POTENCIAL ANTIBIÓTICO DE EXTRATO AQUOSO DE CASCAS DE CAJUEIRO SOBRE BACTÉRIAS DO GRUPO COLIFORMES PARA TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Produtos Naturais

Autores

Silva, T.C. (UFRPE) ; Silva, K.E. (UFRPE) ; Silva, G.A. (UFPE) ; Palha, M.L.A.P.F. (UFPE)

Resumo

As águas residuais, apesar de tratadas, geralmente são destinadas aos corpos d’água com resíduos de produtos químicos, sendo desejado o uso de produtos naturais neste processo. O objetivo do trabalho foi avaliar o potencial antibiótico do extrato aquoso de cascas de cajueiro no tratamento de coliformes em águas residuais em função da concentração, quantidade e tempo de ação do extrato. Foi utilizado extrato aquoso de cajueiro (Anacardium occidentale L.) na concentração de 100 g de cascas/L produzido pelo método de Sohxlet, submetendo-o ao tratamento de água residual segundo recomendações do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. Todos os tratamentos (1-5mL com 15-30 minutos de ação) foram eficientes na redução de bactérias do grupo coliformes.

Palavras chaves

Anacardium occidentale L.; Lodo; Bactérias patogênicas

Introdução

As pesquisas sobre os parâmetros de contaminação de cursos e corpos d’água têm indicado que os parâmetros microbiológicos geralmente são os principais indicadores de qualidade sanitária quando se observa as fontes de poluição destas águas. Dentre os micro-organismos patogênicos encontrados nos corpos d’água estão bactérias patogênicas quem compõem o grupo coliformes, que se divide em coliformes totais e coliformes termotolerantes ou fecais (OLIVEIRA et al, 2014). Nas estações de tratamento geralmente são utilizados produtos químicos que aceleram os processos de descontaminação de bactérias, o que muitas vezes pode deixar resíduos que interferem na biota dos corpos d’água de destino final destas águas após o tratamento (SILVA et al, 2015). Assim, é necessário de buscar fontes naturais de produtos que apresentem caráter antibiótico que possam ser utilizados nas fases de descontaminação dos resíduos de estações de tratamento de efluentes. Dentre as características desejadas nas espécies vegetais está a presença de alto teor de extrativos, que são os componentes químicos que não compõem a parede celular, mas são responsáveis por conferir cor, cheiro e proteção contra agentes bióticos em material lenhoso (KLOCK; ANDRADE, 2013). Muitas espécies se destacam pela quantidade de extrativos que estas apresentam. Dentre estas espécies está o cajueiro (Anacardium occidentale L.), pertencente à família Anacardiaceae, que apresenta bom desenvolvimento nas regiões semi-áridas do Brasil. Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar o potencial antibiótico do extrato aquoso de cascas de cajueiro no tratamento de coliformes totais e termotolerantes em águas residuais em função da concentração, quantidade e tempo de ação do extrato.

Material e métodos

Inicialmente, coletou-se uma alíquota de 20g da amostra de cascas de cajueiro. O extrato foi preparado pelo método de Sohxlet, utilizando- se 200mL de água destilada, e deixou-se a extração transcorrer por 2 horas, à 105±2ºC. As análises microbiológicas foram realizadas seguindo recomendações do Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (2005), através da Técnica de Tubos Múltiplos para a determinação do Número Mais Provável de micro-organismos em 100mL de amostra (NMP/100mL). A amostra de água residual (bruta) foi coletada na Estação de Tratamento de Efluentes do Aterro Sanitário Controlado da Muribeca – Recife/PE. Essa amostra se caracterizou como o resíduo do tratamento do chorume. Inoculou-se a amostra e os seguintes tratamentos com o extrato aquoso de cajueiro: B–Amostra bruta; T1–Tratamento com 1mL de extrato/100mL de amostra com tempo de ação de 15 minutos; T2–Tratamento com 1mL de extrato/100mL de amostra com tempo de ação de 30 minutos; T3–Tratamento com 5mL de extrato/100mL de amostra com tempo de ação de 15 minutos; T4–Tratamento com 5mL de extrato/100mL de amostra com tempo de ação de 30 minutos. As amostras foram inoculadas e cultivadas em meio de cultura caldo lauril sulfato triptose para o ensaio presuntivo, e para os ensaios confirmativos foram utilizados o caldo bile verde brilhante 2% (coliformes totais) e caldo EC (coliformes termotolerantes). A partir do número de tubos com presença de gás em cada diluição, estima-se o Número Mais Provável (NMP/100) por meio da avaliação dos resultados na “Tabela de Valores do Número Mais Provável de Microrganismos – NMP” da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (2010). Foi realizada a análise estatística pelo teste de Tukey (5%) usando o software Assistat (7.7 beta).

Resultado e discussão

Como resultado, observou-se a redução significativa do Número Mais Provável (NMP) de bactérias do grupo coliformes por 100mL, em função da quantidade de extrato e do tempo de ação em relação à água bruta (Tabela 01). O lodo, após o tratamento de águas residuais, não deve atrair vetores, liberar odores indesejáveis ou apresentar concentração de micro-organismos patogênicos inferior a 2 milhões de coliformes termotolerantes por grama de sólidos totais (BRASIL, 2009). Segundo Silva et al (2013), a densidade do lodo varia entre 1,02 e 1,03 gramas por litro de lodo. Assim, fazendo-se a correlação entre estes dados, a concentração de coliformes termotolerantes deve ter um valor máximo de 2,06 milhões (2,06x106) de coliformes por litro de lodo. Com isso, observa-se que, em relação aos coliformes termotolerantes, todos os quatro tratamentos apresentaram-se eficazes na redução de NMP/100mL (todos os tratamentos na ordem de 106 NMP/100mL), com resultados favoráveis de acordo com a legislação, mostrando-se que os extratos aquosos de cajueiro podem ser utilizados como redutor da carga microbiana de águas residuais. Em trabalho realizado utilizando extrato aquoso de juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.) com concentração de 50 gramas de cascas/L, com os mesmos tempos de ação (15 e 30 minutos) e quantidades de extrato (1 e 5 mL), observou-se redução significativa entre a amostra bruta e os tratamentos T2, T3 e T4, não havendo diferença entre a bruta e o tratamento T1 (SILVA et al, 2015a; SILVA et al, 2015b). Assim, pode-se perceber que, com o aumento da concentração do extrato de 50 gramas de cascas/L para 100 gramas de cascas/L, além da mudança da espécie, aumentou-se a redução da quantidade de coliformes totais (NMP/100mL).

Tabela 01

Relação entre a água bruta e os tratamentos com extrato aquoso de cascas de cajueiro ([i]Anacardium occidentale[/i] L.) e seus respectivos NMP/100mL.

Conclusões

O extrato aquoso de casca de cajueiro (Anacardium occidentale L.) de concentração 100g de casca/L apresentou diferença significativa em todos os tratamentos contra bactérias do grupo coliformes (coliformes totais e termotolerantes), havendo eficiência necessária dos quatro tratamentos para atingir a quantidade de bactérias do grupo coliformes termotolerantes mínima prevista pela legislação.

Agradecimentos

Ao Laboratório de Microbiologia do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco, pelo apoio e ajuda material.

Referências

American Public Health Association. Standard methods for the examination of water and wastewater. 21th ed. Washington: APHA, 2005. 1082 p.

ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Consulta Pública nº 25, de 23 de março de 2010.

Brasil. Ministério do Meio Ambiente. Módulo específico licenciamento ambiental de estações de tratamento de esgoto e aterros sanitários. Brasília: Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais, 2009. 67p.

KLOCK, U.; J. A.; ANDRADE, A. S. Química da madeira. 4 ed., revisada. Curitiba: UFPR, 2013. 85 p.

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