Argila calcinada em substituição à casca do caraipé (Licania scabra) na produção de vasilhas de barro: uma alternativa sustentável.

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Ambiental

Autores

Silva, R.L. (UEA) ; Feijó, M.C.C. (UEA) ; Pereira, D.S. (UEA) ; Silva, E.T. (UEA) ; Rocha Filho, J.S. (UEA) ; Farias, F.S.S. (UEA) ; Eleutério, C.M.S. (UEA) ; Melo, M.G. (UEA) ; Mata, M.S.L. (UEA) ; Mendonça, A.S. (UEA)

Resumo

Na produção das vasilhas de barro na comunidade de São Tomé do Mocambo do Arari, Parintins (AM), as artesãs utilizam as cinzas da casca do caraipé (Licania scabra) como antiplástico para evitar as trincas. Esta atividade tem contribuído fortemente para a escassez da planta na região. Diante desse panorama buscou-se verificar uma alternativa sustentável capaz de substituir as cinzas da casca do caraipé. Para tanto, a argila utilizada pelas artesãs foi calcinada e em seguida triturada e misturada com a argila in natura, em substituição às cinzas da planta. As observações apontam que o uso de argila calcinada contribuiu para a redução de trincas nas vasilhas, em semelhança às cinzas do caraipé.

Palavras chaves

Caraipé; antiplástico; calcinação

Introdução

Os primeiros sinais da utilização de pozolanas foram observados em construções Gregas e Romanas, aproximadamente 2000 anos a.C. (NETTO, 2006, p.15). As pozolanas são materiais de origem natural ou artificial, contendo em sua constituição sílica na forma ativa, tendo como exemplo de pozolanas naturais a argila calcinada (MORAES, 2001, p.25). Em trabalho desenvolvido por alunos do curso de graduação em museologia, decoração e artes plásticas da Universidade Federal da Bahia relataram que os índios utilizavam cascas de árvores ricas em sílica, denominadas caraipé, ou mesmo materiais já transformados pelo homem como cacos de cerâmica triturados para reduzir a plasticidade da argila (CERÂMICA...,S.d, p.2). Segundo Curado (2012, p. 5) usar “temperos” em argila era uma prática em muitos grupos indígenas brasileiros. Para Aguiar (2009, p. 7) a alta plasticidade das argilas pode causar dificuldade de secagem, podendo ocasionar o aparecimento de problemas dimensionais ou até mesmo trincas, no corpo cerâmico. Na Comunidade de São Tomé do Mocambo do Arari, em Parintins (AM), as artesãs que trabalham com vasilhas de barro utilizam as cinzas da casca do caraipé (Licania scabra) como antiplástico para evitar as trincas. Com a escassez da planta, a saca de 50 litros de cinzas atualmente é comercializada a R$ 100,00. Devido a essa dificuldade muitas artesãs têm abandonado esta importante atividade econômica e forte expressão cultural da região. Diante do panorama, o presente trabalho buscou como alternativa sustentável a substituição das cinzas do caraipé por argila calcinada.

Material e métodos

Amostra de argila cedida pelas artesãs da Comunidade de São Tomé do Mocambo do Arari foi dividida em três partes. Uma parte da amostra foi separada para a determinação do pH e acidez trocável conforme EMBRAPA (1997, p.103). Outra foi calcinada em forno caseiro onde a temperatura atinge entorno de 500 ºC. Segundo Mothé (2004, p. 74) a calcinação da argila deve estar entre 490 a 700 ºC, durante um tempo de 3 horas para promover a atividade pozolânica. O material calcinado foi triturado em um ralador manual e passado em peneira de 20 Mesh, conforme (BORLINE, 2006, p. 437). A terceira parte da argila foi usada para misturar-se à argila calcinada. Com a intenção de tão somente observar a influência da argila calcinada nas vasilhas de barro, uma artesã (dona Celita, 84 anos) foi convidada para confeccionar as vasilhas a serem testadas, adotando a mesma proporção das cinzas do caraipé. As vasilhas após a secagem foram “queimadas” conforme o método tradicional.

Resultado e discussão

A argila utilizada pelas artesãs apresentou um pH de 3,8 enquanto a acidez trocável foi de 10,4 cmol.Kg-1. Esse resultado é compatível com o observado por Wendling (2012, p. 38) nas amostras de solo de mata. Segundo Aguiar (2009), a argila utilizada pelas artesãs de Goiabeiras (ES) contém quantidade elevada de Al2O3, indicando que apresenta elevada fração de argilominerais, destacando-se a caulinita. Mothé (2004, p. 35, 74) mostra que a desidroxilação da caulinita, se transformando em metacaulinita, ocorre em torno de 500 ºC, durante a calcinação da argila. Isto pode explicar porque os índios adicionavam o chamote – cacos de cerâmica triturados em substituição às cinzas da casca do caraipé (ISTO ..., S.d, p. 1). Como resultado final, as vasilhas de barro usando a argila calcinada não apresentaram trincas, conforme o previsto.

Conclusões

A substituição das cinzas do caraipé (Licania scabra) pela argila calcinada mostrou-se capaz de reduzir as trincas nas vasilhas de barro. Faz-se necessário que mais testes ocorram a fim de minimizar a ação de outros fatores (como tempo de secagem, a taxa de aquecimento e choques térmicos) que contribuem para o surgimento de trincas. E finalmente, a substituição do “tempero” para a produção de vasilhas de barro é um importante passo para a recuperação da planta na região.

Agradecimentos

Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas – FAPEAM UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS-UEA

Referências

AGUIAR, Mariane Costalonga; BORLINI, Mônica Castoldi. Estudos de Caracterização de Argilas do Vale do Mulembá visando contribuir para a Sustentabilidade da Confecção de Panelas de Barro do Espírito Santo. XVII Jornada de Iniciação Científica – CETEM, 2009.
BORLINI; M. C.; MENDONÇA, J. L. C. C.; VIEIRA, C. M. F.; MONTEIRO; S. N.. Influência da Temperatura de Sinterização nas Propriedades Físicas, Mecânicas e Microestruturais de Cerâmica Vermelha Incorporada com Cinza de Bagaço de Cana de Açúcar. Revista Matéria, v. 11, n. 4, pp. 435-443, 2006 Disponível em <http://www.materia.coppe.ufrj.br/sarra/artigos/artigo 10799> .acesso em 26 jan. 2006.
CERÂMICA Indígena. Características da cerâmica indígena brasileira. Universidade Federal da Bahia, [S.d.]. Disponível em: http://ceramicaindigena.blogspot.com.br/ . Acesso em 13 nov. 2013.
CURADO, Jessica Fleury. Estudo e caracterização física de cerâmicas indígenas brasileiras. Tese de Doutorado. Instituto de Física da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
EMBRAPA. Manual de métodos de análise de solo. 2ª ed. Centro Nacional de Pesquisa de Solos, RJ, 1997. p 212.
ISTO é Amazonia. Rituais e Técnicas. O Portal da Floresta, [S.d.]. Disponível em http://www.istoeamazonia.com.br. Acesso em jun. 2004.
MORAES, R. C. . Efeitos físicos e pozolânicos das adições minerais sobre a resistência mecânicas do concreto. Dissertação ( Mestrado). Universidade Federal de Santa Maria, RS, 2001.
MOTHÉ, Leonardo Paes. Avaliação das condições ideais para a produção de metacaulinita através da análise da sua atividade pozolânica. Universidade Estadual do Norte Fluminense. Campos dos Goytacazes – RJ, 2004
NETTO, Rafael Matuano; "Materiais pozolânicos" - Belo Horizonte/MG, Escola de Engenharia da UFMG (2006).
WENDLING, Graziele Feltrin Dias. Formas de alumínio em solos submetidos a diferentes manejos e rotações de culturas. Dissertação Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, 2012.

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