O CONHECIMENTO POPULAR SOBRE A MANUFATURA DE SABÃO CASEIRO NA CIDADE DE LUZIÂNIA: POSSIBILIDADES DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA EM UMA ABORDAGEM CTS

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Ensino de Química

Autores

Silva, A. (IFG/UNB)

Resumo

Desenvolvido no âmbito do PIBIC-CNPq-EM/IFG por estudantes e professor de Química, apresenta-se aqui alguns resultados de uma investigação que discutiu conhecimentos químicos presentes no cotidiano e ao mesmo tempo objeto de conhecimento escolar da educação básica e suas implicações socioambientais. Nesse sentido, investigou-se o fabrico de sabão caseio a partir de óleo de frituras, que se apresentou como uma prática comum na região, por motivações que foram (re)significadas pelos envolvidos ao demonstrarem tomada de consciência da importância ambiental dessa prática. Vislumbrou-se naquela oportunidade a possibilidade de discutir durante a pesquisa os conhecimentos químicos que subsidiam a prática empírica com motivação no movimento Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS)

Palavras chaves

Educação CTS; Questões Sócio-científica; Conhecimento Popular

Introdução

O presente trabalho relata uma experiência vivida no câmpus IFG da cidade de Luziânia-GO, e é fruto de um debate entre a comunidade vizinha da instituição, os principais estabelecimentos comerciais do ramo de alimentação situados nos bairros mais centrais da cidade e a comunidade acadêmica. Este trabalho, conduzido pelo professor de Química dos cursos Tecnico Integrado ao Ensino Médio em Química e Mecânica Industrial naquela época, se tornou hoje uma das principais atividades de extensão do câmpus, um projeto denominado OFICINA DE SABÃO-IFG/LUZIÂNIA. Com objetivo de aprofundar nas negociações de objetos de conhecimento do currículo de química envolvendo temas sociais e ambientais, com vistas em valorizar os conhecimentos populares dos moradores daquela microrregião onde se encontra a sede o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás Câmpus Luziânia. Segundo Chassot (2001) há uma necessidade latente na educação brasileira de se resgatar a Química nos saberes populares, o que em nossa opinião, tornaria esta ciência mais instigante para todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Adotamos neste artigo a ideia de educação científica defendida em Santos (2011) quando voltada para a formação para a cidadania com propósitos coincidentes com o movimento Ciencia-Tecnologia- Sociedade (CTS), e concordamos com Vilches, Péres e Praia (2011), que ao se defender uma necessária tomada de consciência dos problemas socioambientais que assolam nosso planeta, esses autores citam uma “convergência que tem levado a falar do movimento CTSA – adicionando a letra A de ambiente a CTS – e de Educação Ambiental para a Sustentabilidade” (p. 162-163).

Material e métodos

Verificou-se na revisão bibliográfica (CASTELLANELLI, 2008; CERQUEIRA, 2008; PINHEIRO, P; GIORDAN, M. 2010; RABELO, 2008; REDA, S. Y. CARNEIRO, P. I. B.; 2007.) que configuram formas incorretas de descarte dos resíduos de fritura: (1) o descarte direto nos ralos das pias; (2) nos vasos sanitários; (3) derramamento no fundo do quintal direto no solo; (4) o óleo de fritura velho é acondicionado em garrafas PET e deixados para que o sistema de coleta de lixo urbano lancem direto em lixões ou em aterros sanitários. Por outro lado, pesquisas apontaram como uma viável solução para os restos de fritura a produção de sabão direta ou indiretamente, neste ultimo caso, quando vendido ou doado para este fim. Nesse sentido, ao consideramos o fabrico de sabão caseiro uma forma prática e viável de se reutilizar/reciclar o óleo de fritura, primamos por incentivar o diálogo entre os estudantes/pesquisadores e a comunidade escolar, no âmbito do projeto de pesquisa, utilizando o projeto como ferramenta de capacitação e conscientização de agentes sociais com valores socioambientais. Nesse sentido, os pesquisadores: (1) diagnosticaram as praticas de descarte do óleo de fritura em estabelecimentos do ramo alimentício na cidade; (2) entrevistaram agentes sociais da comunidade que dominavam a manufatura de sabão caseiro; (3) reproduziram as “fórmulas/receitas caseiras” coletadas na pesquisa propondo melhorias e relacionando procedimentos de segurança devolvendo os resultados aos agentes sociais e (4) os estudantes promoveram oficinas de sabão divulgando resultados e motivando a produção de sabão nas residências. Dessa forma, propôs-se dois questionários semiestruturados, o primeiro, aplicado com cozinheiros de doze restaurantes de Luziânia e o segundo abordando pessoas que faziam sabão.

Resultado e discussão

Os dados adquiridos nos estabelecimentos comerciais de alimento da cidade de Luziânia indicaram sobre o descarte de óleos (sebo ou banha) utilizados no preparo de alimentos fritos que: 3/4 dos comerciantes reutilizam o óleo de fritura ou dão algum destino que se pode julgar correto para estes resíduos; 73% dos estabelecimentos utilizam o óleo de fritura para fazer sabão ou doam para alguma empresa de reciclagem; 18% reutiliza o óleo de fritura para fazer farofa ou na mistura dos restos de alimentos dados a suínos. O roteiro de entrevista aplicado com os indivíduos que fazem o sabão caseiro, por ter sido criado com o objetivo de dar ao entrevistado total liberdade para manifestar as suas opiniões sobre a temática da pesquisa apresentou flexibilidade para avaliar o comportamento e as respostas dos entrevistados, possibilitando coletar sete receitas diferentes, que variavam desde as proporções entre (a) Litros de óleo de fritura ou Kg de sebo/banha animal e (b) Kg de soda (variações de 3:1 a 7:1). Foi possível identificar também variações nos procedimentos e componentes da mistura. Essas variações trouxeram alguns inconvenientes para os estudantes, principalmente quando revisitaram os pesquisados e fizeram o diálogo de retorno, mesmo assim, nesta etapa da pesquisa foi possível apontar possíveis causas de problemas, cuidados com os produtos químicos, acondicionamento destes produtos e dos sabões produzidos, cuidados com o manuseio com as devidas sugestões de utilização de EPI. Com isso, cumpriu-se a contextualização de conteúdos (BRASIL, 1999), e promoveu-se uma Educação em Química que possibilitou aos estudantes desenvolverem competências em “conversar, discutir, ler e escrever coerentemente em um contexto não-tecnico, mas de forma significativa” (SANTOS, 2007, p. 479).

Retorno aos práticos

Foto do retorno aos entrevistados, após pesquisadores trabalharem com suas receitas, também orientou sobre riscos e necessidade de EPI

Oficina de Sabão

Semana do meio ambiente em São Sebastião evento promovido pelo IFB/IFG/FE-UnB em 2015.

Conclusões

Na cidade de Luziânia muitos moradores já fabricam sabão ou doam o óleo para esse fim, não podemos afirmar que esse fato está totalmente associado com a consciência ambiental que defendemos nas oficinas ou se é motivado pelos benefícios econômicos que o sabão caseiro traz. Da mesma forma, os estabelecimentos comerciais do ramo de alimentação visitados, apontaram para um descarte ambientalmente viável dos resíduos de fritura. Esses dados, quando apresentados nas oficinas de sabão, motivaram reflexão e mudança de postura quanto ao descarte do óleo de fritura corroborando com o movimento CTS.

Agradecimentos

AGRADECIMENTOS: PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UNB - PPGE/UNB INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DE GOIÁS - IFG CNPQ.

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf> Acesso em: 04 jun.2014.

CASTELLANELLI, C. A. Estudo da Viabilidade de Produção do Biodiesel, obtido através do óleo de fritura usado, na cidade de Santa Maria – RS. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSM. Santa Maria, 2008. 111p.

CERQUEIRA, E. B.; SANTOS, M. A. dos. A Importância da Educação Ambiental e a Reutilização do Óleo de Fritura na Região de Campinas (Goiânia/GO). Monografia (Especialização em Gestão Ambiental) Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Universidade Estadual de Goiás - Câmpus Morrinhos. UEG, 2008, Morrinhos-GO.

CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Ijuí: Unijuí, 2ª ed. 2001, 438 p.

PINHEIRO, P; GIORDAN, M. O Preparo do sabão de cinzas em Minas Gerais, Brasil: Do status de etnociência à sua mediação para sala de aula utilizando um sistema hipermídia etnográfico. Investigações em Ensino de Ciências – V15(2). P. 355-383. 2010

RABELO, R. A.; FERREIRA, O. M. Coleta Seletiva de Óleo Residual de Fritura para Aproveitamento Industrial. Departamento de Engenharia Ambiental – UCG, N° 1, p. 1 a 21. Jun. 2008.

SANTOS, W. L. P. Educação científica na perspectiva de letramento como prática social: funções, princípios e desafios. Rev. Bras. Educ. [periódico na Internet]. 2007. V.12. nº 36. p. 474-550. Disponível em: www.scielo.br

SANTOS, W. L. P. Significado da educação científica com enfoque CTS. Em: Wildson Luiz Pereira dos Santos; Décio Auler. (Org.). CTS e educação científica: desafios, tendências e resultados de pesquisas. 1ª ed. Brasília. Editora Universidade de Brasilia. 2011. v.1, p. 21-47.

VILCHES, A.; PÉREZ, D. G.; PRAIA, J. De CTS a CTSA: educação por um futuro sustentável. Em: Wildson Luiz Pereira dos Santos; Décio Auler. (Org.). CTS e educação científica: desafios, tendências e resultados de pesquisas. 1ª ed. Brasília. Editora Universidade de Brasília. 2011. v.1, p. 161-240.

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