O PROTAGONISMO DA INVESTIGAÇÃO INFANTOJUVENIL: COMPREENSÕES DE CONCEITOS QUÍMICOS PELOS ALUNOS DO CLUBE DE CIÊNCIAS DA UFPA

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Costa, B. (UFPA) ; Tolosa, F. (UFPA) ; Alcantara, J.M. (UFPA) ; Brabo, J.C. (UFPA)

Resumo

Esta pesquisa teve como finalidade relatar e discutir uma atividade de caráter investigativo realizada com crianças do Clube de Ciências da UFPA. Entende-se por atividades investigativas aquelas em que os alunos levantam hipóteses, experimentando, errando, interagindo com seus pares, com os professores, expondo seus pontos de vista e suas conclusões. Na atividade, as crianças foram convidadas a relacionar a prática proposta (o experimento “Elevador de naftalina”) com conteúdos inerentes à área da química. As respostas dos educandos se deram através de discursos orais e pela resolução de um questionário. Os resultados da pesquisa evidenciaram alguns motivos por trás das dificuldades em compreender química, que podem ser amenizadas pela inclusão da química desde as séries iniciais.

Palavras chaves

Atividades investigativas; Clube de Ciências ; Ensino de química

Introdução

Nos últimos anos, autores como Zanon e Palharini (1995) e Gabel (1985) têm recomendado abordar conceitos básicos de química durante o ensino fundamental, e não só no último ano deste nível (9º ano) como tradicionalmente tem sido feito. Chassot (1992 apud ZANON e PALHARINHI, 1995, p.15) diz que “o conhecimento químico deve permear toda a área de ciências de 5ª a 8ª séries, e não se restringir a um semestre isolado". Outros autores, como Gabel (1985), defendem que uma das formas de apresentar e discutir conceitos químicos com crianças seria a sua participação em palestras que introduzem conteúdos pertinentes à área da química. Essa mesma autora cita um programa realizado em alguns locais do EUA que contempla essa perspectiva de ensino, muito bem-sucedida. A autora, ainda, destaca que “... esse recurso pode fornecer mecanismos para a introdução de mais química as crianças e, assim, a sociedade” (GABEL, 1985, p.703). Nessa linha de raciocínio, realizou-se essa pesquisa com a finalidade de avaliar a compreensão de crianças, de 10 a 12 anos, a respeito de uma experiência pautada em conhecimentos básicos sobre reação química e densidade. Esses alunos cursam o 6º ano do ensino fundamental, e participam voluntariamente de atividades do chamado Clube de Ciências da Universidade Federal do Pará (CCIUFPA), que é um ambiente alternativo de ensino, que objetiva a popularização da ciência e o desenvolvimento e aperfeiçoamento de licenciados, através da interação professor-aluno, isto é, entre discentes de licenciaturas (professores-estagiários) e alunos (sócios-mirins) do ensino fundamental e médio, permitindo-os, dessa forma, a atuação prática e o desenvolvimento de pesquisas educacionais na área de ensino de ciências e matemática (BRABO, 2009).

Material e métodos

A atividade ocorreu com nove alunos do 6º ano do ensino fundamental do CCIUFPA e consistiu em uma aula investigativa, cuja finalidade era fazer com que os alunos compreendessem noções básicas de reações químicas e densidade. Para isso, efetuou-se o experimento denominado “Elevador de naftalina”, de acordo com as instruções obtidas no canal do YouTube “Manual do mundo” (THENÓRIO, 2011), que consiste na inserção de bolas de naftalina em uma solução de bicarbonato de sódio, água e vinagre. No decorrer da atividade, os alunos foram convidados a descrever, fazer previsões e propor hipóteses para explicar as causas da ocorrência do fenômeno observado.O aparecimento de bolhas e a flutuação da naftalina geraram inquietações nos estudantes, que se ampliaram após testes com materiais de sua própria sugestão, nesse caso, a massa de modelar, o lápis e a pedra. Eles observaram que as bolhas também surgiam nesses outros materiais, mas, com exceção da naftalina, não flutuavam na solução. Após os testes, os alunos concluíram que o aparecimento das bolhas devia-se à solução. Do inicio ao fim do experimento, os professores-estagiários, responsáveis pela atividade, deixaram os alunos à vontade para exporem seus pontos de vista, para depois explicar-lhes que a flutuação das bolas de naftalina devia-se à adesão das bolhas de gás liberada na reação química entre o bicarbonato de sódio e o vinagre, devido a menor densidade do conjunto (bolas + bolhas de gás) em relação à água. Os professores-estagiários usaram, também, as dúvidas dos educandos e outros exemplos para explicar o conceito de densidade e indícios da ocorrência de reações químicas em solução aquosa. No final, os alunos responderam um questionário com seis perguntas objetivas acerca da atividade realizada.

Resultado e discussão

Nas respostas da Tabela 1 (figura 1) é notável que, para os alunos, a química está simplesmente relacionada à ideia de experimentação. Essa visão limitada da química, provavelmente, deve-se a pouca familiaridade que essas crianças têm com conceitos e linguagens inerentes a essa ciência (GABEL,1985). Suas ideias sobre a química estão associadas a desenhos animados ou histórias em quadrinhos, relacionadas a explosões, laboratórios e tubos de ensaio com substâncias coloridas. Na tabela 2, verificou-se melhoras nas respostas dos alunos, contudo, não obtivemos respostas plausíveis à pergunta proposta,visto que, as crianças não conseguiram exprimir que a flutuação das bolas de naftalina deu-se pela diferença de densidade. Alguns alunos chegaram a dizer que o bicarbonato de sódio era o responsável pelas bolhas de gás ao redor da naftalina, conforme figura 1. Os alunos não souberam apontar os assuntos do experimento, talvez, pela ineficácia da contextualização. Ademais, ficaram intrigados com o bicarbonato de sódio, até mesmo aqueles que já o conheciam, ainda não o haviam visto como uma “substância química”, fato que ocorre pela pouca vivência com o vocabulário químico. Para Gabel (1999, p. 550), vale ressaltar que “... os alunos não veem a química relacionada com seus arredores.Eles frequentemente pensam em produtos químicos como materiais perigosos com nomes químicos estranhos”. Isso foi observado nas respostas da tabela 3, figura 2. Em relação à pergunta da tabela 4 (fig.2), a maioria dos alunos não fez menção a temas associados ao experimento, e sim ao que aconteceu durante o experimento.Alguns educandos deram ênfase a reações químicas e flutuação em suas respostas sem,no entanto, conseguir explicar adequadamente as causas do fenômeno observado.

FIGURA 1

Contém as respostas dos alunos em relação ao que entendem sobre o que é a química e do experimento "elevador de naftalina".

FIGURA 2

Respostas dos alunos a conceitos relacionados ao experimento proposto e de que forma associam com seu cotidiano.

Conclusões

A interação das crianças na atividade experimental foi proveitosa, pois observou-se que o desenvolvimento cognitivo dos alunos está associado às suas atitudes, falas e comportamentos. Os resultados obtidos reforçam a ideia de que os experimentos devem envolver a manipulação de objetos e que a inserção da química deve ocorrer desde as séries iniciais, visto que, ao relacionarem a experimentação com certos conteúdos de química, algumas crianças acabam dando respostas soltas, mas que podem começar a fazer sentido, à medida que eles praticam, falam e escrevem sobre isso (GABEL, 1985).

Agradecimentos

Ao Clube de Ciências da UFPA, por ceder seu espaço para o desenvolvimento dessa pesquisa. E ao professor Dr. Jesus Cardoso pelas orientações.

Referências

BRABO, J.C. Clube de Ciências da UFPA: 30 anos de iniciação científica infanto-juvenil e formação docente. Ciências na Escola (Blog). 2009. Disponível em: <https://goo.gl/B81iuX>. Acesso em: 20 jul. 2016.

GABEL, D. L. Chemistry for Gifted Children in the Intermediate Grades. Journal of Chemical Education, Bloomington, v.62, n.8, 703, 1985.

___________. Improving Teaching and Learning through Chemistry Education Research: A Look to the Future. Journal of Chemical Education, Bloomington, v.76, n.4,550, 1999.

THENÓRIO, Iberê. [Manual do Mundo]. (2011, agosto 01). Elevador de Naftalina [arquivo de vídeo]. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=qsNLZJX0N4w> . Acesso em: 9 mai. 2016.

ZANON, L. B.; PALHARINI, E. M. A química no ensino fundamental de ciências. Revista Química Nova na Escola, n. 2,15-18, nov. 2008.

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