CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA TORTA RESULTANTE DO PROCESSAMENTO DA AMÊNDOA DO DENDÊ (Elaeis guineensis Jacq.)

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Alimentos

Autores

Costa, W.A. (UFPA) ; Bezerra, F.W.F. (UFPA) ; Santos, A.P.M. (UFPA) ; Cordeiro, R.M. (UFPA) ; Tuma, J.C. (UFPA) ; Pinto, R.H.H. (UFPA) ; Oliveira, M.S. (UFPA) ; Carvalho Jr, R.N. (UFPA)

Resumo

A alimentação dos animais representa o maior custo da atividade pecuária. Visando esta problemática, vários subprodutos originados de processamentos nas indústrias apresentam potencial de uso como fonte alimentar. Este trabalho teve por objetivo avaliar fisico-quimicamente amostras de torta de palmiste - amêndoas de dendê (Elaeis guineensis Jacq.). Foram realizadas análises quanto aos teores de umidade, lipídeos, proteínas e fibras brutas. O teor de umidade foi de 7,1%, lipídeos 11,18%, proteínas 17,73%, cinzas 3,5% e fibras 15,62%. Os resultados demonstram que o resíduo de dendê é rico em proteínas, lipídeos e fibras, o que o caracteriza como uma potencial fonte de alimentação animal, de baixo custo.

Palavras chaves

Resíduo ; Palmiste; Análises

Introdução

A alimentação dos animais representa o maior custo da atividade pecuária, principalmente quando se usa fonte suplementar de alta qualidade nutricional como, por exemplo, o milho e o farelo de soja. Vários subprodutos originados de processamentos nas indústrias têm potencial de uso, na maioria dos casos, com reduções nos custos da produção (SILVA et al., 2006). A torta de palmiste é um subproduto resultante da extração do óleo da amêndoa do dendê ou palmiste. Usada quase que na sua totalidade na alimentação animal, principalmente de bovinos, possui alto conteúdo de fibra, teor de proteína bruta e digestibilidade da matéria orgânica. A torta de palmiste é bastante competitiva na alimentação animal, em virtude da quantidade de óleo residual que possui (ROSA, 2011). O Pará é o maior produtor de óleo de palma do Brasil, com atividades que correspondem a 95% da produção nacional, tendo várias empresas que o exploram industrialmente. Pode-se citar como exemplos a Biopalma da Amazônia S.A. que possui uma usina extratora de palma localizada no município de Moju – Pará, com capacidade de extração de 120 toneladas/hora de cachos de fruto fresco (CFF), o que representa cerca de 25 toneladas/hora de óleo; e a Agropalma S.A., que ocupa uma área total de 107 mil hectares, com fábricas de óleo bruto nos municípios de Tailândia, Moju, Acará e Tomé-Açu com capacidade de processar 320 toneladas de óleo bruto/dia, detendo 75% da produção nacional de óleo de palma e, uma refinaria e fábrica de gorduras localizadas em Belém (FURLAN JÚNIOR, 2006; FIEPA, 2014; ROSA, 2011). O processamento dos frutos do dendezeiro fornece, em média, os seguintes produtos e subprodutos: óleo de palma bruto, 20%; óleo de palmiste, 1,5%; torta de palmiste, 3,5%; engaços, 22%; fibras, 12%; cascas, 5% e efluentes líquidos, 50%. Esses materiais podem ser reciclados nas plantações como fontes de nutrientes, de energia em processos industriais ou para a manufatura de uma série de produtos (BARROS, 2013). Este trabalho teve como objetivo avaliar a composição físico-química da torta de palmiste proveniente da empresa Agropalma S.A., como possível fonte de alimentação animal.

Material e métodos

Para o estudo, foi utilizada a torta residual da prensagem industrial do palmiste mostrada na Figura 1, adquirida por meio da empresa Agropalma S. A. (Tailândia, PA, Brasil). Posteriormente, a matéria-prima foi transportada para o Laboratório de Extração (LABEX), localizado no prédio de Ciência, Tecnologia e Engenharia de Alimentos, da Universidade Federal do Pará, em Belém. 2.1 Pré-tratamento da matéria-prima A amostra foi seca em estufa de circulação de ar-forçado (FABBE, modelo 170, Brasil) a 60 °C por 24 horas. A moagem foi realizada na empresa incubada Amazon Dreams. O equipamento utilizado foi um moinho de facas (MAQTRON, modelo B-611, Brasil). Após a moagem, foi realizada a separação granulométrica para obtenção de um material com granulometria mais uniforme. A separação foi realizada no laboratório de operações de separação FEA/UFPA em peneiras da série padrão Tyler com granulometria de 12, 20, 35, 42 e 60 mesh acopladas a um agitador de peneiras (BERTEL, Brasil), com o reostato na posição 10 durante 10 minutos. A quantidade de massa em cada peneira foi pesada em uma balança semi-analítica (GEHAKA, modelo AG 200, Brasil) e a massa retida foi acondicionada em sacos plásticos, submetidos a vácuo e armazenados sob refrigeração. Caracterização físico-química das fibras A matéria-prima foi caracterizada, segundo as análises de: 2.2.1 Umidade A análise de umidade foi realizada segundo a metodologia n° 920.151 da AOAC (1997). Teor de lipídeos Foi utilizada a metodologia Ba 3-38 da AOCS (2005). Proteínas totais Foi realizada por micro-Kjeldahl baseada na metodologia n° 942.05 da AOAC (1997). Fibra bruta Foi realizada pelo método de Van Soest (1963). Densidade Real A densidade real das partículas (ρr) foi realizada na Central Analítica do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) utilizando a técnica da picnometria de gás hélio. Teor de Cinzas Foi realizada de acordo com a metodologia n° 940.26 da AOAC (1997).

Resultado e discussão

A matéria-prima apresentou densidade real de 1,46 g/cm³. Foi utilizada a matéria-prima tratada com granulometria superior a 35 Mesh. A Tabela 1 mostra os resultados das análises de caracterização química da torta de palmiste. O resíduo das amêndoas tratadas apresentaram baixa umidade; o valor obtido foi superior ao encontrado por Ferreira (2013) e inferior ao encontrado por Pardo et al. (2014). Ambos os autores trabalharam com as fibras residuais da prensagem industrial do óleo de palma adquiridas por meio da empresa Agropalma. Os diferentes resultados podem estar relacionados com o fato de as amostras pertencerem a diferentes lotes podendo haver diferença em fatores como condições climáticas, armazenamento após o processamento e condições de transporte. A análise de umidade tem grande relevância do ponto de vista de estabilidade e conservação da amostra, visto que uma amostra com alta umidade poderia favorecer a ação das enzimas lipases, às quais hidrolisam os triacilgliceróis, conduzindo à formação de ácidos graxos livres e consequente redução de qualidade do óleo (WILHELM et al., 2014). O teor de lipídeos foi superior aos indicados na literatura, demonstrando que o lote ao qual a amostra pertencia pode não ter tido um processamento industrial de extração do óleo tão eficiente, permanecendo uma concentração ainda significativa de óleo na amostra. O valor de proteína foi maior aos encontrados por Ferreira (2013) e Prado et al. (2014). O teor de proteína em oleaginosas pode variar com os genótipos e as condições ambientais, sendo dependente da eficiência da extração do óleo (SOUZA et al., 2009). Em comparação com os valores de Ferreira (2013) e Prado et al. (2014), o valor da análise de fibra bruta mostrou valor menor, mas ainda assim é um valor alto se comparado com outros alimentos considerados resíduos de processamentos. Conforme o Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal (1998), a torta de dendê deve possuir um máximo de 22% de fibra bruta. O valor encontrado neste trabalho, portanto, atende as especificações, uma vez que o resíduo do palmiste é reaproveitado principalmente como ração animal.

Figura 1

Torta residual da prensagem industrial do palmiste.

Tabela 1.

Caracterização da matéria-prima comparada a dados da literatura.

Conclusões

A análise físico-química do resíduo do palmiste da empresa Agropalma S.A. mostrou que a matéria-prima possui potencial produtivo, elevada disponibilidade e rica em nutrientes, constituindo-se em alternativa para suplementação alimentar nos sistemas de produção animal.

Agradecimentos

UFPA; CNPq; CAPES.

Referências

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