Sustentabilidade Socioambiental no ensino de Química: Processo experimental para o tratamento de água oleosa proveniente de resíduos de lavagem automotiva

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

FEPROQUIM - Feira de Projetos de Química

Autores

de Sousa, W.D. (IFG-SENADOR CANEDO) ; da Silva, M.E. (IFG-SENADOR CANEDO) ; Damasceno, D. (IFG-SENADOR CANEDO)

Resumo

O processo de experimentação no ensino de Química é uma estratégia muito eficiente para do desenvolvimento do conhecimento e fixação de conceitos apresentados em sala de aula, principalmente quando contextualizada a temas atuais como a Sustentabilidade Socioambiental. Logo, esse trabalho apresenta a montagem de um dispositivo móvel de decantação, construído com materiais de baixo custo, como o resultado de aulas experimentais, para o tratamento de água oleosa. O processo utilizou diferença de densidade para separar as fases do efluente bruto em três etapas, removendo 99,93% do material oleoso e 99,97% da turbidez.

Palavras chaves

Experimentação; Ensino de Química; Água Oleosa

Introdução

No ensino de ciência, a experimentação pode ser uma estratégia eficiente para a criação de problemas reais que permitam a contextualização e a fixação dos conteúdos ministrados (GUIMARÃES, 2009), sendo possível despertar um caráter motivador e essencialmente vinculado à aprendizagem nos mais diversos temas (GIORDAN, 1999). Um desses temas é a Sustentabilidade Socioambiental (PEREIRA et al., 2011) que discute formas de atender às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras (BARBOSA, 2008), gerando debates sobre utilização dos recursos ambientais em prol da demanda da sociedade (PRSYBYCIEM et al., 2014) que cresce significamente. Um dos reflexos desse crescimento é o expressivo consumo de veículos para locomoção (REIS et al. 2010) que atingiu a marca de 9,5 milhões de unidades em 2014 (ANFAVEA, 2015). Grande parte dessa frota utiliza serviços dos lava- jatos. Esse nicho econômico traz preocupações ambientais devido ao fato de que grande parte dessas empresas, descarta os efluentes gerados pela natureza de suas atividades sem tratamento (REIS et al. 2010). A água utilizada na lavagem automotiva carrega graxas, solventes, agentes de limpeza, etc. sendo classificados pela ABNT como resíduo perigoso (BRASIL, 2004). Sem tratamento adequado, esses resíduos podem atingir o solo e as redes de esgoto contaminando, além da água destinada ao uso doméstico, os lençóis freáticos, rios, lagos e mares (MOURA, 2015). Com o objetivo de trabalhar esse problema e contextualizar com os conteúdos vistos nas aulas de química esse trabalho apresenta a montagem de um dispositivo móvel e de baixo custo para tratamento inicial de efluentes oleosos que pode ser adaptado facilmente à empresas de lavagem automotivas.

Material e métodos

O dispositivo foi montado levando-se em consideração o trabalho realizado pelo Instituto Ethos e apresentado pelo Centro de Orientação Ambiental Terra Integrada (INSTITUTO ETHOS, 2010). Essa metodologia foi escolhida por ter baixo custo de instalação, execução e manutenção além de proporcionar o tratamento móvel de efluentes oleosos, facilitando a aceitação do método e a difusão de conceitos de sustentabilidade socioambiental. Inicialmente, três tambores de PVC com capacidade de 15 L foram perfurados com o auxílio de uma furadeira e uma broca serra-copo dimensão de 89 mm. As perfurações ocorreram em duas regiões: a primeira perfuração foi realizada na parte superior, cerca de 20 cm da borda superior, a segunda perfuração foi realizada na parte inferior, cerca de 10 cm da borda inferior e com ângulo de 90º entre as perfurações. Os três tambores foram interligados nas perfurações inferiores com canos hidráulicos para tubulação de água com diâmetro de aproximadamente 75 mm. Essa tubulação foi destinada para recolher água sem óleo. Na parte superior dos três tambores foram montadas canaletas com canos cortados para que as aberturas ficassem na mesma altura da região oleosa da mistura. As três canaletas foram interligadas com canos do tipo PVC de 75 mm para coletar o óleo separado da água proveniente da lavagem automotiva.

Resultado e discussão

Segundo a pedagogia dialógica de Paulo Freire, uma educação problematizadora visa a superação de uma situação opressiva através da aquisição de conhecimento que ajude o educando a intervir na realidade em que está inserido (VITOR et al., 2014). Seguindo essa temática foi apresentado aos alunos dos cursos técnicos do IFG Câmpus Senador Canedo, a situação de degradação ambiental causada pelos resíduos gerados por lavagem automotiva. Logo, foi montado um sistema de separação de água oleosa contendo três recipientes para separação dos resíduos, Figura 1a. No recipiente à esquerda, Figura 1b, foi destinado a entrada dos resíduos brutos contendo material sólido e oleoso. Por decantação, parte do sobrenadante é coletado pelas canaletas e o material sólido, é depositado no fundo do recipiente. Com a entrada contínua de resíduos, a mistura entre água e uma fração do óleo livre são arrastados para os demais recipientes que coletam o resíduo remanescente do processo inicial de decantação. Para verificação da eficiência do processo, foram realizadas testes analíticos com amostras do efluente bruto e tratado, Figura 1c, e os resultados comparados com a Resolução CONAMA nº 430/2011 (BRASIL, 2011), que dispõe sobre as condições de lançamento de efluentes. De acordo com o Art. 16, dessa resolução, os resultados obtidos pelo processo de separação com o dispositivo, atendem os requisitos de lançamento, Tabela 1. Após o tratamento, parte dos materiais flutuantes foram retirados apresentando turbidez de 6,78 NTU, equivalente a 99,97% de eficácia do método. O processo de remoção de óleos/graxas apresentou 99,93% de eficiência, com o valor de 5,20 mg L-1 de material oleoso, atendendo a legislação vigente que determina o máximo de 20 mg L-1 desse resíduo presente nos efluentes de lançamento

Figura 1.

(a) Dispositivo de separação; (b) Em funcionamento; (c) Efluente bruto (à esquerda), efluente tratado (ao centro), material oleoso (à direita).

Tabela 1.

Resultados comparativos das análise de turbidez de amostras de efluentes brutos e tratados.

Conclusões

O processo de construção de conhecimento através da contextualização entre as definições de Sustentabilidade Socioambiental e os conceitos apresentados nas aulas de Química foi realizado através de metodologias experimentais. Foi montado um dispositivo móvel de separação de água oleosa. O processo de separação ocorreu em três etapas envolvendo processos de decantação apresentando 99,97% e 99,93% de eficácia na remoção de turbidez e óleos/graxas, respectivamente. Por atender a resolução vigente, o dispositivo pode ser facilmente adaptado a empresas de lavagem automotiva.

Agradecimentos

Ao IFG Câmpus Senador Canedo; À AQUALIT TECNOLOGIA EM SANEAMENTO LTDA EPP.

Referências

ANFAVEA. Estatística de venda, produção e expotação de veículos automotores no Brasil. Disponível em: <http://www.anfavea.com.br/tabelas.html>. Acesso em: 1 jul. 2015.
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VITOR, P. et al. Densidade: Uma Proposta de Aula Investigativa. Química Nova na Escola, v. 55, n. 13, p. 1–5, 2014.

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