CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE LICOR DE CASTANHA DO PARÁ (Bertholletia excelsa) PRODUZIDO E COMERCIALIZADO EM BELÉM-PA

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Alimentos

Autores

Martins Silva, D. (UFPA) ; da Silva Pinheiro, D. (UFPA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA)

Resumo

Licor de frutas é uma bebida alcoólica não fermentada, cujos principais componentes naturais são frutas. Este trabalho analisou 8 parâmetros físico-químicos (condutividade elétrica, sólidos solúveis totais, resíduo seco, teor alcóolico, pH, acidez, viscosidade e densidade) de licor de castanha-do-pará (Bertholletia excelsa Bonpl.), produzidos e comercializadas em Belém do Pará, com a intenção de contribuir para o controle de qualidade do mesmo. Os resultados dos parâmetros estudados se mostraram semelhantes com outros trabalhos realizados com licores de outros frutos ou com a legislação vigente, porém, a acidez e o pH desse licor se mostraram baixos, e, assim, tal licor pode ser um meio propício ao desenvolvimento microbiano, podendo influenciar negativamente na qualidade do produto.

Palavras chaves

controle de qualidade; Amazônia; bebidas

Introdução

A castanha-do-pará, castanha-do-brasil ou castanha-da-amazônia (Bertholletia excelsa), utilizada há várias gerações como fonte de alimentação e renda, é uma das mais importantes espécies para programas de reflorestamento na Amazônia (YARED, 1990). Da família Lecythidaceae, a castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl.), é uma árvore nativa da Amazônia, de grande importância econômica para as comunidades locais por serem uma das principais fontes de renda (CLAY, 1997; ORTIZ, 2002). As bebidas alcoólicas sempre ocuparam lugar de destaque nas mais diversas civilizações e são classificadas, segundo a legislação brasileira, em fermentadas (cerveja e vinho), por mistura (licor, amargo e aperitivo, aguardente composta e bebidas mistas), destiladas (cachaça, rum, aguardente, uísque e conhaque) e destilo-retificadas (vodca e gim) (AQUARONE et al., 1993). A legislação brasileira do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) define o licor como uma “bebida com graduação alcoólica de 15% a 54% (v/v), a 20° C, e um percentual de açúcar superior a 30 g/L”. Licor de frutas é uma bebida alcoólica preparada sem processo fermentativo, cujos principais componentes naturais são frutas. Possui graduação alcoólica em torno de 24°GL e 29°GL e elevado teor de açúcar, cerca de 150 g/L. Esse trabalho objetivou a caracterização do licor de castanha do Pará fabricado e comercializado em Belém, em termos de alguns parâmetros físico-químicos como: pH, condutividade elétrica (CE), sólidos solúveis totais (SST), acidez, viscosidade, densidade e resíduos secos (RS).

Material e métodos

Para a realização do presente estudo, foram adquiridas oito amostras de licor de castanha-do-pará (Bertholletia excelsa Bonpl.), fabricados por uma fábrica de Belém do Pará. Tais amostras foram adquiridas entre os meses de junho e julho de 2015, sendo levadas ao Laboratório de Físico-Química da Faculdade de Farmácia da UFPA, onde foram mantidas sob refrigeração até o momento das análises. Foram executadas as seguintes análises: condutividade elétrica, executada com o emprego de um condutivímetro portátil (Instrutherm, CD 880) calibrado com solução padrão de condutividade 146,9 μS/cm; pH, determinado usando um pHmetro (PHTEK) calibrado com solução tampão pH 4 e 7 (AOAC, 1992); densidade, determinada através da medida de massa de licor contida em picnômetro de 25 mL; acidez titulável, através de titulação com solução de NaOH 0,1 mol L-1 (ADOLFO LUTZ, 1985); teor alcoólico, realizada por picnometria (ADOLFO LUTZ, 1985), teor de sólidos solúveis totais (SST), determinado em um refratômetro portátil (Instrutherm, modelo ART 90) com escala de 0 a 65% Brix, e seus resultados corrigidos para 20°C (AOAC, 1992); resíduo seco, determinado se pesando 25 g de licor em cadinho de porcelana previamente aferido, e sendo o conjunto cadinho mais amostra levado a chapa aquecedora a 110º C até quase secura e depois à estufa a 105º C, até secura completa (BRASIL, 2005), e viscosidade, realizada através do escoamento do licor através do orifício do viscosímetro tipo copo Ford 3, sendo o tempo de escoamento convertido para viscosidade pela equação do aparelho. Todas as determinações foram realizadas em triplicatas, sendo que os resultados dos parâmetros obtidos foram apresentados como média e desvio padrão.

Resultado e discussão

As Tabela 1 e 2 deonstram os resultados deste trabalho. O pH variou entre 6,15 e 6,43, média igual a 6,18, valores esses superiores ao encontrado por Vieira et al. (2010) (licor de camu-camu, pH = 3,60) e por Leite et al. (2012) (licor de mangaba, pH = 3,83). O pH fornece uma indicação do seu grau de deterioração e é importante na apreciação do estado de conservação de um alimento (MACEDO, 2001). Os valores encontrados sugerem que o licor de castanha-do-pará não é muito ácido (pH quase neutro), favorecendo o desenvolvimento microbiano. A condutividade elétrica ficou entre 0,15 e 0,17 mS cm-1. Os teores de sólidos solúveis totais oscilaram entre 38 e 40º Brix, o que é superior ao valor de 29,8º Brix para licor de mangaba (LEITE et al., 2012), e também superior a 36º Brix, valor encontrado para licor de acerola e abacaxi (NASCIMENTO et al., 2012). Os valores encontrados para acidez (0,05 g/100 g), expressa em termos de ácido cítrico, são inferiores ao encontrado por Leite et al. (2012) para licor de mangaba (1,13 g 100g-1). Esse baixo valor de acidez confirma o que o pH já havia sugerido. Os valores de resíduo seco encontrados oscilaram entre 39,64 e 72,35%, sendo que tal parâmetro não se encontra na literatura, mas dá uma medida aproximada de açúcares apresentes no licor, pois os resíduos secos são principalmente açúcares. A densidade das amostras de licor de castanha apresentaram um valor médio de 1,10 kg m-3, o que indica ser esse licor ligeiramente mais denso que a água. O teor alcoólico obtido no presente trabalho foi de 38°GL que se encontra dentro dos padrões estabelecido por Brasil (1997) que afirma que os licores podem apresentar de 15 a 54º GL. Os valores de viscosidade encontrados indicam que esse produto é pouco viscoso, sendo facilmente escoado.

Tabela 1. Valores de pH, CE, SST e acidez

Legenda: CE = condutividade elétrica; SST = sólidos solúveis totais. Média seguida de desvio padrão.

Tabela 2. Valores de viscosidade, TA, RS e densidade

Legenda: TA = teor alcóolico; RS = resíduo seco. Média seguida de desvio padrão.

Conclusões

Os resultados obtidos para acidez e pH do licor de castanha-do-pará sugerem que esse produto tenha uma acidez baixa, o que é propício para o crescimento de microrganismos, logo tal produto deve ser bem acondicionado para se evitar problemas em seu consumo. Os demais parâmetros físico-químicos se mostraram condizentes com os resultados encontrados na literatura para outros licores e a legislação vigente. Assim, o licor analisado pode ser considerado bom para o consumo, mas desde que seja adequadamente estocado.

Agradecimentos

A UFPA e a UFRA pela infraestrutura disponibilizada para a execução deste trabalho.

Referências

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