Aceitação de bolinhos de peixe elaborados com resíduos da filetagem de tilápia nilotica

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Alimentos

Autores

Guerra, N. (UFPB) ; Araújo, J. (UFPB) ; Silva, A.P.G. (ESALQ-USP) ; Furtado, T.F.R.M. (UFCG) ; Cavalheiro, J.M.O. (UFPB)

Resumo

Objetivou-se desenvolver e analisar bolinhos de peixe a partir da CMS de filés de tilápia nilótica. A CMS foi obtida mecanicamente após processamento da tilápia. Os bolinhos foram elaborados com 250 g de CMS, 5 g de sal, 20 g de óleo de soja e 200 g de farinha de trigo, moldados manualmente e assados em fogão convencional. O produto elaborado apresentou ausência de coliformes a 45°C, Staphylococcus coagulase positiva e de Salmonella sp. Foi encontrado teor de 14,18% de proteínas, 6,18% de lipídeos, 3,11% de cinzas, atividade de água (0,952), 56,12% de umidade e pH (6,14), e boa aceitação sensorial (média 8,6). Conclui-se que a CMS de tilápia do Nilo pode ser utilizada como matéria-prima de baixo custo e elevado valor nutricional para o desenvolvimento de bolinhos de peixe.

Palavras chaves

CMS; filé; proteinas

Introdução

O litoral nordestino é reconhecido mundialmente pelo binômio sol e mar, em decorrência de suas praias de águas mornas e cristalinas, além de sua história e cultura, o que atrai diversos turistas a região durante o ano inteiro. Neste contexto, a gastronomia regional apresenta um papel importante como vetor para o desenvolvimento e crescimento econômico da região (FURTADO, 2004). Dentre os diversos produtos da gastronomia nordestina de interesse para o turismo, está aqueles a base de peixes exóticos cultivados na região, especialmente os bolinhos de peixe, muito servidos em bares e restaurantes da orla das cidades turísticas. Em geral, estes bolinhos são preparados com filés de peixes de maior valor comercial, como a tilápia do Nilo, agregando pouco em termos econômicos, uma vez que, do processamento da tilápia, cerca de 33% corresponde ao filé (VIDAL et al., 2011) e 77% aos resíduos da filetagem. Dentre os resíduos que podem ser aproveitados para o desenvolvimento de novos produtos, destacam-se as sobras comestíveis de carne, aderidas à espinha dorsal durante o processo de filetagem, conhecida como carne mecanicamente separada (CMS) (FOGAÇA et al., 2015). O aproveitamento destes resíduos para o desenvolvimento de novos produtos alimentícios é de importância notória, dado que estes compõem a matéria-prima e como tal, adquiridos por preços elevados, além disto, a CMS também é fonte de proteínas e seu aproveitamento é uma forma rentável e racional de reduzir impactos dos resíduos gerados ao meio ambiente. Segundo (KUBITZA; CAMPOS, 2006), a CMS pode ser utilizada na formulação de produtos tais como, surimi, linguiça, mortadela, salsicha, patê e fishburguer.O presente trabalho objetivou desenvolver e analisar outro tipo de produto, bolinhos de peixe.

Material e métodos

As tilápias do Nilo foram obtidas no município de Bananeiras-PB, e em seguida, transportadas em caixa térmica com gelo para o Laboratório de Tecnologia de Pescado da Universidade Federal da Paraíba onde foram submetidas às etapas de sanitização com cloro ativo a 5 ppm, evisceração, lavagem, descabeçamento, remoção da pele e filetagem. Posteriormente, 300 g das sobras comestíveis da carne que ficaram aderidas a espinha dorsal durante o processo de filetagem foram recuperadas, com o auxilio de despolpadeira mecânica e posteriormente, foram acondicionadas em embalagens de polietileno a 2±1 ºC, para posteriormente serem utilizadas na formulação dos bolinhos. A formulação foi desenvolvida a partir de 250 g de resíduos do filé (CMS), 5 g de sal, 20 g de óleo de soja e 200 g de farinha de trigo. Para elaboração dos bolinhos, os ingredientes foram misturados e moldados manualmente, pesando cada bolinho, em média, 12 g. Estes foram assados em óleo vegetal em fogão convencional a uma temperatura de 180° C, por dois minutos e posteriormente resfriados, acondicionados em embalagem de polietileno e em seguida, submetidos às análises de coliformes a 45oC, Staphylococcus coagulase positiva e Salmonella sp conforme metodologia descrita pela (APHA, 2001). Foram realizadas análises de umidade, cinzas, proteínas, lipídios, atividade de água e pH, de acordo com a metodologia da (AOAC, 2000)em triplicata. Na avaliação sensorial, os bolinhos foram servidos em copos descartáveis com números de três dígitos. O grau de aceitação foi avaliado por meio de teste afetivo laboratorial com uso de escala hedônica de nove pontos (9 = gostei muitíssimo, 1 = desgostei muitíssimo) para os atributos cor, aparência, sabor, textura e aceitação global.

Resultado e discussão

Os bolinhos de peixe foram elaborados seguindo corretamente os procedimentos sanitários e higiênicos, conforme estabelecido na Portaria SVS/MS nº 326/97, e como resultado, apresentaram ausência dos três tipos de micro-organismos analisados. De acordo com os padrões estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) produtos a base de pescado devem apresentar contagem máxima de 103 UFC/g de coliformes a 45°C, 103 UFC/g de Staphylococcus coagulase positiva e ausência de Salmonella sp (BRASIL, 2001). Os resultados das análises físico-químicas foram calculados pela média das triplicatas de cada análise. Foi encontrado teor de 14,18% de proteínas. Este resultado é bastante expressivo, porém, um pouco inferior ao reportado por (SARY et al.,2009) que obtiveram 15,99% para amostras de bolinhos de peixe. Entretanto, estes autores utilizaram uma formulação diferente na elaboração dos mesmos, com 93,5 % de CMS e sem a adição da farinha de trigo. Cereais como o trigo são fontes de carboidratos, porém o teor proteico é inferior aos alimentos de origem animal, como o pescado. Deste modo, o pescado constitui uma alternativa interessante para o enriquecimento destes nutrientes em produtos de panificação, tais como bolinhos de peixe. O teor de cinzas obtido foi de 3,11%, atividade de água (0,952), 56,12% de umidade e pH (6,14). O pH elevado bem como a atividade de água indicam que os bolinhos de peixe são produtos perecíveis, e como tal, provavelmente terá vida útil reduzida. De acordo com a Tabela Nutricional de Composição de Alimentos, os valores de lipídeos para bolos diversos encontram-se na faixa de 6,1 a 12,4% (NEPA, 2006). O teor lipídico (6,18%) obtido neste trabalho está, portanto, dentro desta faixa. A média de aceitação global foi 8,6.

Conclusões

Os bolinhos elaborados com resíduos da filetagem de tilápia nilótica apresentaram boa aceitação, portanto, a CMS de filé de tilápia do Nilo pode ser utilizada como matéria-prima de baixo custo e elevado valor nutricional para o desenvolvimento de produtos de fácil preparo, como bolinhos de peixe, agregando-lhes maior valor econômico, constituindo mais uma alternativa de diversificar a oferta de produtos nos restaurantes e bares que oferecem este tipo de prato aos turistas e consumidores locais.

Agradecimentos

A CAPES pelo apoio financeiro.

Referências

AOAC. Association Official Analytical Chemists. Official Methods of Analysis, 12 ed., Washington, 2000.

APHA, American Public Health Association. Compendium of Methods for the Microbiological Examination of Foods. 4 ed. Washington DC.2001.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução n.12, de 2 de janeiro de 2001. Regulamento Técnico sobre os padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da Republica Federativa do Brasil. Seção 1. 1p.

FOGAÇA, F.H.S.; OTANI, F.S.; PORTELLA, C.G.; SANTOS-FILHO, L.G.A.; SANT’ANA, L.S. Caracterização de surimi obtido a partir da carne mecanicamente separada de tilápia do Nilo e elaboração de fishburguer. Semina: Ciências Agrárias, v.36, n.2, p. 765-776, 2015.

FURTADO, F.L. A Gastronomia como Produto Turístico. Revista Turismo, 2004.
KUBITZA, F.; CAMPOS, J. L.O aproveitamento dos subprodutos do processamento de pescado. Panorama da Aquicultura v, 16, n. 94. p. 23- 29, 2006.
NEPA.Tabela brasileira de composição de alimentos.Versão II. 2. ed. 2006. 113p.


SARY,C.; FRANCISCO, J.G.P.; DALLABONA, B.R.; MACEDO, R.E.F de.; GANECO, L.N.; KIRSCHNIK, P.G. Influência da lavagem de carne mecanicamente separada de tilápia sobre a composição e aceitação de seus produtos. Revista Acadêmica Ciências Agrárias e Ambiental v.7, n.4, p. 423-432, 2009.

STONE, H.; SIDEL, J. L. Sensory evaluation practices. 2a ed. San Diego: Academic Press, p.338, 1993.

VIDAL, J.M.A.; RODRIGUES, M.C.P.; ZAPATA, J.F.F.; VIEIRA, J.M.M. Concentrado proteico de resíduos da filetagem de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus): Caracterização físico-química e aceitação sensorial. Revista Ciência Agronômica, v.42, n.1, p. 92-99, 2011.

Patrocinadores

CAPES CNPQ Allcrom Perkin Elmer Proex Wiley

Apoio

CRQ GOIÁS UFG PUC GOIÁS Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Goiás UEG Centro Universitário de Goiás - Uni-ANHANGUERA SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS EM EDUCAÇÃO BIOCAP - Laboratório Instituto Federal Goiano

Realização

ABQ ABQ Goiás