DESMITIFICAÇÃO DE CRENDICES POPULARES ATRAVÉS DO CONHECIMENTO QUÍMICO

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Santiago, J.C.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Leder, P.J.S. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ) ; Gama, V.J.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ) ; Santanna, J.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ) ; Azevedo, W.H.C. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ)

Resumo

O ensino de Química deve, primordialmente, despertar o senso crítico dos alunos diante das situações-problemas reais que surgem cotidianamente. Em vista disso, uma das possibilidades para se despertar o interesse dos alunos pela Química e assim favorecer a aquisição de novos conhecimentos, é trazer para o contexto da sala de aula os conhecimentos adquiridos fora dela. Sob este prisma, este trabalho apresenta os resultados obtidos com a realização de uma atividade a qual objetivou desmitificar as crendices populares inerentes do cotidiano dos alunos. A coleta de dados se deu por meio da observação e registro, e a aplicação de um questionário. Verificou-se que 93% dos alunos afirmam que a Química se torna mais atraente quando questões cotidianas são trabalhadas no contexto da sala de aula.

Palavras chaves

Ensino de Química; Crendice Popular; Desmitificação

Introdução

As crendices populares caracterizam-se por um conhecimento embasado no senso comum, ou seja, é superficial, sensitivo, assistemático, construído através de experiências vivenciadas pela própria população, as quais podem ser verdadeiras ou não. De acordo com Gondim e Mól (2008, p. 5) “o ser humano constitui-se a partir de uma diversidade de saberes e, dentre eles, os saberes populares, tão presentes na cultura de nosso país e desconsiderado em nossas escolas”. Afirmações do tipo: “misturar manga com leite faz mal”, “chocolate dá espinha”, “água com açúcar é calmante”, entre outros, fazem parte do cotidiano de muitos alunos, e não devem ser ignorados, mas usados como ponto de partida para um ensino de Química mais significativo. Todavia, Santos e Schnetzler (1996, p. 29) alertam que “a abordagem dos temas químicos sociais não pode ser no sentido apenas da curiosidade”, mas sim no sentido de provocar mudanças no perfil conceitual dos alunos. Desse modo, uma das possibilidades de se alcançar tal objetivo é utilizar métodos de ensino que estabeleçam um elo entre o conhecimento do cotidiano dos alunos e os conceitos químicos ensinados (ZANOTTO; MATOS, 2013). Sob este prisma, buscou-se realizar uma atividade investigativa com alunos de 3º ano do Ensino Médio, a qual teve por objetivo desmitificar através do conhecimento químico as crendices apresentadas por eles.

Material e métodos

Para realização deste trabalho, optou-se por alunos de uma turma de 3º ano do Ensino Médio de uma escola particular, na cidade de Santa Izabel do Pará. A turma era composta por 26 alunos, sendo 16 do sexo feminino e 10 do sexo masculino. No primeiro momento, foi discutido em sala de aula sobre a “origem das crendices populares” e a “importância do estudo da Química” para a superação de conhecimentos que podem ser falsos (mitos). Em seguida, a turma foi dividida em 5 grupos para que se reunissem e pesquisassem sobre as crendices populares e sua verdadeira relação com o conhecimento científico. O segundo momento consistiu na apresentação de cada grupo sobre a crendice popular a qual gostariam de confirmar ser verdadeira ou falsa. As crendices apresentadas pelos grupos foram: “misturar manga com leite faz mal?”, “chocolate dá espinha?”, “água com açúcar é calmante?”, “misturar açaí com outras frutas é mortal?” e “o leite corta o efeito do veneno”. Após a apresentação para a turma, era aberto um momento de diálogo visando conhecer o entendimento dos alunos sobre a crendice em questão. Finalmente, foi realizado um momento para desmitificação dos conhecimentos que não possuem base científica. Esse momento foi realizado com base em pesquisas de artigos científicos que apresentam altos índices de confiabilidade. Para coleta de dados, utilizou-se da observação e registro, e da aplicação de um questionário constituído de 2 perguntas abertas e 1 fechada.

Resultado e discussão

Através das observações iniciais, verificou-se uma apatia dos alunos ao ser proposta uma atividade referente a disciplina de Química. No entanto, ao tomarem conhecimento dos objetivos da atividade, estes alunos apresentaram maior interesse. Tal observação nos permite considerar que esse bloqueio é causado pela falta de atividades que tragam o conhecimento do cotidiano dos alunos para o contexto da sala de aula (ZANOTTO; MATOS, 2013). No momento da apresentação das crendices populares, foi observado um grande temor apresentado pelos alunos diante de questões como a “mistura de manga com leite” e de “açaí com outras frutas”, confirmando que esses conhecimentos estão enraizados na rede cognitiva desses alunos, podendo constituir uma barreira na aquisição de conhecimentos químicos. Segundo A1: “Meus pais sempre me disseram que se eu tomasse açaí, não poderia ingerir nenhuma fruta pelo resto do dia”. Sobre esta questão, foi apresentado aos alunos os comentários de nutricionistas, os quais revelam que esse tipo de afirmação não passa de mito. Segundo Guedes (2015) “o açaí tem ferro, porém ele não é absorvido facilmente pelo nosso organismo sem a presença da vitamina C. Recomendamos a ingestão de açaí com frutas, para ficar rica em vitamina C, para melhor aproveitar seu nutrientes”. Vale ressaltar que os alunos foram orientados sobre os riscos do consumo excessivo dos alimentos e possíveis intolerâncias. Perguntados se “trazer saberes populares para se ensinar Química torna esta disciplina atraente”, 93% afirmaram que “sim”. Este resultado corrobora com Gondim e Mól (2008), os quais afirmam que inter- relacionar os saberes populares e os saberes formais ensinados na escola despertam o interesse dos alunos, favorecendo o desenvolvimento de uma visão holística do mundo.

Conclusões

Diante do exposto, foi possível a constatação de que muitas das crendices populares são repassadas de geração a geração, e estas podem se apresentar como empecilhos para a aquisição de conhecimentos químicos. Entretanto, tais conhecimentos podem, e devem ser usados para que se promova uma mudança no perfil conceitual desses alunos. Para tal, os professores precisam estar atentos a esses tipos de questionamentos, e utilizar métodos que promovam interesse nos alunos, através do conhecimento Químico, em buscar a superação de conhecimentos errôneos.

Agradecimentos

Referências

GONDIM, M. S. C.; MÓL, G. S. Saberes Populares e Ensino de Ciências: Possibilidades para um Trabalho Interdisciplinar. Rev. Química Nova na Escola, n. 30, p. 3-9, nov. 2008.

GUEDES, L. Desvendando os mitos do açaí. Diário do Pará, 2015. Disponível em: < http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-339318-.html>. Acesso em: 08 de julho de 2016.

SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Função Social: O que significa ensino de química para formar o cidadão? Rev. Química Nova na Escola, n. 4, p. 28-34, nov. 1996.

ZANOTTO, R. L.; MATOS, E. A. S. A. A utilização de saberes populares como ponto de partida para mudança de perfil conceitual. In: ENCONTRO CONVERSANDO SOBRE EXTENSÃO, 11., 2013, Ponta Grossa. Anais eletrônicos... Ponta Grossa: UEPG, 2013. Disponível em: < http://www.uepg.br/proex/anais/trabalhos/11/Comunica%C3%A7%C3%A3o%20Oral/Oral%20(92).pdf>. Acesso em: 07 de julho de 2016.

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