O QUE É SER CIENTISTA ? UM ESTUDO DE CASO À LUZ DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Chagas, P. (IFRJ) ; Chagas, E. (IFRJ) ; Diniz, E. (IFRJ) ; Rocha, E. (IFRJ)

Resumo

O presente trabalho pesquisou que representações sociais a partir de Moscovici (2003) sobre a Teoria das Representações Sociais) existem, atualmente, na questão da mulher como cientista na visão de alunos de duas diferentes instituições em São Gonçalo, RJ. A primeira instituição, denominada de A, é uma instituição pública técnica e a segunda instituição que denominamos de B, é uma instituição pública de ensino regular. Partimos da ideia que, investigando a visão do cientista nos dias de hoje, poderemos ter acesso ao conteúdo destas possíveis representações sociais que estão orientando estes discursos na atualidade. A história relata uma assimetria profundamente enraizada no comportamento e no pensamento social.

Palavras chaves

Representações Sociais; Cientistas; Mulheres Cientistas

Introdução

A trajetória da mulher na Ciência é marcada pela discriminação de gênero. A Ciência assim se caracterizou e se difundiu como uma atividade masculina. A genialidade era uma qualidade atribuída aos homens. A mulher cabia o trabalho artesanal, doméstico, a maternidade, enfim uma construção estigmatizada do feminino. Poucas mulheres conseguiram superar os obstáculos sociais que definiram diferenças e que levaram a mulher a uma posição de inferioridade em relação ao homem, em especial na produção científica. Embora nomes como Einstein, Bohr, Rutherford, entre outros, sejam frequentemente mencionados e lembrados, temos mulheres cientistas de igual importância como: Marie Curie, Meithner, Meyer, Hipátia, Aïda Espinola, Dorothy Crowfoot Hodgkin, Émilie du Châtelet que são, na maioria das vezes, sequer reconhecidas por suas produções científicas. Como fazer emergir estas representações? Esta questão se refere a metodologia utilizada no estudo das representações sociais. Almeida, Santos e Trindade (2000) apontam para esta consideração e estas autoras nos indicam a necessidade de um delineamento metodológico adequado para fazer emergir estas representações. A partir da Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1961), este estudo objetiva conhecer as representações sociais atuais do ser cientista e da ciência e verificar a mudança ou existência de novas representações e como ela é ancorada e objetivada pela população estudada. Parte-se do pressuposto de que buscando compreender quais são essas representações, construída por alunas e por alunos, pode-se levantar uma discussão de quais são as possíveis implicações dessas visões na construção da identidade destes sujeitos nos dias de hoje.

Material e métodos

Foram entrevistados 19 alunos da instituição A, sendo 10 mulheres e 09 homens, com idades entre 17 e 22 anos. Já na instituição B, 91 alunos (33 homens e 58 mulheres), com idades entre 14 e 18 anos. Para realizar a coleta de dados foi elaborado um instrumento baseado na técnica de associação livre, evocação de palavras, contendo 03 questões. As duas primeiras questões referiam-se ao objeto deste estudo e a terceira questão buscava levantar os dados sócio-demográficos dos sujeitos. Ao elaborar este instrumento, buscava-se detectar as concepções sobre o ser cientista presentes no imaginário dos estudantes e verificar se elementos de alocação de gênero sempre apontados através da história permanecem nos discursos ou se há novas direções. A partir destas concepções, poderemos chegar a reconhecer a existência ou não de uma representação sobre este assunto. O instrumento utilizado tinha como termo indutor “Quais as características necessárias para ser um cientista homem...” e “Quais as características necessárias para ser um cientista mulher...”, sendo solicitado aos alunos que apresentassem quatro palavras ou expressões que lhe viessem à mente. Em seguida, era-lhes solicitado que indicassem as três palavras ou expressões que lhes parecessem ser as mais importantes. A utilização da técnica de associação livre permite assim o acesso ao conteúdo e a estrutura das Representações Sociais. Para a análise dos dados recolhidos através do instrumento baseado na técnica de associação livre, foi utilizado o software EVOC(Ensemble de Programmes Permettant l`Analyse des Évocations). O EVOC permite a realização de uma análise de evocação, fornecendo dados para o reconhecimento da estrutura das representações sociais, com seus possíveis elementos centrais e periféricos.

Resultado e discussão

Os resultados da pesquisa através da análise dos dados apresentados pelo programa EVOC apresentam, em ambas as instituições A e B, numa análise geral, sem observar a distinção de sexo, que a característica ser inteligente foi a mais evocada, demonstrando que todos consideram esta qualidade essencial para ser um cientista. Já na análise específica dos termos indutores: “Quais as características necessárias para ser um cientista homem...” “Quais as características necessárias para ser um cientista mulher...”, nas turmas da instituição A verificamos que a característica curiosidade é a mais evocada para definir um cientista para ambos os sexos. Acreditamos que por ser uma instituição tecnológica, e o convívio constante com a prática científica, para este grupo não existe, na atualidade, diferença significativa de atribuição de gênero para esta atividade. MULHER: Curiosidade & Inteligência HOMEM: Curiosidade & Inteligência Nas turmas da instituição B, verificamos que a característica inteligência é a mais evocada para definir um cientista. No entanto há uma diferença quando analisamos os termos indutores de forma separada. No caso de ser uma mulher cientista, uma segunda característica é fortemente evocada. Para as mulheres, além da inteligência é evocada a característica coragem. No caso do homem cientista, além da inteligência é evocada a característica curiosidade. MULHER: Inteligência & Coragem HOMEM: Inteligência & Curiosidade Em A, com curso técnico de Química, a visão da mulher cientista é vista com normalidade, enquanto em B, de Ensino Regular, fica evidenciado que, para uma mulher cientista que trabalhe em laboratórios ou pesquisa, precisa de mais do que inteligência. Ou seja, mulheres na Química são vistas normalmente para quem estuda Química.

Figuras 01 02 e 03

Divisão por Sexo em cada Escola

Figura 04

Tabela de Citações. Palavras citadas, sem ordem de tratamento. O software EVOC faz o tratamento adequado, para se definir o Núcleo Central

Conclusões

Os resultados apresentados indicam que o processo de formação da representação do ser cientista homem ou mulher não demonstra mais nos discursos estar alocada na desigualdade de gênero. A mudança pode ser entendida pelo: avanço de conquistas femininas, amplo debate na sociedade atual e presença cada vez maior de mulheres em evidência, em diferentes áreas. As discussões e propagandas sobre os diferentes tipos de discriminação fortemente empreendidas pela sociedade de nossos tempos também contribuem para essa transformação dos discursos, sendo a Química como principal locus de cientistas.

Agradecimentos

Agradecemos as nossas instituições que estamos vinculados como professores (IFRJ), pesquisadores (IFRJ e UNESA), alunos de Doutorado (UNESA) e alunas do Ensino Médio T

Referências

ALMEIDA, A. M. O.; SANTOS, M. F. S. & TRINDADE, Z. As Práticas sociais como objeto de estudo: contribuições teóricas e dificuldades metodológicas. Trabalho apresentado no Encontro Anual da Anpepp, São Paulo, em julho de 2000.

MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: Investigações em Psicologia Social; editado em inglês por Gerard Duveen. Traduzido do inglês por Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes, p.1–109 e p.167–213, 2003.

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