PROCESSO DE TRATAMENTO, RECUPERAÇÃO E DESCARTE DE RESÍDUO QUÍMICO CONTENDO CROMO HEXAVALENTE, IODETO, BROMETO E CLORETO.

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Química Analítica

Autores

Pereira, A.C. (UNIANCHIETA) ; Toledo, A.C.T. (UNIANCHIETA) ; Souza, L.C.M. (UNIANCHIETA) ; Gramolelli Junior, F. (UNIANCHIETA)

Resumo

Resíduos químicos são materiais (substância ou mistura de substâncias) com potencial de causar danos a organismos vivos, estruturas ou ao meio ambiente; ou ainda, que pode tornar-se perigoso por interação com outros materiais e que não podem ser reutilizados ou descartados sem tratamento adequado. Este trabalho tem como objetivo geral o tratamento, recuperação e descarte de um resíduo contendo cálcio, iodeto, brometo, cloreto e cromo VI gerado em aulas laboratoriais ministradas no Centro Universitário Padre Anchieta, Jundiaí-SP na disciplina de Química Analítica Qualitativa. O trabalho busca demonstrar, por meio deste estudo de caso, uma alternativa simples para tratamento adequado dos resíduos químicos produzidos em aulas práticas e com forte apelo didático na disciplina envolvida.

Palavras chaves

Gerenciamento de resíduos; processo analítico; meio ambiente

Introdução

Existe uma tendência na nossa sociedade em considerar como impactante ao meio ambiente apenas aquelas atividades que geram grandes quantidades de resíduos (Jardim, 1993). A falta de um programa de gestão de resíduos dentro de algumas universidades, além de gerar elevados custos com desperdício de reagentes, acarreta problemas de acúmulo desses materiais perigosos e descarte inadequado, comprometendo a segurança de todos os envolvidos, sobretudo os alunos. As Universidades são responsáveis pela formação dos estudantes e isso influencia o comportamento desses jovens na sociedade, por isso as atividades acadêmicas devem estar em sintonia com as questões ambientais. Caso haja uma atividade poluidora, esta deve ser substituída e o processo modificado de maneira a não oferecer danos ao meio ambiente e à saúde pública. Os conceitos de química verde deveriam obrigatoriamente fazer parte do plano de ensino das disciplinas que utilizam laboratórios químicos. No estado de São Paulo o decreto estadual 8.468/1976 estabelece os limites permitidos e as especificações para destinação dos resíduos no meio ambiente. Em muitos casos a identificação dos materiais se torna muito difícil devido ao modo irregular de armazenamento e a falta de rotulagem adequada, o que inviabiliza o direcionamento deste material ao tratamento correto, e exige um grande esforço de pesquisa para caracterização do(s) componente(s) presente (s) no frasco. Com isso se torna mais prático o descarte diretamente na pia desses resíduos, sem que se saiba ao menos qual a classificação do material descartado. Este é o pior cenário que se pode encontrar em um laboratório, principalmente com foco em ensino-aprendizagem, quando este espaço deveria ser um exemplo aos alunos sobre ações de responsabilidade sócio-ambiental.

Material e métodos

Para o trabalho foi utilizado um frasco com cerca de 500 mL de resíduo previamente identificado por testes qualitativos, proveniente de aulas laboratoriais do Centro Universitário Padre Anchieta - Jundiaí-SP. O resíduo analisado apresentava-se em mais de uma fase e o primeiro passo para o tratamento foi a separação do resíduo sólido (contendo Iodeto e Cálcio) e o resíduo líquido (contendo íons Cloreto, Brometo e Cromo VI), para isso utilizou-se sistema de filtração com funil de Buchner e bomba à vácuo. Após a filtração reservamos o resíduo sólido no papel filtro e a porção líquida no Kitassato. Procedeu-se então com a lavagem do papel (contendo Cálcio e Iodo) com água destilada, transferência para béquer de 100 mL, adição de 10 mL de KOH 1 mol/L e acerto do pH para 7,0. Essa porção ainda apresentava coloração amarelada que foi tratada com carvão ativado e o resultando foi uma solução incolor e pH adequado para descarte. Embora a identificação qualitativa tenha indicado a presença de Cálcio e Iodo, a baixa concentração desses contaminantes no resíduo não produziria efeitos nocivos ao meio ambiente. No resíduo líquido contendo íons Brometo, Cloreto e Cromo VI verificamos que os contaminantes Brometo e o Cloreto poderiam ser descartados diretamente na pia. “Soluções aquosas de sais inorgânicos de metais alcalinos e alcalinos terrosos: NaCl, KCl, CaCl2, MgCl2, Na2SO4, MgSO4 e tampões PO43-, não contaminados com outros produtos, podem ser descartados diretamente na rede de esgoto, respeitando-se os limites estabelecidos na lei estadual 8.468/1976” (Tomazini, 2014). O tratamento do Cromo VI é feito com adição de NaOH e aquecimento para precipitação do Cromo como Cr(OH)3 e armazenamento em frasco plástico (Gerenciamento de resíduos químicos – USP, 2014).

Resultado e discussão

Após todos os processos realizados com o resíduo, as soluções resultantes foram descartadas corretamente em rede de esgoto respeitando os limites estabelecidos na legislação. Tivemos sucesso na identificação dos cátions e ânions presentes como contaminantes no resíduo escolhido, pesquisamos os procedimentos corretos para tratamento / recuperação, e por fim obtivemos soluções inertes, neutras, incolores, inodoras e ainda conseguimos reduzir o Cromo Hexavalente presente no resíduo para Cromo Trivalente. Como referência principal utilizamos o livro “Química Analítica Qualitativa” de Arthur Vogel (1978) que contém todos os principais processos de identificação de íons, sendo uma metodologia muito clara e objetiva. De maneira complementar consultamos o livro “Introdução à Semi-Micro Análise Qualitativa” de Nivaldo Baccan et al. (1988). O procedimento de tratamento de Cromo foi adequado e recuperamos cerca de 2,15 g de Cromo III. Este material foi armazenado em frasco plástico para posterior uso em aulas de identificação de cátions na disciplina de Química Analítica Qualitativa (Figura 1). É importante destacar que para enquadramento das condições de aspecto da porção líquida, que estava com forte odor e cor esverdeada, foi necessário adaptar o procedimento de tratamento de Cromo VI realizando uma filtração da solução com carvão ativado. A cor e aspecto final da solução apresentaram características adequadas para descarte em rede de esgoto.

Figura 1

Cromo recuperado na forma de Hidróxido de Cromo III

Conclusões

Esse trabalho realizado no UNIANCHIETA demonstrou que as literaturas disponíveis para o tratamento de resíduos químicos apresentam ótimos resultados, porém precisam de ajustes quanto às condições específicas e exigências legais. Ao mais, todo processo que visa o tratamento, a fim de proteger o ambiente e a saúde pública, deve ser feito em todos os resíduos gerados em aulas práticas. É importante também buscar estratégias de tratamento para recuperação de compostos que possam ser reutilizados. Esse procedimento foi incorporado nos planos de ensino das disciplinas que utilizam laboratório.

Agradecimentos

Ao Centro Universitário Padre Anchieta - UNIANCHIETA - Jundiaí/SP.

Referências

BACCAN, Nivaldo et al. Introdução à Semimicroanálise Qualitativa. 2 ed. São Paulo: UNICAMP, 1988.
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS QUÍMICOS. Normas e Procedimentos Gerais. Disponível em: <http://www.pcarp.usp.br/pages/lrq/pdf/normas_gerenciamento.pdf>. Acesso em 14 set. 2014.
JARDIM, W.F. As indústrias químicas e a preservação ambiental. Revista de Química Industrial. 1993. 692:16-18.
SÃO PAULO. DECRETO N° 8.468/1976. Disponível em <http://www.cetesb.sp.gov.br/Institucional/documentos/Dec8468.pdf>. Acesso em 09 set. 2014.
TOMAZINI, Francis Mironescu. Cartilha de Orientação de Descarte de Resíduo no Sistema FMUSP-HC. Disponível em <http://www2.fm.usp.br/gdc/docs/cep_5_grss_2_cartilha.pdf>. Acesso em 14 set. 2014.
VOGEL, Arthur I. Química Analítica Qualitativa. 5 ed. São Paulo: MESTRE JOU, 1981.

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