AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE CHÁS DO FITOTERÁPICO CAMOMILA (CHAMOMILLA RECUTITA (L.) RAUSCHERT) COMERCIALIZADO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM, PARÁ, BRASIL

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Produtos Naturais

Autores

Cardoso Pinho, A. (UFRA) ; Pantoja Caxias da Silva, B.P. (UFRA) ; Maciel Silva, E.R. (UFRA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA)

Resumo

A camomila é uma planta medicinal utilizada com propósitos terapêuticos há séculos. O objetivo deste trabalho foi iniciar um programa de avaliação da qualidade de plantas regionais classificadas como fitoterápicas, escolhendo para a análise a camomila (Chamomilla recutita (L). Rauschert). Foram adquiridas amostras de sache para preparação de chá de camomila, de 3 marcas diferentes, comercializadas na região metropolitana de Belém, nas quais foram determinados os valores de pH, condutividade elétrica (CE), o teor de extrativos em água (TE) e a densidade relativa (g.mL-1) a 20 ºC. Foi possível observar que as amostras, dependendo da marca, apresentam características físico-químicas distintas que podem estar associadas à região de procedência, fabricação, armazenamento, preparo etc.

Palavras chaves

planta medicinal; infusão; controle de qualidade

Introdução

Desde as duas últimas décadas do século XX, o mundo reclama cada vez mais por produtos naturais, tanto para uso alimentício como para produtos medicinais, cosméticos e de perfumaria (STEFFENS, 2010). A camomila é uma planta medicinal utilizada com propósitos terapêuticos há séculos. Atualmente, é empregada tanto na medicina científica como na popular para inúmeras alterações (ROSS, 2008; SRIVASTAVA et al., 2010). Foi incluída, 1982, na Farmacopeia Alemã, e, devido à sua importância terapêutica, atualmente está incluída nas Farmacopeias de quase todos os países (LORENZI; MATOS, 2002; FRANKE; SHILCHER, 2005; ROSS, 2008). Sendo a variedade alemã (Chamomilla recutita) a mais popular e que vem sendo empregada em um maior número de pesquisas, devido suas propriedades medicinais mais potentes (BRAGA, 2011).A atividade de farmacovigilância no país é praticamente inexistente para os fitoterápicos, reforçando a necessidade urgente de um controle mais rigoroso que vise assegurar a qualidade, a segurança e a eficácia desses produtos (SANTOS et al., 1995; ZAUPA et al., 2000). No Brasil o uso de plantas medicinais como base no tratamento de doenças é muito grande, devido a forte tradição cultural, os preços acessíveis, grande oferta e facilidade de obtenção. Nesse contexto verifica-se a importância do controle físico-químico da qualidade, que engloba desde a identificação botânica da planta até os ensaios de pureza e sujidade (WHO, 1998; FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988; GARCIA et al., 2004). Assim, o objetivo deste trabalho é iniciar um programa de avaliação da qualidade de plantas regionais classificadas como fitoterápicas comercializadas na região metropolitana de Belém, escolhendo para a análise a camomila (Chamomilla recutita (L). Rauschert).

Material e métodos

Foram adquiridas caixas de sache de camomila para a preparação de chá em mercados diferentes na região metropolitana de Belém e foram levadas até o Laboratório de Físico-Química, do Centro de Tecnologia Agropecuária (CTA) da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). No laboratório, o material foi armazenado ao abrigo da luz, umidade, insetos e roedores, até o momento de análise. As amostras foram codificadas segundo a marca (A, B ou C) e, em seguida, conforme o mercado (1, 2 ou 3). Os medicamentos fitoterápicos consistem basicamente de produtos obtidos da extração das drogas vegetais. Esses produtos podem ser preparados a partir de chás. Os processos extrativos podem ser efetivados por meio da infusão e decocção no caso de chás medicinais (BRANDÃO, 2007). Para a extração das drogas vegetais foram preparados chás através de infusões que consistiram em verter água fervente sobre o sache contendo o material botânico em um erlenmeyer, o recipiente foi tampado e esperou-se resfriar (10 a 15 minutos), em seguida, coou-se o líquido em papel de filtro qualitativo. Nas amostras de chás de camomila foram determinados: pH através de imersão direta do eletrodo de vidro de um pHgâmetro de bancada da marca MS Tecnopon® modelo Mpa210; condutividade elétrica (CE) através da imersão direta do eletrodo de um condutivímetro da marca LUTRON® modelo CD-4301, os resultados foram expressos em miliSiemens por centímetro (mS.cm-1); o teor de extrativos em água (TE) através de metodologia descrita pela Farmacopeia Brasileira (2010); e densidade relativa (g.mL-1) a 20 ºC através de picnômetro, determinada pelo método descrito pelo Instituto Adolfo Lutz (2008). Todas as análises foram realizadas em triplicata e as médias foram comparadas utilizando o teste de Tukey com 95% de probabilidade.

Resultado e discussão

Os resultados do teste de Tukey com intervalo de confiança de 95% (Tabela 1) demonstram que para os parâmetros pH e condutividade elétrica as médias são estatisticamente diferentes entre as marcas A e B/C. As médias do teor de extrativos são estatisticamente diferentes entre as marcas A e C, mas não entre as marcas A e B. Por fim, as médias da densidade relativa não são estatisticamente diferentes entre as marcas analisadas. Os valores de pH das amostras de chá de camomila das diferentes marcas apresentaram-se levemente ácidos, faixa entre 5,3 a 6,0. Segundo Longhini et al. (2007), este dado é fundamental no processo de extração, pois o valor do pH é responsável por selecionar e determinar as substâncias a serem extraídas, de acordo com suas características químicas e polaridade. O valor de CE indica a concentração das espécies iônicas. As amostras da marca “A” apresentam valores maiores de CE em relação às marcas “B” e “C”. Os resultados indicam um maior teor de espécies iônicas no chá da marca “A”. É necessário um estudo qualitativo para identificação dos cátions e ânions presentes. O percentual de teor de extrativos tem o objetivo de avaliar a quantidade de substâncias extraíveis, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1998). A marca “A” apresentou os maiores teores. É possível relacionar o maior TE e maior CE nas amostras da marca “A”. A densidade relativa a 20 ºC não apresentou diferenças significativas entre as marcas. A aplicação da análise hierárquica de agrupamentos aos dados obtidos gerou a Figura 1, onde é possível perceber a formação de dois grupos distintos (0% de similaridade). Um grupo formado somente pela marca “A” e um grupo formado pelas marcas “B” e “C”, dividido em dois subgrupos mistos com similaridade de 44,18%.

Tabela 1. Valores de média e desvio-padrão do teor de extrativos (em %

Médias que não dividem a mesma letra, em uma coluna, são significativamente diferentes via teste de Tukey (p<0,05).

Figura 1. Dendograma das médias dos parâmetros físico – químico das am

Os números 1, 2 e 3 indicam as marcas estudadas.

Conclusões

É possível observar que as amostras, dependendo da marca, apresentam características distintas que podem estar associadas à região de procedência, fabricação, armazenamento, preparo etc. No geral, os chá apresentam-se levemente ácidos, com presença de íons (indicando minerais presentes), presença de substâncias extraíveis (como aminoácidos, açúcares, heterosídeos flavoídicos e mucilagens) e densidade uniforme. A falta de legislação específica para a qualidade de chás de plantas medicinais, entre elas a camomila, dificulta o trabalho de avaliação da qualidade deste tipo de produto.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Centro de Tecnologia Agropecuária (CTA), a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e a Universidade Federal do Pará (UFPA).

Referências

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FARMACOPÉIA BRASILEIRA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. São Paulo: Atheneu, 4º ed., v. 1, 1988.
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