Potencial alelopático inibitório de extrato bruto do hortelã da região de Parintins, Amazonas, Brasil

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Produtos Naturais

Autores

Miranda, A. (CESP/UEA – UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Silva, K. (CESP/UEA – UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS) ; Fonseca, R. (CESP/UEA – UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS)

Resumo

A espécie Mentha piperita L., conhecida popularmente como Hortelã-pimenta, é bastante utilizada em práticas curativas, herdadas das comunidades tradicionais (índios e ribeirinhos) na região de Parintins – AM. O levantamento bibliográfico não mostrou registros sobre atividade alelopática da hortelã dessa região do Brasil. Partindo de uma abordagem etnodirigida, o extrato n-hexânico da hortelã foi avaliado frente à germinação, desenvolvimento da radícula e hipocótilo de sementes de plantas daninhas, Mimosa púdica (malissa) e Senna obtusiloba (mata-pasto), nocivas à pecuária na Amazônia. Os resultados mostraram que a hortelã pode ser usada como agente alelopático. Novas investigações devem ser realizadas, para sua possível utilização no manejo de plantas daninhas.

Palavras chaves

alelopático; Mimosa pudica ; Senna obtusiloba

Introdução

A espécie Mentha piperita L., conhecida popularmente como Hortelã-pimenta, planta medicinal e aromática, utilizada em práticas curativas herdadas das comunidades tradicionais (índios e ribeirinhos) da região de Parintins /AM. Seu chá comumente é utilizado como medicamento natural com ação digestória, expectorante, anestésica, anti-espasmódica, anti-gases e laxante. A Mentha piperita L., é produtora de óleo essencial rico em mentol e flavonoides, cujas aplicações na indústria farmacêutica conferem-lhe grande importância econômica (Martins et al., 1998). O valor desta bebida ultrapassa o seu papel social positivo, parecendo ser dotada de ação fisiológica benéfica (MORAIS, 2011). A hortelã constitui uma importante matéria prima para a indústria no preparo de guloseimas, pasta de dentes, produtos farmacêuticos e apresenta atividades biológicas antioxidantes (RIBEIRO ET AL., 2002) ação antibacteriana (YADEGARINIA et al, 2006) e é um dos mais importantes constituintes de medicamentos para síndrome do intestino irritável na Europa (PITTLER AND ERNST, 1998). Alelopatia corresponde a todo efeito direto ou indireto, danoso ou benéfico que uma espécie exerce sobre outra pela produção de compostos químicos liberados no ambiente. Seus efeitos são importantíssimos no campo de produção agrícola (IGANCI et al.,2006). O potencial de uma espécie pode ser pesquisado por meios de extratos de plantas medicinais ou cultivadas, sendo que o levantamento bibliográfico não mostrou registros sobre atividades do gênero Mentha piperita L., frente à germinação de sementes de duas espécies de plantas daninhas Mimosa púdica (malissa) e Senna obtusiloba (mata-pasto), causadoras de grandes prejuízos à pecuária na Amazônia.

Material e métodos

O material botânico, folhas da hortelã foi coletado em torno do município de Parintins localizado a leste do Estado do Amazonas. As exsicatas das amostras serão depositadas no herbário da EMBRAPA-PA, que também desenvolveu o bioensaio. O material seco (600g) foi transferido para um erlenmeyer 3L, adicionando 0,8L de n-hexâno. A extração exaustiva, foi realizada em condições ambiente, permanecendo em repouso por quatro dias, a solução obtida apresentou coloração marrom escura, o extrato foi concentrado em evaporador rotatório a pressão reduzida, obtendo solução 1,0%(v/v). Sementes das duas espécies de plantas daninhas foram condicionadas em câmaras de germinação, com temperatura constante de 25ºC e foto período de 12h. A germinação das sementes foi monitorada durante 10 dias, com contagem diária e eliminação das sementes germinadas. Foi considerada semente germinada aquela que apresentava extensão radicular igual ou superior a 2,00mm. Cada placa de Petri de 9,0cm de diâmetro, forrada com papel filtro qualitativo, recebeu 30 sementes, constituindo-se em uma parcela experimental. Também foram desenvolvidos em câmaras a 25ºC e fotoperíodo de 24h. Cada placa de Petri recebeu três sementes pré geminadas. Ao final de 10 dias, mediu-se o comprimento da radícula e do hipocótilo. Cada placa de Petri recebeu 3,0mL da solução teste forradas com papel filtro esterilizado. Após a evaporação do solvente, éter etílico, foi adicionado um volume equivalente de água destilada, mantendo-se, dessa forma, a concentração original. A solução teste foi adicionada apenas uma vez, quando do início dos bioensaios, sendo a partir de então, adicionado apenas água destilada, sempre que se fazia necessário. O extrato n-hexânico da hortelã foi testado na concentração de 1,0% (v/v).

Resultado e discussão

A germinação das sementes de plantas daninhas variou em função de cada espécie de planta utilizada como receptora. Os efeitos foram bem significativos. Considerando-se o limite de inibição de 50% para especificar a potencialidade de um dado extrato (DUDAI et al., 1999), observa-se que no bioensaio de germinação de sementes os valores estão superiores a 50% sendo que para a espécie Mimosa pudica (malissa) o resultado foi bastante expressivo de 83% de inibição. No desenvolvimento da radícula o valor de 50% foi atingido nas duas espécies, Mimosa pudica (malissa) e Senna obtusiloba (mata-pasto), portanto nesta etapa a espécie Senna obtusiloba (mata-pasto) atingi 60% de inibição. No alongamento do hipocótilo as duas plantas daninhas atingem 22%, Mimosa pudica (malissa) e 47% Senna obtusiloba (mata-pasto). Esses dados mostram a germinação e o alongamento da radícula como os mais sensíveis aos efeitos potencialmente alelopáticos inibitórios do extrato n-hexânico da planta hortelã. A tendência geral observada foi que a espécie Mentha piperita L. apresentou inibição em grande magnitude sobre a Mimosa pudica (malissa) enquanto que a Senna obtusiloba (mata-pasto) teve somente um resultado satisfatório tanto para o desenvolvimento da radícula quanto do hipocótilo.

Figura 1.

Análise alelopático do extrato n-hexano do hortelã sobre a germinação de sementes e alongamento da radícula e hipocótilo das plantas daninhas.

Conclusões

Conclui-se que o extrato bruto n-hexânico da Mentha piperita L., apresenta efeitos alelopáticos sob germinação, desenvolvimento da radícula e hipocótilo, mostrando forte atividade inibitória nas duas espécies, Mimosa pudica e Senna obtusiloba. Esse resultado configura-se em mais um avanço expressivo no que se refere à informações sobre a espécie Mentha piperita L., indicando que estudos mais avançados precisam ser realizados com diferentes solventes para avaliar melhor o potencial alelopático da planta em estudo, objetivando seu uso como alternativa para o manejo de plantas daninhas.

Agradecimentos

Ao Dr. Antônio P. S.Souza Filho, EMBRAPA,(bioensaios desenvolvidos; A FAPEAM, pelo apoio financeiro, bolsa de iniciação científica/PAIC; A UEA/CESP - Centro de Estudo S

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