Análise dos compostos voláteis durante a maturação de flores de Sterculia foetida L. (Malvaceae)

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Santos, G.K.N. (UFPE) ; Maia, A.C.D. (UFPE) ; Navarro, D.M.A. (UFPE)

Resumo

Com o objetivo de avaliar o perfil dos voláteis emitidos pelas flores de Sterculia foetida L. (Malvaceae) em diferentes estágios de desenvolvimento, os compostos voláteis de flores masculinas e femininas desta espécie foram extraídos por headspace dinâmico e analisados por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas. As flores de S. foetida apresentaram mudança na composição do odor floral ao longo do tempo, com predominância de monoterpenos e de escatol nas flores recém abertas. Essas mudanças podem refletir mudanças fisiológicas que ocorrem durante o processo de maturação das flores.

Palavras chaves

voláteis; headspace; cromatografia

Introdução

Sterculia foetida L. (Malvaceae), conhecida como chichá, é uma árvore exótica bastante utilizada em paisagismo no Brasil devido ao seu rápido crescimento. Suas sementes são usadas na Índia e na Malásia para extração de um óleo usado na culinária oriental (SANTOS et al, 2004). As árvores de S. foetida produzem flores masculinas (estaminadas) e flores morfologicamente hermafroditas, que são funcionalmente femininas (pistiladas). Tanto as flores estaminadas quantos as pistiladas amadurecem ao mesmo tempo na planta (ATLURI et al, 2004) Nas flores recém abertas as pétalas apresentam centro vermelho e bordas esverdeadas, já as flores mais velhas adquirem uma cor vermelha intensa. Ao abrirem, as flores de S. foetida liberam um odor pútrido, o qual deu origem ao nome em latim da espécie. Este odor atrai abelhas e moscas que a realizam a polinização ao transportar o pólen das flores estaminadas para as flores pistiladas (JONES, 2012). Os polinizadores utilizam sinais visuais (cor, forma e tamanho da flor) e químicos (odores florais) para encontrar as flores. Os voláteis florais são derivados de vias bioquímicas do metabolismo vegetal e sua produção e liberação estão intrinsecamente ligados a fatores endógenos, como o estado fisiológico da planta, e fatores externos (clima, solo, dentre outros) (MUHLEMANN et al, 2014). Durante o desenvolvimento floral, algumas espécies, como Helicteres isora (Malvaceae), apresentam mudanças na coloração durante o seu desenvolvimento que acompanham mudanças na produção de néctar (RAU, 2006). Este trabalho teve o objetivo de estudar a composição do odor de flores de chichá em diferentes estágios de desenvolvimento.

Material e métodos

Os voláteis das flores de Sterculia foetida foram extraídos por meio da técnica de headspace dinâmico e analisados por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (GC-MS. As flores foram coletadas em árvores localizadas dentro do Campus da Universidade Federal de Pernambuco em dois dias consecutivosem agosto de 2013. As flores foram separadas em cinco categorias: botões florais (BF), flores pistiladas recém abertas (PRA), flores pistiladas vermelhas (PV),flores estaminadas recém abertas (ERA) e flores estaminadas vermelhas (EV).Quarenta flores de cada categoria foram colocadas em sacos de poliéster para a extração dos voláteis. Foi utilizado para cada saco um filtro de carvão ativado para filtragem do ar, que foi puxado por meio de bombas de vácuo a um fluxo constante de 0,8 L/min. Foi também realizada a extração de voláteis de uma amostra controle, contendo apenas o saco vazio. A captura de voláteis foi feita em traps contendo 0,005 g de uma mistura de adsorventes (carbopack/tenax 1:1). A extração dos voláteis foi realizada em laboratório durante 4 h, imediatamente após a coleta e separação das flores. Duas amostras de cada categoria foram obtidas. Os voláteis capturados foram dessorvidos com hexano por GCMS. Os Os compostos foram identificados por meio da análise dos espectros de massa de cada pico cromatográfico, cálculo de índices de retenção e comparação com padrões autênticos. Foram calculados os índices de retenção linear dos componentes dos odores florais utilizando-se os tempos de retenção de cada composto e os tempos de retenção de hidrocarbonetos lineares (C 9 a C 30) analisados sob as mesmas condições. Os valores calculados foram comparados com os índices de retenção publicados na literatura (ADAMS, 2007).

Resultado e discussão

O método de headspace dinâmico foi eficiente na extração dos voláteis que conferem às flores de S. foetida seu odor característico. Pode-se observar que há uma variação na composição do odor floral à medida que as flores amadurecem (tabela 1). O Linalol foi o componente majoritário presente em todas as amostras analisadas, estando presente em maior percentual nas flores vermelhas. Os botões florais (BF) apresentaram poucos compostos voláteis quando comparados às flores recém abertas e vermelhas. Os monoterpenos α-pineno e orto-cimeno representaram 7,46 % e 7,82 % dos voláteis presentes em BF, respectivamente. Nas flores recém abertas (PRA e ERA), a representatividade desses dois componentes reduziu-se a menos de 1% para o α-pineno e menos de 0,3% para o orto-cimeno. Nas flores mais velhas (vermelhas), ambos compostos estão ausentes. O óxido de linalol furanóide com conformação cis está presente em todas as amostras, embora o percentual deste composto em PRA e ERA seja o dobro do presente em BF, EV e PV. O óxido de linalol furanóide com conformação trans não é produzido pelos botões florais, mas representa de 7 (PRA) a 13% (ERA) dos voláteis das flores recém abertas. O escatol (principal componente responsável pelo odor fétido das flores de chichá) apresentou concentração de 2,4 a 4,7 vezes maior nas amostras PRA e ERA em relação às flores vermelhas (PV e EV). Os componentes voláteis minoritários benzaldeído, β-pineno, octanal, salicilato de metila e óxido de linalol trans (piranoide) foram encontrados apenas nas flores recém abertas (PRA e ERA). Do ponto de vista qualitativo, apenas dois compostos diferiram na composição do odor das flores pistiladas e estaminadas: 1,8 cineole, presente apenas em PRA e álcool benzílico, encontrado apenas em ERA.




Conclusões

As flores de S. foetida apresentaram mudança na composição do odor floral ao longo do tempo. Essas mudanças podem refletir mudanças fisiológicas que ocorrem durante o processo de maturação.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Capes, FACEPE e CNPq.

Referências

ADAMS R.P. Identification of Essential Oil Components by Gas Chromatogra-
phy/Mass Spectrometry, 4 ed. Carol Stream: Allured Publishing Co., 2007, 804p.
ATLURI, J. B.; RAMANA, S. P. V.; REDDI, C. S. Sexual system and pollination of Sterculia foetida Linn. Beitrage zur Biologie der Pflanzen, v. 73, n.2, p. 223-242, 2004.
JONES, G.D. Pollen analyses for pollination research, unacetolyzed pollen. Journal of Pollination Ecology, v. 9, n.13, p 96-107, 2012.
MUHLEMANN, J.K.; KLEMPIEN, A.; DUDAREVA, N. Floral volatiles: from biosynthesis to function. Plant, Cell and Environment, v. 37, n. 8, p. 1936-1949, 2014.
RAO, S.P. Pollination ecology of some tropical tree species. In: Raju, A. J. S. (Org.) Advances in Pollen Spore Research Vol. XXIII, 2006 p. 91-119.
SANTOS, T.O.; MORAIS,T.G.O.; MATOS, V.P. Escarificação mecânica em sementes de chichá (Sterculia foetida L.). Revista Árvore, v. 28, n.1,p. 1-6, 2004

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