APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMA E O ENSINO DE QUÍMICA: O PROBLEMA DO FOGUETE

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Nery, G.L. (SECRETARIA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO PARÁ (SEDUC)) ; Tavares, E.C. (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE CASTANHAL/PARÁ) ; Malheiro, J.M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ – PPGECM/IEMCI)

Resumo

O presente trabalho objetiva investigar os procedimentos atitudinais dos estudantes nas aulas de Química, quando estão diante das ações que envolvem a Aprendizagem Baseada em Problema (ABP). Para tanto, busca-se identificar como ocorre a busca da resolução do problema. Esta pesquisa se desenvolve em uma linha qualitativa, que se configura como estudo descritivo, a partir de uma sequência didática fundamentada na (ABP) em uma aula de conhecimento químico. Na constituição dos dados foram considerados: entrevista semiestruturada, vídeo-gravações e transcrições. Os resultados demonstraram uma maior apropriação dos conhecimentos químicos ao relacioná-los com fenômenos do dia a dia.

Palavras chaves

Apren Baseada em Problema; Química; Experimentação

Introdução

O conhecimento científico no ensino médio pode ser facilmente estimulado e desenvolvido através de metodologias ativas de aprendizagem que provoquem a autonomia na aprendizagem dos docentes (MALHEIRO, 2009). Nesse propósito apresentamos uma experiência com o uso da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) Vasconcelos e Almeida (2012), no ensino de química, mas especificamente, no estudo do conteúdo de estequiometria, na procura de intensificar a relação entre os processos de ensino e de aprendizado e suas relações com o conhecimento cientifico vivenciado por todos no dia a dia (ARAÚJO, 2014; BRASIL, 2006; SILVA, 2015 ). Para Fonseca (2009) o conteúdo de estequiometria é trabalhado de maneira tradicional, ritualista, com valorização apenas da memorização de exercícios e suas resoluções, na construção do processo de ensino e de aprendizagem. Valorizando o caráter matemático essa linguagem nem sempre prioriza os conhecimentos químicos, pois reduz à aprendizagem a apenas aplicação de fórmulas matemáticas, regrinhas, símbolos e rituais, segundo Chassot (1993, p.37) “uma linguagem para facilitar nossa leitura do mundo natural”. Essa descrição procura ajuda a entendermos o ambiente que nos cerca. Ao encontro a práticas tradicionais de ensino de química, a ABP vem se apresentando como um excelente recurso metodológico no ambiente escolar, constituindo-se como uma modalidade educacional interessante no confronto com outros métodos de aprendizagem tradicionais (ARAÚJO, 2014; MUNHOZ, 2015; MALHEIRO, 2005 e 2010; SILVA, 2015). Nessa modalidade o professor se preocupa com o desejo e necessidades dos alunos, dando responsabilidade total ou parcial pela sua própria aprendizagem e sem se sentirem sozinhos no decorre do processo, os alunos constroem sua própria solução, baseado na resolução de um problema da vida real (ARAÚJO, 2014; SILVA, 2015). A aprendizagem ocorre quando um conhecimento anterior do aluno sofre conflito com as novas informações, quando são desenvolvidas, testadas as novas estratégias e fatos (AUSUBEL 1982). A nova aprendizagem baseada em casos da sua realidade proporciona sua fixação ou retenção se tornando mais intensa por mais tempo (FERNANDES, 2011). A presente pesquisa tem como objetivo verificar como os alunos assimilam as aulas experimentais de Química, trabalhando e compreendendo os efeitos da manipulação do reagentes químicos através ABP, a qual modifica a forma de pensar e agir perante ao grupo, na busca de solucionar os problemas.

Material e métodos

A Aprendizagem Baseada em Problema (ABP) tem como objetivo estimular nos escolares a capacidade de aprender a aprender, de trabalhar em equipe, de aceitar a crítica, induz o estudante a assumir papel ativo e responsável pelo seu aprendizado (VASCONCELOS e ALMEIDA, 2012). Nessa metodologia ocorre a inversão de caminhos didáticos tradicionalmente conhecidos no campo educacional. Na ABP o ensino é focalizado no aluno, e este, é sujeito que busca construir os meios da sua aprendizagem, sendo passivo ao erro, pois este torna-se instrumento de aprendizagem (MALHEIRO, 2009; SILVA, 2015). Relacionando o assunto trabalhado em sala de aula sobre estequiometria com o funcionamento em um foguete, foi possível trabalhar a metodologia ABP a uma turma de 22 alunos do turno da noite, do segundo ano do ensino médio de uma escola da rede estadual de ensino, localizada em Capanema (Pará). Dividindo em duas equipes de cinco alunos e duas equipes de seis alunos. Propondo a construção de um objeto simulando um foguete construído de garrafa pet, para ser arremessado na horizontal na trajetória de uma parábola, foi usando apenas dois reagentes químicos, Bicarbonato de sódio (nome comercial) ou hidrogenocarbonato de sódio (IUPAC) com o Vinagre ou ácido etanoico (IUPAC) que tinham como um dos principais produtos o CO2 como combustível. O presente trabalho teve uma abordagem qualitativa (BOGDAN e BIKLEN, 1994), não possuindo caráter estatístico, configurando-se como uma pesquisa descritiva, um estudo com o interesse centrado no processo como um todo e não no resultado final. Afim de observar a busca pela resolução do problema entre os alunos de forma indutiva, sem o desejo de afirmar ou derrubar uma hipótese existente ou pré-estabelecida, na busca de resolver a situação problema. A atividade trabalhou o conceito de metacognição que vem sendo considerada um novo “jargão” na área da educação, com o objetivo simples: o de levar o aluno a pensar sobre os seus atos, como as coisas foram feitas e também acerca da maneira como ele próprio aprendeu (MUNHOZ, 2015). Nessa perspectiva de ensino investigativo (CARVALHO, 1998) percebemos algumas características presenciadas que favoreceram o uso da ABP nesta experiência docente, como é esclarecido a seguir nas palavras de Mulhoz (2015, p. 114). O professor desenvolve com frequência questionamentos aos alunos sobre o seu processo de aprendizagem, com perguntas metacognitivas (aquelas que permitem ao aluno controlar o próprio processo de conhecimento): você sabe que...? Como sabe que...? Quais são suas suposições sobre o assunto?

Resultado e discussão

Ao apresentar as ideias do funcionamento de um foguete foi criado um ambiente para aproximar o conhecimento do senso comum dos alunos com o conhecimento cientifico (AUSUBEL 1982). Na tentativa de orientar uma possível condução da construção do conhecimento científico a partir da resolução de um problema real, a ser apresentado aos alunos. Foi criado junto com os alunos um objetivo que se transformou em uma situação-problema. “Como fazer o foguete alcançar a maior distância na horizontal ao fazer o seu lançamento no plataforma de 45°graus em relação ao solo”. Após a elaboração do problema os alunos confeccionaram os foguetes em atividades orientadas pelo professor, em outros momentos e espaços, fora do horário das aulas de química, utilizando garrafa pet (figura 1). Esse trabalho em grupo na busca de soluções é uma das primeiras mudanças culturais alcançadas por eles, pois passam a fazer parte de um ambiente colaborativo semelhante ao que enfrentarão fora da escola, no dia a dia na comunidade onde estão inseridos. A turma escolhida para atividade apresentou se desestimulada com a disciplina, rotulando de “difícil de entender”, como o relato de um aluno que disse: “...professor essa é a única que eu não entendo, essa e física”. A atividade foi realizada na quadra poliesportiva, no horário de aula, experimentando de várias formas e com diferentes proporções, segundo o fragmento abaixo, ao reagirem as substancias químicas na busca de resolver / testar suas hipóteses, a qual deveriam direcionar para a formação de uma quantidade elevada do produto da reação, o CO2 pressurizado (sistema sobre pressão) é um dos principais fatores para o maior deslocamento do foguete na horizontal. Fragmento de uma das equipes Aluno 1- ... bora! esse foguete não voa? (risos) Aluno 2- vou colocar mais bicarbonato. Aluno 1- não, não, já fizemos isso, coloca mais vinagre que ele vai mais longe. No manuseio dos reagentes procurou trabalhar as leis fundamentais da estequiometria, principalmente a lei de Proust: Lei das Proporções Constantes (1807). Trabalhado o papel do professor que direciona aprendizagem na busca da resolução, tivemos a responsabilidade de orientar os alunos sem fornecer a resposta, procurando responder seus questionamentos com outros (CARVALHO, 2009). Para Mortimer e Machado (1997) é de fundamental importância para a resolução de um problema, que os alunos participem do experimento de forma competitiva (figura 2), mesmo não sendo esse o propósito da ABP, foi feito uma competição sadia, sem o interesse de haver algum tipo de julgamento entre os alunos, com quatro chances para cada equipe alcançar a maior distância, logo depois que as mesmas solucionaram o problema.

Conclusões

Sem dúvida que a situação nova apresentada aos alunos, contribuiu com novas maneiras de pensar, agir, interagir dos alunos nas aulas de química, eles passaram a ficar ansiosos por novas atividades motivadoras que fazem um elo com a vida real. Através do experimento os alunos puderam transpor o conhecimento do senso comum com o científico (MALHEIRO, 2009), ao interagirem descobrem as proporções entre os reagentes e, consequentemente, compreendem uma das aplicabilidades da estequiometria ao aplicar suas leis e fazendo uso de analogias. A experimentação desenvolvida sob a perspectiva da ABP facilitou a compreensão de conceitos científicos e sobre a natureza da ciência, servindo de estimulo para os alunos, que em sua maioria já são trabalhadores durante o dia e nem sempre chegavam motivados para estudar à noite (DE JONG, 1998). Estamos certos de termos atingidos os objetivos propostos para esta atividade de ensino, à medida que fizemos uso de uma metodologia ativa de aprendizagem, a ABP, no ensino de química, e através disso foi possível mensurarmos suas implicações na aprendizagem dos alunos, ao realizarem o estudo do conteúdo de estequiometria.

Agradecimentos

Ao Grupo de Estudo, Pesquisa e Extensão FormAÇÃO de Professores de Ciências/Campus Castanhal; À Universidade Federal do Pará e aos sujeitos da pesquisa.

Referências

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