CARACTERIZAÇÃO DA PRÓPOLIS MARROM DO CEARÁ EM RELAÇÃO AO SEU LOCAL DE COLETA

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Liberato, M.C.T.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Morais, S.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Frota, E.B. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Oliveira Silva, M.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

A própolis é um material resinoso usado pelas abelhas como selante nas colmeias. Amostras de própolis marrom, produzidas por Apis mellifera L., foram obtidas em diferentes regiões do Ceará. Inicialmente, foram realizadas reações para prospecção fitoquímica de fenóis, esteroides e triterpenoides, e em seguida foram obtidos extratos metanólicos das própolis. As própolis foram analisadas quanto ao Resíduo Insolúvel em metanol, Teor de Cera, Teor de Fenóis e Teor de Flavonoides tendo em vista a vegetação predominante na região de coleta. Devido à variação em sua composição química, que difere de acordo com a fonte floral, torna-se imprescindível buscar instrumentos para a padronização da própolis marrom do estado do Ceará.

Palavras chaves

própolis marrom; Caracterização; Origens geográficas

Introdução

A própolis é uma mistura de substâncias resinosas, gomosas e balsâmicas colhidas por abelhas de plantas, as quais elas acrescentam secreções salivares, cera e pólen (BRASIL, 2001). Sua composição varia com a fonte floral, porém a maioria tem praticamente a mesma natureza química (GÓMEZ-CARAVACA et al., 2006). As variações sazonais na composição não são significantes e são predominantemente quantitativas, havendo concentrações significativas dos compostos biologicamente ativos em todas as estações. Isso indica que as abelhas coletam a própolis do mesmo grupo de plantas havendo predominância de uma fonte vegetal (SFORCIN, 2000). O Ceará encontra-se no bioma Caatinga, com chuvas reduzidas e alta biodiversidade. Dependendo do local, solo e regime de chuvas são formados padrões de caatinga com floras distintas. No norte, há áreas de carnaubais próximas à vegetação de caatinga. Nas serras e chapadas, aparece o cerrado, cerradão e a floresta tropical. As serras úmidas apresentam não só grande biodiversidade, mas também espécies endêmicas, com flora típica de matas tropicais úmidas. O carrasco é a vegetação xerófila com características próprias no reverso da Chapada da Ibiapaba e do Araripe. No litoral, predominam mangues e vegetação típica com grande biodiversidade. O conhecimento sobre as plantas pode servir como base para a padronização química da própolis (BANKOVA et al. 2000). O objetivo desse trabalho foi buscar a padronização química da própolis marrom do Ceará analisando amostras derivadas de resinas de plantas das microrregiões onde estão localizadas as cidades de Alto Santo, Aurora, Barbalha, Beberibe, Camocim, Crato e Mombaça. Foram realizados testes de prospecção fitoquímica qualitativo, determinação do resíduo insolúvel, teor de cera, de fenóis e flavonoides.

Material e métodos

As amostras foram obtidas de associações e cooperativas do Ceará, levadas ao Laboratório de Bioquímica e Biotecnologia (LABBIOTEC) da Universidade Estadual do Ceará e mantidas refrigeradas até o início das análises. Foi feito uma pesquisa bibliográfica sobre as plantas e seus constituintes químicos sobre as microrregiões de cada município produtor de própolis As amostras de própolis vieram de Alto Santo, Aurora, Barbalha, Beberibe, Camocim, Crato e Mombaça e realizados testes fitoquímicos para fenóis e taninos, e para esteroides e triterpenoides (MATOS, 1988). Foram obtidos extratos metanólicos por Soxhlet (FUNARI & FERRO, 2006), que foram usados na quantificação do teor de resíduo insolúvel em metanol, calculado pela razão entre massa do resíduo retido no cartucho e massa inicial de própolis em porcentagem e a quantificação do teor de cera; Após extração da cera os extratos foram secos. A quantificação do teor de flavonoides totais foi realizada por espectrofotometria utilizando-se cloreto de alumínio, como reagente de deslocamento (WOISKY, 1996). Para obtenção da equação na determinação do teor de flavonoides totais nas amostras, soluções do padrão quercetina foram preparadas em diferentes concentrações e a curva analítica foi obtida. A leitura foi feita a 425 nm. Foram utilizados 2 mL de solução de própolis a 2 mg/mL obtida pela dissolução de 100mg de resíduo seco em metanol, para a leitura nas amostras (BRASIL, 2001). Para a quantificação de fenóis totais construiu-se uma curva com ácido gálico como referência, fazendo a leitura no espectrofotômetro a 760 nm, usando-se o reagente de Folin-Ciocalteau.

Resultado e discussão

Todas as amostras de própolis analisadas foram de própolis marrom produzidas por Apis mellifera L. no Ceará, derivadas de resinas de várias plantas como por exemplo: Serjania sp, Hyptis suaveolens Poit., Myracrodruon urundeuva Fr. All., Anarcadium occidentale L., Cocos nucifera L., Byrsonima crassifolia L. Kunth. and Borreria verticillata Mayer; Merremia aegyptia L. Urban, Mimosa hostilis (Willd.) Poir., Hyptis suaveolens Poit. Croton sonderianus Muell. Arg., Licania rigida Benth, Mimosa caesalpiniaefolia Benth, Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir., Bumelia sartorum var. latifolia Miq. Muitas dessas plantas são fontes ricas em compostos fenólicos. A composição da própolis tem relação direta com a vegetação de onde é coletada. As análises foram feitas em triplicatas, estando os resultados nas Tabelas 1 e 2. O método espectrofotométrico para quantificar flavonoides baseia-se na propriedade do cátion alumínio de formar complexos estáveis com eles evitando a interferência de outras substâncias fenólicas. Foi usado o método do AlCl3 para determinar o teor de total de flavonoides e os resultados expressos através da curva de calibração da quercetina como equivalentes da quercetina (EQ)/100g de amostra, que variou de 1,98 a 5,90. Foi usado o método Folin-Ciocalteau para determinar o teor de total de compostos fenólicos e os resultados foram expressos através da curva de calibração do Ácido Gálico como equivalentes do Acido Gálico (EAG)/100g de amostra, que variou de 6,06 a 15,26. Os valores estão próximos aos encontrados para própolis brasileiras por Funari e Ferro (2006), Bonheví et al., (1994) e Woisky e Salatino (1998). Os resultados estão dentro do limite do Ministério da Agricultura (BRASIL, 2001).

TABELA 1 - CBQ 2014

Essa tabela apresenta espécies de plantas de cada local onde as própolis foram coletadas.

TABELA 2 - CBQ 2014

Essa tabela expõe os resultados obtidos nas análises realizadas.

Conclusões

A composição da própolis varia de acordo com a flora da região de coleta, dessa forma os resultados obtidos confirmam as classes de compostos que se relacionam com a composição química das plantas de suas respectivas regiões de coleta. Sendo a própolis uma mistura de resinas, bálsamos e ceras, além de outros componentes, e como os principais compostos fenólicos não estão presentes na cera torna-se relevante um menor teor desta confirmando o encontrado por Funari e Ferro (2006). Os resultados obtidos estão dentro dos padrões da legislação brasileira (BRASIL, 2001).

Agradecimentos

Ao CNPq, ao Laboratório de Produtos Naturais da UECE e aos apicultores do Ceará.

Referências

BANKOVA, V. S.; DE CASTRO, S. L. MARCUCCI, M. C. Própolis: recent advances in chemistry and plant origin. Apidologie, v. 31, p. 3-15, 2000.
BRASIL, MAPA. Instrução Normativa nº3, de 19/01/ 2001. Diário Oficial da União de 23/01/2001.
BONHEVÍ, J. S., COLL, F. V., & JORDA, R. E. (1994) The composition, active components and bacteriostatic activity of própolis in dietetics. Journal of the American Oil Chemist’s Society, 71, 529-532.
CUNHA, A. P.; SILVA, A. P.; ROQUE, O. R. Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia. 4ª ed. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa – Portugal. 2012.

GÓMEZ-CARAVACA, A. M., GÓMEZ-ROMERO, M., ARRÁEZ-ROMÁN, D., SEGURA-CARRETERO, A. FERNÁNDEZ-GUTIÉRREZ, A. Advances in the analysis of phenolic compounds in products derived from bees. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, v. 41. p. 1220-1234, 2006.
FUNARI, C. S., FERRO, V. O. Análise de própolis. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 26, n. 1, 2006.
IPLANCE. Atlas do Ceará. Fortaleza, 1995.
LORENZI, H.; ABREU MATOS, F. J. Plantas Medicinais no Brasil – nativas e exóticas. Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ltda. Nova Odessa – SP. 2002.
MATOS, F. J. A. Introdução à Fitoquímica Experimental. Fortaleza: UFC. 124p. 1988.
SFORCIN, J. M.; FERNANDES Jr., A.; LOPES, C. A. M.; BANKOVA, V.; FUNARI, S. R. C. Seasonal effect on Brazilian própolis antibacterial activity. Journal of Ethnopharmacology. v. 73, p. 243-249. 2000.
WOISKY, R.G. & SALATINO, A. (1998). Analysis of propolis: some parameters and procedures for chemical quality control. Journal of Apicultural Research, 37, 2, 99-105.

Patrocinadores

CNPQ CAPES CRQ15 PROEX ALLCROM

Apoio

Natal Convention Bureau Instituto de Química IFRN UFERSA UFRN

Realização

ABQ