Quantificação de Hg em gramíneas oriundas de passivos ambientais de garimpo em Mato Grosso

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Ambiental

Autores

Eickhoff, A.P.N. (IFMT/CONFRESA) ; Pierangeli, M.A.P. (UNEMAT) ; Ignacio, A.R.A. (UNEMAT)

Resumo

A identificação de áreas contaminadas por Hg advindo de atividades garimpeiras é de importante para seu gerenciamento afim de que se evitem perdas financeiras e prejuízos socioambientais, uma vez que estudos mostram a relação direta entre a contaminação do solo e a presença de contaminantes nos vegetais. Assim, escolheu-se Alto Paraguai e Poconé, para se avaliar os teores de Hg em plantas forrageiras, uma vez que áreas abandonadas de garimpo geralmente são incorporadas a áreas de pastagem de propriedades rurais sem que haja qualquer preocupação com a qualidade do pasto. Não há no Brasil, legislação acerca dos teores de Hg em plantas utilizadas na nutrição animal. Porém, foram encontrados teores de Hg em gramíneas semelhantes aos de estudos de plantas utilizadas na dieta humana.

Palavras chaves

garimpo; contaminação; pastagem

Introdução

A identificação de áreas impróprias para o desenvolvimento de atividades agrícolas é fundamental para garantir a qualidade e a segurança dos alimentos ali produzidos. Uma possibilidade que proprietários de áreas rurais encontraram foi espalhar as montanhas de material de garimpo (pedregulho) e, após o entupimento de parte dos catreados, praticar o cultivo de espécies de plantas forrageiras para sustento do rebanho bovino ou de outros animais. A exploração artesanal de ouro, conhecida como garimpagem, é quase sempre marcada pela falta de preocupação com o gerenciamento adequado de material perigoso e neste caso, principalmente do mercúrio (Hg). Após a exploração e o desuso da área de passivo, se ocorrer de o solo estiver contaminado, há a possibilidade da transferência de elementos potencialmente tóxicos para as plantas uma vez que as mesmas absorvem os elementos nutrientes ou não da solução do solo. Das plantas, esses elementos podem a expor animais que se alimentam destas, oferecendo riscos inclusive à saúde humana (SILVA, et al., 1992). Neste estudo, foram avaliadas gramíneas oriundas de passivos ambientais de garimpo de ouro e atual exploração de pastagem. Os teores de Hg encontrados para as amostras de plantas coletadas nessas áreas, se dentro dos limites estabelecidos, pode indicar a possibilidade de do uso das áreas para a prática da pecuária e em caso de contaminação, indicação de aplicação de métodos de recuperação de áreas degradadas conhecidos como fitorremediação e recuperação da camada superficial do solo que pode inclusive possibilitar usos mais amplos, como o emprego de consórcios de forragem e leguminosas (EVANKO e DZOMBAK, 1997).

Material e métodos

Foram selecionadas seis áreas para coleta de amostras de plantas forrageiras, sendo que no município de Alto Paraguai, foram coletadas 04 amostras em 03 diferentes pisciculturas, perfazendo um total de 12 amostras para o município. Estas áreas foram denominadas AP1, AP2 e AP3. A espécie encontrada foi a brachiara de diferentes cultivares. Em geral, as plantas foram introduzidas via plantação por sementes, visando seu cultivo para alimentação animal. Já em Poconé, as plantas foram coletadas também em 03 áreas, sendo denominadas PO1, PO2 e PO3. Foram coletadas 04 amostras por área, da mesma espécie das coletadas em Alto Paraguai. As 24 amostras foram catalogadas, separadas e mantidas resfriadas. No laboratório, foram lavadas com água deionizada para remoção do material particulado, colocadas em embalagens de papel e levadas a estufa de ventilação forçada à temperatura de 60 °C por um período de 72 horas. Posteriormente, as amostras foram trituradas e levadas para a digestão das amostras através da mistura ácida sulfonítrica em banho maria a 60 °C por um período de 45 minutos. Foram adicionados 5 mL de solução de permanganato de potássio a 5% a cada amostra para oxidação da matéria orgânica. Posteriormente, adicionou-se 01 mL de solução de hidroxilamina, para neutralização do excesso de KMnO4 e procedeu-se a análise de Hg. Para a determinação dos teores de Hg, foi aplicada técnica de espectrometria de absorção atômica, utilizando-se FIMS e FIAS 400 (Perkin Elmer), equipado com amostrador automático AS90 (Perkin Elmer). Foi utilizado material de referência DORM-3 (recuperação de 75%).

Resultado e discussão

As médias e o desvio-padrão, dos teores de Hg encontrados nas amostras coletadas nos municípios de Poconé e Alto Paraguai são apresentados na tabela 1, juntamente com a amplitude dos dados. Trabalhos que visam a quantificação de elementos-traço em plantas, neste caso, o Hg, estão cada vez mais presentes na literatura científica, uma vez que as plantas são a base de cadeia alimentar. O poder bioacumulativo que alguns elementos podem ter, inclusive com efeitos deletérios, pode ser biomagnificado ao longo da cadeia, colocando em risco a saúde humana. Dessa forma, vários trabalhos relatam concentrações de Hg em plantas como exposto por Kabata-Pendias e Pendias (2000). No trabalho citado, podem-se observar vários estudos, inclusive com relatos de teores de back ground pra inúmeros vegetais e frutas de diversos países, demonstrando assim a preocupação com a contaminação das plantas que fazem parte de nossa base alimentar. Kabata-Pendias e Pendias (2000) relatam ainda teores de Hg em vegetais que variam entre 0,6 a 70 ppb. O estudo de Paixão (1998) revelou o poder biomagnificante de algumas espécies de forrageiras que também foi encontrado neste estudo, coletando amostras em áreas de garimpo na região de Alta Floresta, porém não detalha possíveis efeitos aos consumidores destas espécies forrageiras. Todavia, na legislação brasileira não há limites de teores de Hg em forragem destinada ao consumo de rebanho, e os estudos sobre esse elemento, se restringem quase que exclusivamente em plantas aquáticas e aquelas destinadas diretamente ao consumo humano (KABATA-PENDIAS e PENDIAS, 2000). Não foram encontrados estudos que avaliaram a mesma espécie deste trabalho, apontando para a necessidade de mais estudos acerca deste contaminante em plantas forrageiras.




Conclusões

Pode-se afirmar com os resultados obtidos, que as áreas de estudo, não apontam para problemas no cultivo de forrageiras e criação bovina, porém, observando o poder de bioacumulação e biomagnificação do Hg ao longo da cadeia alimentar, que há a necessidade de se estabelecer níveis seguros de concentração por Hg em plantas destinadas a alimentação animal, uma vez que, devido a posição do ser humano na teia alimentar, o mesmo pode ter sua saúde exposta aos problemas oriundos de passivos ambientais de garimpos de ouro abandonados.

Agradecimentos

Ao CNPq e a CAPES-Procad pelas bolsas de estudos e aporte financeiro ao projeto.

Referências

EVANKO, C.R.; DZOMBAK, D.A. Remediation of Metals-Contaminated Soils and Groundwater. Pittsburgh: GRWTAC. 1997 (Technology Evaluation Report, 01).
KABATA-PENDIAS, A.; PENDIAS, H. Trace elements in soils and plants. 3 ed. New York: CRC Press, 2000.
PAIXÃO, J.S. Descontaminação de solos de áreas degradadas: Distrito garimpeiro Alta Floresta – MT, um estudo de caso. 1998. 153f. Dissertação (Mestrado em Geologia e Geoquímica). Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 1998.
SILVA, A.P. et al.. Estudos biogeoquímicos sobre o mercúrio em ambientes aquáticos de Poconé. In: VEIGA, M.M. & FERNANDES, F.R.C. (Orgs.) POCONÉ: Um campo de estudos do impacto ambiental do garimpo. 2 ed. Rio de Janeiro: CETEM, 1992. (Série Tecnologia Ambiental, 1).

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