Atividades experimentais como recurso para o ensino de surdos

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ensino de Química

Autores

Longhin, S.R. (PUC GOIÁS/IFG) ; Marques, A.N.L. (SEDUCGO)

Resumo

Esta pesquisa aborda a aprendizagem de conceitos básicos por alunos surdos, em uma turma do 9º ano, por meio de atividades experimentais (AE) em uma perspectiva bilíngue. A dificuldade frente à internalização de conceitos científicos pode ser compreendida pela própria historicidade educacional, assim como pelo nível de abstração que envolve o ensino de química, a carência de sinais específicos e aulas que não respeitam a identidade e cultura surda. As filmagens e a análise das atividades na forma escrita propostas a partir das AE sobre o tema estados físicos da matéria, possibilitaram a confirmação da aprendizagem. Os resultados mostraram que as sequências das AE realizadas consolidaram os conceitos de sólido e liquido inicialmente e possibilitaram o entendimento do estado gasoso.

Palavras chaves

ensino para surdos; bilinguismo; atividades experimentais

Introdução

A história da educação de surdos passa pela Revelação Cultural (Escola de Paris), pelo isolamento cultural (oralismo, Congresso de Milão) e pelo Despertar Cultural (retorno a Língua de Sinais como meio de comunicação e instrução) (STROBEL, 2009). A dificuldade no ensino de surdos deve-se a formação de professores, apesar da obrigatoriedade da disciplina de Libras regulamentada por lei (10.436/2002). Para que a educação de surdos sustentada no bilinguismo se efetive é necessário o estudo da cultura surda e o respeito à sua língua, Libras. A pedagogia visual que tem no signo seu maior aliado (CAMPELLO, 2008) e se constitui no novo paradigma à educação de surdos. De acordo com Silva et al. (2011) as atividades experimentais buscam a solução de uma questão que será respondida pela realização de uma ou mais experiências. As atividades experimentais para o ensino de surdos devem basear-se na prática visual, em um ambiente de aprendizagem intermediado pela visão, tato e olfato. Ferreira et al. (2014) mostra que poucas pesquisas relacionam a experimentação no ensino de química para surdos. O objetivo desta pesquisa foi analisar a aprendizagem de conceitos básicos por alunos surdos.

Material e métodos

A pesquisa foi desenvolvida por meio de atividades experimentais (AE), todas promovidas no ambiente natural do aluno, utilizando como recurso a pedagogia visual em um contexto bilíngue. Esta se enquadra como exploratório- qualitativa de natureza participante pelo fato das pesquisadoras realizarem a observação dos fenômenos compartilhando a vivência dos sujeitos pesquisados, interagindo com eles em todas as situações e por apresentar uma visão hermenêutica. A pesquisa foi desenvolvida no Centro Especial Elysio Campos, em turma do 9º ano, com encontros semanais, sendo a turma composta de nove alunos surdos, sem outros comprometimentos associados. As atividades, todas filmadas, constituíram-se de aulas experimentais sobre estados físicos da matéria, sólido, líquido e gasoso, avaliadas posteriormente na forma escrita. Como material de apoio utilizamos o projeto de Ensino de Química para 2º grau de Mason et al.(1988), o livro Aprendendo Química de Romanelli e Justi (2006), as Sequências Didáticas - Convite à Ação de Ciências da Secretaria de Estado da Educação de Goiás, Programa de Reorientação Curricular (2010) e o Guião Didactico (2008) (Ministério da Educação e Ciência de Portugal).

Resultado e discussão

As AE foram: 1ª envelope mágico (recurso para trabalhar o conhecimento prévio a partir de imagens cotidianas); 2ª classificação de materiais sólidos e líquidos utilizando objetos físicos; 3ª mudança de estados físicos (parafina e naftalina) com a variação da temperatura (fusão/solidificação); 4ª estado gasoso a partir da reação Ba(OH)2(aq) e CO2(g) (ar dos pulmões) e do C2H4O2(aq) e NaHCO3(s) e a 5ª foi a reação entre Al(s) e HCl(aq), exotérmica, gerando H2(g). A filmagem avaliou o conhecimento expresso em Libras e a escrita a aprendizagem. Verificamos a internalização do conceito de sólido por meio da associação das palavras “duro”, “quebra” e “pega” e a de líquido por “mole”, “não pega”, “não quebra” e “dentro”. As reações com formação de gases foi importante, assim que o balão encheu a turma se mostrou apreensiva e curiosa, querendo tocar na proveta para sentir o calor, um aluno questionou (SIC): “Como quente? Não tem fogo?”, então explicamos os processos exotérmicos. Quanto a percepção sobre o que havia dentro dos balões, todos responderam “gás”, quanto a diferença, ao realizarmos o teste de explosão, entenderam, como se constatou pela descrição “transformou”.

Conclusões

Os estados físicos da matéria como contexto possibilitam a utilização de ferramentas mediadoras com atividades práticas de caráter experimental/visual e a identificação de sinais que permeiam o conhecimento. Os alunos compreenderam os diferentes estados da matéria e principalmente que gás não apresenta forma definida. A existência de diferentes de gases, mesmo aparentemente igual, foi entendida pela reação de explosão. A sequência das AE realizadas consolidaram os conceitos de sólido e liquido inicialmente e possibilitaram o entendimento do estado gasoso.

Agradecimentos

Colégio Elysio Campos, SEDUCGO, IFG campus Jataí, PUC Goiás

Referências

BRASIL, Lei Federal n. 10.436 de 24 de abril de 2002. Reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais e da outras providencias, Brasília, 2002.
CAMPELLO, Ana Regina e Souza. Pedagogia visual na educação de surdos-mudos. 2008. 169 f. Tese (Doutorado) - Curso de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
FERREIRA, Wendel Menezes; NASCIMENTO, Sandra Patrícia de Faria do; PITANGA, Ângelo Francklin. Dez Anos da Lei da Libras: Um Conspecto dos Estudos Publicados nos Últimos 10 Anos nos Anais das Reuniões da Sociedade Brasileira de Química. Química Nova na Escola, São Paulo, v. 36, n. 3, p.185-193, ago. 2014.
Guião didáctico para professores: Ensino Experimental das Ciências, Martins, Isabel P. et al.,Ministério da Educação, Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular, Portugal, 2008.
MASON, Antonieta Bianchi et al. PROQUIM: projeto de ensino para o 2º grau. Campinas. 1988.
Reorientação Curricular do 1º ao 9º ano: Currículo em debate-Goiás: Sequências didáticas: convite à ação: Ciências, Goiânia: Poligráfica, 2010.
ROMANELLI, Lilavate Izapovitz; JUSTI, Rosária da Silva. Aprendendo química. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2006.
SILVA, R. R., MACHADO, P. F. L. e TUNES, E. Experimentar sem medo de errar in SANTOS, W. L. P. e MALDANER, O. A. (Orgs.), Ensino de Química em Foco, UNIJUÍ, Ijuí, 2010. p. 231-261.
STROBEL, Karin. História da Educação de Surdos. Florianópolis: Letras/Libras UFSC, 2009.

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