Avaliação de fatores que afetam a composição de voláteis em Baccharis milleflora

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Besten, M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA) ; Nunes, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA) ; Scharf, D. (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU) ; Granato, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA)

Resumo

Foram analisados os componentes voláteis de cladódios e inflorescências de espécimes masculinos e femininos de Baccharis milleflora coletados em dois pontos dentro de uma população definida, que foram tratadas previamente de duas formas: congeladas logo após a coleta, e secadas ao ar antes do congelamento. Os componentes voláteis hidrodestilados em triplicata de todas as amostras foram analisados por CG/EM e suas proporções relativas determinadas por CG/DIC. Os resultados permitem concluir que os metabólitos voláteis de cada parte (cladódios e inflorescências) dos espécimes masculinos e femininos apresentam grande semelhança na composição, não sendo possível precisar com exatidão um fator externo como responsável por diversas diferenças estatisticamente significativas observadas.

Palavras chaves

Baccharia milleflora; óleos essenciais; metabólitos secundários

Introdução

Baccharis milleflora (Caulopterae) é conhecida popularmente como carqueja-do- lajeado. Estudos anteriores sobre os compostos voláteis desta espécie vegetal demonstraram a presença de componentes principais distintos em amostras coletadas num mesmo local e época (AGOSTINI et al., 2005; SIMÕES-PIRES et al., 2005). Segundo artigo recente, tais diferenças na composição de voláteis desta espécie vegetal durante o período de floração podem ser minimizadas com a aplicação de cuidados nas fases de coleta e preparação do material (BESTEN et al., 2014). No presente trabalho, é avaliada a influência do local de coleta e das condições de armazenagem dos cladódios e inflorescências de espécimes masculinos e femininos de B. milleflora sobre a composição química dos voláteis.

Material e métodos

As amostras foram coletadas de dois locais separados por ~30 metros (25º08' S e 49º58' O, a 1061 metros de altitude). As inflorescências foram separadas dos cladódios e organizadas de acordo com o tratamento recebido: metade das amostras do local A foram secadas por 8 dias a 25 ºC e armazenadas em freezer, e a outra metade foi congelada fresca. O mesmo procedimento foi usado para as amostras coletadas no local B. A identificação botânica foi realizada no Museu Botânico Municipal de Curitiba, exsicata número 934123. Os materiais vegetais foram hidrodestilados por 2,5 horas em uma aparelhagem de vidro construída conforme STAHL & SCHILD (1981) utilizando-se ~40 g de amostra e 0,5 L de água destilada, e seus óleos essenciais foram recolhidos em éter etílico, decantando-se os restos de água e evaporando-se o solvente a vácuo e baixa temperatura ambiente. Os rendimentos de cada óleo essencial foram calculados com relação à massa de material vegetal utilizada. Os óleos essenciais foram analisados em um equipamento GCMS-QP2010 Plus Shimadzu utilizando-se as seguintes condições: rampa de aquecimento 60 °C (5 min), 3 °C/min até 240 °C (5 min); coluna RTx-5MS (30 m x 0,25 mm x 0,25 μm); hélio como gás de arraste 1 ml/min; split 1:20; injetor e fonte iônica a 250 °C; interface a 280 °C; volume injeção 1 μL das amostras diluídas em éter etílico. As análises quantitativas foram realizadas num equipamento GC-FID 2010 Shimadzu nas condições dadas acima e coluna OV-5 (30 m x 0,25 mm x 0,25 μm). Os compostos foram identificados pelo índice de retenção (IRR) calculado pela equação de VAN DEN DOOL e KRATZ (1963) e por comparação de seus espectros de massas com os espectros disponíveis no banco de dados NIST e dados publicados (ADAMS, 1995).

Resultado e discussão

Todos os resultados das análises dos óleos essenciais obtidos a partir de cladódios e inflorescências oriundos de dois locais de coleta e submetidos a diferentes procedimentos antes do armazenamento são mostrados nas Tabelas 1 e 2, onde verifica-se grande similaridade nos rendimentos para as triplicatas de cada amostra, com baixos valores de desvio padrão. Os resultados das análises mostram que existem diferenças claras entre as composições químicas dos cladódios e inflorescências. Os cladódios têm maiores proporções de biciclogermacreno (3,81 a 5,38%) e espatulenol (1,83 a 5,26%) comparando com as inflorescências (1,57 a 2,41% e 0,97 a 2,01 %, respectivamente). As inflorescências apresentam maiores proporções de β-bisaboleno (7,69 a 10,65%), quando comparadas aos cladódios (4,26 a 6,85%). Nesta pesquisa, fatores como umidade, temperatura, luz, genética, presença de insetos devem desempenhar papéis menos importantes na avaliação do fator local de coleta. As plantas foram coletadas numa população que ocupa uma área pantanosa de aproximadamente 12.000 m2 e a distância entre locais de coleta foi de apenas 30 m, devendo as plantas terem sofrido níveis de impacto similares com relação aos fatores mencionados. Desta forma, os resultados sugerem que nem mesmo possíveis diferenças no solo dos pontos de coleta levam a grandes diferenças nas composições de voláteis das mesmas partes do vegetal, cladódios ou inflorescências. Apenas pequenas diferenças são observadas também com relação às composições dos voláteis que possam ser causadas pelos diferentes tratamentos a que foram submetidas as amostras. Analisando-se separadamente os dados de todas as inflorescências, verifica-se maior proporção de β-cariofileno em materiais frescos e de β-bisaboleno em materiais secos.







Conclusões

Os resultados permitem concluir que os metabólitos voláteis de cada parte (cladódios e inflorescências) dos espécimes masculinos e femininos apresentam grande semelhança na composição, não sendo possível precisar com exatidão um fator externo como responsável por diversas diferenças estatisticamente significativas observadas. As análises apresentadas e discutidas considerando isoladamente uma série de variáveis não permitiram precisar as causas das diferenças observadas, corroborando com dados publicados sobre a suscetibilidade desta espécie vegetal a variações nas composições de voláteis.

Agradecimentos

Apoio financeiro PROAP-CAPES e PROAP-UEPG, Bolsa de Doutorado (CAPES, M, A. Besten) e Bolsa de Pesquisa (CNPq, D S. Nunes).

Referências

ADAMS, R. P. Identification of essential oil components by gas chromatography/mass spectroscopy. Allured Publishing Corporation: Illinois, 1995.
AGOSTINI, F.; SANTOS, C.; ROSSATO, M.; PANSERA, M.; ZATTERA, F.; WASUM, R.; SERAFINI, L.A. Estudo do óleo essencial de algumas espécies do gênero Baccharis (Asteraceae) do sul do Brasil. Revista Brasileira de Farmacognosia, 15: 215-220, 2005.
BESTEN, M. A.; NUNES, D. S.; WISNIEWSKI JR, A.; SENS, S. L.; GRANATO, D.; SIONATTO, E. L.; RIVA-SCARF, D. Chemical composition of volatile oils from cladodes and inflorescences from male and female specimens of Baccharis milleflora, in press, 2014.
SIMÕES-PIRES, C.; DEBENEDETTI, S.; SPEGAZZINI, E.; MENTZ, L. A.; MATZENBACHER, N. I.; LIMBERGUER, R. P.; HENRIQUES, A. T. Investigation of the essential oil from eight species of Baccharis belonging to sect. Caulopterae (Asteraceae, Asterae): a taxonomic approach. Plant Systematics and Evolution, 253: 23-32, 2005.
STAHL, E.; SCHILD, W. Pharmazeutische Biologie, 4: Drogenanalyse II – Inhaltsstoffe und Isolierungen. Stuttgart: Gustav Fischer Verlag, 1981.
VAN DEN DOOL, H.; KRATZ, P. D. A generalization of the retention index system including linear temperature programmed gas—liquid partition chromatography. JOURNAL OF CHROMATOGRAPHY A, 11: 363-471, 1963.

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