem ser processados e utilizados como corretivo agrícola a fim de diminuir índices de íons alumínio III, considerados fitotóxicos por afetarem o desenvolvimento do sistema radicular, impedindo que os nutrientes e a água possam ser absorvidos pelas plantas de forma eficaz, além de fornecer cálcio e enxofre para o solo. O objetivo deste trabalho foi avaliar os resíduos de gesso obtidos da construção civil, e se estes são capazes de melhorar a distribuição relativa do sistema radicular.

Material e métodos

Os resíduos (500 kg) foram obtidos de uma obra de construção civil, e através de quarteamento obteve-se 60 kg de resíduos para a realização dos ensaios. As análises dos resíduos de gesso foram realizadas em um laboratório de análises de solo e fertilizantes. Com relação aos metais utilizou-se o método 3050 B (USEPA, 1996) para determinação de cádmio e chumbo. As análises de Enxofre, Cálcio, umidade e classificação granulométrica foram realizadas de acordo com o manual de análises de solo, plantas e outros materiais (TEDESCO et al., 1995). Para avaliar o sistema radicular, foram confeccionadas colunas de PVC de 0,1 m de diâmetro e 0,66 m de altura. As colunas foram preenchidas com solo de diferentes profundidades e realizou-se a aplicação de 30 g de resíduos de gesso em uma coluna, em outra coluna realizou-se o mesmo procedimento sem a adição de resíduos de gesso. Foram realizadas duas réplicas para cada um dos experimentos. Em cada coluna foi cultivado uma planta de soja e após seu desenvolvimento as colunas foram seccionadas em três partes iguais equivalentes à 0,22 m cada parte, onde ocorreu a coleta das raízes e envio para laboratório, onde procedeu-se a retirada da sujidade e foram mantidas em estufa a 70 °C por 32 horas. Após esse procedimento realizou-se a medida da massa seca das raízes, para avaliação da distribuição do sistema radicular.

Resultado e discussão

Os resíduos analisados apresentaram índices de metais de acordo com o que é estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento através da Instrução Normativa número 27, (BRASIL, 2006), conforme descrito na Tabela 1. Índices de cálcio, enxofre e umidade também estão descritos na Tabela 1 e apresentaram-se satisfatórios, pois a cada 100 g de resíduos de gesso, tem-se 29,4 g de cálcio e e 16,66 g de enxofre, confirmando que resíduos de gesso podem ser fontes de cálcio e enxofre. A classificação granulométrica dos resíduos em estudo está descrita na Tabela 2, onde observa-se que 95,57% dos resíduos possui granulometria menor que 2 mm, 74,69% menor que 0,84 mm e 42,86% menor que 0,30 mm. Os resultados obtidos atenderam aos objetivos do presente estudo, relacionados com a distribuição do sistema radicular, onde foi constatado que os resíduos de gesso oriundos da construção civil proporcionaram melhor distribuição do sistema radicular em experimentos utilizando soja como referência. A Figura 1 apresenta o percentual médio de raízes encontrado em cada profundidade avaliada, onde no experimento sem gesso, a maior parte das raízes concentra-se na parte superior do solo, e em menor quantidade na parte inferior. já no experimento com a adição de gesso o sistema radicular está melhor distribuído, com mais raízes na parte inferior do mesmo, em relação ao experimento sem gesso.

Tabelas 1 e 2

Tabela 1 apresenta as análises realizadas para caracterizar os resíduos de gesso e a Tabela 2 apresenta os resultados da análise granulométrica.

Figura 1

Distribuição média do sistema radicular no experimento.

Conclusões

Pode-se concluir para as condições do presente estudo, que resíduos de gesso obtidos da construção civil, considerados problema para as indústrias gesseiras, quando tratados de forma adequada não ultrapassando parâmetros de toxicidade, podem ser utilizados como fontes de cálcio e enxofre. Também podem ser utilizados como condicionadores, em solos que apresentem altos índices de íons alumínio III, proporcionando melhor distribuição do sistema radicular das plantas, fator que influencia na melhor absorção de nutrientes e água, aumentando assim a produtividade e a resistência a estiagens.

Agradecimentos

A orientadora Clóvia M. Mistura pela ajuda e pelo apoio e a UPF pela estrutura.

Referências

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 27 de 5 de junho de 2006. Diário Oficial da União, 9 jun. 2006.

SOUZA, R. J. de; OLIVEIRA, A. H. R. de; MOURA, M. S.. Tratamento dos Resíduos de Gesso da Construção Civil: o caso das construtoras na cidade de Maceió. In: CONGRESSO NORTE NORDESTE DE PESQUISA E INOVAÇÃO, 7., 2012, Palmas.

TEDESCO, M. J. et al. Análises de solo, plantas e outros materiais. 2. ed., Porto Alegre. UFRGS, 1995.

THIESSEN, R.; NAGALLI, A. Diagnóstico do gerenciamento dos resíduos de gesso da construção civil. Revista Saneamento Ambiental, São Paulo, n. 161, 32-34, 2012.

UNITED STATES ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY – USEPA. Purge and trap for aqueous samples, 1996. Disponível em: < http://www.epa.gov/osw/hazard/testmethods/sw846/pdfs/5030b.pdf> Acesso em: 17 maio 2014.

Patrocinadores

CNPQ CAPES CRQ15 PROEX ALLCROM

Apoio

Natal Convention Bureau Instituto de Química IFRN UFERSA UFRN

Realização

ABQ