ESTUDO FITOQUÍMICO, ATIVIDADE ANTICOLINESTERÁSICA E TOXICIDADE FRENTE À Artemia salina DA FRAÇÃO ACETATO DO LÁTEX DE Calotropis procera (Ait.) (APOCYNACEAE).

ISBN 978-85-85905-15-6

Área

Produtos Naturais

Autores

Cavalcante, G.S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Liberato, H.R. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Rodrigues, A.L.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Martins, V.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Câmara Neto, J.F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Morais, S.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

Calotropis procera, conhecida como ciúme, hortência ou flor-de-seda tem sido utilizada na medicina popular com diversas finalidades. O presente trabalho objetivou realizar a prospecção fitoquímica da fração acetato do látex de Calotropis procera (FALCP), avaliar sua atividade antiacetilcolinesterase e a toxicidade frente ao microcrustáceo Artemia salina. Realizou-se um estudo fitoquímico, o qual revelou a presença de esteróides flavonas e/ou xantonas. A FALCP apresentou moderadas atividade antiacetilcolinesterase e toxicidade frente a Artemia salina, confirmando o potencial farmacológico da espécie e sugerindo a realização de estudos complementares.

Palavras chaves

flor-de-seda; acetilcolinesterase; bioatividade

Introdução

Calotropis procera, conhecida popularmente como ciúme, hortênsia ou flor-de-seda, entre outros, é um arbusto de crescimento rápido, originário da Ásia e África ocidental, que produz grande quantidade de látex (RANGEL; NASCIMENTO, 2011). Na medicina popular, o látex desta espécie é utilizado como um purgante e as flores como digestivo, essas também apresentam efeito antiasmático. A casca da raiz é utilizada no tratamento de doenças de pele, alargamento das vísceras abdominais, vermes intestinais e ascite (KHAN; MALIK, 1989). Calotropis procera contém glicosídeos cardíacos, como calotropina e proceragenina (ELGAMAL et al., 1999); triterpenos como calotroposterol e taraxasterol (IBRAHIM et al., 2012); esteroides como procesterol e acetato de calotropenil (CHUNDATTU et al., 2011) e flavonoides como isorhamnetina e kampferol (NENAAH, 2013). Tais metabólitos conferem um amplo perfil farmacológico a esta espécie, tornando-a potencial para o desenvolvimento de novas drogas (SILVA et al., 2010). A busca por plantas que apresentem compostos inibidores da acetilcolinesterase (AChE) intensificou-se afim de sugerir sua aplicação terapêutica na doença de Alzheimer. Mais de 35 alcalóides, entre eles a fisostigmina e galantamina, têm sido referidos apresentando essa atividade inibidora, entretanto, outras classes de compostos também foram relatados, como os terpenóides, glicosídeos e cumarinas (MUKHERJEE et al., 2007). Nesse contexto, objetivou-se realizar a prospecção fitoquímica da fração acetato do látex de C. procera, assim como avaliar seu potencial inibidor da enzima acetilcolinesterase e sua toxicidade frente à Artemia salina. Este último teste é considerado indicador da bioatividade frente a espécies de Leishmania ou células cancerígenas (BARBOSA et al., 2009).

Material e métodos

O látex de Calotropis procera foi coletado no município de Fortaleza, Ceará. A excisão do látex ocorreu mediante injúrias no ápice vegetativo e nó das folhas, o qual após coletado, foi congelado para posterior liofilização. O látex liofilizado foi submetido a lavagens com acetato de etila sob agitação constante. Em seguida, filtrou-se e submeteu-se o extrato à evaporação rotativa para retirada do solvente, obtendo-se assim, a fração acetato do látex de C. procera (FALCP). A prospecção fitoquímica, visando identificar metabólitos secundários da FALCP, seguiu a metodologia de Matos (1988), o qual propõe ensaios com formação de compostos coloridos e/ou formação de precipitado. A avaliação da atividade inibitória da enzima acetilcolinesterase (AChE), foi efetuada de acordo com o ensaio enzimático descrito por Ellman et al. (1961) e adaptado para cromatografia em camada delgada por Rhee et al. (2001). O Teste foi realizado em duplicata e o utilizou-se fisostigmina como padrão. O teste de toxicidade frente a Artemia salina foi realizado conforme descrito por Barbosa et al. (2009). Utilizou-se dicromato de potássio como droga padrão e o teste foi realizado em triplicata. Calculou-se a concentração letal que elimina 50% do número de náuplios, considerando-se tóxicos valores de CL50 < 1000 µg/mL.

Resultado e discussão

A FALCP apresentou rendimento de 26,5% em relação ao látex liofilizado. Os testes fitoquímicos indicaram a presença de esteroides, xantonas e/ou flavonas. Concordando com Brito et al. (2010), o qual trabalhando com as frações hexano, acetato de etila, metanol e aquosa, identificaram além de esteroides e alcaloides, a presença de xantonas, flavonas, flavonóis e flavonononas nas frações mais polares. Em relação ao teste de toxicidade frente a Artemia salina, a FALCP apresentou-se moderamente tóxica, obtevendo-se CL50 = 482,8 ± 21,9 µg/mL, enquanto o padrão dicromato de potássio apresentou CL50 = 11,01 ± 0,33 µg/mL. Esses dados nos permitem inferir também a bioatividade dos compostos presentes na fração em estudo, pois além de ser usada como teste de toxicidade preliminar, A. salina tem sido considerada um organismo alvo para detectar compostos bioativos em extratos de plantas (Alves et al. 2000). Diversos estudos têm correlacionado a toxicidade a esse microcrustáceo com atividades biológicas como, citotóxica, antileishmanial e anti - Trypanossoma cruzi (HOCAYEN et al., 2012) No teste de inibição da enzima acetilcolinesterase, FALCP apresentou halo de inibição de 7mm, resultado próximo ao apresentado pela fisostigmina (9mm), substância padrão. O teste de inibição da AChE é utilizado como estratégia para buscar novos compostos para o tratamento de distúrbios neurológicos como demência senil, ataxia, miastenia grave, doença de Alzheimer e doença de Parkinson. Os compostos de FALCP demonstraram atividade inibidora moderada, necessitando de avaliação mais aprofundada dos compostos bioativos.

Conclusões

A fração acetato do látex de Calotropis procera (FALCP) apresentou esteroides, xantonas e/ou flavonas, através dos testes fitoquímicos; toxicidade moderada frente à A. salina e moderada atividade anticolinesterase. Assim, faz-se necessária a realização de estudos adicionais que visam a identificação das substâncias bioativas de FALCP, assim como estudos correlacionados a bioatividade indicada pelo teste com A. salina.

Agradecimentos

Ao CNPQ

Referências

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