Pesticidas em sedimento de fundo de rio na Bacia do rio Cuiabá

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Ambiental

Autores

Sassaki, P. (UFMT) ; Alves Pinto, A. (UFMT) ; Freire Gaspar de Carvalho Dores, E. (UFMT) ; Zeilhofer, P. (UFMT)

Resumo

O uso de pesticidas pode representar riscos para a saúde e o ambiente. Os sedimentos de fundo de rio desempenham importante papel na caracterização da contaminação ambiental devido a seu alto potencial de retenção de substâncias orgânicas e inorgânicas. Este trabalho objetivou avaliar a contaminação por pesticidas usados nas lavouras próximas da bacia do rio Cuiabá, MT. Foram coletadas amostras de sedimento mensalmente de agosto/12 a julho/13. Treze pesticidas foram determinados por extração sólido-líquido sob agitação seguida de purificação por extração líquido-líquido, identificação e quantificação por cromatografia a gás com espectrometria de massas. Resíduos de pesticidas foram identificados em 10,18% das amostras em concentrações superiores a limites que causam impacto ambiental.

Palavras chaves

Pesticidas; Sedimento; Contaminação

Introdução

O Brasil é o terceiro maior consumidor de pesticidas do mundo e o primeiro na América Latina, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2010), devido ao grande aumento no cultivo de monoculturas. Mesmo em concentrações baixas, muitas vezes, os pesticidas afetam a estrutura e a função das comunidades naturais, provocando impactos em múltiplos níveis, que vão desde o molecular até o de comunidades inteiras, comprovando que as práticas agrícolas intensivas são altamente impactantes ao ambiente e estão diretamente relacionadas à redução da biodiversidade (GRISOLIA, 2005). A entrada de pesticidas nos rios a partir do uso agrícola depende da dinâmica desses compostos no solo, já que além do carreamento pela ação dos ventos com posterior precipitação, a mobilidade dos pesticidas a partir do solo contribui de forma significativa para sua chegada aos cursos d’água. A bacia hidrográfica do rio Cuiabá abrange, total ou parcialmente, 29 municípios, sendo 25 localizados no Estado do Mato Grosso e 4 no Estado do Mato Grosso do Sul. O rio Cuiabá é um dos principais afluentes do rio Paraguai, cuja bacia é de grande importância nacional e internacional, por abrigar o Pantanal, uma das maiores extensões úmidas do planeta (Agência Nacional de Águas, 2003). Considerando o uso intensivo de pesticidas na Bacia do Rio Cuiabá, é importante avaliar a contaminação pelos ingredientes ativos usados nas lavouras próximas da região, visto que esta bacia é importante para as atividades socioeconômicas locais além de desaguar no Pantanal.

Material e métodos

Foram selecionados nove pontos ao longo do Rio Cuiabá e do Rio São Lourenço, os quais pertencem aos municípios de Rosário Oeste, Santo Antônio do Leveger, Jaciara, Rondonópolis e Poconé (Figura 1), onde foram efetuadas coletas mensais de sedimento de fundo no período de agosto de 2012 a julho de 2013. As amostras foram coletadas utilizando a draga de Petersen e foram armazenadas sob gelo a fim de preservar as amostras até sua chegada ao laboratório. Foram analisados 12 pesticidas e um metabólito neste trabalho. Para a extração dos pesticidas, foi pesada uma alíquota de 20 g e outra de 5 g sendo esta utilizada para determinação da umidade do sedimento. A alíquota de 20 g foi processada com uma solução extratora de acetato de etila, acetona e água deionizada na proporção de 2:2:1 (v:v:v) e agitadas por 4 horas. Em seguida, as amostras foram filtradas com papel de filtro simples e concentradas em evaporador rotatório, até se obter o primeiro extrato concentrado. Em seguida, foram adicionados a esse primeiro extrato 30 mL de uma solução de NaCl saturada e logo após a amostra foi extraída por partição, com 3 séries de 25 mL de diclorometano, definindo o segundo extrato. Gotas de tolueno foram adicionadas ao extrato que foi concentrado no evaporador rotatório. A solução foi retomada com tolueno, e purificada por extração em fase sólida em um cartucho de vidro contendo alumina, florisil e lã de vidro que foi condicionado com 1 mL de n- hexano. A amostra foi eluída por uma mistura de 10 mL de n-hexano e acetato de etila na proporção de 4:1 (v:v). Finalmente então foi adicionado o padrão D- Fenantreno (padrão interno) e os extratos foram armazenados em vials para posterior determinação por cromatografia a gás acoplada a espectrometria de massas.

Resultado e discussão

Foram analisados os seguintes pesticidas: atrazina, cipermetrina, clorpirifós, λ-cialotrina, endossulfan sulfato, α-endossulfan, β-endossulfan, malation, metolaclor, metribuzin, paration, permetrina, trifluralina. Houve detecção de pesticidas nas amostras coletadas nos meses de agosto, setembro, novembro, janeiro, fevereiro, maio, abril e julho como pode ser verificado na Tabela 1. Em dois pontos pertencentes a Poconé não houve incidência de pesticidas. O endossulfam sulfato foi detectado com maior frequência nas amostras enquanto a cipermetrina foi detectada apenas nos pontos 3 e 10 no mês de novembro de 2012, mostrando que este inseticida não tem elevada persistência no ambiente. A legislação brasileira não prevê limites para pesticidas em sedimento. Para efeito de avaliação das concentrações determinadas foi utilizado como referência o trabalho de Crommentuijn et al. (2000) que determina limites considerando o potencial impacto ambiental (endosulfan 0,026 µg kg-1; malationa 0,9 µg kg-1; permetrina 0,87 µg kg-1 e cipermetrina 0,39 µg kg-1). Todas as concentrações detectadas foram superiores a estes limites.

Tabela 1

Concentração de pesticidas (µg kg-1) de sedimento.

Figura 1.

Pontos de coleta.

Conclusões

Houve detecção de vários pesticidas no sedimento e apesar da baixa frequência de detecção, no presente estudo observou-se que as atividades agrícolas desenvolvidas na área da bacia do Rio Cuiabá estão influenciando na contaminação do meio ambiente por pesticidas.

Agradecimentos

FAPEMAT, CNPq

Referências

CROMMENTUJIN, T. SIJM, D. BRUJIN, J, LEEUWEN, K, PLASSCHE, E, V. Maximum permissible and negligible concentrations for some organic substances and pesticides. Journal of Environmental Management, 58, 297–312, 2000.

GRISOLIA, C.K. Agrotóxicos: mutações, câncer e reprodução. Universidade de Brasília, 2005.

ISENSEE, A. R. Movement of herbicides in terrestrial and aquatic environments. In: Pimentel, D. CRC Handbook of pest management in agriculture, v. 1, 2. ed., Boca Raton: CRC Press, p. 651-659, 1991.

SPADOTTO, C. A. Comportamento e destino ambiental de herbicidas. Comitê do meio ambiente, sociedade brasileira da ciência das plantas daninhas. Disponível em: <http://www.cnpma.embrapa.br/herbicidas>. Acesso em: Out 2013

MIRANDA, K, CUNHA, M. L. F, DORES, E. F. G. C, CALHEIROS, D. F Pesticide residues in river sediments from the Pantanal Wetland, Brazil, Journal of Environmental Science and Health, Part B, 43:8,717 — 722, 2008.

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