COMPARAÇÃO DO RENDIMENTO E QUALIDADE DA EXTRAÇÃO DO ÓLEO DA CASTANHA-DO-PARÁ UTILIZANDO DIFERENTES SOLVENTES E MÉTODO.

ISBN 978-85-85905-19-4

Área

Química Tecnológica

Autores

Soares, A.M.S. (UFOPA) ; Mendes, M.H.S. (UFPA) ; Miranda, I.M. (UFOPA)

Resumo

O óleo da castanha-do-pará é muito apreciado como produto culinário e também na indústria de cosméticos. O trabalho objetivou comparar o rendimento e a qualidade dos óleos obtidos via extração com solvente e por meio de prensagem, para tanto, foram utilizados os solventes hexano, metanol e etanol para extração via solvente. Os resultados mostraram que a extração via solvente utilizando hexano apresentou maior rendimento se comparado aos outros métodos e solventes empregados no processo de extração. Para comparação da qualidade dos óleos extraídos foram efetuados análises de índice de acidez e peróxidos. Foi possível observar que o óleo extraído por prensagem e via solventes apresentaram qualidade dentro dos padrões exigidos.

Palavras chaves

Óleo da castanha-do-pará; extração por solvente; extração por prensagem

Introdução

A castanha-do-pará é uma espécie da família de Lecythidaceae, gênero Bertholletia, nativa do sudeste da Amazônia, distribuindo-se na bacia amazônica entre diversos países. No Brasil, a castanheira e encontrada principalmente nos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Pará e norte dos estados de Goiás e Mato-Grosso (LORENZZI, 1992; GENTRY, 1996). A árvore da castanha-do-pará é de grande porte, podendo atingir entre 30 e 50 metros de altura com idade estimada entre 800 e 1200 anos. O fruto da castanheira, comumente chamado ouriço, possui uma casca lenhosa e bastante dura, pode conter de 15 a 24 sementes, cujo tamanho varia entre 4 e 7 centímetros de comprimento. Essas sementes também têm uma casca bastante dura e rugosa e contêm uma amêndoa muito apreciada (VILHENA, 2004). A maior parte da castanha-do-pará destina-se ao consumo in natura. Entretanto, a castanha-do-pará possui uma ampla cadeia de produtos e subprodutos, sendo recomendada como matéria-prima para extração de óleo, devido ao elevado conteúdo de lipídios. A amêndoa da castanha-do-pará é constituída de 60 a 70% de lipídios e de 15 a 20% de proteína, além de vitaminas e minerais. O óleo típico apresenta 13,8% de ácido palmítico, 8,7% de ácido esteárico, 31,4% de ácido oléico e 45,2% de ácido linoléico, além de pequenas quantidades dos ácidos mirístico e palmitoléico. Por isso o óleo da castanha-do-pará tem sido utilizado como óleo fino de mesa e na formulação de cosméticos (GUTIERREZ et al, 1997; CAMPOS, 2007). O processo convencional de obtenção de óleos vegetais é realizado por prensagem da matéria-prima seguida da extração com n-hexano. Este solvente é inflamável e mais denso que o ar, colocando em risco os empregados e comunidades próximas à fábrica. Para cada tonelada de grão processado, cerca de 2 L de solvente são perdidos para o meio ambiente. Por esta razão, o processo de extração de óleos vegetais é considerado pelos órgãos de proteção ambiental como um dos maiores responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa (SCHWARZBACH, 1997). O referido trabalho teve como principal objetivo, comparar o rendimento da extração do óleo da Castanha-do-pará, frente à utilização de diferente solventes, tais como hexano, metanol e etanol. Assim também como comparar a eficiência do método de extração, utilizando a extração por solvente e a extração por prensagem.

Material e métodos

Material e métodos Matéria-prima A castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsea) foi retirada da Floresta que encontra-se na Estrada do Batalhão de Engenharia e Construção (BEC), no município de Oriximiná, estado do Pará. Para reduzir o crescimento de fungos, comumente presentes nas amêndoas, a matéria-prima foi autoclavada sob pressão de 1 atm (100 °C), resfriada, embalada em sacos plásticos e armazenada em local escuro e livre de umidade, entre 20 e 22 °C. As cascas das castanhas foram posteriormente quebradas, separadas e as amêndoas trituradas e pesadas. Extração O óleo foi obtido a partir da castanha moída, este processo foi conduzido com mistura na proporção 4:1 solvente/substrato, no qual em média 600 gramas de castanhas ficaram imersas nos solventes por 24 horas, e os solventes utilizados foram: hexano, metanol e etanol. Após isso a mistura foi filtrada de modo simples para separar a torta do solvente. A solução metanólica filtrada, foi processada em rotaevaporador sob vácuo a 55 °C, para separação da fração solúvel. Todas as frações e produtos obtidos foram pesados em balança analítica com precisão de 0,001 g para elaboração do rendimento. Ocorreu o mesmo procedimento para as amostras filtradas de hexano e etanol. Para o processo de extração por prensagem, primeiramente as amêndoas foram colocadas em liquidificador industrial Warner, contendo água na proporção de 1:8 (castanha: água) por 3 minutos. Após isso foi feito o cozimento da mistura, o cozimento tem por finalidade libertar as partículas de óleo contidas nos invólucros celulares e se faz através de aumento da temperatura em chapa aquecedora onde é possível controlar a temperatura. Este controle permite também eliminar as toxinas, logo depois, se realizou a prensagem pelo equipamento de prensagem feito de maneira artesanal por se tratar de pouca massa, onde é submetida a uma pressão que expulsa o óleo. Com isso, foi feita a filtração do óleo. O óleo extraído na prensagem arrasta partículas de massa que devem ser separadas antes da estocagem. Utilizou-se filtro-prensa, com isso obteve-se o óleo de castanha. Análises O índice de peróxidos foi realizado de acordo com o método oficial da AOCS Cd 8 53. A análise de acidez foi realizada segundo o método AOCS Ca 5a 40. Rendimento Os rendimentos foram calculados pela equação abaixo: R% = (Móleo/ Mamostra)*100 onde Móleo = massa de óleo, Mamostra = massa da amostra e R% = rendimento.

Resultado e discussão

Extração por prensagem O método por prensagem resultou em rendimento de 45% de extração total em óleo, rendimento relativamente bom se considerado as perdas advindas desta técnica que podem ocorrer em virtude de: - Considerável perda de material sólido retido nas camisas de retenção; - A possibilidade do método não exercer pressão necessária sobre todo o montante da amostra, principalmente por ser um equipamento artesanal, o que pode representar perda de eficiência no método; - Perda de óleo durante a retirada ou separação do material comprimido, pois parte considerável de amostra permanece em contato com o óleo resultante da extração; Porém, o método de extração por prensagem apresenta a grande vantagem de não utilizar qualquer solvente para sua extração, resultando ao final do processo óleo totalmente isento de resíduos de solventes orgânico, considerando-se um método limpo de extração tanto para a matéria-prima quanto para o ambiente, e pode ser recomendado como óleo comestível ou na elaboração de produtos fitoterápicos. Extração sólido-líquido (por solvente) Os resultados das extrações utilizando solventes orgânicos apresentados foram próximos, sendo o percentual para o hexano de 60%, para a extração com metanol de 47,83% e para extração com etanol 45,33 %. A partir dos resultados foi possível notar que para a extração com solvente, o hexano obteve melhor rendimento, fato que pode estar associado à questão da polaridade dos solventes utilizados, uma vez que o solvente hexano é caracterizado como um produto apolar, logo consegue solubilizar melhor o óleo presente na castanha, uma vez que o mesmo também tem características apolares (TURNER et al, 2001). A relação custo-benefício desta forma de extração pode ser expressa por: - As amostras ficam parcialmente protegidas dos fatores deteriorantes/oxidativos nos cartuchos de extração; - O material resultante, composto da mistura óleo e solvente (miscela), não apresenta dificuldade de separação; - O solvente resultante da separação é recuperado e reutilizável. Entretanto, o método apresenta algumas ressalvas para sua utilização, que devem ser relatadas em sua relação custo-benefício, dentre as quais: - Os equipamentos utilizados por esse método, como evaporador rotativo e outras vidrarias, requerem materiais específicos, compostos de vidros de diferentes formas e encaixes, com maior e menor resistência às variações de temperatura e choques mecânicos; - Requer considerável conhecimento para sua utilização, pela montagem do equipamento, definição dos solventes e seus pontos de ebulição, separação dos componentes da miscela resultante, remoção de material recuperado; - Estes solventes são normalmente poluidores do meio ambiente, necessitando de tratamento de seus rejeitos para sua eliminação; - São considerados danosos à saúde, inflamáveis e corrosivos para alguns materiais; - Apresentam a possibilidade de deixar resíduos de solventes remanescentes na matéria-prima, provocando possíveis alterações de suas características sensoriais. Índices de peróxido e acidez Os valores de índice de peróxido e índice de acidez foram obtidos com intuito de se comparar características e qualidade dos óleos obtidos por diferentes solventes e diferentes métodos de extração. Todos os resultados foram reunidos na Tabela 1, onde é possível observar que o óleo obtido por extração via solvente etanol, apresentou maior valor de índice de acidez, indicando, portanto, que o óleo está sofrendo quebras em sua cadeia, liberando seus constituintes principais, e que o mesmo está em mais elevado estágio de deterioração em comparação aos demais óleos extraídos, porém, todos os valores estão dentro dos padrões da ANVISA. A partir dos resultados de índices de peróxidos, foi possível verificar que o óleo extraído por prensagem, apresentou maiores valores em comparação aos demais óleos. Este resultado demonstra que o óleo extraído utilizando-se prensa apresenta maior grau de oxidação em relação aos outros óleos extraídos por solvente, porém, novamente todos os valores estão dentro dos padrões da ANVISA para comercialização.

Tabela 1

Tabela 1. Comparação dos valores de índice de acidez e peróxido para os óleos extraídos.

Conclusões

Quando comparada a forma de extração utilizando o solvente hexano das outras formas avaliadas, esta pesquisa mostrou-se superior as demais formas de extração aqui estudadas, fato que pode ser explicado pela interação entre o agente extrator e o percentual de óleo presente na amostra, resultando em interações que elevam o rendimento do processo. No caso da utilização do solvente etanol, para o processo de extração, o maior valor de acidez do óleo obtido em comparação aos demais estudados, pode estar associado ao fato de haver interação com o solvente e o percentual de água presente no material, fato que pode aumentar o valor de acidez do produto final. As avaliações físico-químicas, apresentadas pelo óleo de castanha-do-pará, obtido sob diferentes formas de extração, apresentaram diferenças quanto à acidez e o índice de peróxido. Estes são os parâmetros de maior relevância nos aspectos de avaliação da qualidade e da conservação dos óleos. Independentemente das formas de extração, os valores obtidos encontram-se de acordo com os padrões definidos pela ANVISA, porém os óleos extraídos por prensagem apresentaram valores bem próximos de rendimento quando comparados com os óleos obtidos por extração com etanol e metanol, este fato mostra a vantagem em se extrair o óleo da castanha por prensagem, em decorrência destes serem completamente isentos de qualquer produto químico, logo, favorecendo a saúde do consumidor e agredindo menos o meio ambiente.

Agradecimentos

Á SIGRID COSTA E ZILDENE PELO APOIO INCONDICIONAL NA COLETA E DESCASCAMENTO DO MATERIAL E A UFOPA PELO ESPAÇO CEDIDO.

Referências

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AOCS - AMERICAN OIL CHEMISTS’ SOCIETY. Official methods and recommended practices of the american oil chemists’ society, Champaign, IL., 2004.

CAMPOS. V.M.C. Extração do óleo de castanha-do- pará. Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais-CETEC, 2007.

GENTRY. A. H. A field guide to the familes and genera of woody plants of Northwest South America(Colômbia, Equador, Peru). Chicago: University of Chicago Press. P. 487

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LORENZZI. H. Arvores brasileiras. São Paulo: Plantarum. p. 133. 1992

SCHWARZBACH, J. Aspectos de segurança relacionados ao hexano na extração de óleos vegetais. Óleos e Grãos, São Paulo, Ed. Aspen, mar-abr. p. 27-34, 1997.

TURNER, C.; KING, J. W.; MATHIASSON, L. Supercritical fluid extraction and
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VILHENA, M. R. Ciência, tecnologia e desenvolvimento na economia da castanha-do-Brasil: a transformação Industrial da castanha-do-Brasil na COMARU - Região Sul do Amapá. Campinas - SP, 2004, 120 p. Dissertação (Mestre em Tecnologia de Alimentos), Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

_____Resolucao RDC/ANVISA/MS no 270, de 22 de setembro de 2005.
Regulamento tecnico para oleos vegetais, gorduras vegetais e creme vegetal. Diario
Oficial da Republica Federativa do Brasil. Brasilia, DF, 23 set. 2005. Seção 1.

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