Estudo químico e avaliação de atividades biológicas da espécie Phanera glabra (Jacq.) Vaz

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Química Orgânica

Autores

Guerra, L.O. (UFPA) ; Cabral, R.N.M.A. (UFPA) ; Santos, J.P. (UEPA) ; Moraes, S.C.F. (UEPA) ; Brigido, H.P.C. (UFPA) ; Guilhom, G.M.S.P. (UFPA) ; Cantanhede-filho, A.J. (IFMA) ; Santos, L.S. (UFPA)

Resumo

A espécie vegetal Phanera glabra é conhecida popularmente por cipó-escada. Esta espécie possui diversas indicações populares e poucos estudos científicos. Assim, o objetivo principal deste trabalho foi o de investigar e isolar as substâncias químicas com atividades biológicas presentes na espécies Phanera glabra, através da aplicação da metabolômica com técnicas de separação. Do extrato acetato de etila do caule de P. glabra foi obtido um éster derivado do ácido p-cumárico (S1). Os extratos brutos hexânico, acetato de etila e metanólico foram avaliados em bioensaios antimicrobiano frente a Escherichia coli e Staphylococcus aureus. Os extratos em acetato de etila e metanólico inibiram de forma moderada Staphylococcus aureus.

Palavras chaves

Phanera glabra; bactericida; Staphyloccocus aureus

Introdução

Dentre as inúmeras famílias de plantas amplamente estudadas que apresentam diversas atividades biológicas está à família Leguminosae (Fabaceae), onde encontra-se o gênero Phanera formado por cerca de 150 espécies, sendo no Brasil o gênero amplamente distribuído nos mais diversos biomas (BANDYOPADHYAY et al., 2012). Phanera glabra conhecida como cipó escada é usada popularmente para diversas doenças, entre elas para tratamento de diabetes e inflamação, sendo do ponto de vista fitoquímico pouco estudada (SANTOS et al., 2011). As plantas medicinais têm sido uma rica fonte para obtenção de moléculas biologicamente ativas com fins terapêuticos. O interesse da pesquisa nessa área tem aumentado ano após anos, havendo diversos projetos de pesquisas financiados por órgãos públicos e privados, mas ainda grande parte das plantas nativas brasileiras não têm sido estudas. Neste cenário, a OMS (Organização Mundial de Saúde) revela que, aproximadamente 80% da população mundial dependem das práticas tradicionais no que se refere à atenção primária à saúde, e 85% dessa parcela utiliza plantas ou preparações à base de vegetais. Apesar do grande avanço da medicina alopática, a partir do século XX, existem obstáculos básicos na sua utilização pelas populações carentes, que vão desde o acesso aos centros de atendimento hospitalares à obtenção de exames e medicamentos (VEIGA JÚNIOR et al., 2005; ALVES et al., 2007; AZEVEDO & SILVA, 2006). Tais motivos, associados com a fácil obtenção e a grande tradição do uso de plantas medicinais, contribuem para a disseminação de seu uso, tornando-se às vezes, nos municípios interiores dos estados, a única fonte de medicamentos, principalmente nos locais mais isolados e distantes. Desta forma, acredita-se que o trabalho em conjunto com a medicina popular unindo-se com o conhecimento científico poderá acrescentar resultados significativos na busca pela cura de diversas doenças, tendo em vista que o desenvolvimento de pesquisas científicas acarreta nas descobertas de medicamentos a partir de vegetais que representa uma das formas de evolução da ciência. O desenvolvimento da etnofarmacologia, da farmacologia experimental e da química de produtos naturais levou ao isolamento, à determinação de estruturas, e identificação do mecanismo de ação de princípios ativos e substâncias como: atropina e hioscina (antiespasmódicos), colchicina (anti-reumático), digital (cardiotônico), ópio (modelo de potentes analgésicos), metformina (antidiabético), pilocarpina (antiglaucoma), salicilatos (analgésicos e antiinflamatórios) e reserpina (hipotensor e sedativo)(RANGEL & BRAGANÇA, 2009). Campos (2014) comprovou moderada atividade antioxidante e antiinflamatória in vitro e in vivo de Phanera glabra, onde o autor descreve a necessidade em aprofundar os estudos relacionado a espécie. Considerando ainda, a crescente resistência das bactérias aos antimicrobianos, torna-se urgente a busca de novos fármacos, onde neste contexto, as plantas medicinais podem dar uma valiosa contribuição (CRAVO et. al., 2001). De modo geral as bactérias são as causadoras de diversas patologias e a gravidade depende de diversos fatores, entre eles a imunidade do hospedeiro, bactéria causadora e a resistência da bactéria aos antimicrobianos (TRABULSI et. al., 1999). Sendo assim, pesquisas cientificas em buscas de substâncias biologicamente ativas para tratamento de doenças e de inúmeras patologias (identificadas ou não) que afetam diariamente a população, torna-se cada vez mais necessário, dentro de um contexto de plantas medicinais tradicionalmente utilizadas pelas comunidades amazônicas que ainda não foram de nenhuma forma investigadas, ou no caso do presente estudo (P. glabra) pouco estudada. Assim, o objetivo deste trabalho foi investigar a atividade antimicrobiana de extratos e substâncias de Phanera glabra.

Material e métodos

A espécie em estudo foi coletada na Rodovia Transamazônica Km 175, Vicinal 49 (4°17'33.2"S 49°57'59.5"W) e identificada por parataxônomo da Embrapa Amazônia Oriental, onde uma exsicata de 192727 ficou catalogada em Herbário. O caule da planta foi seco em estufa e depois de seco, o caule foi triturado e moídas em moinho de facas resultando em 4 Kg de material. O material botânico foi extraído à temperatura ambiente por percolação seqüencialmente com hexano, acetato de etila e metanol. As soluções obtidas foram concentradas a vácuo. Os extratos foram pesados e reservados sob- refrigeração, obtendo-se 7 g do Extrato Bruto Hexânico, 26 g do Extrato Bruto Acetato de Etila e 229 g do Extrato Bruto Metanólico. O extrato acetato de etila (15 g) foi fracionado em coluna filtrante utilizando como eluentes misturas de hexano, acetato de etila e metanol em gradientes de polaridades crescentes, onde foram coletadas 16 alíquotas de 400 mL cada. As 16 alíquotas foram concentradas em evaporador rotativo e submetidas a análises por meio de cromatografia em camada delgada comparativa (CCDC). As alíquotas que apresentaram perfis cromatográficos semelhantes foram reunidas, dando origem a 10 frações.A fração 05 (300 mg) foi submetida ao processo de fracionamento por meio de cromatografia em coluna, obtendo-se 50 subfrações. Da subfração 49 (C2F49) com massa de 6 mg foi isolada S1. ForaRealizou-se testes de avaliação de atividade antimicrobiana dos extratos brutos. Pesou-se 8mg de cada amostra. Os testes foram realizados pelo método de difusão em Agar com discos (BAUER et al.,1966, KARTAL et al., 2003). Para preparar os inóculos dos microorganismos foram utilizadas cepas de Escherichia coli e Staphylococcus aureus; para o isolamento foram utilizadas colônias jovens, alíquotas de culturas ativas foram transferidas para placa de Agar Mueller Hinton e incubadas a 37º C por 24 h. Após o período de incubação selecionou-se de 3 a 4 colônias, transferindo-as para tubo estéril contendo 5 ml de solução salina(0,85%). A suspensão obtida para uso deveria atingir a turbidez correspondente 0,5 na escala de Mac-Farland. Cada suspensão de microrganismo foi semeada em triplicata com swab descartável, em toda a superfície de meio Agar Muller Hinton, em seguida foram adicionados os discos de papel impregnados com as soluções contendo os extratos. O ensaio é considerado válido quando é observada a presença de halo de inibição nos discos de controle positivo e ausência de inibição nos discos com controle negativo. No caso das amostras analisadas após incubação em estufa bacteriológica a 37º C por 24 h adotou-se os seguintes critérios para análise dos resultados: Sensível, isto é, a amostra foi considerada ativa, quando o diâmetro do halo é igual ou maior que o controle positivo; intermediário a amostra apresentou atividade moderada ou seja o halo está presente, porém seu diâmetro é menor que do controle; resistente a amostra foi considerada inativa.

Resultado e discussão

A substância S1 (6 mg), foi obtida por cromatografia em coluna, na forma de um sólido branco, oriundo da fração C2F49 do extrato bruto acetato de etila conforme descrito no ítem 1.6.5. O espectro de RMN 1H de S1 apresentou sinais referentes a dois dupletos em δH 6,30 ( J = 15,9 Hz, 1H) e δH 7,62 ( J = 15,9 Hz, 1H) caracterizando uma ligação dupla com configuração trans, além de outros dois dupletos em δH 6,83 ( 2H, d, J = 8,7 Hz) e δH 7,43 (2H, d, J = 8,7 Hz) característico de um sistema aromático dissubstítuido AA´ BB´. Foram ainda observado os seguintes sinais: em δH 4,18 (t, J = 6,6 Hz, 2H) característico dos hidrogênio do CH2 do fragmento O-CH2-CH2; em δH 1,25 (sl) correspondendo a várias unidades CH2; e em δH 0,88 (t, J = 6,3 Hz, 3H) característico de metila alifática. No espectro de RMN 13C de S1 observa-se um sinal típico de carbono de carbonila de éster α,β-insaturada em δC 167,50. Na região dos carbonos aromáticos observa-se um sinal de carbono em δC 157,75 típico de carbono oxidado, além dos sinais em δC 144,17, 129,90, 115,83 e 114,92, sendo que os sinais em δC 129,90 e 115,83 são característicos de carbonos equivalentes devido à intensidade desses sinais. Em δC 64,64 observa-se um sinal típico do fragmento O-CH2-. Observa-se ainda, diversos sinais entre δC 29,69-23,07 típicos de sinais das unidades de CH2, além do sinal em δC 14,10 que indica a presença de um grupamento alquila linear de cadeia longa. Nos bioensaios realizados, os extratos brutos hexânico, acetato de etila e metanólico não inibiram o crescimento de E. coli. No entanto, os extratos brutos acetato de etila e metánolico foram moderadamente ativo na inibição de S. aureus, e o hexânico não inibiu essa bactéria. Assim, verifica-se o moderado potencial barctericida frente Staphylococcus aureus dos extratos acetato de etila e metanolico de Phanera glabara. No entanto para melhor compreensão da ação bactericida desses extratos é necessário a realização dos testes de microdiluição com o intuito de determinar a concentração inibitória mínima.

Conclusões

A partir do estudo químico dos extratos de Phanera glabra foi possível identificar a substância S1 como provavelmente o p-cumarato de alquila oriunda do extrato bruto acetato de etila. Quanto a atividade biológica, verificou-se que os extratos acetato de etila e metanólico de Phanera glabra possui potencial moderado contra Staphylococcus aureus, e nenhum dos extratos da planta possui atividade contra Escherichia coli. Esses resultados preliminares sugerem maior estudo dos extratos bem como frações e substâncias de Phanera glabra para melhor compreensão da ação bactericida, bem como verificação da atividade frente a outras espécies de bactérias e verificação de ação fungicida.

Agradecimentos

À CAPES e ao CNPq pelo auxílio financeiro, e à Universidade Federal do Pará pelo apoio à realização deste trabalho.

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