ANÁLISE NICTEMERAL EM VIVEIROS DE PEIXES: ESTUDO DE CASO NA FAZENDA ESCOLA DE CASTANHAL, PARÁ, BRASIL

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Química Analítica

Autores

Silva, J.C. (UFRA) ; Barbosa, I.C.C. (UFRA) ; Souza, E.C. (UFRA) ; Silva, A.S. (UFPA)

Resumo

O presente trabalho deve por objetivo verificar a variação dos parâmetros físico-químicos da água de criação de peixe em viveiros escavados durante o período de 48 horas na Fazenda Escola de Castanhal (UFRA). Foi realizada a análise na camada superficial da lamina d’água (30 cm) em dois viveiros: um de 360 m2 (viveiro 1) e outro de 260 m2 (viveiro 2). Os parâmetros medidos in situ foram pH (adimensional) e condutividade elétrica (em µS/cm). Durante a manhã e tarde ocorre um aumento do pH dos viveiros a níveis básicos, e a partir do final da tarde ocorre uma leve acidificação, devido, possivelmente, a diminuição da atividade fotossintética das macrófitas presentes. A CE apresenta uma variação mais ampla dentro de um mesmo viveiro e valores estatisticamente diferentes entre os viveiros.

Palavras chaves

Piscicultura; Qualidade da água; Parâmetros limnológicos

Introdução

O Brasil tem potencial pesqueiro como poucos países do mundo, pela quantidade de águas marítimas e continentais. Entretanto, somente 1% dos corpos d’água provenientes de barramento, lagos, lagoas, açudes, depósitos de águas pluviais e remansos de rios são liberados para produção de pescado (OSTRENSKY et al., 2008). Segundo Toledo e Castro (2001), a aquicultura é a atividade agropecuária que mais cresceu nos últimos dez anos. Com a diminuição dos estoques pesqueiros mais importantes em nível mundial, ela se torna cada vez mais necessária e lucrativa. A qualidade da água é da maior importância para o desenvolvimento de uma aquicultura com sucesso. É também um dos componentes do cultivo sobre o qual possuímos menos controle e desconhecimento sobre suas interrelações. Já que os ambientes aquáticos são dinâmicos e podem sofrer grandes variações nas suas características físicas e químicas ao longo tempo. As variações espaciais podem causar heterogeneidade significativa na distribuição de nutrientes (HAKANSON et al., 2000). Dessa forma, mudanças no período de 24 horas (nictemeral) podem ser maiores do que alterações que ocorrem em um ciclo anual. Assim, estudos sobre a variação nictemeral são de suma importância para a compreensão da dinâmica de um ecossistema. O presente trabalho deve por objetivo verificar a variação dos parâmetros físico-químicos da água de criação de peixe em viveiros escavados durante o período de 48 horas na Fazenda Escola de Castanhal da Universidade Federal Rural da Amazônia.

Material e métodos

O estudo foi realizado na Fazenda Escola de Castanhal, localizada no município de Castanhal a 59 km de Belém entre as coordenadas geográficas, sob os vértices 01º 18’ 02” S; 01º 22’ 43” S e 48º 05’ 05” W ; 48º 15’ 46” W, possuindo 70 ha de área total, sendo 9,6 ha de barragem e 0,61 ha de viveiros, sendo 5 viveiros com áreas de 5.000 m2 , 400m2 , 360 m2, 260 m2, 96 m2, e 6 tanques de 08 m2. Além das atividades de pesquisa e produção de pescado a Estação Experimental possui áreas destinadas à realização de experimentos agrícolas e conta hoje com uma infraestrutura própria para realização de eventos. Os viveiros analisados foram o de 360 m2 (viveiro 1) e o de 260 m2 (viveiro 2) com dimensões respectivamente de 36 x 10 x 1,5 e 26 x 10 x 1,5 metros de comprimento, largura e profundidade, destinados à produção de espécies nativas como o Tambaqui (Colossoma macropomum) e do híbrido Tambacu (Colossoma Macropomum + Piaractus Mesopotamicus). Foi realizada a coleta na camada superficial da lamina d’água (30 cm) nos dias 21 e 22 de julho de 2015. Para verificar a dinâmica nictemeral foram feitas amostragens durante um período de quarenta e oito horas, com um intervalo de duas horas entre os ciclos de 5 horas de analises, totalizando oito ciclos diferentes, sendo: 14:00 às 18:00h, 20:00 às 00:00h, 02:00 às 06:00h, 08:00 às 12:00h, 14:00 às 18:00h, 20:00 às 00:00h, 02:00 às 06:00h e 08:00 às 12:00h. Os parâmetros analisados in situ foram pH (adimensional), através de um peagâmetro portátil; e condutividade elétrica (em µS/cm) através de condutivímetro portátil. Para os dados obtidos foram calculados médias, desvios-padrão e teste de Tukey a 95% de probabilidade.

Resultado e discussão

Com o teste de Tukey sendo aplicado pode-se observar que os valores de médias de pH não apresentam diferença significativa (p > 0,05) entre os viveiros 1 e 2, tanto para o 1º como para o 2º dia de análise. Os valores de CE apresentaram diferença significativa (p < 0,05) entre os viveiros 1 e 2. Sendo as médias do 1º e 2º dia estatisticamente iguais para o viveiro 1 e diferentes para o viveiro 2. A Figura 1 mostra que o pH se mantém em valores levemente básicos (pH > 7,0) no período do final da manhã até final da noite, e mantém-se levemente ácido (6,0 < pH < 7,0) durante a madrugada e inicio da manhã. O gráfico mostra que o pH inicia uma curva de crescimento para uma zona levemente básica a partir do início da manhã e de decaimento a partir do final da tarde. Este aumento deve-se provavelmente à atividade fotossintética, uma vez que tende a aumentar com o aumento da radiação incidente sobre o corpo d’água (CARVALHO et al., 2013), e os viveiros apresentaram uma grande quantidade de macrófitas presentes em suas bordas. Através da Figura 2 é possível observar que os valores de CE no viveiro 1 são maiores do que os encontrados no viveiro 2. Apesar dos valores de CE obtidos para o viveiro 2 serem estatisticamente diferentes para o 1º e 2º dia, é possível perceber um comportamento semelhante entre picos e séries no horário de 14 às 21 h, 02 às 04 h e 08 às 12 h. O viveiro 1, apesar de apresentar médias semelhantes estatisticamente entre os dois dias, apresenta uma maior amplitude de variação entre 1º e 2º dia. Os valores de CE, de acordo com Margalef (1986), são considerados baixos, uma vez que as águas naturais, em geral, apresentam condutividade de até 10 mS/cm (ou 10.000 μS/cm).

Figura 1. Variação nictemeral do potencial hidrogeniônico (pH).

Viveiro 1 = 360 m2 e viveiro 2 = 260 m2.

Figura 2. Variação nictemeral da condutividade elétrica (em μS/cm).

Viveiro 1 = 360 m2 e viveiro 2 = 260 m2.

Conclusões

Durante a manhã e tarde ocorre um aumento do pH dos viveiros a níveis básicos, com pico às 17 h, e a partir do final da tarde ocorre uma leve acidificação, devido, possivelmente, a diminuição da atividade fotossintética das macrófitas presentes. A CE apresenta uma variação mais ampla dentro de um mesmo viveiro e valores estatisticamente diferentes entre os viveiros. É importante salientar que a diferença de quantidade de peixes, disponibilidade/consumo de ração, tamanho dos viveiros etc. podem ser fatores que interferem na variação da CE e outros parâmetros, não analisados, ao longo do dia.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Centro de Tecnologia Agropecuária(CTA), Universidade Federal Rural da Amazônia(UFRA) e ao Programa de Educação Tutoria(PET)/Engenharia de Pesca.

Referências

CARVALHO, M. S.; CUNHA, C. M. I.; PINTO, B. V.; MANNICH, M. Análise Nictemeral de Rios Urbanos: estudo de caso no Rio Barigui-Curitiba-PR. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HÍDRICOS, 20., 2013, Bento Gonçalves. Anais eletrônicos...Bento Gonçalves: ABRH, 2013. Disponível em: < https://www.abrh.org.br/sgcv3/UserFiles/Sumarios/30643fa252da5a1d85b642b68db331bb_bf73247f4db477821841e4a68fb749bd.pdf >. Acesso em: 06 ago. 2015.

HAKANSON, L.; PARPAROV, A.; HAMBRIGHT, K. D. Modelling the impact of water level fluctuations on water quality (suspended particulate matter) in Lake Kinneret, Israel. Ecological Modelling, v. 128, p. 101-125, 2000.

MARGALEF, R. Limnologia. Omega: Barcelona, 1986. 1010 p.

OSTRENSKY. A.; BOAGER, A.W. Principais problemas enfrentados atualmente pela aquicultura brasileira. In: Aquicultura no Brasil: o desafio é crescer (FAO), Brasília/DF, 2008. 276 p.

TOLEDO, J. J.; CASTRO, J. G. D. Parâmetros físico-químicos da água em viveiros da estação de piscicultura de Alta Floresta, Mato Grosso. Revista de Biologia e Ciências da Terra, João Pessoa/PB, n. 3, v. 1, 2001.

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