Extração artesanal de óleos de Andiroba (Carapa guianensis Aubl.) e Cumaru (Dipteryx odorata): eixo articulador do conhecimento químico e desenvolvimento sustentável na região do Baixo Amazonas

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Ensino de Química

Autores

Mata, M.S.L. (UEA) ; Eleuterio, C.M.S. (UEA) ; Pereira, D.S. (UEA) ; Guimaraes, I.R.C. (UEA) ; Melo, M.G. (UEA) ; Filho, J.S.R. (UEA) ; Silva, E.T. (UEA) ; Araújo, M.C.P. (UEA) ; Serrão, E.M. (UEA) ; Souza, T.G. (UEA)

Resumo

Documentos oficiais (LDB 9394/96, DCNs e PCNs) recomendam que os Currículos das Licenciaturas e da Educação Básica sejam adaptados ao contexto dos estudantes. Portanto, procuramos articular o conhecimento químico com os saberes tradicionais do Caboclo visando estimular práticas sustentáveis na região do Baixo Amazonas. Nas oficinas de extração de óleos de Andiroba (Carapa guianensis Aubl.) e Cumaru (Dipteryx odorata) foram envolvidos estudantes e professores do Curso de Licenciatura em Química, 10 caboclos extratores de óleos de duas comunidades rurais. O procedimento metodológico das oficinas foi estruturado com base nas orientações e recomendações dos caboclos. As experiências vivenciadas contribuíram para a construção de uma proposta de formação acadêmica com foco na sustentabilidade.

Palavras chaves

Conhecimento Químico; Saber Tradicional; Sustentabilidade

Introdução

A LDB 9394/96 e outros documentos oficiais do MEC recomendam que os Currículos das Licenciaturas e da Educação Básica sejam adaptados ou ampliados ao contexto sociocultural dos estudantes. Partindo dessa perspectiva procuramos através da prática tradicional de extração de óleos de Andiroba (Carapa guianensis Aubl.) e Cumaru (Dipteryx odorata) articular o conhecimento químico com os saberes tradicionais do Caboclo da Amazônia. As práticas de extração foram realizadas em forma de oficinas envolvendo estudantes, professores e caboclos extratores de óleos vegetais. As práticas suscitaram estudo e reflexão sobre o etnoconhecimento (saber tradicional), saber transmitido de geração a geração, comumente utilizado em comunidades tradicionais ou em aldeados indígenas. Literaturas apontam que o etnoconhecimento é uma forma de se pensar numa nova escola, com o olhar voltado para uma formação sustentável e multicultural. Este tipo de educação de acordo com Rodrigues e Passador (2010), Miranda; Oliveira e Paranhos (2011), valoriza, promove a diversidade cultural e, sobretudo, contribui para a construção de novos saberes fundamentados na experiência e nas práticas tradicionais dessas populações. Aderimos a ideia dos PCN+ (2002) e das DCN’s (2001) que o conhecimento químico não deve ser visto como um conjunto de saberes isolados, que estão prontos e acabados, mas que seja entendido como instrumento da formação e que possa contribuir com o exercício da cidadania. Se tomarmos o conhecimento químico como um dos meios de interpretar o mundo e intervir na realidade, se for apresentado como ciência, com seus conceitos, métodos e linguagens próprias, e como construção histórica, relacionada ao desenvolvimento tecnológico e social poderemos pensar numa sociedade mais justa e igualitária.

Material e métodos

Para estruturar o procedimento metodológico das Oficinas, foi necessário realizar visitas técnicas ao lócus da pesquisa - Agrovila de Mocambo do Arari para observar o processo de extração desenvolvido pelos caboclos extratores. As visitas aconteceram nos meses de maio a julho de 2013, período de safra dos vegetais. Foram realizadas entrevistas com 10 caboclos extratores dentre eles 06 mulheres e 04 homens, com idade entre 50 a 90 anos e que dominavam a técnica de extração e diziam conhecer as propriedades fitoterápicas dos óleos de Andiroba (Carapa guianensis Aubl.) e Cumaru (Dipteryx odorata). As oficinas foram replicadas no espaço acadêmico, no Laboratório de Educação Química e Saberes Primevos, vinculado ao Curso de Licenciatura em Química, no Centro de Estudos Superiores de Parintins da Universidade do Estado do Amazonas. A partir das orientações e recomendações dos caboclos extratores os procedimentos metodológicos e técnicos, as estratégias de ensino foram sendo construídas no decorrer do processo. Participaram das oficinas 08 alunos de graduação e 02 professores de Química. Para realizar as oficinas foram adquiridas 10kg de sementes de cumaru e 50kg de sementes de andiroba. Nesta etapa foram utilizados os seguintes utensílios: fogão e panelões de alumínio para cozinhar as sementes; paneiros, peneiras, tipitis, cuias para guardar a massa de andiroba cozida, um expositor do tipo gareira confeccionado com telhas de alumínio, filtros de pano, algodão e vidros para embalagem do óleo. Na extração do óleo de cumaru foram utilizados: moinho para trituração das sementes, tipiti para separação do óleo, filtros de pano, algodão e vidros para embalagem. Ressaltamos que todo processo durou aproximadamente 90 dias.

Resultado e discussão

Este estudo demonstrou que há uma intrínseca relação entre os saberes tracionais e o conhecimento químico que podem ser trabalhados pelo professor nas aulas de química. A literatura mostra que no óleo de andiroba estão presentes substâncias ativas como limonóides e triterpenos. Possuem ainda ácido graxos saturados: mirístico, palmítico e esteárico e insaturados: oléico, linoléico e linolênico (FARIAS e FILHO, 2013). O óleo de cumaru de acordo com Araújo, Echeverria e Pastore Jr. (2004, p. 5) também é constituído pelos ácidos palmítico, esteárico, oleico, linoleico, linolênico, araquídico, beênico e lignocérico. Estes dados serviram para articular o conhecimento químico tomando os ácidos carboxílicos e ésteres como referência. Foram apresentadas as estruturas orgânicas dos ácidos encontrados nos processos de extração com solventes orgânicos; evidenciadas os tipos de ligações; reação de esterificação e os métodos de obtenção dos ácidos carboxílicos. Se o professor reproduzir a prática tradicional de extração de óleos andiroba e cumaru na academia, terá também a oportunidade de evidenciar os métodos e processos de separação de misturas, identificar índice de acidez, densidade, índice de saponificação de peróxidos e ácidos graxos livres e testar atividade antimicrobiana. Em relação à sustentabilidade o professor poderá desenvolver a prática de produção de cosméticos e repelentes, utilizando as tortas (resíduos sólidos) que ainda apresentam elevados teores oleinicos.

Conclusões

Esta experiência revelou que em outros contextos são produzidos saberes que podem estabelecer um “tronco de aprendizagem” com valor sócio pedagógico, principalmente se tomarmos como elemento articulador do conhecimento químico as práticas produtivas, extrativistas e culturais das populações tradicionais. A articulação entre o conhecimento químico com os saberes tradicionais do Caboclo da Amazônia poderá ressignificar a práxis do professor de química, bem como estimular práticas sustentáveis na região do Baixo Amazonas.

Agradecimentos

FAPEAM; UEA; FERNANDO SÉRGIO DOS S.FARIAS (Professor Ed. Básica; Mônica Jacaúna dos Santos (Téc. Lab. QUIM/UEA)

Referências

ARAÚJO. V. F. de; ECHEVERRIA, R. M.; PASTORES-JR, Floriano. Sistema de extração de sementes de Cumaru. Universidade de Brasília ‐ UnB. Instituto de Química, Laboratório de Tecnologia Química – LATEQ. Brasília, 2004.
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BRASIL. Ministério da Educação – MEC – Secretaria de Educação Média e Tecnológica – SEMTEC – PCN + Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002.
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FARIAS, E.S.; FILHO, A. A. M.. Constituintes Químicos do óleo da Andiroba (Carapa Guianensis Aublet) de Roraima por cromatografia gasosa. 6º Encontro Nacional de Tecnologia Química. Maceió/AL, de 28 a 30 de Agosto de 2013.
MIRANDA, M. L. C. de; OLIVEIRA, J. X. de; PARANHOS, J. P. B.. A Organização do Etnoconhecimento a representação do conhecimento em religiões de matrizes africanas na CDD e na CDU. XXIV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação. Sistemas de Informação, Multiculturalidade e Inclusão Social Maceió, Alagoas, 07 a 10 de Agosto de 2011.
RODRIGUES, M. de A.; PASSADOR, R. J..Etnoconhecimento: uma possibilidade de diálogo para o ensino. In: IV Fórum de Educação e Diversidade, 2010, Tangará da Serra. Anais Eletrônicos do IV Fórum de Educação e Diversidade, 2010.

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