Níveis de mercúrio total em amostras de cabelo de comunidades Amazônicas - Brasil.

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ambiental

Autores

Cerbino, M.R. (PUC-GO) ; Jorge da Silva Junior, N. (PUC-GO) ; Machado da Silva, T. (UNB-PLANALTININA) ; Silva Figueiredo, W. (UNB-PLANALTINA) ; Padilha, C. (UNESP-BOTUCATU) ; de Magalhães Padilha, P. (UNESP-BOTUCATU) ; Zara, L.F. (UNB-PLANALTINA)

Resumo

O mercúrio Hg é um metal responsável por contaminações ambientais e intoxicações. Este pode bioacumular, sendo responsável pela exposição de comunidades amazônicas, cuja dieta é baseada em peixes. O presente estudo avaliou as concentrações de mercúrio total em amostras de cabelo de três populações: Goiânia, comunidades do rio Madeira e do rio Negro. As concentrações de mercúrio total (HgT) no cabelo foram determinadas por análise direta utilizando o equipamento por SMS 100. O mercúrio total para o grupo controle apresentou média de 0,36 ± 0,25 µg/g. Para o grupo do rio Madeira as concentrações apresentaram valor médio de 1,14 ± 0,67 µg/g.Já nas comunidades do rio Negro, a média foi de 2,12 ± 1,17 µg/g, na comunidade do Livramento e de 14,62 ± 4,44 µg/g, na comunidade de Santa.

Palavras chaves

Mercúrio; Amazônia; Toxicologia

Introdução

Desde os primórdios da humanidade, o mercúrio desperta o interesse e a curiosidade do homem. Este metal era usado nas mais diversas atividades, como em cerimônias religiosas, na extração do ouro, fins medicinais e até em cosméticos (ALMEIDA, 2005; FARIA, 2003). Atualmente, devido às suas características físico-químicas, este metal possui uma vasta aplicabilidade na indústria, tais como o catodo de mercúrio, é usado na fabricação de cloro e soda cáustica, baterias de celulares, termômetros, barômetros, componente principal de lâmpadas fluorescentes, compostos organo-mercurais em tintas e fungicidas agrícolas,na queima de combustíveis fósseis, para formar o amálgama dentário, incineração de resíduos, fornos crematórios e garimpos de ouro (ALMEIDA, 2005). O mercúrio é considerado um poluente global, ou seja, encontra-se presente naturalmente em toda a crosta terrestre (SANTOS-FRANCÉS et al.,2011).Para a região Amazônica,sua contaminação é considerada de fontes difusas, com origens antrópicas, como o processo de garimpagem, o desmatamento, as queimadas, a agropecuária e a construção de hidroelétricas. Entretanto, há também contaminações de origens naturais, os solos amazônicos, por exemplo, são ricos em mercúrio, e são a principal fonte desse metal para os sistemas aquáticos (BISINOTE & JARDIM, 2003; SANTOS, 2003; LACERDA, 1995). As águas da Amazônia podem ser classificadas em três tipos: águas brancas, cujo pH é próximo da neutralidade e carregam grande quantidades de sedimento, como o rio Madeira; águas negras, nas quais o pH é ácido, com grande quantidade de substâncias orgânicas em decomposição, como as do rio Negro e; as águas claras com características intermediárias entre as águas brancas e negras (FIGUEIREDO,2015).Algumas destas características, como a grande quantidade de sedimentos e o pH ácido, podem influenciar na disponibilidade de Hg no ambiente aquático, bem como no processo de metilação (BISINOTE & JARDIM, 2003). Dessa forma, estudos relacionados à toxicodinâmica do Hg são de fundamental importância para a saúde das populações da região Amazônica. Neste contexto, o presente estudo teve como principal objetivo determinar as concentrações de mercúrio total nos cabelos de comunidades ribeirinhas do alto rio Madeira e do rio Negro e comparar com as concentrações de um grupo controle do Estado de Goiás.

Material e métodos

As vinte e oito participantes que concordaram em fazer parte deste estudo foram submetidas a uma breve entrevista para certificação do aceite da coleta de amostra biológica (cabelo), sendo que todas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e responderam a questionário alimentar. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da UnB. O perfil de consumo alimentar, principalmente fontes de proteína animal, foi determinado pela aplicação de um inquérito alimentar recordatório de sete dias.Para a avaliação dos níveis de exposição ambiental por via alimentar ao mercúrio foram coletadas amostras de cabelo. Aproximadamente 5g de cabelo foram removidas da região da nuca, com tesoura de aço. Em seguida foram identificadas e armazenadas em sacos de polietileno até serem analisadas. Na determinação do HgT, pedaços de aproximadamente 5 mm das amostras foram transferidos para um béquer onde foi adicionada acetona,cerca do dobro do volume da amostra. O sobrenadante foi desprezado após decantação e adicionada água deionizada sobre o mesmo, aproximadamente o dobro do volume da amostra. Este procedimento foi repetido 2 vezes, adicionando-se acetona novamente. Após decantação, o sobrenadante foi novamente desprezado, o que foi feito com o auxílio de “jatos” de acetona. Após este processo,transferiu-se a amostra de cabelo para o papel filtro e aguardou-se até completa filtração. Após secagem à temperatura ambiente, a amostra foi devidamente identificada e armazenada até o momento da análise. Para a determinação dos níveis de HgT foi utilizada a técnica de espectrometria de absorção atômica dedicada à determinação de mercúrio.As amostras de cabelo,após as etapas descritas acima, foram transferidas para barquinhas de níquel e alocadas no amostrador automático do equipamento de análise direta de mercúrio, o SMS 100 da Perking Elmer.

Resultado e discussão

Diversas pesquisas realizadas com populações ribeirinhas da Amazônia indicam que o peixe constitui um elemento importante no regime alimentar desse grupo (DA SILVA et al.,2008; ROULET et al., 2010). A contaminação de Hg na biota aquática vem sendo amplamente estudada devido à sua relação direta com a saúde humana, já que a principal fonte de exposição do homem ao Hg se dá através da ingestão de peixe (KASPER et al., 2014). Dessa forma, é fundamental para avaliação dos níveis de exposição ao mercúrio, traçar o consumo de peixes consumidos pela população estudada. Assim, através da análise dos questionários de inquérito alimentar recordatório, observou-se que as participantes do grupo controle (n = 03) têm na carne bovina sua principal fonte de proteína, seguida de frango e peixe. Os participantes do alto rio Madeira (n = 07) declararam também ter na carne bovina sua principal fonte de proteína, seguida da carne de frango e de peixe. Já para os participantes do rio Negro ,na comunidade de Livramento (LIV) (n = 12), a principal fonte de proteína é proveniente do pescado, seguida da carne de frango e de gado e; na comunidade de Santa Isabel (SI)(n = 06), a principal fonte também é o pescado, contudo, seguida pelo frango e outros (Figura 1). A Figura 2 apresenta as concentrações de HgT determinadas nas amostras de cabelo das participantes. As concentrações de HgT no cabelo para o grupo controle apresentou a média de 0,36 ± 0,25, variando entre 0,13 e 0,62 µg/g,estes resultados podem estar relacionados ao baixo consumo de peixe pelas participantes. Nos participantes do alto rio Madeira as concentrações de HgT apresentaram média 1,14 ± 0,67, variando entre 0,21 e 1,99 µg/g. Na comunidade de LIV a média da concentração de HgT foi de 2,12 ± 1,17, variando entre 0,33 e 6,53 µg/g. Nestas duas comunidades amazônicas os resultados são semelhantes entre si e abaixo das médias gerais para a região Amazônica (DÓREA et al., 2004; SOUZA et al., 2000). Tanto para o grupo controle quanto para as comunidades do alto rio Madeira e de Livramento, no rio Negro, as concentrações de HgT foram inferiores ao limite preconizado pela Organização Mundial da Saúde, de 14 μg de Hg por grama de cabelo (FAO/WHO, 2004). Contudo, a comunidade de SI, apresentou uma média de 14,62 ± 4,44, variando entre 8,81 e 19,18 µg/g. Sendo estes valores superiores ao limite preconizado pela Organização Mundial da Saúde como indicadora de possíveis efeitos neurotóxicos que poderiam ser esperados na população. Segundo Dórea e colaboradores (2004), nos sistemas aquáticos, os peixes são concentradores importantes e servem como indicadores de contaminação do Hg. Santa Isabel trata-se de uma comunidade ribeirinha afastada de centros urbanos, e de acordo com o inquérito alimentar recordatório possui uma dieta baseada principalmente em peixes do rio Negro, o que para alguns autores trata-se da principal fonte de exposição ao mercúrio na região amazônica (FAIAL et al., 2014).

Figura 1

Perfil alimentar dos participantes da comunidade Santa Isabel - rio Negro

Figura 2

Concentração de HgT em amostras de cabelo

Conclusões

Analisando as concentrações de mercúrio total nas amostras de cabelo das voluntárias do grupo controle, verificaram-se valores inferiores aos preconizados pela legislação, o que pode estar relacionado ao hábito alimentar e à atividade laboral não ter ligação com o Hg. Já nas comunidades do alto rio Madeira e de Livramento (rio Negro) observam-se valores abaixo das médias gerais observadas em várias regiões da Amazônia, provavelmente por se tratarem de participantes que não têm atividades em áreas de garimpo de ouro e, pó não terem em dieta alimentar um consumo elevado de peixes, os quais são a principal fonte de exposição ao Hg. No que se refere à comunidade de Santa Isabel (rio Negro), os valores da concentração de HgT no cabelo se mostraram elevados, provavelmente pelo fato do rio Negro possuir características físico- químicas favoráveis à metilação, além disso, esta comunidade tem maior ingestão de peixes quando comparada às demais aqui estudadas.

Agradecimentos

Agradecimentos: Ao programa de P&D da Energia Sustentável do Brasil (ANEEL/PD-6631-0001/2012)

Referências

ALMEIDA, N.; D.; JARDIM, W.; F.; Biogeoquímica do mercúrio na interface do solo – Atmosfera da Amazônia.Tese, 2005.
BISINOTI, M. C., JARDIM, W. F.O comportamento do metilmercúrio(METILHg) no ambiente. Química Nova. v.27, n.04, p.593-600, 2004.
DA SILVA, D. S.; LUCOTTE, M.; ROULET, M.; POIRIER, H.; MERGLER, D.; CROSSA, M.Mercúrio nos peixes do rio Tapajós, Amazônia Brasileira.Interfacehs. 2006.
DÓREA, J. G.; BARBOSA, C. J.; DE SAUZA, J.R.; FADINI P.; JARDIM, W. F. Piranhas (Serrasalmus spp.) como marcadores de bioacumulação de mercúrio em ecossistemas amazônicos. Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 59, 57–63, 2004.
DÓREA, J.G. Fish are central in the diet of Amazonian riparians: should we worry about their mercury concentrations? Environmental Research, v.92, n. 3, p. 232–244, jul. 2003.
FAIAL, K.; DEUS, R.; DEUS, S.; NEVES, R.; JESUS, I.; SANTOS, E.; ALVES, C. N.; BRASIL, D. Mercury levels assessment in hair of riverside inhabitants of the Tapajós River, Pará State, Amazon, Brazil: Fish consumption as a possible route of exposure. Journal of Trace Elements in Medicine and Biology, 2014.Disponívelem: http://dx.doi.org/10.1016/j.jtemb.2014.10.009>. Acesso em 10 de agosto de 2015.
FAO/WHO (Food and Agriculture Organization of the United Nations/World Health Organization).Safety evaluation of certain food additives and contaminants.Methylmercury.WHO Food Additives Series, 52, p. 565-623, 2004.
FARIA, M. A. M. Mercuralismo metálico crônico ocupacional. Revista de Saúde Pública, v. 37, n. 1, p. 116-27, 2003.
FIGEIREDO, W. S. Estratégias metaloproteômicas na investigação de biomarcadores de mercúrio em amostras de tecido muscular de tucunarés. Dissertação, 2015.
KASPER, D.; FORSBERG, B. R.; AMARAL, J. H. F.; LEIT O, R. P.; PY-DANIEL, S. S.; BASTOS, W. R.; MALM, O. Reservoir Stratification Affects Methylmercury Levels in River Water, Plankton, and Fish Downstream from Balbina Hydroelectric Dam, Amazonas, Brazil. Environmental Science Technology, v. 48, n. 2, p. 1032-1040, jan. 2014.
LACERDA, L. D. & MALM, O. Mercury contamination In aquatic ecosystems: an analysis of the critical areas. Estudos Avançados, v. 22, n. 63, p. 173-190, 2008.
ROULET, M.; BRACHET, R.; M.; Le mercuredans les organismsaquatiquesamazoniens. 2010.
SANTOS, E. O.; SÁ, G. C.; JESUS, I. M.; BRABO, E. S.; CÂMARA, V. M.; LIMA, M. O.; FAIAL, K. F.; MENDES, R. A.; MASCARENHAS, A. F. S. Mercúrio no rio Negro, Amazonas, Brasil - Estudo preliminar de indicadores de exposição no pescado e em populações humanas. CadernosSaúdeColetiva, v. 13, n. 1, p. 225 -236, 2005.
SANTOS-FRANCÉS, F.; GARCÍA-SÁNCHEZ, A.; ALONSO-ROJO, P.; CONTRERAS, F.; ADAMS, M. Distribution and mobility of mercury in soils of a gold mining region, Cuyuni river basin, Venezuela.Journalof Environmental Management, v. 92, n. 4, p. 1268-1276, abr. 2011.
SOUZA, J. R., BARBOSA. A. C. Contaminação por mercúrio e o Caso da Amazônia. Química e Sociedade. v. 12, p. 3-7, 2000.

Patrocinadores

CAPES CNPQ Allcrom Perkin Elmer Proex Wiley

Apoio

CRQ GOIÁS UFG PUC GOIÁS Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Goiás UEG Centro Universitário de Goiás - Uni-ANHANGUERA SINDICATO DOS TRABALHADORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS EM EDUCAÇÃO BIOCAP - Laboratório Instituto Federal Goiano

Realização

ABQ ABQ Goiás