Investigação Fitoquímica da Folha da Melothria fluminensis Gardner (Cucurbitaceae)

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Veríssimo Machado, R. (UEG) ; Borges Costa, M. (UEG)

Resumo

As espécies da família Curcubitaceae apresentam uma vasta fonte de metabólitos secundários importantes na produção de fitoterápicos. Além disso despertam o interesse da indústria farmacêutica pela presença de compostos biativos com atividades anti-inflamatória, antimicrobiana e antitumoral (LIMA et al., 2010). Um representante desta é a Melothria fluminensis Gardner, conhecida popularmente no Brasil como pepininho-do-mato e abóbora-do-mato, uma trepadeira herbácea que produz frutos ricos em magnésio, zinco e baixo teor calórico (KINUPP, 2007). A ausência de um amplo estudo químico da espécie Melothria fluminensis, direciona o presente trabalho a um estudo fitoquímico das folhas da espécie bem como o isolamento e elucidação estrutural dos seus constituintes.

Palavras chaves

Melothria fluminensis; pepininho-do-mato; alcaloides

Introdução

A química de produtos naturais é uma área que dispõe de várias pesquisas científicas (BARREIRO; BOLZANI, 2009). O Brasil se destaca no cenário mundial, devido à sua grande biodiversidade. Estudos que caracterize e viabilize a obtenção de novos fármacos são imprescindíveis já que o ganho científico atribuído a eles é imensurável. Além disso, esse tipo de medicamento é preferido pela população, pois fornecem bases moleculares viáveis farmacologicamente (RIBEIRO; CALIXTO, 2009).A partir dessas considerações, dados etnobotânicos de espécies do Cerrado Goiano acompanhados de testes de prospecção fitoquímica, revelaram várias famílias com uma vasta fonte de metabólitos secundários bioativos, em particular, a espécie Cucurbitaceae. A família Cucurbitaceae pertence à ordem Curcubitales, possui aproximadamente 120 gêneros 825 espécies, distribuídas em regiões tropicais (COUTINHO et al., 2009), essencialmente em florestas úmidas da América do Sul e florestas, campos e savanas da África (LIMA, 2010). O Brasil possui em torno de 30 gêneros e 200 espécies da família Cucurbitaceae (KINUPP, 2007). As espécies dessa família são largamente utilizadas para a produção de alimentos e fibras e geram bilhões de dólares anualmente. As curcubitáceaes apresentam atividades farmacológicas, tais como anti-inflamatória, antimicrobiana, antitumoral dentre outras (LIMA et al., 2010). E possui presença marcante de flavonóides e triterpenóides tetracíclicos extremamente amargos, denominados como cucurbitacinas (LIMA, 2010). Assim, com base no êxito alcançado envolvendo estudos com plantas da família Cucurbitaceae, e a ausência de estudos com Melothria fluminensis direcionou este trabalho para investigar fitoquimicamente e biologicamente as folhas desta espécie.

Material e métodos

O material botânico foi coletado no município de Petrolina de Goiás, localizado a 77 quilômetros ao norte da capital do estado de Goiás, Goiânia. Depositado no herbário da UnUCET/UEG (com exsicata ainda a ser catalogada). As folhas e caule foram secos em temperatura ambiente ao abrigo da luz solar. Em seguida reduzidos a pó e submetidos a prospecção fitoquímica para identificação de alcaloides. As folhas e caule separadamente foram submetidos a extração a frio por remaceração com etanol 96°C, concentrados em evaporador rotativo e secos até peso constante. 1,9g de extrato bruto etanoico do caule (EBE/C), foi acidificado com ácido acético 10% e filtrado. O filtrado teve seu pH ajustado para 8 com carbonato de cálcio e submetido a extração com clorofórmio (6 X 15mL), a fase aquosa teve seu pH ajustado para 10 com hidróxido de amônia e submetida a extração com acetato de etila (6 X 15mL). Novamente a fase aquosa teve seu pH ajustado para 12 e submetida a extração com acetato de etlia (6 X 15mL) e logo em seguida com n-butanol. O mesmo procedimento de extração ácido-base de alcaloides foi empregado para o extrato bruto etanoico das folhas (EBE/F). Todas as fases orgânicas obtidas do EBE/C e EBE/F foram concentradas, secas a peso constante e analisadas por cromatografia em camada delgada (CCD). Para a purificação das frações empregou-se métodos cromatográficos clássicos, como cromatografia em coluna e cromatografia em camada delgada preparativa. As amostras foram analisadas em CG/EM.

Resultado e discussão

A presença de alcaloides nas folhas e no caule foi observada pela formação de precipitado vermelho-alaranjado no teste com Reagente de Dragendorff e com a formação de precipitado bege no teste com ácido tânico 5%. O EBE/C foi fracionado por extração descontinua utilizando como solventes extratores hexano, diclometano, acetato de etila e butanol. A fração acetato de etila do EBE/C com massa de 209mg foi submetido a separação via cromatografia em coluna com sílica gel. Obteve-se 141 frações que foram reunidas conforme análise de CCD. A extração dos alcaloides procedeu-se com 1,9 g de extrato bruto do caule 1,9g, no qual obteve-se: Fração C1pH8 (31,8mg); fração C2pH10 (4,2 mg), fração C3pH12 (18 mg), fração C4pH12 (44mg). Para a fração C1pH8 foi realizada coluna cromatográfica com sílica gel 230-400. Obteve-se após reunidas 14 frações. As frações C1pH8-A e C1pH8-B foram submetidas a CCDP obtendo duas frações de cada uma, porém estas apresentaram na CCD misturas. A fração C1pH8-5 com 2,7mg foi lavada com hexano e a parte insolúvel em hexano analisada em CG/MS. A fração C1pH8-1 (5,6mg) foi lavada com hexano gelado e também com gotas de acetato de etila. A subfração C1pH8-1A (1,2mg) foi analisada via CG/MS. Para as frações C2pH10 e C4pH12 foram realizadas coluna com Diaion, porém não houve separação. Já a fração C3pH12, após análise de CCD, lavou-se a amostra com hexano+ gotas de acetato de etila gelado. E feita a análise via CG/MS, porém a amostra apresentou dois compostos com tempo de retenção bem próximo. As análises das subfrações C1pH8-5; C1pH8-1A foram analisadas por CG/MS e as mesmas evidenciaram cromatogramas com dois compostos na proporção de 1:1 e respectivas massas igual a 382 g/mol e 336 g/mol. As estruturas estão sob análises em RMN H e C uni e bidimensional.

Conclusões

O estudo inicial com o caule da Melothria fluminenis evidenciaram, a partir de ensaios fitoquímicos a presença de alcalóides. Os testes por extração ácido-base mostraram eficazs para a separação destes metabólitos especiais. Outro aspecto positivo é o isolamento inicial de um composto que já está sendo elucidação estrutural e que será submetido a bioensaios para verificarmos se o mesmo trata-se ou não de um composto farmacologicamente ativo.

Agradecimentos

Os autores agradecem a UnUCET e a CAPES pelo apoio financeiro.

Referências

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