Composição química dos óleos essenciais de três quimiotipos de Psidium guineense

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Produtos Naturais

Autores

Luis Baia Figueiredo, P. (PPGQ-UFPA) ; Juliana, D.A.R. (PPGQ-UFPA) ; Lopes Santana, R. (UFOPA) ; Suemitsu, C. (UFOPA) ; Antônio, S.S. (UFPA) ; Helena Veras Mourão, R. (PGRNA-UFOPA) ; Guilherme Soares Maia, J. (PPGQ-UFPA E UFOPA)

Resumo

Psidium guineense (Myrtaceae) tem grande potencial econômico e medicinal. A composição química dos óleos essenciais (Hidrodestilação, 3h) de cinco espécimes de P. guineense foi analisada (Cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas) afim de verificar a possível existência de quimiotipos (análise multivariada). O rendimento dos óleos varou de 0,07 a 0,30%, houve a formação de três quimiotipos: I) mistura de sesquiterpenos, II) limoneno e III) α-pineno e limoneno. A variabilidade na composição química da espécie estudada sugere a necessidade de estudo prévio antes de seu uso.

Palavras chaves

Myrtaceae; Psidium guineense; hidrodestilação

Introdução

Myrtaceae possui mais de 4630 espécies distribuídas em 144 gêneros com distribuição pantropical, muitas espécies fornecem frutos comestíveis como Psidium guajava (goiaba) (JUDD, CAMPBELL, et al., 1999). Esta família representa uma importante fonte de óleos essenciais com atividades biológicas que vão desde bacteriostática e fungistática para anti- inflamatório, que têm sido utilizados como agentes antimicrobianos e antifúngicos em cremes, sabões e creme dental (LAGO, SOUZA, et al., 2011). No gênero Psidium encontram-se cerca de 100 espécies, atualmente P. cattleyanum e P. guineense Swartz destacam-se por despertarem maior interesse para exploração comercial, principalmente pelas características de seus frutos, muito apreciados pelas populações locais onde essas espécies ocorrem na forma nativa, sendo que ambas estão presentes nos diferentes ecossistemas (FRANZON, CAMPOS, et al., 2009). Psidium guineense Swartz (syn Guajava guineense) é conhecido popularmente como araçá, araçá-comum, araçá-verdadeiro, araçá-azedo e araçá- mirim, nas Américas tem ocorrência desde do sul do México ao norte da Argentina e Brasil. Além do uso alimentício dos frutos na preparação de sorvetes e geleias, esta espécie também é utilizada por comunidades tradicionais como anti-inflamatório (FRANZON, CAMPOS, et al., 2009). Diante do exposto, este trabalho avaliou a variabilidade na composição química do óleo essencial de cinco espécimes de Psidium guineense.

Material e métodos

Os cinco espécimes de Psidium guieneense foram coletados no estado do Pará- Brasil. A identificação botânica foi realizada pela Dra. Chieno Suemitsu, do Laboratório de Botânica da Universidade Federal do Oeste do Pará, com a colaboração do especialista na família Myrtaceae, Dr. Marcos Sobral, da Universidade de São João del Rei. O registro e depósito das exsicatas foram realizados no Herbário da Universidade Federal do Oeste do Pará (HSTM). Os óleos essenciais foram extraídos das partes aéreas dos espécimes (folhas e galhos) por hidrodestilação, durante 3 h. Os óleos essenciais obtidos foram centrifugados, desidratados com Na2SO4 anidro e centrifugados novamente. Os rendimentos (%) dos óleos essenciais foram calculados com as massas dos materiais secos e livre de umidade. A umidade foi determinada por balança com aquecimento no infravermelho (Celtac, modelo DHS-16 A). A composição química foi analisada por Cromatografia de fase gasosa acoplada a Espectrometria de Massas (CG-EM) com a injeção de 1 mL (Auto injetor AOC- 20i) de uma solução de 5μL de óleo essencial em 500 µL de hexano em sistema Shimadzu QP 2010 ultra equipado com coluna capilar de sílica Rtx-5MS (Restek, EUA) de 30 m de comprimento x 0,25 mm de diâmetro interno revestido com 5%-difenil/95%-dimetil-polisiloxano (0,25 μm de espessura do filme). A temperatura do forno do CG foi programa de 60°C a 240°C (10 min) a 3°C/min, as temperaturas do injetor (split 1:20), linha de transferência e câmara de ionização foram de 250, 250 e 200 °C, respectivamente. Hélio foi usado como gás de arraste a uma velocidade de 1 mL/min. Os espectros de massas foram obtidos por impacto eletrônico a 70 eV com scans automáticos na faixa massas de 35 a 400 m/z a 0,30 scans/s. A identificação dos componentes foi baseada no tempo, índice de retenção linear (série de n-alcanos C8-C20) e na interpretação e comparação dos espectros de massas obtidos com as bibliotecas Adams (2007), Nist 2011 e FFNSC 2. A Análise Hierárquica de agrupamento (HCA) e a análise dos Componentes Principais (PCA) foram realizadas em software Minitab® versão 16.2.0, levando em consideração constituintes selecionados que tiveram concentrações maiores que 4%. Os dados foram pré-processados através do autoescalamento onde centram-se os dados na média e divide-se cada um pelo desvio padrão, de forma que todas as variáveis (compostos químicos identificados) passam a ter a mesma importância, ou seja, o mesmo peso.

Resultado e discussão

O rendimento dos cinco espécimes foram de 0,16 (MRC20), 0,07 (MRC 21), 0,05 (MRC 79), 0,19 (MRC 85) e 0,30% (MRC 93). Quanto a composição química, 149 compostos foram identificados, a Tabela 01 apresenta os compostos com teores maiores que 1% listados em ordem crescente de seus respectivos índices de retenção calculados. Os compostos com teores acima de 4% foram α-pineno (1,00-26,43%), limoneno (4,30-47,40%), α-copaeno (0-4,70%), ar-curcumeno (0-4,96%), β- bisaboleno (0-8,87%), pogostol (0-4,82%), epi-β-bisabolol (0-13,17%), α- bisabolol (0-4,00%). A aplicação de Análise Hierárquica de Agrupamento (HCA), considerando distâncias euclidianas e ligações simples, gerou o dendrograma (Figura 1a), o qual mostra a formação de três grupos (quimiotipos), com similaridade de 51,74%. O quimiotipo I compreende os espécimes MRC 20 e 21, o quimiotipo II compreende os espécimes MRC 79 e MRC 85 e o quimiotipo III é formado pelo espécime MRC 91. Os três grupos formados por meio de HCA são confirmados pela Análise dos Componentes Principais (PCA), mostrada na Figura 1b e 1c. O gráfico dos pesos (Figura 1.b) mostra que os sesquiterpenos apresentam maior peso no quimiotipo I, este quimiotipo não apresenta um constituinte com alta concentração, mas uma mistura de vários sesquiterpenos, tendo maior teor o sesquiterpeno oxigenado epi-β-bisabolol com 10,91% e 8,37% nos espécimes MRC 20 e MRC 21, respectivamente. O quimiotipo II é formado pelos espécimes MRC 79 e MRC 85, este é caracterizado por altos teores do monoterpeno hidrocarboneto limoneno com teores de 23,37 e 47,40% nos referidos espécimes, respectivamente. O quimiotipo III é formado pelo espécime MRC 91, o qual é caracterizado por teores altos dos monoterpenos hidrocarbonetos α-pineno (26,43%) e limoneno (13,97%). A composição química do óleo essencial de um espécime de P. guineense coletado no estado de Roraima (Brasil) é descrita por Da Silva et al (2003), o espécime estudado pelos autores mostrou composição similar ao do quimiotipo I descrita neste trabalho, com teores de 6,8%, 3,3% e 17,4% de limoneno, ar-curcumeno e β-bisabolol, respectivamente. O quimiotipo III é reportado por Tucker, Maciarello e Landrumb (1995), o espécime cultivado no estado do Arizona (Estados Unidos) mostrou teores de 12,95 e 5,07% dos monoterpenos α-pineno e limoneno, respectivamente.

Tabela 01.

Compostos químicos (>1%) identificados nos óleos essenciais dos espécimes de Psidium guineense

Figura 01

Análise multivariada com os compostos selecionados (>4%) presentes no óleo essencial de Psidium guineense

Conclusões

A existência de três quimiotipos nos óleos essenciais de Psidium guineense sugere a necessidade de escolha e conhecimento prévio do quimiotipo desejado antes do uso da espécie para fins científicos, terapêuticos, medicinais e culinários.

Agradecimentos

A Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Referências

ADAMS, R. P. Identification of essential oil components by gas chromatography/mass spectrometry. 4. ed. Carol Stream: Allured Publishing Corporation, 2007.

DA SILVA, J. D. et al. Essential oils of the leaves and stems of four Psidium spp. Flavour and fragrance journal, 18, 240–243, 2003.

FRANZON, R. C. et al. Rraças do gênero Psidium: Principais espécies, ocorrências, descrição e usos. Planaltina, DF: Embrapa cerrados, 2009.

LAGO, J. H. G. et al. Chemical and Biological Evaluation of Essential Oils from Two Species of Myrtaceae — Eugenia uniflora L. and Plinia trunciflora (O. Berg) Kausel. molecules, 16, 9827-9837, 2011.

JUDD, W. S. et al. Plant systematics: A phylogenetic approach. [S.l.]: sinauer associates inc., 1999.

TUCKER, O.; MACIARELLOA, M. J.; LANDRUMB, L. R. Volatile Leaf Oils of American Myrtaceae. III. Psidium cattleianum Sabine, P. friedrichsthalianum (Berg) Niedenzu, P. guajava L., P. guineense Sw., and P. sartorianum (Berg) Niedenzu. Journal of Essential Oil Research, 7, n. 2, 187-190, 1995.

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