CARACTERIZAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS FENÓLICAS DO PÓ DA CASCA DE JAMBO (Syzygium malaccense L. Merryl & Perry) OBTIDO POR SECAGEM CONVECTIVA

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Alimentos

Autores

Braga, E.C.O. (UFRJ) ; Martins, V.C. (UFRRJ) ; Santiago, M.C.P.A. (EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS) ; Nascimento, L.S.M. (EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS) ; Borguini, R.G. (EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS) ; Tonon, R.V. (EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS) ; Pacheco, S. (EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS) ; Godoy, R.L.O. (EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS)

Resumo

O presente trabalho teve como objetivo caracterizar as substâncias fenólicas no pó das cascas do fruto jambo, obtido por secagem convectiva. Os frutos maduros foram coletados em Guaratiba, Rio de Janeiro – RJ. As análises das substâncias fenólicas foram realizadas por CLAE-DAD. Foram identificadas as antocianinas cianidina-3,5-O-diglicosídeo e cianidina-3-O- glicosídeo, os flavonoides rutina, isoquercetina e luteolina, além dos ácidos fenólicos: gálico, protocatecuico,p-cumárico e elágico. O produto provou ser uma boa fonte de substâncias fenólicas (160,15 ± 2,99 mg.100g-1 antocianinas monoméricas totais e 1,04 ± 0,01 mg.g-1 flavonoides e ácidos fenólicos totais), dentre as quais se destacam as antocianinas (atividade antioxidante).

Palavras chaves

Myrtaceae; CLAE-DAD; Antocianinas

Introdução

A espécie Syzygium malaccense L. Merry and Perry (sinonímia Eugenia malaccensis L.), conhecida popularmente como jambo vermelho, pertence à família Myrtaceae, uma das principais famílias frutíferas do território brasileiro. Originária da Malásia, possui frutos carnosos, com polpa esbranquiçada e suculenta, com casca de coloração rosa à vermelha escuro. Apresenta grande destaque na medicina popular, sendo empregada como anti-inflamatório, anti-tumoral e anti-glicêmica (ARUMUGAM et al., 2014, LORENZI, 2015). As espécies do gênero Eugenia são conhecidas por possuírem em sua composição química substâncias que são oriundas do metabolismo secundário dos vegetais e que compreendem diferentes classes de substâncias com atividade antioxidante, cuja ação está associada à redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis, como câncer e envelhecimento precoce (DEWICK, 2009). Neste caso, destacam-se as substâncias fenólicas, em especial a subclasse antocianinas, presentes na casca do jambo. Devido ao alto desperdício do fruto in natura, referente à elevada produção por árvore e a reduzida vida útil, o possível uso das antocianinas da casca do jambo na indústria alimentícia visa, sobretudo, fazer uso de suas propriedades antioxidantes, flavorizante e corante (AUGUSTA et al., 2010). Para isso, a obtenção de um produto em pó é uma alternativa no aumento a vida útil e, assim, diminui o desperdício dos frutos, além de agregar valor aos mesmos. Logo, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a composição química do pó das cascas do fruto jambo vermelho obtido através de um processo simples e de baixo custo como a secagem convectiva, com o intuito de agregar valor à espécie botânica em estudo.

Material e métodos

Os frutos foram coletados em Guaratiba, no Rio de Janeiro-RJ em janeiro de 2016. As cascas foram secas por 22 h à 60ºC para a obtenção do pó. Para a análise de antocianinas, foi empregada a metodologia descrita por SANTIAGO et al. (2016). A extração foi feita com solução de ácido fórmico 10% em metanol em banho ultrassônico com posterior centrifugação. Para a análise de flavonoides e ácidos fenólicos, a extração foi feita em duas etapas, sendo a primeira, utilizando soluções de metanol e acetona para obtenção de fenólicos livres (PÉREZ-JIMENEZ et al., 2008), e uma segunda etapa de hidrólise, para obtenção dos ácidos fenólicos hidrolisáveis (FRIGHETTO e BACCAN, 2012). Os extratos obtidos foram submetidos à análise em cromatógrafo a líquido Waters® modelo Alliance 2690/5, detector de arranjo de fotodiodos Waters® modelo 2996 (com quantificação em 270 nm, 310 nm, 370 nm e 520 nm), em coluna de fase reversa (C18, Thermo BDS Hypersil, 50 mm x 4,6 mm a 40ºC) em modo de eluição gradiente (95% Fase A: ácido fórmico 5% em água e 5% fase B: acetonitrila para as antocianinas(GOUVÊA et al. 2015) e 95% fase A: ácido fosfórico 0,15% em água e 5% fase B: acetronitrila para as demais substâncias fenólicas). As substâncias fenólicas foram identificadas por comparação do tempo de retenção e com os espectros de UV- Vis dos padrões. Para confirmação estrutural das antocianinas, estas foram isoladas por coleta manual na saída do detector e submetidas à análise por espectrometria de massas Q-TOF Synapt (Waters®) modo positivo, analisador modo V, capilar 3,0kV, cone de amostra 25,0V, cone de extração 4,0kV, temperatura da fonte 120°C, temperatura de dessolvação 150°C, fluxo do gás de dessolvatação 750,0L/Hr, energia de colisão 6,0eV.

Resultado e discussão

A caracterização química do produto foi realizada apenas para as substâncias fenólicas. Foram identificadas e quantificadas duas antocianinas no pó do jambo: cianidina-3,5-O-diglicosídeo (11,67 ± 0,34mg.100g-1) e como majoritária cianidina-3-O-glicosídeo (148,48 ± 3,30mg.100g-1 (Figura 1), conforme já reportado na literatura (BATISTA et al., 2017). A análise por EM registrou um íon molecular de m/z 611,1761 correspondente à massa molar da cianidina- 3,5-O-glicosídeo. A fragmentação desse íon gerou um íon de m/z de 449,1061 e outro íon de m/z de 287,0676. Os resultados obtidos para a segunda antocianina foram similares, com íon molecular de m/z 449,1089 referente à cianidina-3-O-glicosídeo, e um fragmento de m/z de 287,0675 referente à aglicona da cianidina. Os teores das antocianinas monoméricas totais foram de 160,15 ± 2,99 mg.100 g-1. A antocianina majoritária também foi reportada por AUGUSTA (2011) que analisou as antocianinas presentes na casca do jambo após processo de secagem por spray dryer como sendo a majoritária. Entretanto, não foi observada a cianidina-3,5-O-diglicosídeo. Na análise de flavonoides e ácidos fenólicos, foram identificados e quantificados as substâncias descritas na Tabela 1. BASTISTA et al. (2017) realizou estudos com o pó das cascas de jambo obtido por processo de liofilização, e não reportou a presença da flavona luteolina. Na fração hidrolisada do presente estudo, foi observada a presença dos ácidos fenólicos: gálico, protocatecuico, p-cumárico e elágico, enquanto que BASTISTA et al.,(2017) reportou apenas os ácidos fenólicos p- cumárico e benzoico.

Figura 1

Cromatograma do extrato de antocianinas (em 520 nm) e espectros de massas: 1) Cianidina-3,5-O- glicosídeo e 2) Cianidina-3-O-glicosídeo

Tabela 1

Teor de substâncias fenólicas no pó das cascas de jambo *Valores médios entre as replicatas.

Conclusões

O produto obtido a partir da casca do fruto jambo por processo de secagem convectiva provou ser uma boa fonte de substâncias fenólicas, dentre as quais se destacam as antocianinas (cianidina-3,5-O-diglicosídeo e cianidina-3-O- glicosídeo). Existe um grande interesse nesses compostos, devido à sua atividade biológica e farmacológica, relacionadas à atividade antioxidante dessas substâncias. Portanto, o pó pode vir a ser usado para outras finalidades, como por exemplo, corante natural com valor agregado e/ou suplemento alimentar.

Agradecimentos

À CAPES, a UFRJ e a Embrapa Agroindústria de Alimentos.

Referências

ARUMUGAM, B., MANAHARAN, T., HENG, C.K., KUPPUSAMY, U.R., PALANISAMY, U.D. Antioxidant and antiglycemic potentinals of a standardized extract of Syzygium malaccense. LWT- Food Science and Technology, v. 59, 707-712, 2014.

AUGUSTA, I.V. Extração e secagem da casca de jambo vermelho (Syzygium malaccensis, (L.) Merryl and Perry) para obtenção de corante (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós- Graduação de Processos Químicos e Bioquímicos, Rio de Janeiro, 2011.
AUGUSTA, I.V., RESENDE, J.M., BORGES, S.V., MAIA, M.C.A., COUTO, M.A.P.G. Caracterização física e química da casca e polpa de jambo vermelho (Syzygium malaccensis, (L.) Merryl and Perry). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 34, nº 4, 928-932, 2010.

DEWICK, P.M. Medicinal natural Products: a biosynthetic approach. Editora John Wiley and Sons, 3. ed., Inglaterra, 2009.

FRIGHETTO, R.T. S., BACCAN M. Quantificação de ácidos fenólicos constitutivos da soja [Glycinemax (L.) Merrill] por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) (Documentos / Embrapa Meio Ambiente; 90), 17 p., 2012

LORENZI, H. Frutas no Brasil nativas e exóticas: de consumo in natura. São Paulo - SP: Instituto Platarum de Estudos da Flora. 2015


GOUVÊA, A.C.M.S. MELO, A.; SANTIAGO, M.C.P.A.; PEIXOTO, F.M.; FREITAS, V.; GODOY, R.L.O.; FERREIRA, I.M.P.V.O. Identification and quantification of anthocyanins in fruits from Neomitranthes obscura (DC.) N. Silveira an endemic specie from Brazil by comparison of chromatographic methodologies. Food Chemistry. v.185, 277-283, 2015.

PÉREZ-JIMÉNEZ, A. SARA.; TABERNERO, M.; DÍAZ-RUBIO, M.E..; SERRANO, J.; GOÑI, I.; SAURA-CALIXTO, F. Updated methodology to determine antioxidant capacity in plant foods, oils and beverages: Extraction, measurement and expression of results. Food Research International, v. 41, nº 3, 274–285, 2008.

SANTIAGO, M.C.P.A., GOUVÊA, A.C.M.S., PEIXOTO, F.M., BORGUINI, R.G., GODOY, R.L.O., PACHECO, S., NASCIMENTO, L.S.M., NOGUEIRA, R.I. Characterization of jamelão (Syzygium cumini (L.) Skeels) fruit peel powder for use as natural colorant. Fruits, v.71, nº 1, 3-8, 2016.

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