REPORTAGENS NA SALA DE AULA: possibilidades de articulações entre conceitos químicos e o modelo CTS de ensino

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Ensino de Química

Autores

Torres, A.S. (IFRJ-NILÓPOLIS) ; Silva, T.C. (IFRJ-NILÓPOLIS) ; Messeder, J.C. (IFRJ-NILÓPOLIS)

Resumo

O presente trabalho descreve a possibilidade do uso de reportagens jornalísticas como recurso didático em aula de química baseada no modelo CTS de ensino (Ciência/Tecnologia/Sociedade). Foram selecionadas reportagens publicadas em jornais de fácil acesso e de grande circulação em âmbito nacional, com temas relevantes para a sociedade. Nas propostas é discutido o papel do docente na condução deste recurso, o aspecto metodológico em sua prática de ensino, e a relação do uso das reportagens com o movimento CTS e o ensino de Química. Por fim, busca-se evidenciar as possibilidades do uso de reportagens na educação em química visando à formação do aluno como cidadão atuante.

Palavras chaves

reportagens; CTS; recurso didático

Introdução

Nas últimas décadas, houve um aumento significativo de pesquisas em ensino na busca de romper com a maneira tradicional de se trabalhar os conteúdos de química em sala de aula, principalmente a partir dos anos 1970 e 80, quando “a crença na neutralidade da ciência e a visão ingênua do desenvolvimento tecnológico foram fortemente abaladas” (FERNANDES; MEGID-NETO, 2015). De acordo Santos (2007), muitos recursos didáticos buscam aliar a educação contemporânea às ideias que constituem o modelo CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), onde o professor tem o papel de estimular em seus alunos, estimulando-os no desenvolvimento de soluções para as problemáticas discutidas em sala de aula. Neste trabalho optou-se pelo uso das reportagens, também chamadas textos jornalísticos, em aulas de química. Segundo Vosgerau e Pinheiro (2012), textos jornalísticos incentivam a leitura, a escrita e o desenvolvimento do espírito crítico e da cidadania, de maneira a formar alunos como leitores conscientes de seu papel na sociedade, assim como os objetivos da educação com viés CTS, que são: a capacidade de participação e tomada de decisão e a compreensão da natureza da ciência e seu papel na sociedade. Com base nesses ancore teórico, o presente trabalho foi elaborado por licenciandos em Química do IFRJ- Nilópolis, como cumprimento da avaliação final da disciplina Pesquisa em Ensino de Química, no primeiro semestre de 2015. Durante o semestre os alunos realizam diversas atividades que fazem parte do cumprimento legal da prática pedagógica exigida aos cursos de licenciaturas no Brasil, segundo as atuais diretrizes nacionais (BRASIL, 2015). O objetivo central do trabalho foi indicar a possibilidade do uso de reportagens como recurso didático em aula de química com viés CTS.

Material e métodos

O desenvolvimento do trabalho ocorreu num aspecto metodológico de pesquisa puramente qualitativo, pois não compreende números e estatísticas. Seguindo as ideias defendidas por Gerhardt e Silveira (2009), utilizou-se o método qualitativo a fim de buscar a explicação do porquê do uso do recurso didático em questão, “exprimindo o que convém ser feito, sem quantificar os valores e as trocas simbólicas e se submeter à prova de fatos, pois os dados analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes abordagens”. Além disso, esta produção tem caráter exploratório, pois se esboça uma proposta de ensino com viés CTS com utilização de reportagem, e assim, visa-se “proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). As reportagens se constituem como um excelente recurso didático. Além de promover, melhorar e até mesmo incentivar a leitura dos alunos, aproximam a informação a respeito do que acontece na atualidade. Segundo Rocha (2010), utilizar textos de divulgação torna possível: (I) a reflexão, a interação e a interpretação dos fatos, facilitando o processo de reelaboração das informações pelos alunos, o que é fundamental para construção do conhecimento; (II) a ampliação da visão de mundo do aluno, na medida em que permite a discussão e a troca de opiniões a respeito dos fatos apresentados; (III) a ampliação do universo lexical e da competência linguística do aluno; (IV) a vinculação dos conteúdos curriculares à realidade, fazendo com que o aluno perceba o sentido e a aplicabilidade do que aprende na escola e (V) o desenvolvimento do hábito de leitura, seja por prazer ou por necessidade de buscar informações. Para este trabalho foram trazidas três reportagens.

Resultado e discussão

A primeira reportagem analisada foi: “Desmatamento na Amazônia cai, mas não reduz efeito estufa”. Destaque aos trechos retirados da reportagem (Figura 1/Reportagem 1), e com os questionamentos propostos (Figura 2/a). Na condução da aula, é importante introduzir questionamentos e afirmações que potencializem a problematização. A segunda reportagem analisada foi:“Metal pesado no rio Doce está 34 vezes acima do permitido”. A aula pode ser iniciar com o tema gerador “Poluição do meio ambiente e suas consequências” e não se limitar aos aspectos químicos dos metais, mas também se focar aos aspectos introduzidos pela reportagem em relação a essa catástrofe ambiental. Os trechos apresentados na figura 1 (Reportagem 2), podem ser destacados, com as questões do trecho b (Figura 2). No momento da mediação é necessário que o docente domine diferentes conceitos químicos que estão ligados diretamente a produção de minérios, assuntos ligados ao código de mineração e aspectos socioeconômicos da região atingida, justamente para que a contextualização se concretize. A terceira reportagem analisada tem como título “Tabela periódica ganha quatro novos elementos, todos superpesados”. Numa abordagem CTS é cabível o uso desta reportagem com o tema gerador “Avanços Tecnológicos da Indústria” (Figura 1/Reportagem 3), com questões concernentes (Figura 2/c). É importante que se dê ênfase à fala do aluno e que ele próprio seja capaz de refletir, questionar, se posicionar e, ao final, possa desenvolver soluções baseadas em argumentos sólidos e coerentes. Além do desafio da contextualização, do incentivo a argumentação, da construção de soluções, se faz necessário mostrar ao aluno o seu papel na sociedade e os recursos que o torne participante nesse processo de tomada de decisão para a coletividade.

FIGURA 1

REPORTAGENS ANALISADAS (Fonte: autores)

FIGURA 2

QUESTIONAMENTOS COM ENFOQUE CTS (Fonte: autores)

Conclusões

As reportagens em aulas de química com viés CTS se constituem ótimos instrumentos em forma de texto, compostas por temas geradores para os conteúdos de química a serem trabalhados ou como leitura complementar ao final dos tópicos já finalizados. Este texto jornalístico pode trabalhar os conteúdos de química em sala de aula trazendo informações tanto para alunos, quanto para os professores sobre o que acontece na atualidade; onde, como e o porquê de determinadas situações; estimula o debate e a formação de opiniões, e, a partir da leitura crítica e consciente, exercita a cidadania.

Agradecimentos

Referências

BAIMA, Cesar. Tabela periódica ganha quatro novos elementos, todos superpesados. O Globo, Rio de Janeiro, 04 jan. 2016. Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/tabela-periodica-ganha-quatro-novos-elementos-todos-superpesados-18404524
CARVALHO, Cleide. Desmatamento na Amazônia cai, mas não reduz efeito estufa. O Globo, São Paulo, 19 nov. 2015. Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/desmatamento-na-amazonia-cai-mas-nao-reduz-efeito-estufa-18089111
FERNANDES, R. C. A.; MEGID-NETO, J. Características e tendências das dissertações e teses brasileiras sobre práticas de ensino de ciências nos anos iniciais escolares (1972-2011). Interacções, n.39, p.540-551, 2015.
GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (Orgs.) Métodos de Pesquisa. Série Educação a Distância. Porto Alegre: UFRGS, 2009. p.31-35.
MANSUR, Rafaela. Metal pesado no rio Doce está 34 vezes acima do permitido. O Tempo, Belo Horizonte, 28 mai. 2016. Disponível em: http://www.otempo.com.br/cidades/metal-pesado-no-rio-doce-est%C3%A1-34-vezes-acima-do-permitido-1.1309011
SANTOS, W. L. P dos. Contextualização no ensino de ciências por meio de temas CTS em uma perspectiva crítica. Ciência & Ensino, v.1, número especial, 2007.
VOSGERAU, D. S.R; PINHEIRO, R. B. O uso do jornal impresso na educação básica: resultados de uma década de pesquisa no Brasil. Revista Iberoamericana de Educación, n.º 59, p. 259-276, 2012.

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