AÇÃO DE PROTETIVOS NA SUPERFÍCIE DE ROCHAS ORNAMENTAIS

ISBN 978-85-85905-10-1

Área

Química Tecnológica

Autores

Barbutti, D.S. (CETEM-RJ) ; Silva, R.E.C. (CETEM-RJ) ; Ribeiro, R.C.C. (CETEM-RJ)

Resumo

No presente trabalho foram realizadas análises de caracterização e interação de rochas ornamentais e seus principais minerais com protetivos comerciais através de FRX, DRX, ensaios de índices físicos, espectrometria no UV-Vis e espectroscopia no infravermelho, buscando direcionar as atividades de restauro com o protetivo mais adequado para cada tipo de rocha. Os resultados foram satisfatórios, encontrando valores de adsorção distintos para cada mineral; redução da absorção de água e porosidade após o tratamento das rochas e foram idealizadas moléculas representativas para cada protetivo, avaliando assim a eficácia dos mesmos com cada mineral e rocha utilizada no estudo.

Palavras chaves

Rochas ornamentais; Minerais; Alterabilidade

Introdução

Monumentos históricos pétreos localizados em ambientes externos são expostos a efeitos de intemperismos mecânico, físico, químico e biológico (ÖZTÜRK, 1992), que afetam suas composições internas e superfícies. Com a poluição crescente nos principais centros urbanos, é de grande importância entender os mecanismos atrelados a estes ataques e desenvolver métodos otimizados de proteção e consolidação das rochas ornamentais utilizadas nestes bens. A proteção dos monumentos rochosos é geralmente realizada a partir da aplicação de filmes poliméricos, que buscam reduzir a tensão superficial do substrato rochoso (FERRI et al., 2011) e ocupar o máximo de interstícios possíveis em seu interior. Assim, é possível adicionar uma camada hidrofóbica à superfície e fortalecer o interior, impedindo a interação com agentes destrutivos. No entanto, a seleção do protetivo adequado é decisiva para garantir a integridade da composição interna e preservar a coloração original, que algumas vezes são modificados de forma irreversível. Com isso, há a necessidade de se entender a interação das rochas ornamentais, bem como dos principais minerais constituintes destas, com os protetivos presentes no mercado. Deste modo, o estudo visa avaliar esta relação através da utilização de dois protetivos comerciais, quatro tipos de rochas ornamentais comercialmente utilizadas e os minerais quartzo, feldspato, mica e calcita presentes comumente nestas rochas, para que seja possível auxiliar na identificação do melhor protetivo para cada tipo de rocha presente nos monumentos a ser restaurados.

Material e métodos

Neste trabalho foram utilizados dois protetivos comerciais, aqui denominados A e B, rochas ornamentais cedidas pelo CETEM-ES comercialmente conhecidas como Granito Venetian Gold, Granito Ás de Paus e Granito Preto, além do Calcário Cariri, e os minerais quartzo, feldspato, mica e calcita, cedidos pelo CETEM-RJ. As análises química e mineralógica das rochas e minerais foram realizadas através de Difração de Raios-X (DRX) e Fluorescência de Raios-X (FRX). A determinação dos índices físicos das rochas foi executada obtendo-se os pesos seco, saturado e submerso antes e após a aplicação dos protetivos, para verificar a eficiência de ambos com matrizes rochosas complexas. A avaliação da interação dos protetivos com os minerais se deu por meio de um equipamento de espectrofotometria da marca LaMotte, preparando-se soluções diluídas do protetivo A com água Milli-Q como solvente, nas concentrações 0,5%, 1,0%, 2,0% e 5,0%. Em tubos Falcon, foram adicionados 10 mL de cada solução a 0,5 g de cada mineral, e todos foram agitados por 6 horas e centrifugados por 30 minutos. O sobrenadante foi analisado em UV a 775 nm. O mesmo procedimento foi repetido para o protetivo B, nas concentrações 10%, 40%, 70% e 100%, usando hexano P.A. como solvente e comprimento de onda 400 nm. Para a caracterização dos protetivos, foi realizada uma avaliação no infravermelho em um espectrofotômetro Bomem FTIR, série MB100, com 1 mg de amostra e 99 mg de KBr de grau espectroscópico, na região de 4000 cm-1 a 400 cm-1.

Resultado e discussão

As análises química e mineralógica e os resultados de índices físicos estão apresentados na figura 1. Pode-se observar que o Granito Venetian Gold apresentou maiores teores de sílica, possivelmente associado aos minerais quartzo e feldspato. Os granitos Ás de Paus e Preto apresentaram teores mais elevados de alumina, indicando maior presença de feldspatos. No entanto, o granito Preto também apresentou mais ferro, sugerindo a presença de mica. O Calcário Cariri possui composição próxima a 50% de CaO. A análise mineralógica corrobora os resultados supracitados, onde o granito Venetian Gold apresentou 40% de quartzo, o Ás de Paus 65% de feldspatos, o Preto 25% de mica e o Calcário Cariri 98% de calcita. Os ensaios de índices físicos demonstraram reduções na absorção de água e porosidade nas quatro rochas após a aplicação dos protetivos, evidenciando também uma maior eficácia do protetivo A comparado ao protetivo B. Na figura 2 podemos observar os resultados da avaliação dos minerais e protetivos por UV e estruturas hipotéticas para os dois protetivos, interagindo com uma superfície de rocha qualquer. No UV, os minerais mica e calcita adsorveram mais os protetivos do que o quartzo e o feldspato. Isto pode estar relacionado com a estrutura lamelar de filossilicatos como as micas, e a presença de alumínio, altamente polarizante, fortalece a interação com oxigênios presentes nos protetivos. A calcita, por possuir íon carbonato como constituinte principal, pode interagir com seus oxigênios através de ligação de hidrogênio. O resultado do infravermelho permitiu estruturar moléculas representativas para os protetivos. O protetivo A apresenta mais oxigênios e menos impedimentos estéricos que o protetivo B, facilitando ligações intermoleculares com a superfície.

Figura 1: FRX, DRX e ensaio de índices físicos.

Análises química (FRX), mineralógica (DRX) e ensaio de índices físicos das rochas utilizadas no presente estudo.

Figura 2: UV-Vis e estruturas hipotéticas dos protetivos.

Valores de adsorção dos protetivos A e B pelos principais minerais constituintes das rochas ornamentais, e estruturas hipotéticas dos protetivos.

Conclusões

A partir dos resultados obtidos, é possível concluir que rochas ricas em micas e calcita tendem a apresentar melhores resultados após o tratamento com protetivos. Além disso, verificou-se que protetivos comerciais agem de forma diferente na superfície das rochas, devido à impedimentos estéricos e composições distintas, apresentando sítios ativos que podem se ligar com maior facilidade à superfície mineral. Assim, mediante análise prévia, é possível aplicar um protetivo mais adequado para a preservação de um revestimento ou monumento, evitando o uso de produtos que possam prejudicá-lo.

Agradecimentos

CETEM, Coordenação de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (CATE/CETEM) e CNPQ.

Referências

FERRI, L. et al. Study of silica nanoparticles – polysiloxane hydrophobic treatments for stone-based monument protection. Journal of Cultural Heritage, v. 12, Elsevier. Itália, 2011.
ÖZTÜRK, Isil. Alkoxysilanes consolidation of stone and earthen building materials. Tese (Mestrado) – Programa de Graduação em Preservação Histórica, Universidade da Pensilvânia, Pensilvânia, Estados Unidos. 1992, 214p.

Patrocinadores

CNPQ CAPES CRQ15 PROEX ALLCROM

Apoio

Natal Convention Bureau Instituto de Química IFRN UFERSA UFRN

Realização

ABQ