Concepções de bolsistas do Pibid sobre a Licenciatura em Química no Estado do Rio Grande do Sul

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Ribeiro, M.E.M. (PUCRS) ; Specht, C.C. (PUCRS) ; Souza, C.C. (PUCRS) ; Ramos, M.G. (PUCRS)

Resumo

Esta investigação compreende concepções de bolsistas de iniciação à docência relativo às disciplinas integrantes do currículo escolar dos núcleos pedagógico e técnico em licenciaturas em Química de 4 IES do Estado do Rio Grande do Sul. Do mesmo modo se buscou com esse trabalho compreender as relações dos bolsistas com as disciplinas envolvidas. Os dados foram coletados em entrevistas semiestruturadas. O material foi tratado por Análise Textual Discursiva - ATD. O Pibid é um programa de incentivo à formação de professores do governo federal do Brasil e viabiliza a atuação dos licenciandos no ambiente escolar. Este programa fornece aos bolsistas experiências no desenvolvimento de atividades de ensino e aprendizagem em sala de aula.

Palavras chaves

Pibid; formação de professores; licenciatura em química

Introdução

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – Pibid, é um programa de incentivo à formação de professores gerenciado pelo Governo Federal do Brasil. Durante os anos nos quais esteve em expansão, até o ano de 2014, provocou sensível aumento no número de universitários matriculados em cursos de Licenciatura em Química no Brasil (RIBEIRO; RAMOS, 2015). Esse aumento na quantidade de professores se deve ao fato de que o Pibid permite que os licenciandos exerçam seus primeiros movimentos de docência. O Pibid é decisivo na opção de seus bolsistas de iniciação à docência pela profissão de professor de Química. Entretanto, o Pibid é considerado, por parte dos licenciandos, como uma atividade paralela aos estudos na licenciatura. Segundo pesquisa realizada pelos autores, ainda em andamento, há visível preferência dos bolsistas de iniciação à docência pelas atividades do Pibid do que pelo real envolvimento com as disciplinas componentes de seu currículo escolar, sejam disciplinas do núcleo pedagógico ou disciplinas do núcleo técnico da Licenciatura em Química. Esse trabalho mostra um levantamento feito com bolsistas de iniciação à docência participantes do Pibid em quatro Instituições de Ensino Superior (IES) do Estado do Rio Grande do Sul com objetivo de recolher e compreender as concepções desses bolsistas a respeito das disciplinas integrantes do currículo escolar de seus cursos de Licenciatura em Química. Também é objetivo desse trabalho perceber a forma como esses bolsistas de iniciação à docência relacionam sua participação no Pibid com essas disciplinas. Para isso, esse trabalho busca responder à seguinte pergunta: Qual a concepção dos bolsistas de iniciação à docência em relação às disciplinas pedagógicas e técnicas dos cursos de Licenciatura em Química aos quais pertencem? Para estabelecer respostas a essa questão foram feitas entrevistas com grupos de bolsistas de iniciação à docência de quatro IES. Após, a transcrição dessas entrevistas foi tratada por meio de Análise Textual Discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2011), provocando a emergência de duas categorias principais que, então, embasaram a produção do texto desse trabalho.

Material e métodos

Esse artigo apresenta um recorte de um trabalho maior que investiga a repercussão da participação de bolsistas no Pibid na formação de novos professores de Química no Estado do Rio Grande do Sul. Para a parte inicial dessa pesquisa foram selecionadas 4 Instituições de Ensino Superior (IES), sendo duas da rede privada e duas da rede pública federal. Uma instituição está localizada na região sul do Estado, uma na região Norte, uma na região Noroeste e a última na região Sudoeste. Foram feitas entrevistas semiestruturadas com grupos de bolsistas de iniciação à docência, e foram enviados questionários on line aos coordenadores de área dos subprojetos investigados. As entrevistas com três grupos de bolsistas de iniciação à docência aconteceram no âmbito do Encontro de Debates Sobre o Ensino de Química – EDEQ, no ano de 2014, enquanto que o quarto grupo concedeu a entrevista em sua própria instituição, quando houve a visita do pesquisador, um dos autores desse trabalho. Após, a transcrição das entrevistas e os questionários foram tratados por meio da Análise Textual Discursiva – ATD, (MORAES; GALIAZZI, 2011). Para esse trabalho, entretanto, foram consideradas apenas as entrevistas realizadas com os bolsistas de iniciação à docência. A Análise Textual Discursiva é uma forma de análise que tem como objetivo identificar categorias que possam emergir a partir das declarações dos sujeitos entrevistados. Na ATD, os textos que compõem o corpus de análise são identificados e fragmentados para que se possa construir unidades de sentido, em um processo denominado unitarização. As unidades que apresentem sentidos semelhantes constituem categorias iniciais e são chamadas categorias emergentes. Em outra alternativa pode-se partir de categorias definidas a priori. Após a análise do conteúdo de cada categoria, esboçam-se textos interpretativos das categorias, chamados de metatextos. No trabalho aqui apresentado, após a análise, emergiram duas categorias finais. As categorias finais foram denominadas Concepções dos bolsistas de iniciação à docência sobre as disciplinas do curso de Licenciatura em Química, apresentando duas subcategorias, e Concepções dos bolsistas de iniciação à docência sobre o Pibid. Nesse trabalho, as IES estão identificadas por U1 até U4, e os bolsistas de iniciação à docência estão identificados, a partir da identificação de sua IES, por U1A em diante, com o objetivo de não revelar os nomes de instituições e de sujeitos.

Resultado e discussão

Os bolsistas de iniciação à docência entrevistados identificam diferenças entre a forma de trabalho de seus professores das disciplinas pedagógicas e os professores das disciplinas do núcleo técnico nos cursos de Licenciatura em Química nos quais estudam. Em sua análise, os bolsistas de iniciação à docência estabelecem uma relação entre essas disciplinas, a participação no Pibid e sua atuação como professores de Química. 1.Concepções dos bolsistas de iniciação à docência sobre as disciplinas do curso de Licenciatura em Química Nessa categoria, os bolsistas de iniciação à docência expressam suas concepções sobre seu curso de Licenciatura em Química e sobre as disciplinas às quais assistem durante seu tempo de licenciandos. Pode-se perceber uma clara distinção feita pelos bolsistas de iniciação à docência entre as disciplinas de cunho pedagógico e as disciplinas do núcleo técnico da Química. Nas disciplinas pedagógicas, os bolsistas de iniciação à docência referem que ocorre a leitura de materiais sobre novas alternativas pedagógicas, com destaque ao Educar pela Pesquisa. Entre os bolsistas é comum o relato de que seus professores sugerem leitura de textos e artigos que proponham a adoção dessa prática pedagógica. Nas escolas nas quais os bolsistas desenvolvem suas atividades, em geral, os professores das turmas não conhecem essa proposta pedagógica, ao mesmo tempo que os professores supervisores tiveram seu contato inicial com o Educar pela Pesquisa nos encontros semanais do PIBID nas IES, juntamente com os bolsistas de iniciação à docência. Os currículos dos cursos de Licenciatura em Química apresentam elevada carga horária para disciplinas da área técnica, aqui incluindo disciplinas de Matemática, Física e Química. Em paralelo a esse núcleo, há as disciplinas do núcleo pedagógico, incluindo as disciplinas de Educação Química, Didática, Psicologia da Educação e Estágio ou Tutoramento, entre outras. No relato dos bolsistas percebe-se que, após o início da participação no Pibid, houve a decisão profissional por assumir a profissão de professor, após a conclusão dos estudos universitários. Todos os bolsistas investigados revelam que, mesmo aqueles que não tinham intenção inicial de assumir a docência, mudaram seu objetivo profissional durante a participação no Pibid. Dessa forma, há pouco interesse dos bolsistas em assumir o papel de Químico em indústrias. Por esse motivo, os bolsistas apresentam desinteresse e grande dificuldade nas disciplinas do núcleo técnico em seus cursos. As questões envolvendo as diferenças de preferências entre os núcleos são nítidas nos depoimentos dos bolsistas de iniciação à docência. Pode-se notar que a entrada em sala de aula por parte dos bolsistas de iniciação à docência é fato importante na definição da carreira profissional desses bolsistas. Nesse contexto, pode-se trazer à discussão os motivos que ainda obrigam os licenciandos em Química a cursarem disciplinas que apresentem conteúdos que dificilmente farão uso em suas carreiras docentes. Entretanto, nesses subprojetos de Química investigados, há coordenadores de área que incentivam a necessidade de forte formação técnica para professores. Os relatos dos bolsistas expõem a fragilidade da formação pedagógica no curso de Licenciatura em Química no qual estão matriculados, ao mesmo tempo que traz a concepção do coordenador de área do subprojeto. Os bolsistas de iniciação à docência distinguem sua ação na universidade em atividades obrigatórias, as disciplinas e optativas, o Pibid. A participação no Pibid é definidora da opção pela carreira docente. Já as disciplinas obrigatórias, tanto do núcleo pedagógico quanto do núcleo técnico, possuem restrições quanto à preferência dos licenciandos em Química. A discussão quanto às práticas pedagógicas que permitam maior envolvimento e protagonismo dos estudantes durante as aulas ocorre apenas em plano teórico, e somente em alguma disciplina do núcleo pedagógico. Os bolsistas de iniciação à docência comparam essas propostas com a realidade das aulas a que assistem na universidade, indicando a existência de contradições entre o discurso e a prática de seu curso de Licenciatura. Em paralelo a essa situação, os bolsistas de iniciação à docência também encontram resistências ao emprego dessas estratégias ao chegarem nas escolas nas quais desenvolvem o projeto. Os professores que já se encontram há algum tempo na escola desconhecem e não demonstram interesse em conhecer estratégias diferentes das que empregam tradicionalmente. O bolsista U3H identifica essa situação na escola e a interpreta de forma a sugerir que os demais professores da escola também se inserissem nessa nova concepção de ser professor. A questão discutida pelo bolsista se refere ao fato de que as escolas são atendidas não só pelo subprojeto de Química do Pibid, mas por outros mais. E, mesmo assim, esses outros projetos não levam até a escola novas práticas que possam ser desenvolvidas pelos professores que já estão em atividade nessas escolas. Na análise dessas discussões sobre a natureza das disciplinas na Licenciatura em Química, mesmo as disciplinas do núcleo pedagógico são alvo de críticas por parte de alguns licenciandos. Comentários dos bolsistas revelam uma concepção de que disciplinas, mesmo as pedagógicas, que se utilizem de estudos de teorias também são de desagrado por parte dos licenciandos, já que fica claro que esses bolsistas de iniciação à docência preferem ações práticas, nas quais possam desenvolver o que pensam e organizam nos encontros do subprojeto de Química do PIBID. 2 Concepções dos bolsistas de iniciação à docência sobre o Pibid O Pibid é decisivo na escolha pela profissão docente. A participação no Pibid faz com que os bolsistas modifiquem algumas de suas opções profissionais iniciais e decidam por serem professores. Esse fato se deve aos primeiros movimentos de docência que ocorrem exatamente durante a participação no Pibid. Dessa forma, os bolsistas de iniciação à docência consideram o Pibid um evento à parte da Licenciatura em Química. De fato, os bolsistas consideram o Pibid mais importante do que as disciplinas pedagógicas do curso de Química. Os bolsistas estabelecem relações entre o Pibid e as disciplinas pedagógicas que compõem seu currículo escolar, incluindo as disciplinas de estágio obrigatório. A bolsista U2F diz que “o Pibid pesa mais” quando o compara às disciplinas teóricas. O fato do Pibid permitir o contato inicial dos bolsistas com os estudantes na escola torna as tarefas obrigatórias mais fáceis de serem realizadas. O depoimento revela a importância dada pelo bolsista de iniciação à docência ao Pibid e à possibilidade de ter acesso aos estudantes na escola por meio das atividades propostas nos subprojetos. O bolsista U2C diz que “tu aprende na faculdade e no Pibid tu vivencia na prática.” As declarações dos bolsistas revelam uma forte relação com o Pibid. São estabelecidas diferenças entre as práticas iniciais de docência dos bolsistas de iniciação à docência com seus colegas que participaram das disciplinas de estágio antes da criação do Pibid. Antes da implantação dos subprojetos de Química do Pibid, os licenciandos eram levados até a escola e assumiam turmas sem que tivessem preparação específica para isso. Essa situação se reflete nas atuações dos licenciandos que cumprem os estágios obrigatórios sem serem participantes do Pibid. A diferença na desenvoltura na escola se faz notar durante as aulas apresentadas por esses dois grupos de licenciandos. Em relação às disciplinas pedagógicas, os bolsistas de iniciação à docência relatam que complementam as disciplinas do núcleo técnico da Química. Entretanto, essa combinação de disciplinas é usada para preparar estratégias de transmissão dos conteúdos estudados. É a participação no Pibid que estabelece diferença entre essas práticas tradicionais e as práticas que permitem protagonismo dos estudantes.

Conclusões

Esta investigação teve a intenção de demonstrar que o Pibid tem importante relevância para a formação docente, tendo peso decisório para que os bolsistas tenham maior clareza na escolha profissional pela carreira de professor. Na Licenciatura em Química, após participação do Pibid, ocorre a escolha por parte dos universitários concluintes pela atividade profissional docente. Isso ocasiona, em estudantes da licenciatura em Química, pouco interesse pelas disciplinas da área técnica. As estratégias de ensino que exigem o protagonismo dos estudantes, desenvolvidas pelos bolsistas nas disciplinas pedagógicas do curso de licenciatura, ficam no âmbito teórico, acarretando críticas por parte dos bolsistas referente às aulas assistidas na universidade que se apresentam de forma contraditória, além da dificuldade de aplicar as referidas estratégias no ambiente escolar. Assim, os bolsistas preferem as atividades práticas proporcionadas pelo Pibid, que possibilitam colocar em prática o que pensam com pouco alinhamento com as teorias pedagógicas. Deste modo, o Pibid é uma oportunidade para os bolsistas vivenciarem na prática situações de sala de aula. A desenvoltura das atividades de aula de quem participa do Pibid é percebida nos relatos como significativa para consolidação da segurança do futuro professor. O desenvolvimento das atividades com os estudantes por meio dos subprojetos é mais significativo do que os graduandos que não participam do Pibid. Assim, o Pibid proporciona para os bolsistas experiências mais contundentes de sala de aula na elaboração de práticas educativas que acarretem propostas de ensino voltada para a emancipação dos estudantes.

Agradecimentos

Referências

MORAES, Roque; GALIAZZI, Maria do C. Análise Textual Discursiva. Ijuí: Editora Unijuí, 2011.

RIBEIRO, M.E.M.; RAMOS, M.G. O PIBID – subprojeto Química -no contexto das instituições de ensino superior no Rio Grande do Sul. Anais do V Seminário Institucional do PIBID Univates, III Simpósio Nacional sobre Docênciana Educação Básica: ser professor: desafios e possibilidades. Lajeado, 2015.

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