Avaliação da atividade antifúngica das folhas de Ziziphus joazeiro Martius (Juá)

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Souza Neto, M.A. (UFRN) ; Silva Rocha, W.P. (UFRN) ; Chaves, G.M. (UFRN) ; Zucolotto, S.M. (UFRN)

Resumo

As plantas medicinais forneceram muitos dos fármacos atualmente utilizados na clínica, e a abordagem etnofarmalógica é uma importante ferramenta para a descoberta de moléculas bioativas. Com base nisso, e diante da necessidade de novos agentes antifúngicos devido à resistência, é importante que se busquem novas substâncias a partir de plantas medicinais. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade antifúngica do extrato hidroetanólico das folhas de Ziziphus joazeiro por microdiluição em caldo. O extrato das folhas inibiu quatro cepas do gênero Candida numa concentração correspondente a 10 mg/mL. Posteriormente, a atividade antifúngica das frações será avaliada, a fim de isolar os compostos responsáveis por essa atividade.

Palavras chaves

Atividade antifúngica; Candida; Ziziphus joazeiro

Introdução

Ao longo dos anos, as civilizações e tribos humanas construíram um extenso conhecimento acerca de plantas medicinais, as quais foram selecionadas de forma empírica com base nos seus efeitos. Muitos dos fármacos atualmente utilizados na clínica derivam de alguma forma das plantas medicinais. Um fato importante é que a maioria dos fármacos derivados de vegetais foram descobertos com base no seu uso tradicional. Assim, é importante que a busca por moléculas bioativas provenientes de plantas seja norteada com base no seu uso popular (FARNSWORTH et al. 1985; ELISABETSKY, 2001). A espécie Z. joazeiro é uma árvore de grande porte, com frutos em forma de drupa e folhas ovais bem características. Ocorre em quase todo o Nordeste brasileiro, sendo uma árvore típica do sertão (CARVALHO, 2007). De acordo com a literatura, esta espécie apresenta grande relevância etnofarmacológica, havendo relatos do seu uso como dentifrício, anticaspa, além de relatos do uso do decocto das folhas no tratamento de micoses superficiais (CRUZ et al., 2007; MEDEIROS; LADIO; ALBUQUERQUE, 2013). As infecções fúngicas são um relevante problema de saúde pública, e isto torna-se preocupante pelo fato de progressivamente surgirem cepas resistentes aos antifúngicos usados na clínica (MIMICA et al., 2009). As espécies do gênero Candida formam um grupo que está envolvido com uma séria de infecções, acometendo principalmente pessoas imunossuprimidas (HINRICHSEN et al., 2009). Desta forma, torna-se necessária a descoberta de novos agentes antifúngicos. Como uma possível alternativa, tem-se a espécie Z. joazeiro, usada popularmente no tratamento de micoses superficiais. Portanto, este trabalho tem como objetivo avaliar a atividade antifúngica do extrato das folhas de Z. joazeiro.

Material e métodos

As folhas de Z. joazeiro foram secas, trituradas e submetidas à maceração em etanol:água (70:30 v/v) durante sete dias. Em seguida, o extrato foi rotaevaporado e liofilizado. A atividade antifúngica foi avaliada por meio da determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM), em placas de microtitulação, frente a 7 cepas de referência de Candida e uma cepa de referência do gênero Trichosporon. As leveduras foram reativadas em ágar Sabouraud Dextrose (Difco®) por 48 horas. Subsequentemente, preparou-se uma suspensão em solução salina estéril 0,85%, ajustada de acordo com o tubo 0,5 da escala de McFarland. A partir dessa suspensão, realizou-se duas diluições: 1:50 em solução salina estéril e uma nova diluição de 1:20 em meio de cultura. Na determinação da CIM por microdiluição, utilizou-se o meio Mueller Hinton Caldo (MHC). Inicialmente, o meio MHC foi adicionado nos poços das colunas de 1 à 12 de uma placa de microtitulação. Em seguida, o extrato foi adicionado nos poços da primeira coluna e, com o auxílio de uma pipeta multicanal, uma diluição seriada (1:2) foi realizada até a coluna 10, de forma a obter uma faixa de concentração entre 10 e 0,019 mg/mL. O inóculo, previamente diluído, foi então adicionado aos poços da microplaca, com exceção da coluna 12 (controle de esterilidade). Ao final, as microplacas foram incubadas a 35 ± 2 °C por 48 horas. A leitura foi realizada após o período de incubação, observando-se o crescimento nas respectivas diluições através de comparação visual. A CIM foi considerada como a menor concentração de extrato capaz de inibir 100% do crescimento de cada cepa, tomando como referência os respectivos controles de crescimento e de esterilidade.

Resultado e discussão

Após a leitura das microplacas, observou-se que o extrato foi capaz de inibir quatro cepas de Candida numa concentração de 10 mg/mL (Tabela 1), as quais foram: C. albicans ATCC 90028, C. dubliniensis CBS 7987, C. glabrata ATCC 2001 e C. rugosa ATCC 10571. Até o momento, não haviam resultados na literatura acerca da atividade antifúngica das folhas de Z. joazeiro. Por outro lado, há estudos acerca da atividade antifúngica da casca, que apresentou atividade, pelo método de microdiluição, contra C. albicans, C. guilliermondii, Cryptococcus neoformans, Trichophyton rubrume e Fonsecaea pedrosoi (CRUZ et al., 2007). Em análises cromatográficas feitas por nosso grupo de pesquisa (resultados não apresentados), observou-se que os flavonoides são moléculas majoritárias no extrato das folhas de Z. joazeiro, concentrando-se principalmente na fração acetato de etila. Alguns estudos indicam que os flavonoides podem ter atividade antifúngica. No trabalho de Meragelman e colaboradoes (2005), três flavonoides isolados da raiz de Hildegardia barteri apresentaram atividade contra cepas de C. albicans, C. glabrata e C. krusei pelo método de microdiluição, com CIM entre 128 e 32 µg/mL. Em outro estudo, o extrato metanólico das folhas de Barringtonia racemosa, com considerável teor de compostos fenólicos e flavonoides, inibiu o crescimento dos fungos Fusarium sp., Ganoderma tropicum, G. lucidum, Aspergillus sp. e Tricoderma koningii (HUSSIN et al., 2009). Dessa forma, é possível que a atividade antifúngica observada no extrato das folhas de Z. joazeiro esteja relacionada à presença dos flavonoides.

Tabela 1

Concentração inibitória mínima do extrato das folhas de Z. joazeiro frente às cepas referência de leveduras.

Conclusões

Nesse trabalho, o extrato das folhas inibiu quatro cepas do gênero Candida numa concentração correspondente a 10 mg/mL. Logo, isso evidência que houve relação entre os dados etnofarmacológicos da planta e os resultados observados nesse estudo. Assim, a atividade antifúngica das frações éter de petróleo, diclorometano, acetato de etila, butanólica e residual aquosa será posteriormente avaliada, assim como as sub-frações da fração mais ativa serão avaliadas, visando o isolamento das moléculas bioativas.

Agradecimentos

Referências

CARVALHO, P. E. R. Juazeiro - Ziziphus joazeiro, Taxonomia e Nomeclatura. Circular científica, 139, EMBRAPA Florestas, 2007. Disponível em: http://www.cnpf.embrapa.br/publica/circtec/edicoes/Circular139.pdf. Acesso em 30 de maio de 2014.

CRUZ, M. C. S. et al. Antifungal activity of Brazilian medicinal plants involved in popular treatment of mycoses. Journal of Ethnopharmacology, v.111. p. 409-412. 2007.

ELISABETSKY, E.; SOUZA, G. C. Etnofarmacologia como ferramenta na busca de substâncias ativas. In: SIMÕES, C. M. O. et al. (Org.) Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3 ed., Porto Alegre/Florianópolis: UFRGS/UFSC, 2001. P. 107-122.

FARNSWORTH, N. R. et al. Medicinal Plants in Therapy. Bulletin of World Health Organization, v. 63, n. 6, p 965-981, 1985.

HINRICHSEN, S. L. et al . Candida isolates in tertiary hospitals in northeastern Brazil. Brazilian Journal of Microbiology, v. 40, n. 2, 2009.

HUSSIN, N. M. et al. Antifungal activity of extracts and phenolic compounds
from Barringtonia racemosa L. (Lecythidaceae). African Journal of Biotechnology, v. 8, n. 12, p. 2835-2842, 17 June, 2009

MEDEIROS, P. M. ; LADIO, A. H.; ALBUQUERQUE, U. P. Patterns of medicinal plant use by inhabitants of Brazilian urban and rural areas: A macroscale investigation based on available literature. Journal of Ethnopharmacology, v. 150, n. 2, p. 729–746, 2013.

MERAGELMAN T. L. et al. Antifungal Flavonoids from Hildegardia barteri. Journal of Natural Products, v. 68, n. 12, p. 1790-1792, 2005.

MIMICA, L. M. J. et al. Diagnóstico de infecção por Candida: avaliação de testes de identificação de espécies e caracterização do perfil de suscetibilidade. Jornal Brasileiro de Patolologia Médica e Laboratorial, v. 45, n. 1, 2009.

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