Estudo fitoquímico e atividade antimicrobiana dos frutos de Oenocarpus bacaba Mart.[Arecaceae]

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Pina, N. (CESUPA) ; Silva, J. (CESUPA) ; Miranda, E. (CESUPA) ; Almeida, G. (CESUPA)

Resumo

Os frutos de bacaba são fonte alimentar na Amazônia e tratam doenças pulmonares. Os objetivos foram: efetuar o estudo fitoquímico; testar o efeito antimicrobiano; verificar a presença de metabólitos secundários e efetuar o perfil cromatográfico. Utilizou-se o método de Matos para análise dos metabólitos. O perfil cromatográfico efetuou-se por cromatografias em coluna (CC) e em camada delgada (CCD). Testou-se o efeito antimicrobiano pelos métodos do NCCLS com as cepas padrão de S. aureus, E. coli e P. aeruginosa (ATCC 25923, 25922 e 27833). Os metabólitos achados foram flavonóides e triterpenos livres. A CC revelou compostos extraídos com CHCl3 e MeOH 3% e 4%, sugestivo de flavonóides, cuja CCD mostrou um componente majoritário com Rf 0,67. Os extratos provaram-se sem efeito antimicrobiano.

Palavras chaves

bacaba; fitoquimica; antimicrobiano

Introdução

Devido as inúmeras descobertas científicas partidas do conhecimento empírico, passou-se a reconhecer a importância do saber tradicional a respeito de produtos naturais no desenvolvimento de modernas drogas terapêuticas (BRASIL, 2006). Levando em consideração o surgimento de cepas bacterianas resistentes aos medicamentos atuais, as plantas medicinais contribuem para descoberta de novos antibióticos, pois produtos naturais antimicrobianos podem ser biossintetizados para prevenir e/ou combater o ataque de microrganismos patogênicos às plantas (GUIMARÃES et al., 2010). Neste contexto os frutos de Oenocarpus bacaba Mart. são empiricamente usados para extração de um óleo usado para infecções pulmonares como a bronquite, tuberculose e como purgativo (FERREIRA, 2005). Esta pesquisa apresenta como proposta realizar testes fitoquímicos preliminares para observar os metabólitos secundários presentes no extrato etanólico de O. bacaba, bem como estabelecer o perfil cromatográfico do extrato de acetato de etila, correlacionando os resultados com a possível ação antibacteriana dos extratos hexânico e metanólico.

Material e métodos

COLETA E PREPARO DO MATERIAL VEGETAL: O material vegetal foi coletado no município de Barcarena-PA, sob as coordenadas 1°30'22.7"S 48°36'25.4"W, em maio de 2013. Uma exsicata foi preparada e encaminhada ao herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi, depositada sob o nº de referência (Voucher) MG 204869. Após o despolpamento o fruto foi seco, triturado e macerado sequencialmente por 7 dias com ETOH, Hex, AcOEt e MeOH. FITOQUÍMICA PRELIMINAR: Na análise qualitativa de metabólitos secundários utilizou-se o método de Matos (1997) para os testes de: alcalóides, flavonóides, taninos, antraquinonas, saponinas, esteróides e triterpenos livres. A CC foi preparada pelos métodos de Brasil (1988) e Matos (1997), tendo como condições: amostra do extrato de AcOEt (1g); pastilha sólida: 3:1; diâmetro da coluna 3,8cm; altura da sílica 17,5cm; fase fixa: gel de sílica para coluna; fase móvel: hexano (Hex) e solventes de polaridade crescente: Hex/CHCl3 e depois CHCl3/MeOH. As 80 frações coletadas na CC foram analisadas por CCD pelos métodos de Gil (2010) e Matos (1997), utilizando-se placas prontas de sílica como fase fixa e solventes com polaridade compatível com as amostras como fase móvel. EFEITO ANTIMICROBIANO: Efetuaram-se os testes de difusão em ágar e microdiluição em caldo pelo método do NCCLS (2005), nas concentrações: 1;0,5;0,125;0,0625;0,015625mg/mL. No preparo das amostras, retirou-se 0,05g dos extratos hexanico e metanolico, diluindo-os em 2mL de dimetilsulfóxido (DMSO). Utilizaram-se cepas padrão ATCC (American Type Culture Collectin): S. aureus (ATCC 25923), E. coli (ATCC 25922) e P. aeruginosa (ATCC 27833). O controle positivo para S. aureus foi um disco de vancomicina (30µg), para P. aeruginosa e E. coli um disco de aztreonam (30µg) e o controle negativo foi DMSO.

Resultado e discussão

Nas condições testadas a análise qualitativa de metabólitos secundários revelou a presença de flavonoides e triterpenos livres, conforme a tabela 1. A positividade para flavonoides concorda com Finco (2012) que quantificou altos teores de fenóis totais e flavonoides nos frutos de bacaba. Os triterpenos livres não constam na literatura da espécie O.bacaba Mart. Observando-se o gênero Oenocarpus, Hernandez e colaboradores (2009) relatou a presença de aldeídos heptanal, octanal e decanal junto com compostos terpenóides no óleo extraído dos frutos de O. bataua. Por outro lado, Gallota; Boaventura (2005) relatam que a presença de triterpenos na família Arecaceae é bastante rara. Ressaltam-se fatores influenciantes na concentração de metabólitos secundários nas plantas, tais como: hereditários, ontogênicos e ambientais (ROBBERS et al., 1997) que tiveram relevância nos resultados. A CC não permitiu o isolamento de compostos, porém, subsidiou a confecção da figura 1, correlacionando a massa das frações coletadas na CC e o solvente utilizado, nota-se que o intervalo dos frascos 33 a 41 obtidos com a mistura de CHCl3 e MeOH apresenta considerável aumento de massa, possivelmente pelo conteúdo de flavonóides. Os extratos metanólico e hexânico não apresentaram atividade antibacteriana frente às cepas testadas tanto pelo método de difusão em ágar quanto pela microdiluição em caldo. Não foram encontrados resultados semelhantes que abordassem o efeito antimicrobiano desta espécie. Finco (2012) identificou os flavonoides rutina e apigenina no extrato etanólico dos frutos de bacaba, estes compostos isolados demonstraram efeito antimicrobiano em bactérias fitopatogênicas e patogênicas humanas (Souza, 2009; Flambó, 2013). Portanto, os resultados negativos obtidos não foram esperados.

Tabela 1 -

Resultado da identificação qualitativa dos metabólitos secundários testados no extrato etanólico dos frutos de O. bacaba Mart.

Figura 1

Correlação entre a massa das amostras de número ímpares coletadas na CC de extrato de acetato de etila e o gradiente de solventes utilizados.

Conclusões

Os testes fitoquímicos foram positivos para flavonóides e triterpenos livres. A CC revelou cristais amarelados com solvente CHCl3/MeOH 3% e 4%, cuja CCD exibiu componente majoritário de Rf 0,67, sugestivo de flavonóides. Os extratos não tiveram efeito antibacteriano nas condições e concentrações testadas. Consideram-se variáveis que exercem influencia na quantidade e natureza dos metabólitos secundários interferindo nos resultados, como: condições de análise, reagentes, equipamentos, fatores ambientais relacionados ao tipo de solo, idade da palmeira, variações climáticas e sazonais do fruto.

Agradecimentos

À Deus, ao CESUPA, ao Museu Emílio Goeldi, aos professores e colaboradores, aos nossos pais.

Referências

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BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos estratégicos. Departamento de Assistência farmacêutica. Política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

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